Fidel: "Cuba é uma nação socialista"
"Notáveis visitantes da América Latina e de todo o mundo, combatentes das forças armadas do povo, trabalhadores: nós tivemos 14 horas e meio de desfile militar. (Cantando) Eu penso que só uma pessoa imbuída com entusiasmo infinito é capaz de resistir tais provas. De qualquer maneira, eu vou tentar ser o mais breve possível (Cantando).
Nós estamos muitos felizes em relação a essa atitude do povo. Eu acredito que hoje nós deveríamos esboçar um percurso para seguir, analisar um pouco o que nós fizemos até agora, e ver a que ponto da nossa história estamos, e o que temos adiante. Todos nós tivemos chance de ver o desfile militar. Talvez nós que estamos nessa plataforma poderíamos apreciar melhor do que você na praça, talvez até melhor do que os que desfilaram. Esse primeiro de maio nos diz muito, diz muito sobre o que a revolução vem sendo até agora, o que conquistou até agora; mas talvez não diga tanto a nós quanto diz para os nossos visitantes.
Nós temos sido testemunha, todos nós cubanos, de todos os passos dados pela revolução, então talvez não consigamos perceber o quanto avançamos tanto quanto os visitantes, particularmente aqueles visitantes da América Latina, que ainda hoje vivem em um mundo muito similar ao que vivíamos ontem. É como se fossem de repente transportados do passado para o presente da nossa revolução, com todo seu progresso extraordinário comparado ao passado. Nós não temos a intenção essa noite de enfatizar o mérito do que fizemos. Nós apenas queremos nos localizar o ponto no qual estamos no presente.
Hoje, nós tivemos a chance de ver os resultados genuínos da revolução nesse primeiro de maio, diferentemente dos primeiros de maio anteriores. Antigamente essa data era a ocasião para cada categoria de trabalhadores para apresentarem suas demandas, suas aspirações em relação ao que poderia ser melhorado para homens que eram surdos para os interesses da classe trabalhadores, homens que não poderiam nem assentir em favor das demandas básicas porque eles não governavam para as pessoas, para os trabalhadores, para os camponeses, ou para os humildes; eles governaram somente para os privilegiados, o interesse econômico dominante. Fazer tudo pelo povo significava prejudicar os interesses que eles representavam e então eles não poderiam assentir para nenhuma demanda do povo. O desfile do primeiro de maio daqueles dias ficou marcado pelas reclamações e pelo protesto dos trabalhadores.
O quão diferente foi o desfile de hoje! O quão diferente até mesmo dos primeiros desfiles depois que a revolução triunfou. O desfile de hoje mostra o quanto avançamos. Os trabalhadores (alguns aplausos) agora não precisam se submeter a essas dificuldades; os trabalhadores agora não precisam implorar para executivos surdos; os trabalhadores agora não estão sujeitos a dominação de nenhuma classe exploradora; os trabalhadores não mais vivem em um país controlado por homens que servem interesses exploratórios. Os trabalhadores sabem agora que tudo que a revolução faz, tudo que o governo faz ou pode fazer, tem um objetivo: ajudar aos trabalhadores, ajudar as pessoas. (Aplausos)
Caso contrário, não haveria explicação para o sentimento espontâneo de apoio pelo Governo Revolucionário, essa simpatia transbordante que cada homem e mulher expressaram hoje ao passar em frente à tribuna (Aplausos).
E para onde quer que olhemos vemos já os frutos da Revolução, porque os primeiros que desfilaram no dia de hoje foram precisamente as crianças de cidade escolar “Camilo cienfuegos” (Aplausos). E vimos desfilar os primeiros pioneiros [1] (Aplausos) com um sorriso de esperança, confiança e carinho; vimos os jovens rebeldes desfilarem (Aplausos); vimos as mulheres da Federação[2] desfilarem (Aplausos); vimos desfilar incontáveis escolas criadas pela Revolução (Aplausos); vimos desfilar estudantes de inseminação artificial (Aplausos) que, em número 1000 estudantes de 600 cooperativas de cana-de-açúcar estudam na capital da República (Aplausos); vimos humildes jovens do povo desfilar com seus uniformes dos centros escolares, onde estão se preparando para serem futuros representantes diplomáticos de nosso país no futuro (Aplausos); vimos os alunos das escolas que albergam a jovens camponeses da Ciénaga de Zapata, o lugar escolhido pelos mercenários[3] para atacar nosso país (Aplausos); vimos desfilarem milhares de camponeses que estão estudando na capital, procedentes dos rincões mais longínquos de nossa ilha, das montanhas do Oriente[4] ou das Villas, das cooperativas de cana-de-açúcar ou nas fazendas do povo (Aplausos); vimos as jovens que estudam para assistentes de círculos infantis (Aplausos).
E aqui cada um desses núcleos colegiais tem sido capaz de demonstrar atos que, se se considerar o brevíssimo tempo com que contaram para se preparar, são duplamente dignos de admiração e elogio (Aplausos). Vimos não somente o que vem do campo, temos visto também o que vai para o campo, porque aqui desfilaram os professores voluntários (Aplausos) e desfilaram também os representantes dos 100 mil jovens que já estão marchando até o interior da República para cumprir o plano de erradicar totalmente o analfabetismo em nosso país em um ano (Aplausos). De onde vem essas forças e para onde vão? Vem do povo e vão para o povo (Aplausos).
Esses jovens são sim filhos do povo (Aplausos). Esses jovens sim são filhos do povo (Aplausos). E quando os víamos hoje escrever com suas formações “LVP”, ou a inscrição de: “Viva nossa Revolução socialista!” (Aplausos prolongados e exclamações: “Somos socialistas, para adiante, para adiante e o que não gosta que tome purgante!”), nós pensamos: que difícil teria sido tudo isso sem uma revolução! Que difícil que qualquer uma dessas crianças da montanha tivesse desfilado por aqui hoje! Que difícil que qualquer um desses jovens do nosso campo, que qualquer jovenzinho ou jovenzinha de famílias mais humildes, que tivessem podido conhecer sequer a capital da República, estudar em qualquer uma dessas escolas, desfilar com alegria e o orgulho como desfilaram hoje, admirar a todos, admirar nossos visitantes, e humildes da cidade ou do campo (Aplausos), não foram jamais encontrar os camponeses das montanhas distantes, não foram jamais encontrar o jovem pobre branco ou negro de nossos campos ou de nossas cidades. (Aplausos); arte cultura, profissões universitárias, oportunidades na vida, honras, vestidos elegantes, foram um privilégio de uma insignificante minoria; minoria representada hoje, com essa graça e com esse humorismo com que hoje algumas federações de trabalhadores imitaram os ricos, desfilando em frente a essa tribuna com seus vestidos elegantes que caracterizavam aquela juventude das famílias abastadas (Exclamações de: “fora!”). É assombroso que no dia de hoje desfilaram mais de 20 mil esportistas e ginastas (Aplausos) e sim, se tem em conta que estamos apenas começando. E isto sem ir, todavia, ao mais maravilhoso que tivemos a oportunidade de contemplar hoje, que é esse povo armado e esse povo unido que marcou presença neste 1° de maio (Aplausos prolongados).
E como seria possível sem uma revolução? E como é possível comparar esse presente com o anterior? E como é possível não se emocionar quando se vê marchar filas intermináveis de trabalhadores primeiro, esportistas depois e milicianos depois? E como às vezes marchavam confundidos, trabalhadores, atletas e milicianos, a pensar que no final das contas, trabalhadores, atletas e milicianos são a mesma coisa (Aplausos).
Se poderia explicar a qualquer um por que nosso povo tem que sair vitorioso de qualquer provação. Observamos as nutridíssimas mulheres nas filas das federações (Aplausos) e é que, simplesmente, os homens estavam nas unidades de artilharia, nos canhões, nos morteiros, nas baterias antiaéreas e nos batalhões de milícias que desfilaram depois; ao fim, essas mulheres eram as esposas, irmãs, mães e namoradas dos milicianos que depois marcharam nos batalhões (Aplausos). E possivelmente, essas jovens das escolas secundárias básicas, e esses filhos, esses jovens pioneiros que por aí desfilaram abrindo o desfile, ou que logo desfilaram com os atletas, eram simplesmente seus filhos (Aplausos).
E assim se pode apreciar tudo o que é hoje o povo humilde que luta pelos humildes: trabalhadores de todas as profissões, trabalhadores manuais e trabalhadores intelectuais. Marchando junto o escritor com o artista, o ator, o locutor; marchando juntos o médico com os enfermeiros e os empregados das clínicas; e marchando em grande número debaixo da bandeira do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Educação, os professores, os pedagogos, os empregados do Ministério da Educação.
E hoje mais que nunca tivemos a oportunidade de apreciar e compreender tudo que vale no nosso país, tudo o que produz no nosso país; podemos compreender melhor do que nunca que existem, ou haviam, duas classes de cidadãos: os cidadãos que trabalham. Os cidadãos que produziam e que criavam e os que viviam sem trabalhar nem produzir, os que viviam simplesmente como parasitas. (Aplausos)
E esta nação, jovem e lutadora, esta nação entusiasta e fervorosa, quem não desfilou por aqui hoje? Quem não poderia desfilar aqui hoje? Simplesmente os parasitas. Por aqui desfilou hoje o povo trabalhador, por aqui desfilou todo o povo que trabalha e que produz com seu braço ou com sua inteligência, trabalhador manual ou trabalhador intelectual, mas produtor de bens materiais ou produtor de serviços para a sociedade ou para o povo.
E esse é o povo verdadeiro. Não quero dizer que sejam parasitas os trabalhadores que não puderam desfilar. Estou me referindo a aqueles que não estavam representados aqui hoje e que não podiam estar representados onde desfilam os representantes dos que trabalham e dos que produzem (Aplausos). Quem vive como parasita, não pertence realmente ao povo. Só tem o direito a viver sem trabalhar o inválido, o doente, o ancião e a criança. Esses têm o direito a que trabalhemos para eles, a que velemos por eles e que do fruto do trabalho eles possam se beneficiar. O que nenhuma lei moral poderá jamais justificar é que o povo trabalhe para os parasitas (Aplausos).
E os que aqui desfilaram são o povo trabalhador que não quer e jamais se resignará a voltar a trabalhar para parasitas (Aplausos). Assim nossa coletividade nacional compreendeu o que é uma Revolução, compreendeu com absoluta clareza em que consiste a Revolução, em que país se livra dos parasitas de fora e também de dentro (Aplausos). Nós recordamos que com a nacionalização das maiores indústrias do país, como anteriormente se havia nacionalizado as fábricas norte-americanas, alguns perguntavam: “mas aquela fábrica não era cubana?”; quando veio a segunda lei: “como nacionalizar uma fábrica que era cubana?” Mas essa fábrica não era cubana, essa fábrica era de um senhor, não pertencia ao povo, não pertencia a nação; logo está correto decidir nacionalizar a fábrica; para que passe das mãos do senhor ao povo, à nação (Aplausos).
Aqui se costumava falar muito sobre a pátria por parte de uma série de senhores que tinham um conceito muito raquítico do que é ou deve ser uma pátria. E sempre estava falando da pátria, estabelecendo a obrigação e o dever de defender a pátria. Mas que pátria? A pátria de alguns poucos? A pátria de um punhado de privilegiados? A pátria onde um senhor tinha 1000 caballerías [5] e tem três casas enquanto se vive nas plantações de cana-de-açúcar ou em choupanas miseráveis? (Aplausos) A qual pátria se referia o senhor? A pátria onde uns poucos tinham oportunidades e uns poucos se apropriavam de todos os demais, ou a pátria do homem que nem sequer tem trabalho, a pátria de uma família que vive em um bairro de indigentes, a pátria da criança faminta e descalço que pede esmolas na rua? A que se referiam e que conceito de pátria era esse? A pátria que era propriedade de uns poucos com exclusão de toda oportunidade e de todo benefício para o resto do país, ou a pátria de hoje, onde nós ganhamos o direito de dirigir nosso próprio destino, onde temos o direito de construir o futuro que necessariamente terá de ser melhor que o presente? Mas a pátria onde não poderá se dizer mais que seja propriedade de uns poucos, que seja para disfrute de uns poucos; a pátria que será de agora adiante e como a sempre quis Martí, quando disse: “com todos e para o bem de todos” (Aplausos).
A pátria como será no futuro e para sempre, em que se deixará de existir essa injustiça em que uns poucos tinham tudo e quase todos não tinham nada. Agora sim nós podemos falar de pátria e agora nós podemos ter um conceito verdadeiro de pátria, porque para eles a pátria era um privilégio, um privilégio deles, que se apoderavam dos demais e além disso queriam que outros defendessem essa pátria para eles. Por isso, quando um monopolista ianque fala de pátria (Exclamações), quando um dirigente ou um membro dos círculos governamentais dos Estados Unidos fala de pátria, sabem a que pátria eles se referem? À pátria dos monopólios, à pátria dos capitais bancários, à pátria de grandes empresas, das quais são donos apenas algumas pessoas. E quando falam de pátria, estão pensando em mandar o negro do sul dos Estados Unidos, de mandar o porto-riquenho, ou de mandar a jovem família trabalhadora dos Estados Unidos, ou de mandar o trabalhador, a combater, a morrer, a matar e até a assassinar, em defesa desses monopólios e desses milhões que eles chamam de pátria (Exclamações de: “Paredão”!)
Que moral, que moral, que moral e que razão; que moral e que razão e que direito, como não seja o direito imposto por uma classe dominante e exploradora! Que direito eles têm de chamar um negro do sul dos Estados Unidos – que tem todos os seus direitos negados, que é obrigado a sentar num banco a parte no ônibus público, que é proibido de entrar em vários estabelecimentos –, que direito eles têm de alistar no exército esse homem negro, pobre, sem milhões, sem monopólios, privado de todos os direitos, para ir morrer na defesa dos milhões, dos monopólios e dos latifúndios, das minas e das fábricas das classes dominantes? E que direito tem de alistar algum porto-riquenho – cujo país tem sistematicamente negada a menor oportunidade de se um país soberano e independente –, que direitos tem esse porto-riquenho de sangue latino, de tradição e de origens latinas, de enviá-lo para morrer nos campos de batalha em defesa da política dos grandes milionários e dos grandes magnatas de finanças e das indústrias?
Esse é o conceito que eles têm de pátria e esse perigo a seguridade ao que tem que recorrer, o que costumam falar como pretexto, é simplesmente o perigo dos monopólios, o perigo dos interesses econômicos. E considerem vocês que conceito eles têm de pátria, de moral, de lei, que mobilizam milhões de homens do povo que não tem nada, muitas vezes a homens que não tem nenhum direito, como ocorre com o porto-riquenho ou com o negro do sul dos Estados Unidos, os mandam para lutar e morrer nos campos de batalha.
Esse é o conceito de pátria das classes dominantes, privilegiadas e exploradoras. E é por isso, somente por isso, que um povo adquire um conceito verdadeiro de pátria quando os interesses das minorias privilegiadas acabam liquidadas e quando o país, com suas riquezas e oportunidades, passa a ser um país de todos, patrimônio de todos, oportunidade de todos e felicidade de todos.
Essa oportunidade que tem hoje, jamais sonhada ontem, que tem qualquer um desses milhares de jovens humildes; essa oportunidade, jamais sonhada ontem por qualquer uma das centenas de famílias humildes, que sabem que seu filho ou sua filha podem ter uma escola, podem se formar, podem seguir carreira universitária, pode viajar a outro país; pode ir às melhores Universidades do exterior, privilégio que era restrito às famílias ricas. E hoje qualquer família do povo, por humilde que seja, tem a oportunidade de enviar seu filho ao melhor centro de educação dentro do país e fora do país se o jovem tem talento; qualquer família sabe que graças ao que é a Revolução, seus filhos tem todas as oportunidades que antes só tinham os filhos de um punhado de famílias e que as oportunidades se multiplicam de maneira fantástica, até alcançar todas as famílias.
Porque um país que põe toda a sua inteligência, toda sua energia e todo seu esforço a um propósito determinado, seja defender a pátria ou criar riquezas novas para a pátria, criar oportunidades novas para a pátria, o consegue como não poderia conseguir jamais uma minoria governante e exploradora, que não pode arrastar atrás de si o povo com todo seu fervor e seu entusiasmo (Aplausos).
A Revolução pode arrastar o povo com seu fervor infinito e com seu infinito entusiasmo! A Revolução pode sim recolher do povo toda a sua inteligência, toda energia e todo seu espírito de luta e criação e levá-lo até um caminho de bem-estar e progresso!
Este povo de hoje é o mesmo povo cético de ontem. Este povo entusiastas de hoje que está a 15 e a 16 horas de pé, homens e mulheres por igual, jovens e idosos, é o mesmo povo de ontem, que não era capaz de ficar uma hora de pé para ir a um pequeno ato público com aqueles os obrigavam a ir no ato ou lhes pagava para ir ao ato! Este povo entusiasta, heroico e valoroso de hoje o povo indiferente de ontem com uma só diferença: que ontem trabalhavam para os outros com seu suor, seu sangue e sua energia para os outros e hoje para si mesmo! (Aplausos.)
Calculem os homens que caíram nos últimos combates; se tinha valido a pena uma só gota de sangue cubano para defender os privilégios do passado e se em troca, quando se pensa que esses jovens cubanos caíram, que esses jovens trabalhadores caíram, ou filho de trabalhadores ou eles mesmos, a apenas 10 ou 12 dias, caíram faz apenas algumas semanas, estavam caindo para defender o que vimos hoje aqui , estavam caindo para defender nossos direitos, que a Revolução reivindicou para o povo, estavam caindo para defender esse entusiasmo, essa esperança e alegria de hoje. E por isso, quando víamos um rosto feliz, quando no dia de hoje víamos um rosto alegre ou um sorriso cheio de esperança, pensávamos que cada sorriso de hoje era como uma flor sobre a tumba de milicianos e de soldados que caíram (Aplausos).
Que cada sorriso de hoje era como um reconhecimento, que cada sorriso de hoje era como dar as graças aos que deram as suas vidas; porque sem essas vidas que impediram o imperialismo agressor, sem esses homens que estiveram dispostos a cair, e caíram, não haveria acontecido o primeiro de maio hoje, não teria tido o desfile dos pioneiros, nem dos jovens rebeldes, nem das mulheres, nem dos trabalhadores; não teriam se levantado essas bandeiras da pátria, não teriam desfilado esses atletas.
E o que haviam sido esses jovens artilheiros, artilheiros antiaéreos ou artilheiros de canhões antitanques ou de canhões de longo alcance? E o que tinha se tornado esses batalhões marciais galantes, de nossos trabalhadores, que bem armados, bem treinados e já com experiência marcharam nessa praça? O que teria acontecido com trabalhadores e com os milicianos? E o que teria acontecido com suas esposas, seus filhos, suas irmãs e com suas fábricas? O que teria acontecido com eles se o imperialismo estivesse se estabelecido no nosso território? Que teria sido deles, de seus filhos, suas esposas e suas famílias se o agressor imperialista pudesse ocupar a praça, se apoderar de uma parte do território cubano e desse território lançar bombas, napalm e explosivos, iniciando assim uma guerra; e além da agressão econômica, do bloqueio da nossas exportações, a supressão de nossas cotas, do embargo a todo tipo de exportação de peças de reposição ou de matéria-prima a nosso país, em meio a dificuldades que a agressão imperialista nos impõe, tivéssemos que confrontar ao mesmo tempo um bombardeio quase diário das nossas linhas de comunicação, de nosso transporte de nossos centros de produção e as nossas cidades?
Não falemos mais o que teria sido da alegria do povo e da esperança do povo se o imperialismo tivesse vencido a Revolução, porque não há espetáculo mais horrível na história da humanidade que o espetáculo de uma Revolução derrotada.
E a história dos escravos de Roma, que ensaiaram uma insurreição e aspiraram serem livres, a ideia de dezenas e talvez centenas de milhares de escravos ardendo nas cruzes por estradas que conduziam a Roma, deve nos dar uma ideia do que é uma Revolução derrotada. E a história da Comuna de Paris, com seu saldo espantoso de trabalhadores assassinados, isso deve nos dar uma ideia do que é uma Revolução derrotada. E a história ensina que as Revoluções derrotadas tem que pagar um saldo extraordinário de sangue da reação vencedora, a classe dominante vencedora, porque então se cobra todo o desassossego em que terá que se viver, todos os interesses que os afetaram, o ameaçaram como não se cobra a dúvida presente, mas é necessário também cobrar o sangue das dívidas futuras, tratar de exterminar as raízes da Revolução. Em determinadas circunstâncias é impossível de derrotar uma Revolução.
Falo de revoluções que foram vencidas antes de conquistar o poder; não há jamais na história um exemplo da derrota de um povo revolucionário que conquistou o poder (Aplausos). Quero apenas os fazer pensar como seria se o imperialismo tivesse dominado esse país. Que primeiro de maio teriam tido nossos trabalhadores se o imperialismo tivesse dominado o país!
E por isso, nós pensávamos tudo o que devíamos aos que caíram; por isso nós pensávamos que cada sorriso de hoje era como um tributo pelos que fizeram esse esperançoso dia de hoje possível (Aplausos).
O sangue que se verteu ali foi o sangue de trabalhadores e camponeses, o sangue que se verteu foi sangue dos humildes do povo; não foi sangue de latifundiários, não foi sangue de milionários, o sangue que se verteu ali não fora sangue de ladrões, não foi sangue de criminosos, não foi sangue de exploradores. O sangue que se verteu aí foi o sangue dos explorados de ontem, dos homens livres de hoje (Aplausos); o sangue que verteu foi sangue humilde, sangue honrado, sangue trabalhador, sangue criador; foi sangue de patriotas, não foi sangue de mercenários; foi sangue de trabalhadores que por vontade própria e de maneira espontânea se alistaram no exército da pátria (Aplausos); não foi sangue de um recruta, não foi sangue daquele que se alista na virtude de uma lei; foi o sangue do que se oferece espontaneamente e generosamente para afrontar a todos os riscos da batalha em defesa de um ideal, de um verdadeiro ideal, de um ideal que se sente e que não é um ideal falso, hipócrita, com o qual os ianques inculcaram os seus mercenários, como se fossem papagaios (Aplausos). Não o ideal dos papagaios, não o ideal da língua para fora, mas o do de dentro do coração; não o ideal do que vem buscar seus privilégios perdidos, suas terras perdidas, seus bancos perdidos, suas fábricas perdidas, suas riquezas perdidas; não o ideal que vem recuperar a boa vida em que nunca suou e viveu sempre do suor e sangue dos demais (Aplausos). Não o ideal do mercenário, que vende sua alma por ouro do poderoso império, mas o ideal do trabalhador que não quer ser explorado, o ideal do camponês, que não quer voltar a perder sua terra, o ideal do jovem que não quer voltar a perder seu professor, o ideal do negro que não quer voltar a ser discriminado, o ideal dos que nunca viveram do suor dos demais, o ideal dos que nunca puderam contemplar a vida como um presente, mas como um trabalho.
O ideal dos que não roubavam os outros nem lhes privavam da vida a outros por defender interesses bastardos; o ideal que pode sentir um homem humilde do povo, que defende a Revolução por que a Revolução é tudo para ele, porque ele não era nada, ele era um homem humilde e humilhado, ele era um homem discriminado, ele era um homem maltratado, ele era um homem a quem a classe dominante e exploradora considerava como um zero à esquerda e hoje é um zero à direita dos milhões de filhos do seu povo (Aplausos); e que defende a revolução, porque a Revolução é sua vida, porque sua vida se identificou com ele e seu futuro e esperança e antes de sacrificar essa esperança, prefere perder mil vezes a vida, porque não pensa egoistamente em si, mas pensa que ele pode cair, mas que não cairá em vão e que a causa pela que ele caí servirá para fazer milhões de seus irmãos felizes (Aplausos).
Sangue trabalhador, sangue camponês, sangue humilde do que derramou a pátria lutando contra os mercenários do imperialismo. E que sangue, que homens foram os que mandou o imperialismo aqui desembarcar para a partir daí submeter o país a uma guerra de desgaste e contra nossas plantações de cana, uma destruição sistemática, com bombas incendiárias, como estavam fazendo quando nem sequer tinham uma desculpa ou pretexto de uma parte do território nacional para fazer pousar seus aviões; uma guerra de destruição de nossas fábricas e de nossos povos, como fizeram quando nem sequer se tinha uma base aqui, como fizeram decolando seus aviões de fora do país enquanto enganavam o mundo da maneira mais cínica.
E nós temos o direito de dizer ao povo sobre tudo aos nossos visitantes, que no mesmo instante em que três de nossos aeroportos eram bombardeados simultaneamente por aviões de fabricação ianque, com bombas e metralhadoras ianque, as agências ianques lançavam ao mundo sua própria versão de que nossos próprios aeroportos haviam sido atacados por aviões de nossa própria Força Aérea, com pilotos que haviam desertado nesse mesmo dia.
Com todo sangue frio, realizaram um ato que era um verdadeiro escândalo, uma violação de todas as leis internacionais e de todas as normas morais, atacando de surpresa de manhã os aeroportos de um país a partir de bases estrangeiras e acima de tudo isso, enganar o mundo, comunicar ao mundo, comunicar ao mundo através de suas agências, as agências do imperialismo, que esse bombardeio era um bombardeio ocasionado por pilotos cubanos que haviam desertado com aviões cubanos, bombardeios que tinham sido planejados com sangue frio, com aviões que pintaram insígnias das mesmas cores que os nossos aviões. E que outras razões e outros atos não bastaram, esse ato por si deve bastar para compreender o quão bandidescas e o quão canalhas são; porque é possível que milhões de pessoas em todo o mundo não tenham recebido outra notícia dos acontecimentos do que a notícia de que os aviões cubanos tripulados por desertores haviam atacado nossos aeroportos.
E aquela era uma ação planejada pelo imperialismo com toda calma, todo sangue frio, a ação de bombardear foi estudada, estudada e planejada ao mesmo tempo em que se pensou numa forma de enganar ao mundo. E isto deve servir para alertar e para compreender que os imperialistas são capazes da mentira mais monstruosa para encobrir o mais monstruoso crime.
Hoje não necessitamos apresentar muitas provas. Círculos governamentais dos Estados Unidos confessaram publicamente, sem dar ao mundo uma explicação, porque deviam pelo menos dado ao mundo uma explicação de todas as coisas que haviam dito anteriormente, das Nações Unidas, quando disseram que o bombardeio em nossos aeroportos havia sido realizado por aviões cubanos. Ao confessar sem nenhuma explicação ao mundo, todas as informações e mentiras anteriores, nos revelaram que eles teriam de buscar provas, mas é fato que tentaram o ataque, lançaram o ataque e que esse ataque custou destruição de riquezas e destruição de vidas e custou sangue de trabalhadores e camponeses. Quem eram os que lutaram contra esses trabalhadores e esses camponeses? Vamos explicar.
Dos 1000 primeiros mercenários capturados... Devemos dizer que em poder das forças revolucionárias existe nesse momento, sem contar tripulantes no barco, cerca de 1100 mercenários prisioneiros (Aplausos). Entre 1000, fazendo uma análise da composição social de 1000 deles, temos o seguinte: que 800, 800 aproximadamente, eram famílias acomodadas; que entre esses 800, uma parte deles tinham juntos um total de 27556 caballerías afetadas pela Revolução; 9666 casas, 70 indústrias, 10 centrais açucareiras, dois bancos e cinco minas. Ou seja, escolhendo 800 de um grupo de 1000, esses 800 tinham, repito, 27556 caballerías afetadas pela Revolução. Além disso, mais de 200 desses 800 eram sócios de clubes exclusivos e aristocráticos de Havana e dos 200 restantes – até chegar aos 1000 – 135 eram ex-militares do exército de Batista e o resto, 65 eram lumpen ou gente sem classe.
Nós temos a segurança de que se perguntássemos a todos aqui reunidos, quantos são donos de centrais açucareiras, não há nenhum; quantos são donos de bancos, não há um só; quantos são donos de latifúndios, não há nenhum. Se perguntamos aos combatentes que ali morreram, membros das milícias ou soldados da Polícia Nacional Revolucionária ou do Exército Rebelde, se confrontássemos as riquezas dos que caíram ou dos que ali combateram, com segurança que não haveria nenhum banco, nem uma mina, nem um centro de processamento de açúcar, nenhum edifício de apartamentos, nenhuma indústria, nenhum latifúndio, nenhum sócio de nenhum dos clubes aristocráticos que existiam na capital. E alguns destes desavergonhados, disseram que vinham lutar por ideais, que vinham lutar por livre iniciativa.
A essas horas, que venha aqui um idiota dizer que vem lutar por livre iniciativa, como se o povo não soubesse a muito o que era a livre iniciativa, que livre iniciativa eram os bairros de indigentes, o mesmo que as Yaguas, que Llega y Pon, que a Cueva do Humo, que as dezenas de bairros indigentes que rodeavam a capital; que livre iniciativa era o desemprego para 500.000 cubanos; que livre iniciativa eram centenas de famílias camponesas trabalhando a terra para ter que entregar uma parte considerável de sua produção a proprietários ausentes que nem sequer terem visto ser semeada uma única semente na terra; como se livre iniciativa não tivesse sido descriminação, arbitrariedade, atropelamentos para trabalhadores, camponeses espancados, assassinatos de líderes trabalhadores, contrabando, cabarés, casinos, jogos, vício, exploração, ignorância, analfabetismo e miséria para nosso povo.
Como vão falar de livre iniciativa a um povo onde havia quase meio de milhão de desempregados, um milhão e meio de analfabetos, um país onde havia meio milhão de crianças sem escolas; ademais, um país onde haviam filas para ir aos hospitais e além disso buscar um político qualquer a uma mudança qualquer que lhe dá uma cédula eleitoral (Aplausos); como vão falar de livre iniciativa a um povo que sabia que livre iniciativa eram clubes aristocráticos para quantas milhares de famílias e filhos famintos e descalços, mendigos pelas ruas, tomando banho no El Morro ou tomando banho nas aguas dos aterros sanitários, porque não tinham chance de ir à praia, porque as praias estavam fechadas, eram particulares, as praias eram para os aristocratas, as praias eram dos afortunados, privilegiados usufrutuários de livre iniciativa; nem sequer sonhar ir algum um dia em Varadero, porque Varadero era para algumas famílias endinheiradas; nem sonhar em seu filho estudar idiomas na Europa, porque iam a Europa apenas os filhos dos privilegiados da livre iniciativas;
Nem sonhar que o filho de um trabalhador da construção, de um trabalhador com escassa renda, podia estudar em um instituto, se não se tinha um instituto na capital; nem sonhar com um trabalhador do setor açucareiro que seu filho pudesse ser bacharel, ou que seu filho pudesse ser médico, engenheiro, porque se o filho de um trabalhador podia estudar era porque era um trabalhador da capital, que podia mandar – se tivesse sorte, as possibilidades eram poucas – seu filho ia a um instituto, mas 90% dos filhos dos trabalhadores, que são os que vivem... ou se não 90%, pelo menos 75% dos filhos de trabalhadores, que viviam em regiões onde não havia centros de ensino secundário e eles não poderiam dispor de recursos para pegar estadia em uma cidade a seus filhos, 75% dos filhos dos trabalhadores não teriam oportunidade de estudar. Essa oportunidade teria exclusivamente os filhos dos beneficiários da livre iniciativa.
Eles também falam que vieram para defender a constituição de 1940. Que curioso! Aquela constituição estava sendo destroçadas com a cumplicidade com a embaixada dos EUA, a igreja reacionária e os políticos. Então é cínico para esse grupo de privilegiados e tiranos como Batista, criminosos e torturadores para falar que as pessoas que eles estavam vindo para defender a constituição dos anos 1940, que foi superada pelo Governo Revolucionária.
Quem representava você no congresso? Os políticos corruptos, o rico, o grande latifundiário. Eram poucos os trabalhadores no congresso. Eles estavam sempre em minoria. Os meios para disseminar ideias estavam todos nas mãos do rico. Era difícil aprender sobre as horríveis condições por causa disso. A morte de milhares de crianças por causa de falta de remédios e de médicos não incomodava os homens de livre iniciativa. Jamais houve uma reforma agrária, pois o congresso estava nas mãos dos ricos. Mesmo que a constituição dissesse que a terra deveria ser devolvida aos cubanos e mesmo que em 1959 a constituição de 1940 estava vigente por 19 anos, nenhuma lei tirou a terra dos monopólios ianques, que tinham grandes extensões.
Um monopólio tinha 15000 caballerías, outro tinha 10000 caballerías – 10000 caballerías são cerca de 140000 hectares, digo para aqueles visitantes que não compreendem bem o que é uma caballería. Haviam companhias que tinham aqui mais de 200000 hectares de terra, das melhores terras de Cuba. Uma lei constitucional que dizia que se proscrevia o latifúndio e uma lei que dizia que se devia ter um limite máximo de terra, uma lei constitucional que dizia que a terra devia ser reverter para as mãos do povo cubano, que nunca se cumpriu.
O mesmo que dizia essa lei: que o Estado usaria de todos os meios a seu alcance para proporcionar trabalho a todo trabalhador manual ou intelectual. A Revolução encontrou mais de 10.000 professores sem aula, sem trabalho e imediatamente lhes deu trabalho porque, por outro lado, havia meio milhão de crianças que necessitavam de escolas.
Como? Pois, simplesmente: “o Estado esgotará todos os meios a seu alcance para proporcionar a todo trabalhador manual ou intelectual uma existência decente”. E isso foi o que fez a Revolução, usou de todos os meios para alcançar isso; e se não tivesse esgotado todos os meios, estaria disposto a esgotar todos os meios necessários para dar-lhes trabalho, sim trabalho, porque era isso que ordenava a Constituição (Aplausos).
Esses que eram os princípios fundamentais e que tinham resolvido o problema de centenas de milhares de camponeses, o problema de centenas de milhares de pessoas sem emprego, estabelecido pela Constituição, nunca se cumpriram.
Veio a ditadura de Batista mediante uma quartelada, reacionária e apadrinhada pelo imperialismo e pelas classes exploradoras, porque para as classes exploradoras era conveniente ter um Batista. Ladrão? Sim, isso não os importava. Criminoso? Sim, isso não os importava. Imoral? Isso não importava, contanto que os guardas rurais estivessem a disposição dos latifundiários mais importantes, para fazer o trabalhador que reclama do seu salário ou o camponês que reclama a terra apanhar! (Aplausos.)
Isso não lhes importava, ainda que tinham saqueado a república, não importava ao imperialismo, nem importava para as classes dominantes; e então não se davam armas a ninguém para combater esse regime sangrento e reacionário, não lhe davam aviões a ninguém, não lhe dava bazucas a ninguém, não davam tanques a ninguém, não; os aviões, as bombas, os tanques eram do próprio regime sangrento e reacionário, sem se importar nem se preocupar os crimes que se cometia nem os abusos que cometiam contra o povo, nem a violação de ordens constitucionais, nem a destruição da Constituição, a 80 dias antes das eleições, para estabelecer uma ditadura de quartel no poder.
Então os ianques não lhes deram uma só bazuca nem um só fuzil a nenhum senhorzinho desses! Não lhe deram um só fuzil e uma só bazuca a nenhum senhorzinho destes para combater Batista, não lhe deram nada, nem a nenhum destes senhorzinhos se importou. Por que? Porque eles seguiam tendo Cadillacs, eles seguiam tendo seus clubes aristocráticos, tendo um governo que garantia seus interesses, seus latifúndios, sua vida frívola, sua vida, em geral, de gente corrompida e de gente que se dedica exclusivamente a viver bem. E esses senhores então, não tinham nenhuma preocupação política. Que preocupação podiam ter? A preocupação quem tem é o trabalhador, ou o camponês; eles não, eles viviam muito bem.
Em troca, agora sim; quando se acabaram com os clubes aristocráticos, acabou o parasitismo, acabou para eles a vagabundagem, acabou a boa vida às custas dos trabalhadores e as custas dos camponeses, então foram para lá e encontraram a um governo ianque disposto a dar-lhes tanques, dar-lhe bazucas e dar-lhes canhões para vir aqui derramar sangue de trabalhadores e de camponeses (Aplausos).
Estes senhores falavam de eleições. Que eleições, queriam? As eleições dos politiqueiros compradores de votos que tinham dezenas de agentes que se dedicavam a corromper consciências? Aquelas eleições em virtude das quais um homem infeliz ou mulher do povo teria que entregar sua cédula para que eles lhe dessem emprego e tinham que ir alí os professores, tinham que ir ali os profissionais e todos a mendigar em favor dos políticos para que ele lhes desse emprego? Aquelas eleições falsas e prostituídas que não representavam senão o procedimento por meio do qual as classes exploradoras, através de seus advogados e através de seus políticos se mantinham no poder e com o poder todo aquele regime de miséria e de fome sobre o povo? Aquelas eleições que quando não eram golpe militar, como aconteceu na América Latina, eram eleições desse tipo de politiqueiros?
Existem muitos pseudo-democratas na América Latina. O que é preciso perguntar é quantas leis eles fizeram em favor dos trabalhadores, quantas leis fizeram em favor dos camponeses, onde está a reforma agrária e onde está a nacionalização do petróleo, onde está a nacionalização das minas, onde está a nacionalização das indústrias. Isso é o que tem de ser perguntado a eles (Aplausos).
Porque a Revolução é uma expressão direta da vontade do povo, não uma eleição a cada 4 anos, uma eleição todos os dias, é constantemente dar ouvido as necessidades, é uma constante reunião com o povo; reuniões como estas que somando todos os votos que conseguiam comprando os partidos politiqueiros, nunca puderam somar tanto como o número de homens e mulheres que espontaneamente e de maneira entusiasmada vem aqui no dia de hoje apoiar a Revolução (Aplausos).
E como a Revolução é uma mudança profunda e não uma perda de tempo, o que é que queriam estes senhores, politicagem, panfletos eleitorais, postes cheios de todos aqueles descarados com chapéus panamá? Eleições como aquelas, não; eleições como aquelas não as teremos. Porque? Porque a Revolução simplesmente mudou o conceito de democracia falsa, da pseudodemocracia como meio de exploração das classes dominantes por um sistema de governo direto do povo e para o povo, como demonstram os fatos (Aplausos). (...)"
Não há Tempo para Eleições
Houve um período para a abolição de privilégios. As pessoas agora tem tempo para eleições? Não! O que eram os partidos políticos? Só uma expressão dos interesses de classe. Aqui só há uma classe, a humilde; aquela classe está no poder, então ela não está interessada na ambição de uma minoria exploradora de voltar ao poder. Aquelas pessoas não teriam nenhuma chance em uma eleição. A revolução não tem tempo a perder com esse tipo de tolices. Não há chance para a classe exploradora reconquistar o poder. A revolução e povo sabem que a revolução expressou sua vontade; a revolução não vem ao poder com armamento ianque.
Ela vem através da vontade do povo em luta contra todo tipo de armamento, armamento ianque.
A revolução mantém-se no poder através do povo. No que o povo está interessado? Em fazer a revolução avançar sem perder um só minuto. (Aplausos) Pode qualquer governo na América afirmar ter mais apoio popular que esse? Por que a democracia deve ser essa pedante e falsa democracia dos outros, ao invés dessa direta expressão da vontade do povo? As pessoas morrem lutando ao invés de ir a uma eleição para escrever nomes em um papel. A revolução deu a cada cidadão uma arma, uma arma a todo homem que quis entrar na milícia. Então algum tolo vem para perguntar se, tendo a maioria por que nós não fazemos eleições? Porque o povo não se importa de satisfazer tolos e pequenos finos cavalheiros! As pessoas estão interessadas em avançar.
Eles não têm tempo a perder. O povo deve gastar uma quantidade tremenda de energia se preparando contra agressões, enquanto todos sabemos que queremos construir escolas, casas e fábricas. Não somos belicosos. Os ianques gastam a metade de seu orçamento em armamento; não somos belicosos. Nós somos obrigados a despender aquelas energias, por causa dos imperialistas. Não temos ambições expansionistas. Não queremos explorar nenhum trabalhador de nenhum país. Não estamos interessados em planos agressivos; fomos forçados a ter tanques, aviões, metralhadoras e força militar para nos defender.
A recente invasão mostra o quão corretos estamos em nos armar. Em Playa Giron eles vieram para matar camponeses e trabalhadores. O imperialismo forçou-nos ao armamento para nossa defesa. Fomos forçados a colocar energia, materiais e recursos nisso, embora preferiríamos colocar esses recursos em mais escolas, para que em futuros desfiles possa existir mais atletas e estudantes. Se nosso povo estivesse desarmado, eles não poderiam ter esmagado os mercenários que vieram com equipamentos modernos.
Os imperialistas teriam se lançado contra nós a muito tempo se não nos tivéssemos armado. Mas nós preferimos morrer antes de render o país que temos agora. Eles sabem disso. Eles sabem que encontrarão resistência e então os círculos agressivos do imperialismo devem parar e pensar.
Então somos forçados, pela ameaça de agressão a proclamar aos quatro cantos do mundo: Todo o povo da América deveria se elevar em indignação depois da afirmação de que um país pode intervir em outro só por causa o primeiro é mais forte. Tal política significaria que o vizinho mais poderoso tem o direito de intervir para evitar um povo de se autogovernar de acordo com sua escolha. É inconcebível que deveriam existir miseráveis governos como esses; depois da agressão que matou trabalhadores e camponeses, é inconcebível que eles até mesmo tenham começado uma política de romper com Cuba, ao invés de romper com Somoza, Guatemala, ou o governo de Washington que paga por aviões, tanques e armamentos para vir aqui e matar camponeses.
O governo da Costa Rica disse que, se os mercenários fossem executados, romperia relações conosco. Eles não têm razão alguma para romper, então buscam um pretexto, nesse caso escolhendo a questão das execuções.
Aqueles que promovem a política de usar Cuba, às ordens do imperialismo, são traidores miseráveis aos interesses e sentimentos da América. (Aplausos) Esses fatos mostram-nos a política podre que prevalece em muitos países latino americanos, e como a revolução cubana inverteu essas formas corruptas para estabelecer novas formas nesse país.
Nova Constituição Socialista
Para aqueles que falam a nós sobre a Constituição de 1940, nós respondemos que a Constituição de 1940 está datada e velha para nós. Nós avançamos muito rápido para aquela pequena seção da Constituição de 1940, que era boa para o seu tempo, mas nunca foi posta em prática. Aquela constituição foi ultrapassada pela revolução, que como dissemos, é uma revolução socialista. Devemos sim falar de uma nova constituição, uma nova constituição, mas não uma constituição burguesa, não uma constituição que corresponda a dominação e exploração de certas classes, mas uma constituição que corresponda a um novo sistema social sem a exploração do homem sobre o homem. O novo sistema social é chamado de socialismo e essa constituição será, consequentemente, uma constituição socialista.
Protesto de Kennedy
Se o Sr. Kennedy não gosta de socialismo, nós não gostamos de imperialismo! Nós não gostamos de capitalismo! Nós temos todo direito de protestar sobre a existência de um regime capitalista-imperialista a 90 milhas de nossa costa. No passado e agora, nós não pensamos em protestar em relação a isso, porque isso é coisa do povo dos Estados Unidos. Seria absurdo para nós tentarmos contar para o povo dos Estados Unidos que sistema de governo eles deveriam ter, nesse caso nós estaríamos considerando que os Estados Unidos não são uma nação soberana e que nós temos direitos sobre a vida política interna dos Estados Unidos.
Direitos não vem com tamanho. Direitos não vem do fato de um país ser maior que o outro. Isso não importa. Nós temos um território limitado, uma pequena nação, mas nosso direito é tão respeitável quanto o de qualquer país, independentemente do tamanho. Não nos passa pela cabeça falar para o povo dos Estados Unidos qual sistema de governo eles devem ter. Portanto, é absurdo o Sr. Kennedy nos falar qual governo ele quer que estabeleçamos aqui. Isso é absurdo. Sr. Kennedy faz isso por não ter um conceito claro de leis internacionais nem de soberania. Quem teve essas ideias antes de Kennedy? Hitler e Mussolini!
Eles falaram a mesma língua, a da força; é a língua fascista. Nós ouvimos anos antes do ataque da Alemanha sobre a Tchecoslováquia. Hitler a dividiu pois era governada por um governo reacionário. A burguesia, reacionária e protofascista, com medo do avanço do sistema socialista, preferiu até a dominação de Hitler. Nós ouvimos aquela linguagem na véspera da invasão a Dinamarca, Bélgica, Polônia e assim por diante. É o direito do poder. Esse é o único direito que Kennedy sugere quando declara o direito a interferência em nosso país.
Esse é um sistema socialista, sim! Sim, esse é um regime socialista. Está aqui, mas a culpa não é nossa, a culpa e é de Colombo, dos colonizadores ingleses, os colonizadores espanhóis. O povo dos Estados Unido algum dia ficará cansado.
Nenhuma ameaça aos Estados Unidos
O governo dos Estados Unidos diz que um regime socialista aqui ameaça a segurança dos Estados Unidos. Mas o que ameaça à segurança do povo da América do norte é a política agressiva dos belicistas dos Estados Unidos. O que ameaça à segurança da família da América do norte e seu povo é a violência, a política agressiva, aquela política que ignora a soberania e os direitos dos outros povos. Aquela política agressiva pode levar a uma guerra mundial; e a guerra mundial pode custar as vidas de dezenas de milhões de norte-americanos. Portanto, aquele que ameaça a segurança dos Estados Unidos não é o Governo Revolucionário de Cuba, mas o agressor e agressivo governo dos Estados Unidos.
Nós não colocamos em perigo a segurança de um único norte-americano. Nós não pomos em perigo a vida ou a segurança de uma única família norte-americana. Nós, fazendo cooperativas, reforma agrária, ranchos do povo, casas, escolas, campanhas de alfabetização e mandando centenas e centenas de professores para o interior, construindo hospitais, mandando médicos, dando bolsas de estudos, construindo fábricas, aumentando a capacidade produtiva do país, criando praias públicas, convertendo fortalezas em escolas e dando ao povo o direito a um futuro melhor – nós não pomos em perigo uma única família ou um único cidadão dos Estados Unidos da América.
Aqueles que colocam em perigo milhões de famílias, de dezenas de milhões de norte-americanos são aqueles que brincam com a guerra atômica. São aqueles que, segundo General Cardenas fala, estão brincando com a possibilidade de Nova York se tornar Hiroshima. Aqueles que estão brincando com a guerra atômica, com a sua guerra agressiva, com a sua política que viola os direitos do povo são aqueles que colocam em perigo a segurança da nação da América do norte, a segurança das vidas de milhares de norte-americanos desconhecidos.
O que os monopolistas temem? Eles dizem que não estão seguros com uma revolução socialista por perto. Eles estão, como Khrushchev fala, provando que seu sistema é inferior. Eles nem acreditam no próprio sistema. Por que eles não nos deixam em paz quando o que o nosso governo quer é paz?
A recusa do EUA em negociar
Recentemente, nosso governo publicou a afirmação de que nós estaríamos dispostos a negociar. Por que? Porque nós temos medo? Não! Nós estamos convencidos que eles temem a revolução mais do que tememos eles. Eles têm uma mentalidade que não os permite dormir quando eles sabem que existe uma revolução por perto.
Medo? Ninguém tem medo aqui. O povo que luta pela sua liberdade nunca se amedronta. Os amedrontados são os ricos. Aqueles que tem sido ricos. Nós não temos interesse no suicídio do imperialismo às nossas custas. Eles não se importam com a morte de negros, porto-riquenhos ou americanos. Mas nós nos importamos com cada vida cubana. Nós estamos interessados em paz.
Nós estamos prontos para negociar. Eles falam que as condições econômicas podem ser discutidas, mas não o comunismo. Bem, de onde eles tiraram a ideia de que nós discutiríamos isso? Nós discutiríamos problemas econômicos. Mas não estamos prontos para admitir essas conversas tanto quanto a pincelada de uma pétala de uma rosa. O povo cubano é capaz de estabelecer o regime que ele quiser. Nós nunca pensamos na possibilidade de discussão do regime. Nós discutiremos apenas coisas que não afetem nossa soberania. Nós queremos negociar em nome da paz.
Aqueles que não se preocupam sobre encaminhar o povo americano para guerra estão sendo guiados por emoções. Nós não temos medo. Se eles pensam que sim, deixem eles rejeitarem aquela ideia. Nenhum cubano está com medo. Se eles pensam que discutiremos nossa política interna, deixem eles esquecerem isso. Deixem-nos discutir todos os tópicos que querem discutir. Nós discutimos com os invasores, não? Bem, nós debateremos com qualquer um. Nós estamos dispostos a falar. Estamos dispostos a debater. Mas isso quer dizer que desejamos negociar nossa política interna? Claro que não. Nós estamos apenas dando um passo sensato. Isso quer dizer que a revolução irá desacelerar? Claro que não! Nós continuaremos pegando velocidade o quanto pudermos.
Matar invasores estrangeiros
Se eles querem dizer que não se importam com a soberania dos países, deixem-nos dizê-lo. Mas estamos prontos para defender, bem como negociar. Nós estamos prontos para atirar um milhão de tiros no primeiro ianque paraquedista que tentar pousar aqui. Do primeiro momento que eles desembarcarem em nosso solo eles podem ter certeza que eles começaram a guerra mais difícil das quais eles já ouviram. Aquela guerra seria o começo do fim do imperialismo. Com a mesma disponibilidade para negociar, nós lutaremos. Até mesmo os pioneiros lutariam. Cada homem, mulher e criança tem um dever no caso de um ataque estrangeiro – matar! Se nós somos atacados por estrangeiros não haverá prisioneiros. O invasor estrangeiro deve saber que deve matar a todos nós! Enquanto um viva, ele terá um inimigo! Luta de vida ou morte! Não há meio termo! Será uma guerra sem prisioneiros!
Se os invasores desembarcam em solo cubano não iremos querer nossas vidas. Nós lutaremos até o último homem contra qualquer um que colocar os pés em nossa terra. Todos os homens e mulheres devem saber de seus deveres. Esse dever será cumprido de maneira simples e natural enquanto o povo luta uma guerra justa.
É um crime que nosso povo não seja deixado em paz para completar nosso trabalho de justiça por aqueles que outrora viveram em humilhação e miséria. É uma pena que interesses ilegítimos foram determinados a causar o mal a nosso país. Enquanto eles tentaram cortar nossos suprimentos, eles estavam abastecendo os mercenários com armas para invadir nosso país e derramar o sangue do povo. E nessa vergonhosa tarefa, quem participou?
Eu já os falei sobre sua composição social. Padres também não faltavam. Três deles vieram. Nenhum era cubano, eles eram espanhóis. Você lembra que quando nós os perguntamos disseram que vieram em uma missão puramente espiritual. Eles disseram que vieram em uma missão cristã. Mas revisando os seus livros nós achamos isso: um apelo para o povo por Ismael de Lugo: "Atenção católicos cubanos: as forças libertadoras desembarcaram em praias cubanas. Nós viemos em nome de Deus – como se Calvino viesse no nome de Deus – justiça e democracia para reestabelecer a pisoteada liberdade - Isso deve ser mentira. Nós viemos por causa do amor, não do ódio. Nós viemos com milhares de cubanos, os quais são católicos e cristãos – que mentira, cujo espírito é o espírito dos cruzados. (Notas do Editor: Castro continua lendo a mensagem escrita pelo Padre de Lugo...)
E esse cavalheiro não é nem cubano; ele é um espanhol falangista. Ele poderia ter economizado todos aqueles apelos e energia de guerreiro para lutar contra a guarda moura de Franco. Por que ele veio aqui com outros 3 padres falangistas espanhóis ao invés de ir para a Espanha lutar pela liberdade contra Franco, que está oprimindo o povo espanhol por 20 estranhos anos e que se vendeu para o imperialismo ianque? Os ianques não estão lutando pela liberdade na Espanha, Nicarágua ou Guatemala. Eles são grandes amigos de Franco. E esses padres falangistas vieram aqui, quando é na Espanha que eles deveriam estar lutando pela liberdade, pelos camponeses e trabalhadores. Os padres falangistas ao invés disso vem aqui pregar contra os trabalhadores e camponeses que se livraram da exploração. E vieram três, não apenas um; e o quarto, em Escambray, é espanhol também.
Padres estrangeiros a serem expulsos
Nós vamos anunciar aqui para o povo que nos próximos dias o Governo Revolucionário passará uma lei declarando inválida qualquer permissão assegurada por qualquer padre estrangeiro nesse país. E essa lei terá uma única exceção: vocês sabem a quem? Um padre estrangeiro poderá ficar com permissão especial, aprovada pelo governo, se ele não estiver combatendo a revolução e não estiver mantendo atividades contrarrevolucionárias. Ele pode pedir permissão, e o governo poderá garantir se considerar adequado, pois existem padres estrangeiros, pela via da exceção, que não se posicionaram contra a revolução, embora a regra geral seja o contrário.
Claro, eles falarão que somos ímpios, inimigos da religião. Como eles podem dizer isso depois de um líder de um serviço eclesiástico, enquanto proclamava que ele estava chegando para realizar um serviço espiritual, também assinou um manifesto como esse – de natureza política? Pode a revolução continuar permitindo atos como esses continuarem impunes?
E deixar esses cavalheiros trazerem o inferno aqui, trazerem o inferno para a terra aqui, com a guerra criminosa, seus calvinistas, seus Soler Puigs, seus latifundiários e seus filhos privilegiados, para trazer o inferno para a terra aqui para os camponeses e trabalhadores? Podemos deixar a falange espanhola continuar promovendo derramamento de sangue e conspiração aqui por meio de seus padres? Não, nós não estamos dispostos a permitir isso. Os padres falangistas sabem agora, eles podem começar a fazer as malas (Aplausos).
Eles estão realizando atividades contrarrevolucionárias nas escolas também, envenenando as mentes dos alunos. Eles estão formando mentes terroristas. Eles estão ensinando ódio para o país. Por que a revolução deveria tolerar isso? Seríamos culpados se deixássemos isso ir adiante.
Nacionalização das escolas privadas
Nós anunciamos aqui que nos próximos dias o governo revolucionário irá passar uma lei nacionalizando as escolas privadas. Essa lei não pode ser uma lei para um setor; será geral. Isso quer dizer que escolas privadas serão nacionalizadas; claro, não uma pequena escola, na qual uma professora dá aulas, mas escolas privadas com vários professores.
Diretores de escolas privadas mostraram diferentes tipos de conduta. Muitos diretores de escolas privadas não estão inculcando veneno contrarrevolucionário. A revolução sente como sendo seu dever organizar e estabelecer o princípio de educação gratuita para todos os cidadãos. O povo sente que ele tem o dever de treinar as futuras gerações no espírito de amor por seu país, por justiça, pela revolução.
O que deve ser feito no caso de escolas privadas que não mostraram conduta contrarrevolucionária? O governo Revolucionário indenizará aqueles diretores ou donos de escolas cuja atitude não tiver sido contrarrevolucionária, cuja atitude foi favorável para a revolução; e a revolução não indenizará nenhuma escola cujos professores estão travando uma campanha contrarrevolucionária, que foram contra a revolução.
Aos professores e empregados de todas essas escolas, serão dados trabalhos. Ou seja, os empregados e professores dessas escolas terão trabalhos garantidos. Os alunos dessas escolas poderão continuar frequentando-as, os padrões educacionais serão mantidos alto ou aumentado e além disso, eles não terão de pagar absolutamente nada para frequentá-las.
Religião não é restringida
Villanueva é incluída nessa nacionalização, claro. Eles falarão que esse governo ímpio se opõe à instrução religiosa. Não senhor. Nós nos opomos é contra esses atos sem-vergonha que estão sendo cometidos e esse crime contra o nosso país. Eles podem ensinar religião, sim; nas igrejas eles podem ensinar religião.
Religião é uma coisa, política é outra. Se esses cavalheiros não fossem contra os interesses políticos do povo, não poderíamos nos importar menos com suas pastorais, a discussão de questões religiosas, etc. As igrejas podem manter-se abertas; religião pode ser ensinada aqui. Não seria muito melhor se eles se restringissem aos seus ensinamentos religiosos? Não seria melhor ter paz? Eles podem ter paz, dentro de estritos limites de respeito de acordo com o povo revolucionário e o governo. Mas eles não podem guerrear contra o povo em serviço dos exploradores. Isso não tem nada a ver com religião; tem a ver com sangue, com ouro, com interesses materiais. Eles podem ter consideração pelo povo, nos limites de respeito e direitos mútuos.
O cristianismo surgiu como uma religião dos pobres, de escravos e dos oprimidos de Roma – a religião que floresceu nas catacumbas. Era a religião dos pobres e obteve o respeito de leis. Coexistiu com o Império Romano. Então veio o feudalismo. Aquela igreja coexistiu com o feudalismo, mais tarde com monarquias absolutas, depois com repúblicas burguesas. Aqui a república burguesa desaparece; por que não deveria a mesma igreja coexistir com um sistema de justiça social que é muito superior às formas anteriores de governo? Esse sistema é muito mais cristão que o imperialismo ianque ou política burguesa, ou o Império Romano. Nós acreditamos que a coexistência é perfeitamente possível. A revolução não se opõe à religião. Eles usaram a religião como um pretexto para combater os pobres. Eles esquecem o que Cristo disse sobre ser mais fácil para um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um homem rico ir para o céu.
O pequeno homem de negócios protegido
Aqueles são fatos. Nós falamos, como sempre, claramente. Isso apenas quer dizer que estamos preparados para defender a revolução e continuar avançando, convencidos da justiça de nossa causa.
Nós falamos de nossa revolução socialista. Não quer dizer que o pequeno homem de negócio ou pequeno industrial precise se preocupar. Minas, combustível, bancário, usinas de açúcar, comércio de exportação e importação – a maior parte da economia – está nas mãos do povo. Dessa forma o povo pode desenvolver nossa economia. O pequeno industrial e pequeno homem de negócios podem coexistir com a revolução. A revolução sempre teve cuidado em relação aos interesses dos pequenos proprietários.
A reforma urbana é uma prova. Esse mês, todos os pequenos proprietários de terras receberão cerca de 105,00 pesos. Antigamente, se o inquilino não pagasse o aluguel, o proprietário não recebia; agora um fundo foi estabelecido para garantir que o dono da terra seja pago. A revolução terá 80 milhões de pesos por ano para construção pela reforma urbana. E quando o aluguel é a única renda desses donos de terra, a revolução determinou que depois que a casa foi integralmente paga, o dono de terra receberá uma pensão. Uma revolução socialista não quer dizer que os interesses de certos setores serão eliminados sem consideração. Os interesses dos grandes proprietários de terras, banqueiros e industriais foram eliminados. Nenhum interesse social dos níveis mais baixos da sociedade foi condenado. A revolução irá aderir à sua palavra: nenhum interesse médio será afetado sem consideração.
Pequenos empresários e industriais tem crédito hoje. A revolução não tem interesse na sua nacionalização. A revolução tem o bastante para desenvolver as fontes de riqueza que agora tem a sua disposição. A revolução sente que aqui pode existir colaboração do pequeno empresário e do pequeno industrial. Ela acredita que seus interesses podem coincidir com aqueles da revolução.
Contrarrevolucionários afirmaram que as barbearias seriam nacionalizadas, mesmo barracas de comida. A revolução não os tem como objetivo. A solução desses problemas será o resultado de uma longa evolução. Existe alguns problemas; algumas vezes tomates e abacaxis são vendidos na cidade a preços mais altos do que nos campo. Ainda existe uma pequena praga de atravessadores. A revolução ainda tem de tomar medidas para se livrar dos abusos dos atravessadores, para melhorar o consumo para as pessoas. Mas eu não quero que as pessoas fiquem confusas. Eu quero que todos saibam o que esperar.
O chamado para a colaboração
Basicamente a revolução já passou suas medidas. Ninguém precisa se preocupar. Por que não se juntar a esse entusiasmo, nessa proeza? Por que ainda existem cubanos aborrecidos por essa felicidade? Eu me perguntei isso enquanto assistia o desfile. Por que alguns cubanos são incapazes de entender que sua felicidade pode também ser deles? Por que eles não se adaptam à revolução? Por que não ver as suas crianças nas escolas aqui? Algumas pessoas não podem se adaptar, mas a sociedade futura será melhor do que a antiga.
Essa é a hora na qual nós, longe de usarmos o momento contra os que não entendem, devemos perguntar a eles se já não é tempo deles se juntarem a nós.
A revolução considera necessário que eles sejam retidos. Talvez eles já tenham sido. A revolução não quer que se use força contra a minoria. A revolução quer que todos os cubanos entendam. Nós não queremos que toda essa felicidade e emoção toda apenas para nós. É a glória do povo.
Nós dissemos a todos que mentiram no passado e não entenderam. Nós francamente dizemos que nossa revolução deveria ser menosprezada pelas sanções severas contra os mercenários. Isso serve como uma arma para os nossos inimigos. Nós dizemos isso, porque nós contamos ao povo tudo o que beneficiará a revolução. Nós tivemos uma vitória moral e será maior se nós não mancharmos a nossa vitória.
As vidas perdidas nos machucam o mesmo que machucam aos outros, mas nós devemos superar isso e falar pelo prestígio e pela nossa causa. O que está diante de nós? O risco da agressão imperialista! Grandes tarefas! Chegamos ao ponto no qual nós devemos entender que chegou o momento de fazermos o nosso maior esforço. Os próximos meses são muito importantes. Eles serão meses nos quais nós devemos fazer grandes esforços em todos os campos. Todos nós temos a tarefa de fazer o máximo, ninguém tem o direito de descansar. Com o que nós vimos hoje, nós devemos aprender que com esforço e coragem nós podemos colher magníficos frutos. E as frutas de hoje não são nada se comparadas ao que pode ser feito se nós nos empenharmos ao máximo.
Antes de concluir, eu gostaria de lembrar o que eu disse no julgamento de Moncada. Aqui está o parágrafo: O país não pode ficar de joelhos implorando milagres do bezerro de ouro. Nenhum problema social é resolvido espontaneamente. Nesse momento tínhamos expressado nossos pontos de vista.
A revolução seguiu as ideias revolucionárias daqueles que tiveram um importante papel nessa luta.
Esse é o porquê de quando um milhão de cubanos se reuniram para proclamar a Declaração de Havana, o documento expressou a essência da revolução, nossa revolução socialista. Dizia que condenava os proprietários de terra, os salários de fome, analfabetismo, falta de professores, médicos, hospitais, discriminação, exploração das mulheres, oligarquias que atrasavam o país, governos que ignoravam a vontade do povo obedecendo as ordens dos EUA, monopólios das agências de notícias ianques, leis que preveniam as massas de se organizarem e os monopólios imperialistas de riqueza. A assembleia geral do povo condenou a exploração do homem pelo homem. A assembleia geral proclamou o seguinte: o direito ao trabalho, educação, dignidade do homem, direitos civis às mulheres, previdência aos aposentados, liberdade artística, nacionalização dos monopólios. Esse é o programa de nossa revolução socialista.
Vida longa à classe trabalhadora cubana! Vida longa às nações latino-americanas! Vida longa à nação! Pátria ou morte! Venceremos!"
Discurso pronunciado por Fidel Castro em 1º de Maio de 1961
Tradução: equipe do Fuzil contra Fuzil
Notas:
[1] Pioneiros são os as crianças cubanas que estudam no que seria equivalente aqui ao ensino fundamental.
[2] Refere-se aqui à organização nacional chamada Federação de Mulheres Cubanas (FMC).
[3] A invasão do qual se fala é a invasão e a tentativa de derrocada do governo revolucionário por meio de mercenários ocorrida em 1961 com envolvimento dos Estados Unidos que ficou conhecida como A Batalha da Praia Girón ou a Invasão da Baía dos porcos.
[4] Em Cuba as regiões ao leste de Havana, que são menos urbanizadas, são chamadas de “oriente”.
[5] Medida cubana para extensão da terra. 1 caballería é igual a mais ou menos 33 acres e 1000 caballerías são equivalentes a mais ou menos 33161.5 acres.