"O Ovo da Serpente: A Intentona Paulista de 1932"
Nas marchas de 2016 em que as classes médias pediam um impeachment sem nenhuma base legal, São Paulo exibiu certamente o maior número de manifestantes. Não era simples casualidade que outros golpes tivessem sido gestados naquele Estado em 1932 e em 19642. E sempre um sacrifício heróico em defesa da democracia, do mérito, dos contratos, da eficiência e das ideias liberais. Com base nos relatos dos próprios participantes é possível perceber que aqueles atributos não tem nenhuma correspondência na realidade histórica. Mas é necessário ir além e compreender porque o mito da Guerra Cívica se prolongou no tempo, mesmo entre aqueles que nunca leram uma linha acerca dela. Ela foi mais celebrada do que conhecida. Em muitas cidades de São Paulo a memória de 1932 se erigiu em museus com listas de combatentes e artefatos como o famoso capacete de aço. A estatuária paulista também homenageia o soldado constitucionalista e ele é igualado aos bandeirantes. Além disso, nomes de ruas em todos os lugares lembram soldados ou políticos da época, bem como as avenidas 9 de julho ou 23 de maio. Cidades tão diferentes como São Bento de Sapucaí, Limeira, Porto Feliz, Barra Bonita ou Itararé rememoram seu papel em 1932. Trinta anos depois do Levante paulista, Aureliano Leite já listava 600 títulos sobre a “Revolução de 1932”3. Áureo de Almeida Camargo fez outra extensa lista, incluindo artigos de jornal4. Nos seis primeiros anos depois da rendição paulista, o acontecimento foi objeto de cerca de 170 livros, a maioria favorável aos paulistas. Em 1933 foram publicados ao menos 67 livros, dos quais dezessete romances5. Para a memória dos “revolucionários” de 1924-30, o levante paulista foi uma contrarrevolução, como afirmou o Capitão Davino Francisco dos Santos, “ex-tenente” e ex-comunista6 ou uma “revanche”, nas palavras do presidente Getúlio Vargas7. Para Alzira Vargas foi o “canto de cisne da monocultura latifundiária”. E o próprio Getúlio Vargas disse que “a reconstitucionalização, antes que o país estivesse preparado, correspondia a amputar a revolução de 1930 da maior parte daquilo que poderia ter alcançado”8. Na esquerda comunista, o PCB coerentemente esquivou-se de qualquer compromisso com o movimento. O romance A Locomotiva de Afonso Schmidt, embora publicado só em 1957, é exemplar a esse respeito. Ele narra andanças de um jornalista de O Estado de S. Paulo que é comunista (alter ego do autor), descreve a covardia dos heróis de retaguarda, filhos da elite paulista; e a repressão policial assassina contra os operários. Para os trotskistas o operariado deveria lutar por uma constituinte, mas independentemente de seus patrões. No início dos combates de 1932, seus líderes, Mario Pedrosa, Aristides Lobo e outros foram denunciados pelos comunistas às autoridades policiais como contrarrevolucionários9. Durante os anos 1950 surgiram algumas publicações sobre a participação de associações corporativas de classe no esforço de guerra e memórias que buscavam engendrar a imagem de um levante vitorioso no plano ideológico. Em 19 de março de 1964 a Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi organizada pelos conspiradores de São Paulo para desestabilizar o Governo João Goulart. Na visão de muitos deles ela deveria ser o desdobramento de 1932. E havia a suspeita de que em caso de impasse militar São Paulo pediria aos Estados Unidos o reconhecimento como Estado beligerante. O Golpe de 1964 não criou um ambiente para a memória de 1932. A Ditadura rasgou a legalidade e apregoou a centralização do poder e a missão especial do exército enquanto a sublevação paulista se dizia constitucional, embora isso não fosse nenhum problema para que à frente das quinhentas mil pessoas que desfilaram no Viaduto do Chá marchassem os voluntários da Guerra Paulista. E seus filhos e netos formavam os grupos de choque preparados para a eventualidade de uma guerra civil10. A Ditadura Militar não proibiu as comemorações de 1932. E na verdade elas nunca extrapolaram o ambiente das escolas de São Paulo. O último ditador militar, João Batista Figueiredo, era filho do principal comandante militar de 1932: Euclydes Figueiredo. Em 1982 o governo paulista comemorou oficialmente o cinquentenário de 1932. Era o auge estadual dos valores da direita popular com apoio militar, mas esses estavam distantes dos valores da elite liberal da classe média. Nos militantes anos de 1980 o meio acadêmico desnudou os fundamentos ideológicos de 193211. O cientista social da USP Paulo Sergio Pinheiro encerrava um filme de Silvio Back dizendo que a esquerda precisava se reconciliar com 1932... O Nove de Julho foi oficializado pela Lei Estadual n.º 9.497, de 5 de março de 1997. Os anos de governo Lula criaram ambiente para a revalorização do levante de nove de julho. Buscava-se defender a elite paulista da acusação de separatismo12 através da análise técnica de imagens de bandeiras em manifestações do período ou ressaltar as repercussões internacionais do movimento13. A palavra “paulista” já era questionada pelos líderes de 1932. Afirmavam dirigir um movimento nacional e que a maioria dos seu chefes militares era de fora do Estado, como Bertoldo Klinger, Euclydes Figueiredo e Isidoro Dias Lopes. Por fim, tinham aliados nas oligarquias descontentes do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e em vários Estados. Entretanto, o movimento reduziu-se geograficamente às fronteiras do Estado de São Paulo. Foi “paulista” porque embora tivesse importantes aliados políticos de fora exprimia o descontentamento da principal oligarquia do regime anterior. São Paulo era hegemônico na República Velha. As origens daquela hegemonia14 remontam ao crescimento econômico de São Paulo e ao momento em que o seu governo estadual apoiou o presidente Floriano Peixoto contra a Revolta da Armada15. Naquela ocasião ele aproveitou a situação para importar armamentos e enviar batalhões acadêmicos para o Rio de Janeiro. Na Revolta Federalista16 o governo central também contou com o apoio paulista. Quando as tropas de Gumercindo Saraiva chegaram a Itararé, desistiram porque a partir dali sua guerra de movimento teria dificuldades numa região povoada e com muitos chefes locais17. Sintomaticamente, São Paulo sempre “condicionou” o apoio dado à defesa da Constituição, esperando assim ter legitimidade para impor a Floriano o seu sucessor. O governo estadual não dissolveu depois os seus “batalhões patrióticos” e eles foram um apoio simbólico à posse de um paulista em 1894, o Presidente Prudente de Moraes18. Embora a hegemonia paulista se consolidasse com um partido que submetia os coronéis do interior19 e através do controle da comissão de verificação das atas eleitorais na Câmara a partir da presidência de Campos Salles (1898-1902), ela também se baseava em crescente aparato militar porque as forças armadas locais, regionais e a nacional se ameaçavam continuamente. A Força Pública paulista recebera em 1906 uma Missão Francesa para sua organização e treinamento bem antes do exército nacional. Em 1918 o instrutor da Missão Francesa era o coronel francês Louis Jousselain20. São Paulo aumentou sua Força Pública de 8.875 a 14.254 homens entre 1918 e 1926. Cerca de metade do efetivo de todas as forças estaduais do país. A força paulista possuía dez batalhões de infantaria (o dobro de Minas Gerais, por exemplo), um batalhão escola, dois regimentos de cavalaria, um batalhão de artilharia e um setor de aviação21. Revolução de 1930 A crise da hegemonia paulista se inicia com a subida de Artur Bernardes (1922-1926) ao poder. A Revolta no Forte de Copacabana e, especialmente, a Revolução Paulista de 1924 e a Coluna Prestes consolidaram um fenômeno oposicionista novo: o tenentismo. Os tenentes estavam identificados com a pequena burguesia22. Mas ao contrário de sua classe, eles eram radicais nas técnicas empregadas (levante, guerrilha, coluna etc). Enquanto as camadas médias se restringiam a ligas de inquilinos ou contra a carestia, os tenentes eram jovens, solteiros e propensos a enfrentar anos de clandestinidade sem perspectivas profissionais. Mas o ideário pequeno burguês impôs limites reformistas ao programa. Para entender o tenentismo é preciso unir a dimensão organizacional no estudo do comportamento dos tenentes com seu pertencimento às camadas médias urbanas23. A vanguarda tenentista era um conjunto de oficiais de média patente, portanto sem o comando da instituição; seus principais líderes foram expulsos e, embora mantivessem contatos na corporação, passaram anos em meio a uma atividade conspiratória com civis. Ocorreu uma ruptura histórica que diferenciou o tenentismo das agitações florianistas segundo a excelente expressão de João Quartim de Moraes: a “cisão horizontal do Exército”24. Todavia, os tenentes entregaram a direção política do movimento às oligarquias dissidentes. Embora o o presidente eleito em 1930 fosse o paulista Júlio Prestes, o Partido Democrático fundado em 1926 não o apoiava. O PD congregava uma parte da burguesia alijada do poder político e que se apropriou do velho discurso da campanha civilista contra a fraude eleitoral e a corrupção, as quais seriam identificadas com os carcomidos (assim eram chamados os membros do Partido Republicano Paulista (PRP). No Rio Grande do Sul o Partido Libertador fundado em 1928 também se opunha ao Partido Republicano local, liderado por Borges de Medeiros e Getúlio Vargas. Em 1930, Vargas conseguiu unir todas essas frações descontentes mais o Estado de Minas Gerais e da Paraíba na Aliança Liberal. Depois da derrota prevista nas eleições, com apoio dos tenentes Getúlio levou a Aliança Liberal rumo ao poder pelas armas. No dia 24 de outubro de 1930 o presidente Washington Luís já estava deposto. De um lado, mais uma ação da oligarquia dissidente, mas de outro um movimento militar radical que a sustentava. Já se disse que o movimento no Brasil se inscreve no rol de golpes militares da América Latina: no Peru (1930-1933), na Argentina na queda Yrigoyen (1930), no Chile (1931), no Uruguai (1933) e em Cuba (1933). Na América Latina “doze países mudaram de governo ou regime” no biênio 1930-1931, “dez deles por golpe militar”25. Embora o sentido político fosse diverso, eles eram países exportadores sob a crise de 1929. Mas poucos se lembram que na Argentina o general Uriburu restaurou as “condições constitucionais normais, depois de ter derrubado o presidente eleito Yrigoyen, em setembro de 1930”26. Em 1932 as hostes latifundiárias se levantaram em armas no Equador, mas foram derrotadas27. Em 1930 o governo paulista foi assumido pelo comandante da 2ª Região Militar, general Hastinphilo de Moura. Esperava-se que logo o Partido Democrático paulista assumisse o poder, pois ele representava uma ala dissidente da oligarquia paulista e tinha apoiado a Aliança Liberal. Mas os tenentes entenderam que o apoio tinha sido frágil e impuseram o tenente João Alberto Lins de Barros, oriundo da Coluna Prestes. A decisão de entregar o poder estadual ao Tenente pernambucano João Alberto em detrimento do “democrático” Francisco Morato calou fundo na burguesia paulista. O PD obteve cargos no governo, mas ficou descontente. João Alberto havia autorizado um comício do Partido Comunista em São Paulo e tinha um irmão comunista. Tais fatos o incompatibilizavam com o PD. Ele também mandou cumprir sem mais apelação a sentença que obrigava o Estado de São Paulo a pagar os vencimentos retroativos dos oficiais expulsos da Força Pública na Revolução de 1924 e reintegrá-los28, o que não agradava o PRP. Mas o interventor não era propenso a qualquer revolução profunda das estruturas econômicas e sociais e tentou se aproximar dos fazendeiros paulistas. Luiz Carlos Prestes o acusou de se vender a Vargas em troca de um apartamento, um automóvel, uma vitrola e muitos discos29. Os Democráticos de São Paulo, incomodamente associados com o tenente João Alberto logo esqueceram suas críticas à corrupção do velho PRP. Tempos depois, era Miguel Costa quem já lamentava que os interventores caíram nos antigos vícios da República Oligárquica30. O chefe de polícia Vicente Rao, por exemplo, simplesmente mandara títulos em branco para os diretórios de seu partido nomear delegados e prefeitos por todo o interior. Não faltaram mesmo as vinganças contra os carcomidos. Por isso Vicente Rao foi demitido. Em fevereiro de 1931 o PD passou a atacar o interventor e em abril saiu do governo. Neste mesmo mês ocorreu uma rebelião na Força Pública paulista: a abrilada. O rompimento paulista com o Governo Provisório repercutiria pelo país e dissidências oligárquicas regionais demonstrariam sua simpatia através de telegramas e artigos de jornal. Incontornável, a situação política levou Getúlio Vargas a substituir em 13 de Julho de 1931 João Alberto. Plínio Barreto, redator chefe de O Estado de S. Paulo, foi convidado, mas Miguel Costa, comandante da Força Pública Paulista se opôs fortemente. O juiz Laudo Ferreira de Camargo tomou posse. Ele exigiu a anistia aos rebeldes da abrilada da Força Pública. Vargas aceitou. Mas Camargo renunciou em novembro de 1931 por também sofrer a oposição de Miguel Costa e João Alberto. Miguel Costa era outro inimigo da oligarquia paulista. Comandara a Rebelião de 1924 e era acusado pelos próprios colegas no governo federal de ser comunista, o que, naturalmente, ele não era e negava31. O poder voltou às mãos dos “tenentes” quando assumiu o Coronel Manuel Rabello. Ele descontentou logo a elite por ampliar as atribuições do comando geral da Força Pública, ou seja de Miguel Costa. Foi ridicularizado ainda por propor a proteção à mendicância, considerando que “a recusa ao trabalho não é um vício peculiar às classes pobres; considerando que a contemplação da sociedade demonstra que o maior número de vadios é formado pela burguesia; considerando que os mendigos, vivendo da bondade alheia, são moral e socialmente úteis, enquanto são nocivos os ricos ociosos, que vivem em pleno desregramento moral, sem nada produzirem”32. Em fevereiro de 1932 o PD aproximara-se dos antigos adversários do PRP e formara a Frente Única Paulista, que propugnava a “reconstitucionalização” do país. Tal ideia tinha como pressuposto que a República Oligárquica havia sido uma democracia liberal e constitucional e que os “paulistas” desejavam retornar a um regime de liberdades... A 24 de fevereiro o Governo Vargas tinha anunciado a nova lei eleitoral, mas a depredação do Diário Carioca um dia depois por tenentistas e a inação governamental diante do fato, acirrou os ânimos oposicionistas. É verdade que o Ministro da Justiça, o gaúcho Maurício Cardoso, quis apurar responsabilidades. Desautorizado por Vargas, ele se demitiu. Em São Paulo sucediam-se comícios. A 30 de abril a festa dos calouros da Faculdade de Direito do Largo São Francisco tornou-se um ato oposicionista. Mais uma vez cedendo àquela elite, Vargas nomeou em 7 de março de 1932 o interventor Pedro de Toledo, paulista e civil, como queria a classe dominante local. Em 14 de maio de 1932 Vargas anunciou as eleições para a Assembleia Constituinte em um ano. Não havia mais base para o discurso oposicionista e ele se refugiava em mitos do passado. O discurso com que Ibrahim Nobre incendiou os corações da elite rememorava a raça, as Bandeiras, o cristianismo33 como elementos definidores do paulista. No dia 23 de maio os estudantes da Faculdade de Direito, secundados por uma massa de apoiadores, protestaram contra a suposta intervenção do Ministro Osvaldo Aranha no governo de Pedro Toledo. Em seguida tentaram invadir a sede onde estavam os membros da Liga Revolucionária. O grupo foi baleado e cinco jovens morreram no confronto: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Nascia a sigla MMDC (Orlando de Oliveira Alvarenga foi incluído depois na lista). Os Combates Não se pode dizer que a conspiração paulista fosse inesperada. A partir da metade de 1931, Góis Monteiro deslocara tropas de Alagoas e de Santa Catarina para o Vale do Paraíba fluminense, prevenindo-se contra um avanço de São Paulo. Por outro lado, o Coronel Júlio Marcondes Salgado criou companhias de emergência de 200 a 300 homens em Santos, Campinas, Taubaté, Ribeirão Preto, Bauru e Itapetininga. Reservistas e voluntários civis já foram arregimentados em junho de 193234. Mas o conluio paulista foi precipitado. A substituição do temperamental Bertoldo Klinger do comando militar em Mato Grosso, após rusgas com o Ministro da Guerra, fez com que ele viesse a São Paulo com apenas cem homens quando tinha prometido 5 mil. O “primeiro ato revolucionário ostensivo” foi a ocupação dos Edifícios dos correios e telégrafos e da telefônica35. A partir daí ficou caracterizado o rompimento entre São Paulo e o Governo federal. A sede da II Região Militar de São Paulo foi ocupada no dia 9 de julho e obteve a adesão do General Luiz Pereira de Vasconcelos, o novo comandante que acabava de chegar do Rio de Janeiro. A ofensiva em direção ao Rio de Janeiro parou nos dias seguintes. As tropas paulistas perderam a oportunidade da surpresa e se fixaram numa guerra de trincheiras. Alguns dias depois de 9 de julho os dirigentes paulistas sabiam que a Revolução estava militarmente derrotada36 e só podiam resistir à espera do apoio de outros Estados. Então por que continuar? O Governador Pedro de Toledo, aclamado em 10 de julho, e os comandantes militares da insurreição tiveram apoio imediato de manifestações públicas na capital. As poucas vozes oposicionistas eram minoritárias (trotskistas, anarquistas e comunistas) e suas lideranças estavam convenientemente encarceradas. Mas o apoio popular era um mito, como veremos a seguir. O exemplo da resistência poderia servir para abalar a confiança da Ditadura e talvez obter de alguma nação estrangeira o reconhecimento do estado de beligerância. Seria humilhante por demais render-se sem lutar. Como disse o próprio General Klinger: “Para não dar por perdida a partida antes do tempo, a senha do alto comando foi durar”37. A tal ponto que mesmo uma proposta de Constituição provisória, trazida por Mauricio Cardoso, foi rechaçada, quando talvez tivesse sido uma saída quando a total derrota militar ainda não se efetivara. Apesar de pequenos levantes “constitucionalistas” em Santa Catarina, Amazonas, Pará e de estudantes em Salvador, do ex-presidente Artur Bernardes em Minas e de Borges de Medeiros no Rio Grande do Sul, o movimento paulista ficou isolado. Olegário Maciel, em Minas Gerais e Flores da Cunha no Rio Grande do Sul “traíram” a causa constitucionalista e apoiaram a Ditadura de Getúlio Vargas. O ataque das tropas federais teve rápido sucesso no setor sul. Entre 18 de julho e 10 de agosto o general Waldomiro Castilho de Lima obtêm sucessivas vitórias quase sem combate. Os paulistas recuam continuamente. Embora a permanência da guerra tendesse a revelar crescente supremacia numérica e bélica federal, em muitos combates os paulistas eram em igual ou maior número. A resistência em Buri foi a mais proclamada. Mas aquela frente contava com 7.060 legalistas contra 10.250 paulistas, incluindo 1.200 da Legião Negra38 do comandante J. Lafayete. Um pequeno grupo de soldados indígenas também foi mobilizado. Os Negros Sob a tutela do discurso liberal havia uma ordem coronelística que em 1932 se manifestaria fortemente. A mobilização de voluntários no interior dependeu do poder local dos “coronéis” que muitas vezes buscavam livrar os “melhores filhos” da elite de um real engajamento em campo de batalha 39. A Legião Negra foi uma dissidência da Frente Negra Brasileira, criada logo no início do levante Constitucionalista. O racismo não deixava de existir porque uma parte dos negros apoiava a causa paulista. Quando adentravam uma cidade não eram aplaudidos e bem recebidos como os batalhões acadêmicos. E apesar das matérias jornalísticas e radiofônicas favoráveis aos negros combatentes, eles eram muitas vezes chamados para proteger os filhos das classes dominantes, como os do Batalhão 14 de julho na Frente Sul40. Embora, depois um pelotão do 14 de Julho, em Buri, tivesse sido elogiado pelo comandante que era um oficial de carreira41. Além disso, os negros compartilhavam os problemas de todos os voluntários: a instrução rápida e deficiente, a falta de munição e o armamento ruim. Se se pudesse escolher, o pior seria dos negros. Mas na maioria dos casos não havia escolha, dada a inferioridade bélica das tropas paulistas. Um dos principais comandantes paulistas, o Coronel Palimércio Rezende, era negro. Mas um relato elogioso de sua participação no setor Leste (Minas Gerais) em nenhum momento informa isso. Mesmo quando se ressaltam aspectos físicos como sua estatura avantajada, sobrecenhos cerrados e falta de sorriso42. Foi declarado que a Legião Negra teria sido exterminada durante a guerra civil43. Mas seria o extermínio de um número muito expressivo para a média de mortos de todos os combates, já que a quantidade de soldados da legião era de cerca de 1.200 e há fontes que indicam até 2 mil, números que superam o tamanho de um batalhão. Os jornais noticiavam a legião como exemplo do concurso de todos os povos ou “colônias” para o sucesso de uma causa sagrada. Colônias alemã, italiana, japonesa ou espanhola apoiariam a causa. Eram igualados a corporações como a dos dentistas, médicos, engenheiros, comerciantes etc. É impressionante que indígenas e negros que eram brasileiros reduziam-se a mais uma corporação. Não consta que houvesse uma “legião branca”. A formação de uma legião negra dividiu os negros militantes da época. De qualquer maneira, ela teve papel importante na guerra. A sua formação era mais um indício do gueto social em que viviam seus membros e do racismo institucional. Se havia uma legião é porque os jornais silenciavam que havia um número ainda maior de negros que combateram como soldados em todos os batalhões e regimentos. O Despreparo das Tropas Enquanto a coragem dos voluntários paulistas da classe média acabava na primeira noite invernal, as tropas mais eficientes e que mais resistiram no lado dos revoltosos foram as unidades locais do exército que aderiram à causa constitucionalista. Eram melhor treinadas que os voluntários. Estes muitas vezes sequer sabiam manejar armas de fogo e seu visível entusiasmo inicial desabava diante da primeira fuzilaria. O maior exemplo de pânico foi o batalhão Floriano Peixoto na Frente Sul, embora sua companhia de granadeiros tivesse espírito de combate44. O medo e a displicência com que os soldados se entregavam à luta de ambos os lados eram menos sintoma de uma condição humana do que de desinteresse pelas razões da guerra. A tomada de Itararé foi descrita por algumas testemunhas como ridícula. “Fugir assim sem dar um tiro”45, lamentava um soldado do Batalhão 14 de julho. Itararé, na visão de um adversário dos constitucionalistas, era uma cidade com formidáveis defesas naturais com uma única estrada de acesso. Serpenteando em areia clara, ela seria fatalmente alvejada por armas automáticas situadas nas elevações que a margeiam46. O lado atacante também tinha medo. Como muitos soldados invasores perdiam contato com o comando e ignoravam a situação global da frente, saíam desolados diante de um recontro difícil. Foi assim que muitos recrutas federais fugiram em desabalada carreira e não se detiveram mesmo diante da ameaça do revólver de seu oficial47. Honório de Sylos considerou a queda de Itararé uma traição das tropas paulistas ali estacionadas. No entanto, o Capitão Dilermando Assis, inimigo dos paulistas, assentiu que a tropa paulista era bisonha e enfrentara a superioridade de “doze bocas de fogo de 75” atirando ao mesmo tempo48. A inexperiência estava em ambos os lados. Quando um batalhão da polícia baiana49 atacou na frente do vilarejo de Eleutério, próximo a Mogi Mirim, os soldados entraram em pânico e se dispersaram por causa de dois pequenos aviões que sobrevoavam suas cabeças. Como o despreparo era generalizado, também do lado federal houve exemplos de pânico, como o do 29° Batalhão de Caçadores de Natal. Diante do ataque da locomotiva blindada no Setor de Minas Gerais, a tropa apavorou-se. O tenente Coronel Alfredo Lúcio Pereira, censurado pelo comandante da Divisão, suicidou-se com um tiro de pistola na cabeça50. Mas o medo se combinava ao corpo mole. O “privilégio” não era de soldados e cabos, era distribuído democraticamente pelo corpo de oficiais. Na mesma ofensiva de Itapira duas unidades do Exército “não atacaram com a decisão que se fazia mister” de acordo com o eufemismo de Juarez Távora . Por outro lado, entre os oficiais do Exército de ambos os lados havia laços de camaradagem que também demonstravam a falta de seriedade no confronto. No dia 2 de outubro de 1932, quando já findava a guerra, os oficiais constitucionalistas que estavam na Fazenda Paiol, destacados para a Serra do Quebra-Cangalhas, recusaram-se a se render e fizeram documento de protesto contra a atitude indigna da Força Pública paulista, a qual abandonara suas posições. O mais importante, porém, é que uma vez cercados por um batalhão da Bahia, a negociação foi fácil. Os oficiais de ambos os lados haviam sido colegas em cursos na Escola Militar. Os paulistas renderam-se, foram bem tratados e até confraternizaram juntos num almoço51. É claro que todas as forças armadas eram mal treinadas. Os soldados eram paupérrimos e dispensados por desnutrição. Não tinham experiência de combate. Alguns batalhões provisórios do Ceará eram recrutados entre flagelados da seca e nem chegaram a lutar por puro despreparo, embora outros soldados daquele Estado tenham participado de batalhas no território paulista52. Os tenentes que lutaram nos anos 1920 viveram mais conspirações do que a luta aberta. A Revolução Paulista de 1924 tivera luta de trincheiras mas durara menos de um mês. O volume de armamentos militares envolvidos naquelas escaramuças foi pequeno face à guerra civil de 193253. A Coluna Prestes foi uma constante guerra de movimento em que os combates eram evitados. Em 1932 a estabilização das frentes criou uma situação nova. Embora tímida diante da Guerra do Chaco (entre Bolívia e Paraguai) que acontecia simultaneamente, a guerra civil paulista envolveu somente do lado federal cerca de 100 mil homens. Houve 2.100 mortos totais e 7.600 feridos. Cerca de 900 paulistas tombaram. Só no setor sul morreram oficialmente 440 combatentes federais. Não houve batalhas campais. Houve planos de campanha para a retomada de Buri, mas nem chegaram a ser colocados em prática. De toda maneira o levante paulista produziu 84 combates. Setor Sul Um dos eixos em que a invasão do território paulista podia ser feita era o de Ponta Grossa a Itararé e Ribeira, por via férrea. O que aumentava a velocidade de marcha. Numa área mais setentrional a penetração podia se dar pelo eixo Chavantes – Avaré – Botucatu. O inimigo poderia então dominar a Alta Sorocabana e ameaçar a Noroeste. Mas aquela região estava numa situação excêntrica em relação ao Paraná (de onde vinham parte das tropas federais), em comparação com Itararé. Dali se podia demandar Sorocaba54. De Ribeira se podia atingir Capão Bonito por estrada de rodagem. O objetivo estratégico do Destacamento do Setor Sul, chefiado pelo General Waldomiro Castilho de Lima, era entrar em São Paulo por Itararé e de sucesso em sucesso atingir Itapetininga, onde poderia encontrar um braço de suas tropas que rumaria por Ribeira e Apiaí. O caminho de Sete Barras a São Miguel Arcanjo era dificultado pela Serra da Macaca. Ainda em 2011 era uma estrada de terra sinuosa, que não comportaria avanço de caminhões, tropas e canhões com facilidade. A ligação de Juquiá a Piedade não existia. Embora houvesse estrada de rodagem de Apiaí à capital, a velocidade de marcha seria morosa e sujeita ao ataque do vermelhinho, avião de combate paulista. O caminho mais vantajoso era a ferrovia rumo a Sorocaba. As tropas do Governo Federal foram tomando uma a uma as cidades em seu caminho, como já vimos. É que Itararé era defendida somente por um batalhão e dois esquadrões da Força Pública e um Batalhão de Voluntários. Itararé caiu fácil. Embora se atribua só à imperícia dos voluntários, o fato é que a Força Pública se acovardou e fugiu sem ao menos destruir a linha férrea. Um voluntário lamentava: “Abandonamos a situação como covardes, sem oferecer resistência”55. Outro voluntário declarou que ao começo da fuzilaria inimiga seu batalhão, o 14 de Julho, tinha todo o tempo 400 homens inativos, enquanto uma pequena tropa da Força Pública resistia. Só quando já era tarde uma pequena parte de seu batalhão foi mandada em socorro dos que resistiam. Sob pesado fogo de artilharia, abandonados por vários de seus oficiais, que desertaram dos seus postos, os soldados recuaram56. Reagrupadas em Buri as tropas paulistas, o Coronel Taborda imaginou defender a cidade enquanto 1500 homens de infantaria apoiados por artilharia fariam um contorno por Capão Bonito e Ribeirão Grande, sobre Faxina57, atingindo a retaguarda das tropas do General Waldomiro de Lima. O plano falhou devido à imperícia do comandante, o Tenente Coronel Moraes Pinto, que era veterano da Revolução de 192458. As suspeitas sobre oficiais da Força Pública aparecem em muitos relatos. Ela estava politicamente dividida entre salgadistas59 e miguelistas. Espiões frequentavam o seu comando. No Posto de Comando da Coluna Romão Gomes, figurava o Tenente José Alves Barroso, espião do governo federal60. A Rendição vem dos Setores Norte e Leste Somente no Setor Norte houve uma real resistência. Foi a famosa batalha do túnel da Estrada de Ferro Central do Brasil entre 10 de julho até o final do mês de setembro. A frente envolveu Piquete, Lavrinhas, Guaratinguetá, Resende, Queluz, Cruzeiro, Vila Queimada e outras localidades. A frente Leste envolveu Bragança Paulista, Campinas, Mogi-Mirim, São José do Rio Pardo e Ribeirão Preto, entre outras cidades. Nos dois lados da guerra as polícias militares de São Paulo e Minas Gerais resistiram a aceitar o comando do exército, o que revelava resquícios da República Oligárquica. O QG da PM mineira, embora sujeito ao controle do Exército recusou-se a obedecer a atuou como QG autônomo em Poços de Caldas. Combinou-se então que as tropas federais iniciariam um ataque na região de Eleutério, rompendo a linha inimiga em demanda de Itapira e à Polícia Mineira caberia só a perseguição das forças paulistas em retirada. Em todas as frentes o Governo Provisório de Getúlio Vargas procedeu à mistura de forças do Exército e das polícias de vários estados da federação. Os paraibanos atuaram com paranaenses e gaúchos na tomada de Buri. Itapira foi conquistada pelas tropas do Destacamento do Coronel Eurico Dutra, integradas pelo Regimento de Cavalaria Provisório de São Borja, por um batalhão da Polícia Paraibana e outras unidades federais. Para Hernani Donato não faz sentido afirmar que o Levante fracassou por parar na fronteira com o Rio de Janeiro em vez de avançar sobre o Distrito Federal. O próprio Góis Monteiro espalhou essa ideia. O Coronel Euclydes Figueiredo, um dos líderes “paulistas” argumentou que sua missão (a pedido do Rio Grande do Sul) era manter-se por dez dias. Bem, ele resistiu por 82!61 Mas perdeu o efeito surpresa que o teria levado ao Palácio do Catete e à deposição de Getúlio Vargas. Erro que surpreendeu a Juarez Távora. Contra tal acusação, Figueiredo escreveu que fazê-lo seria uma precipitação. Não se podia atirar toda a tropa sem consideração de ordem militar, seria uma aventura que poria em risco o coroamento final certo do levante62. Este só teria perdido porque lhe faltaram o prometido apoio de Minas e Rio Grande do Sul63. A guerra findava quando no início de outubro o general Klinger, comandante do chamado Exército Constitucionalista, pediu o armistício. Pouco depois, o Coronel Herculano (da Força Pública), rendeu-se à revelia de alguns chefes descontentes que desejavam prosseguir a luta. Mas o cerco a São Paulo era questão de dias, pois Itu e Campinas já haviam caído. A propaganda, é claro, manteve a ilusão da vitória até o fim. O rádio foi uma “metralhadora de boato e de notícias falsas”64. Depois de 36 horas de sangrento avanço da infantaria nacional, apoiada por artilharia e aviação, que destruiu as posições paulistas em Vila Queimada, no Vale do Paraíba, por exemplo, a Rádio Educadora Paulista anunciou: “Situação continua inalterada. Em Vila Queimada as forças constitucionalistas sofreram um ligeiro ataque que foi repelido”65. A cessação da luta foi envolta em mútuas acusações entre os constitucionalistas. Depois da queda de Itapira a situação se agravou. Enquanto o Tenente Coronel Villa Bella reorganizava a defesa da cidade, o Coronel João Dias de Campos se recusava a ir a Itapira e abandonar Mogi Mirim. De repente, os constitucionalistas abandonam Itapira, apesar das informações de que o adversário organizava-se na defensiva. Tanto é que os federais só ocuparam a cidade oito dias depois de seu abandono. O Tenente Villa Bella, fugido a São Paulo, teve ordens de voltar ao front em Mogi Mirim. Montou-se a linha defensiva no Morro do Gravy. Auxiliados pelo Batalhão Piratininga, por voluntários e artilharia Krupp 75, os soldados da Força Pública, uma vez mais acovardados, abandonaram suas posições ao primeiro ataque. Em seguida fugiu o Batalhão Piratininga. Só resistiu por mais tempo a tropa do 6º Regimento sob comando do Capitão Marco Antônio Félix. Mas era a tropa que combatera no Túnel, tendo sido batizada no fogo mais intenso da campanha inteira. Tudo isso evidenciava as desconfianças entre a Força Pública e o Exército sediado em São Paulo. Os oficiais da Força Pública não obedeciam a muitas ordens dos oficiais do exército. Por isso, o Alto Comando constitucionalista determinou ao Coronel Herculano que assumisse as operações. Ele, no entanto, dava as ordens de retirada continuamente66...
Já no fim da guerra, o General Klinger propôs lançar a Coluna Romão Gomes na direção de Ressaca, ao mesmo tempo que o Coronel Faria, que se achava em Limeira, exerceria o ataque na direção Leste. Mas o Comando da Força Pública não aceitou, embora Romão Gomes (que era da Força Pública) tenha declarado depois que quis continuar a luta67. Ele recebeu ordens de simplesmente abandonar posições que já tinha reconquistado! O comando da Força Pública já iniciara tratativas de rendição incondicional. A guerra acabava. Aqui entram as razões expostas pelo Coronel Herculano, mais tarde acusado de traição. O seu próprio relato mostra nas entrelinhas que ele e muitos oficiais da Força Pública não tinham nenhum entusiasmo pela sedição de 1932. O Estado de São Paulo era o mais integrado por redes de comunicação e transportes. O fato dos rebeldes atuarem em linhas interiores (no sentido militar) e o Governo Federal em linhas exteriores deveria ser uma vantagem estratégica. Entretanto, a atuação em várias frentes esgotaria o esforço de guerra paulista devido à própria condição geográfica do Estado e à falta de apoio de outros Estados ou de outros países. Como disse Euclydes de Figueiredo, os paulistas manobravam em linhas interiores, mas isso não era nenhuma vantagem estratégica. Faltavam-lhes grandes massas de soldados68. Na Guerra Civil de 1932 as forças rebeldes basicamente operaram em duas frentes extensas. O Sul e o Norte-Nordeste do Estado. Embora se possa subdividir cada um dos setores. O Norte e o Leste (Minas Gerais) concentraram praticamente todo o esforço de guerra. Além disso, houve uma frente Oeste, diante de Mato Grosso, e a frente litoral, mas de pouca importância militar. A frente de Mato Grosso exibiu marchas em direção a Porto Murtinho que se dispersaram sem combate. Houve a ocupação de Três Lagoas. Na frente do Litoral o Forte de Itaipu foi o posto de defesa dos paulistas. O Mito do Apoio Popular Apesar de ser pequena a amostragem, entre os 199 mortos paulistas que foram identificados por profissão 70% pertenciam às camadas médias urbanas e somente 4% eram operários69. Edgard Carone identificou a burguesia e a pequena burguesia como as bases sociais da Revolução Paulista. Esta foi qualificada de “luta heróica e vã” e a classe operária dela não teria participado70. Embora se pudesse fazer a crítica de que Carone, identificado com a historiografia marxista, substituísse a ação real da classe pela de suas organizações partidárias e sindicais, o escritor Paulo Duarte afirmou quase cinquenta anos depois que o movimento era muito popular. Mas acrescentava: “Reconheço que o operariado de São Paulo não apoiou a Revolução de 32. Mas também não sabotou”71. Excetuando-se o relato do anarquista Florentino de Carvalho, há pouca informação sobre o operariado em 193272. Durante o conflito os líderes rebeldes estavam “obcecados pelo temor de uma revolta comunista” na sua retaguarda, segundo relato do cônsul inglês73. Possivelmente eles tinham em mente o exemplo da Alemanha. As imagens das batalhas e estratégias da Primeira Guerra eram constantemente lembradas por muitos oficiais e líderes civis de ambos os lados. Eram comuns as citações do Marechal Foch74 nos relatos dos militares brasileiros. A batalha de Itararé, para os oficiais constitucionalistas deveria ser uma Verdum paulista. Mas obviamente lhes faltava coragem para tanto. Pouco antes da eclosão do levante vários comunistas (entre eles o dirigente Fernando Lacerda) foram presos nos arredores de São Paulo75. Era o pânico que as classes dominantes sentiam diante do operariado. Segundo a polícia política, havia cerca de 1.500 militantes comunistas em São Paulo em 1932. Provavelmente, o número era menor porque os agentes inflacionavam o número de “comunistas” para justificar sua própria existência. O número de militantes no país devia ser um pouco maior do que isso (talvez entre 1750 e 2000), sendo, de fato, São Paulo, o principal polo. Ali estava provisoriamente a própria direção do partido, depois de ter sofrido perseguições no Distrito Federal. Fernando Lacerda e toda a direção do PCB caíram em maio de 1932. O serviço de agitação e propaganda do partido foi desarticulado pela polícia no final de julho. Em agosto, caiu toda a direção do Socorro Vermelho (órgão de auxílio mantido pelos comunistas) e a gráfica foi apreendida. Em seguida a polícia aumenta a repressão na comunidade lituana e húngara, em busca de “subversivos”76. As organizações políticas do operariado se opuseram à guerra, embora os trotskistas apoiassem a luta por uma constituição77 com outros objetivos. Em 1934 os trotskistas da Liga Comunista Internacionalista ingressaram na Coligação das Esquerdas com o PSB e outras agremiações pequeno-burguesas socialistas com vistas às eleições para a Assembleia Constituinte78. Depois disso o socialismo declinou e só ressurgiria de fato depois do Estado Novo. Parte da população urbana aderiu entusiasticamente, como muitas fontes fotográficas demonstraram79. Ainda assim, este apoio ativo não englobava a ampla população dispersa do Estado de São Paulo e muito menos dos bairros operários. Uma parte, particularmente no interior, podia ter simpatias pelos “paulistas” por uma razão regionalista, mas nada além. Era um apoio passivo, fundado no medo da chegada das tropas federais e no preconceito contra os “nortistas”. A burguesia paulista mobilizou as camadas médias contra o tenentismo porque a condição histórica e regional explica o comportamento da classe média paulista por vezes mais do que sua própria condição social. A maneira de ser classe média para aquela população era exprimir-se enquanto “paulista”. O mesmo argumento não se poderia usar para os tenentes. Aqui o esprit de corps fala mais alto. Os jovens oficiais pertenciam a uma instituição de caráter nacional. A farda, a linguagem, costumes etc unificavam os tenentes em todos os lugares do Brasil. A mulher também foi requisitada pelo movimento de 1932. Mas como dona de casa, presa ao lar e à retaguarda, já que a guerra era para os homens. O trabalho mais frequente foi o das costureiras e das enfermeiras, já que essa profissão era vista como feminina por supostamente exigir atributos “naturais” das mulheres80. Mas houve mulheres que se desprenderam do lar e lutaram. A mais famosa delas foi uma negra: Maria José Bezerra, cozinheira da família Penteado Mendonça alistou-se na Legião Negra e gerou o símbolo da Maria Soldado. Ferida em combate, tratou-se e voltou à lide81. O total das tropas constitucionalistas era de 36.207, sendo 22.395 voluntários; 10.200 soldados da Força Pública e 3.612 do Exército. 45,6% estavam no setor Norte; 27,2% no setor de Minas Gerais; 14,76% no setor Sul e o restante no setor de Mato Grosso. Na organização militar das tropas do governo federal, havia basicamente dois setores. No final da luta o Exército do Sul tinha 18 mil homens e o do Leste 35 mil. O restante se dividia entre guarnições de segurança do Rio de Janeiro, Minas e Rio Grande do Sul e tropas situadas em Mato Grosso, teatro secundário da luta82. O problema maior dos paulistas era político e não militar. Tecnicamente suas tropas eram inferiores porque 61,8% delas eram bisonhas, formadas por voluntários sem treinamento. O Exército Constitucionalista lutou também com falta de oficiais. E sem estes, faltam disciplina e eficiência83. Um voluntário reclamava que quase sempre faltou um comando eficiente para orientar a tropa84. Mas muitas tropas do governo federal estavam em igual situação, embora em geral pertencessem às polícias estaduais e ao exército e combatessem com remuneração em dinheiro, ao contrário dos voluntários paulistas85. Os soldados do Exército do Sul, em muitos casos, mal sabiam atirar e desperdiçavam muita munição. O problema era político porque o governo paulista não era democrático e nem podia apelar a uma guerra popular. Seu constitucionalismo era só para as classes dominantes. A maioria da população não viu razão para se engajar. Para Florestan Fernandes: “O clima de exaltação política confinava-se aos núcleos urbanos mais densos e a consistência dos valores que deviam presidir a ‘ação revolucionária’ era pequena, em comparação com as consideráveis proporções do movimento”86. A classe média, em que as manifestações de apoio ao governo se basearam, não tinha tradição de organização. Não criou suas próprias instituições e partidos, embora fornecesse, por sua posição no sistema ocupacional de trabalho, os quadros políticos, os jornalistas, os escritores, os oradores e também os demagogos da Guerra. Os dados da época desmontam o mito do apoio popular. Apenas 4% dos reservistas do Exército mobilizável se apresentaram. Embora haja registros memorialísticos que citam muitos voluntários que não se engajaram por falta de equipamento militar, supõe-se que 170 mil homens e mulheres trabalharam na retaguarda. É bastante gente, sem dúvida, mas não reflete apoio massivo da maioria da população. Ofertaram-se 80 mil donativos em ouro até 24 de setembro87. Destes, cerca de 20 mil alianças ou somente 1,5% das alianças existentes (havia 1 milhão e 300 mil casados em São Paulo). Ou 6,5% se contarmos outros donativos em ouro. A campanha do capacete de aço, uma inovação paulista no caso brasileiro, arrecadou 494:730$000. Produziram-se 33 mil capacetes. Em 12 de setembro as subscrições eram equivalentes a 101.347 capacetes. O valor dos donativos da indústria até agosto era pequeno. A Fiesp arrecadou 38:418$700 e o Sindicato Patronal da Indústria Têxtil 80:036$60088. O clero paulista foi mobilizado, apesar da ideologia liberal dos líderes constitucionalistas. Do outro lado da trincheira, o clero também apoiou Getúlio Vargas89. Mas a Igreja preferiu ater-se ao respaldo espiritual. A doação material foi mínima. D. Duarte Leopoldo doou 9 Kg de ouro e o Bispo de Botucatu, D. Carlos da Costa, marchou à frente do Batalhão de Caçadores Diocesano. Ao final do conflito o Governo Estadual havia arrecadado uma média diária de 35 Kg de ouro. O valor arrecadado foi suficiente para construir o edifício “Ouro para o bem de São Paulo”, na Rua Álvares Penteado. Ele tem o formato de uma bandeira paulista tremulando. O mastro é ornado por alianças encimadas pela representação do capacete de aço. O edifício pertencente à Santa Casa de Misericórdia foi feito com o ouro arrecadado em 1932, mas as doações não representaram um número grande de apoiadores como percentagem do total da população adulta. O total arrecadado foi impressionante: 9.565:068$61090. Mas em 22 de agosto os jornais imploravam o pagamento do imposto federal, o que denotava o medo dos contribuintes de não terem seus pagamentos reconhecidos depois pelo Governo central. O esforço militar de ambos os lados foi obviamente sustentado pelos trabalhadores. No caso paulista, a adesão entusiasmada das camadas médias urbanas não tirou dos ombros da população mais pobre o peso da guerra. A situação do operariado piorava porque a alimentação encarecia e a proibição de importação de trigo substituiu o pão tradicional por outro feito de mistura de trigo e fubá: o pão de guerra91. Embora a produção de pães de 125 gramas atingisse a média diária de 48 mil unidades, eram destinadas exclusivamente aos soldados. Assim como a produção de 10 mil latas de carne por dia. A classe operária organizada não era a favor da tutela que o Governo provisório lhe queria impor. Mas conhecia bem seus patrões liberais de São Paulo. Quando o Ministro Lindolpho Collor veio a São Paulo em 1931, os trabalhadores o vaiaram. No entanto, a 11 de maio de 1932 havia 100 mil operários têxteis em greve e assim permaneceram por um mês92. O governo reprimiu e prendeu seus dirigentes. Diante da “desordem” nos meios trabalhistas, a FIESP pediu ao Ministro do Trabalho a sustação provisória das novas leis sociais. A resposta foi negativa. No ano seguinte o Governo Getúlio Vargas declarou que a questão operária era vista pelo regime anterior como “simples caso de polícia”93. Ao fim da guerra, os soldados comuns adentravam a capital paulista extenuados, sem “encontrarem guarida nem pão”94. Vinham maltrapilhos, sujos e com a barba à moda Luiz Carlos Prestes95. A Casa do soldado, os restaurantes de emergência e as demais instituições de apoio na retaguarda haviam desaparecido e eles voltavam a ser o que sempre foram: desempregados, desclassificados, deserdados96. Infraestrutura As ideias liberais não funcionam para uma sociedade, salvo para umaparte dela assaltar o orçamento público e aumentar a desigualdade. A eclosão do levante Paulista de 1932 levou ao abandono prático do liberalismo e à adoção de ações intervencionistas nos mercados devido à ruptura com o governo federal. Este por sua vez gastou a mais com a Guerra quase 500 mil contos que se reverteram em compra de armas, roupas, alimentos, munição, combustível, soldo etc. Com o decréscimo na arrecadação, o déficit foi de mais de um milhão de contos97. Em São Paulo se decretou um feriado bancário a 10 de julho e uma moratória, dilatando-se o vencimento dos contratos. Os warrants foram dispensados do endosso federal98. O governo estadual emitiu o bônus “pró-constituição” com o fito de garantir pagamentos, o meio circulante e o financiamento de atividades bélicas. Os bônus eram notas de 5, 10, 20, 50, 100 e 200$. Circularam bônus falsos de 100$99. Guilherme de Almeida fez até o poema Moeda Paulista. Inicialmente, eles foram lastreados em meios de pagamento sacados pelos bancos paulistas contra seus créditos no Banco do Brasil ou com garantias de warrants de café. Roberto Simonsen explicava que se tratava ainda de simples troca de papel, pois São Paulo possuía créditos junto ao Banco do Brasil que se tornaram inacessíveis, portanto era lícito imprimir papel equivalente ao que se achava lá depositado100. As exportações para outros estados foram proibidas, o câmbio transferido para o Banco do Estado de São Paulo, os produtos manufaturados isentos de imposto de consumo e o imposto de renda foi antecipado. No dia 13 de setembro foram proibidas quaisquer transações comerciais com metais. O Serviço de Cadastro e Mobilização Industrial foi criado imediatamente após a aclamação do Governador Pedro de Toledo. Na Fiesp, porquanto seu presidente se detivera no Rio de Janeiro, assumiu o comando o empresário e historiador Roberto Simonsen. Homem de capacidade intelectual incomum entre os membros de sua classe. A Congregação da Escola Politécnica de São Paulo também decidiu acompanhar a Fiesp e declarou apoio incondicional à causa constitucionalista. Ela foi vital no desenvolvimento de munições e de metralhadoras. A Fiesp, com autorização do governo, reforçou a disciplina nas empresas e criou a milícia industrial. O ritmo de trabalho nas fábricas convertidas para a guerra aumentou brutalmente. Não só a fábrica de pólvora de Piquete (logo desativada face o avanço das tropas federais), mas a fábrica de munições de São Bernardo do Campo (Matarazzo) e grande parte da produção de suprimentos (tecidos, alimentos etc) exigiram maior quantidade de horas trabalhadas. Para sustentar o aumento da produtividade, a intensificação e a extensão da jornada de trabalho a Fiesp prometeu a garantia do emprego. Além disso, 1.117 estabelecimentos comerciais declararam que continuariam a pagar os salários de seus empregados que estivessem no front. Mas se a classe operária não se entusiasmava com a guerra, alegrava-lhe o pleno emprego gerado pelo conflito. No dia 25 de julho criou-se o serviço de alistamento de mestres, contramestres e operários. As empresas produziram dia e noite. Diante da fiscalização do horário de trabalho (que na época era municipal) a FIESP obteve autorização para o aumento da jornada de trabalho. Outra concessão “benemérita” da indústria paulista aos seus operários foi o pedido ao governo estadual para que autorizasse o trabalho aos domingos. Evidente que o Sr. Pedro de Toledo aceitou. A Fiesp acenou com a proposta de salário dobrado no domingo, o qual deveria ser um descanso remunerado101. Eis a diferença material, para a classe operária, entre seus patrões paulistas e a Ditadura de Getúlio Vargas! Nenhum deles realizaria seus sonhos, mas Getúlio ao menos compreendia a “questão trabalhista” e a necessidade de limitar a extração de mais valia das costas da classe operária. Munição Simonsen criou um Departamento de Mineração e Metalurgia. Requisitou a produção da mina da Serra de Ipanema, antiga siderurgia encravada na região de Sorocaba desde o Reinado de D. João VI. Ao mesmo tempo, Simonsen determinou que a Usina de Ribeirão Preto tratasse o minério de Ipanema e fabricasse ferro silicioso e carbureto de cálcio. Também a mina de Xarqueada, bairro do Querozene, em Piracicaba, foi mobilizada. Uma campanha de arrecadação de metais foi iniciada. Entre 3 e 10 de agosto o estoque de aço subiu de 1500 toneladas aproximadamente para 2.500 toneladas. O estoque possuía chapas e tubos de aço requisitados da Estrada de Ferro Sorocabana. Arrecadaram-se molas, eixos, latão, cobre, estanho, antimônio, alumínio, arame, pregos, folha de flandres, telhas de zinco, bronze, tubos galvanizados, níquel e chapas galvanizadas. Embora os comandantes reclamassem de armamento inferior e fuzis de baixa qualidade, ainda assim São Paulo tinha no início do conflito 66 mil fuzis102. De fato, o almoxarifado da Força Pública em 2 de agosto de 1932 registrou a existência de 8.685 fuzis. Havia 5 mil fuzis novos recebidos da II Região Militar (II RM). O total, portanto era de 16.485. A maioria era do fim do século passado e 2.800 estavam descalibrados. Isto correspondia à metade das tropas paulistas mobilizadas. Não se sabe quantos fuzis havia na II RM, mas supõem-se 50 mil fuzis utilizáveis em caso de mobilização geral. Além disso, a indústria paulista começou a produzir fuzis quase imediatamente. O problema, contudo, era a munição. Estimavam-se aproximadamente 50 milhões de cartuchos, o que daria apenas 15 cartuchos diários por soldado (um participante da época falou em apenas 12 cartuchos), já que a luta demorou 86 dias e mobilizou aproximadamente 37 mil combatentes. Pode-se aventar a hipótese que este número tenha sido aumentado com a produção estadual de mais 10 milhões (numa avaliação superestimada, já que somente em setembro a indústria atingiu uma média apreciável de produção de cartuchos). Todavia, incrementava-se em apenas 20% os cartuchos dos soldados. Era um levante militar em que cada soldado só podia disparar 18 tiros por dia! Esperava-se a milagrosa união da engenharia com a indústria para solucionar a questão. E a união se fez. Por 11 dias a fábrica de munições reduziu em 25% a produção diária de 60 mil unidades devido a sua transferência para evitar ataques aéreos103. Desmontada a fábrica de pólvora de Piquete e transferida para a Estação Mauá, a produção passou de 60 mil tiros no início do conflito a 220.000 e a de granadas de mão octuplicaram, chegando a 8 mil por dia. A produção de tiros de Krupp e de Schneider passou de 50 e 25 tiros a 200 e 100, respectivamente104. Em princípios de setembro iniciou-se o programa de 400 tiros por dia dos canhões Krupp e Schneider. A Escola Politécnica improvisou lanças-minas manejáveis que arremessavam projéteis de 2 quilos a 800 metros. A 16 de agosto produziu uma réplica de um Krupp 75. Usou-se aço de eixo de locomotivas para obuses 105 e para economizar gasolina o engenheiro Alfredo Jordão construiu o aparelho de gasogênio. Em setembro a produção de munições foi de quase 4 milhões e meio de unidades. Eram 240 mil tiros a 30 de setembro (33% de fábricas adaptadas). Apesar do bloqueio ao comércio exterior, o Exército Constitucionalista conseguiu comprar aviões novos que vinham através de Mato Grosso105. A Guerra Civil de 1932 foi a primeira em que houve combates aéreos. Houve bombardeios de população civil indefesa no massacre do Contestado, mas não combates entre aeroplanos. Para contornar o bloqueio, o governo estadual tentou obter o reconhecimento do estado de beligerância junto a outros países, mas sem sucesso. A 17 de setembro houve reunião do governo estadual com os corpos consulares. São Paulo tinha a vantagem de possuir indústria sem competidor no país. A sua rede escolar, de transportes e de saúde era superior a qualquer outra no Brasil. Seus soldados foram vacinados contra a febre tifoide e disenteria. O SATO (Serviço de Apoio às Tropas em Operação) distribuiu caixas de soros, antigripais e vários remédios para curativos. O Estado possuía também mais automóveis que o país no seu conjunto. Somente nos anos de 1924 e 1925 o Estado de São Paulo importou 60.823 automóveis contra 14.341 do resto do país. A indústria colocou em ação carros de combate, lanchas com torpedos e trens blindados. Embora a inovação não fosse uma novidade paulista, como se apregoou. Na Revolução de 1930, Angelo Zapelli, um italiano que fizera parte dos arditi da Grande Guerra, revestiu um caminhão com chapas de aço106. Devido à falta de matérias primas, improvisaram-se duas chapas de aço com uma carreira de lã. Os carros de assalto eram pesados demais para as estradas de rodagem e pontes, por isso o blindado que mais importância militar teve foi o trem. O trem blindado foi a única superioridade em artefatos bélicos decisiva em alguns combates107. Certa ocasião, uma simples entrada do trem blindado no território de Minas colocou em debandada as tropas adversárias108. A 23 de julho o Coronel Júlio Marcondes Salgado, da Força Pública, teve a carótida cortada por estilhaço de morteiro, quando assistia à demonstração de um explosivo de fabricação improvisada. O General Klinger ficou ferido. O engenheiro Marchini, da Escola Politécnica, perdeu um braço numa explosão. Vê-se que a eficiência paulista era duvidosa no que tange à qualidade da munição. Um voluntário recorda que no seu primeiro combate, que felizmente não aconteceu, ele se postou para a defesa do Vale do Baú. Só mais tarde soube que toda a sua munição estava deteriorada109. Num setor em que esteve depois, importante para cobrir o flanco esquerdo do Vale do Paraíba, não havia artilharia e a munição que lhe entregaram era imprópria para Fuzis Metralhadoras. No mesmo setor norte, em primeiro de setembro o Tenente João Custódio Domingues sustou o avanço de sua tropa para economizar munição, após uma vitória que o deveria levar à perseguição do adversário110. Na tomada de Guaxupé o Batalhão Sete de Setembro estava sem munição, embora assistido pela Coluna Romão Gomes111. As tropas gastavam cartuchos demais por medo. A Força Pública recebia uma média diária de munição de infantaria que alcançava 35.461 unidades. A média diária de produção era de 165.781, mas era repartida entre vários setores e comandos, sendo o mais bem aquinhoado o Coronel Taborda em Itapetininga (41.366)112. Os oficiais do Exército, um pouco mais experimentados, desperdiçavam menos munição e não usavam as metralhadoras quando o adversário estava ainda a 3.200 metros de distância. Já os oficiais da Força Pública atiravam a qualquer distância113. Ainda assim, a munição em falta era substituída por granadas que, na frente norte havia em certa quantidade. Eram atiradas com fuzil. A própria matraca (aparelho de madeira fabricado nas oficinas da Rede Sul Mineira114, em Cruzeiro) foi mitificada. Ela não servia para simular a munição de que os paulistas careciam e sim para despistar o adversário, confundindo-o sobre a real localização das metralhadoras verdadeiras115. A Política Toda derrota militar incomoda as classes dominantes. A indústria lucrou com os pedidos do governo e a intensificação da exploração dos operários. Além disso, foi menos afetada porque os combates não chegaram à capital. No interior houve destruição e dificuldade de escoamento da produção, já que São Paulo estava isolado pelo embargo federal por terra e pelo oceano. O café é colhido de maio a agosto. De setembro em diante as exportações são organizadas e realizadas, especialmente para os Estados Unidos que eram o maior parceiro comercial de São Paulo116. Foi exatamente em setembro que o idealismo constitucional cedeu lugar ao prosaico café e a burguesia agrária mandou a pequena burguesia passear em Lisboa, para onde acorreram os exilados. O constitucionalismo fora só um álibi, afinal o liberalismo republicano sempre foi antidemocrático117. Vargas nomeou o General Waldomiro Castilho de Lima como governador militar de São Paulo. Ele era gaúcho e tio de Darcy Vargas, mulher de Getúlio. A elite paulista conseguiu mais tarde um interventor paulista, o engenheiro Armando Salles de Oliveira (genro de Julio de Mesquita)118. O efeito primordial de 1932 foi a derrota do tenentismo119. Como disse Góes Monteiro, "a Revolução Paulista trouxe esta consequência boa: restabeleceu a disciplina no Exército, que estava, realmente, ao sabor das conveniências de alguns elementos agitadores e exploradores da farda”120. O desencanto dos tenentes adveio do fato de que em 1932 eles foram obrigados a lutar não como chefes revolucionários, mas como integrantes da hierarquia formal do Exército. Perderam assim o encanto e o élan. Contra a resistência paulista do Túnel da Mantiqueira, por exemplo, combateu um revolucionário tenentista, o Capitão Gwyer121. Mas não como revolucionário. Quando se formou o destacamento Sul das tropas legalistas, chegaram do Rio de Janeiro oficiais para integrar o Estado Maior do General Waldomiro Lima. Entre eles estava o major Cordeiro de Farias, chefe de destacamento na Coluna Prestes e que depois seria o chefe de polícia de São Paulo122. Os oficiais de Curitiba se incomodaram. Pela precedência hierárquica caberia a Cordeiro de Farias a chefia do Estado Maior, mas ele não era daquela Região Militar e nem possuía curso para a função. Note-se que o relato é do capitão Dilermando Assis, que se mantivera legalista durante as revoltas tenentistas e até tinha combatido os revolucionários de 1924. “Tenentes” como Cordeiro (mais tarde um fascista) não tiveram uma carreira normal e passaram vários anos excluídos da instituição militar. No entanto, gozavam da autoridade revolucionária e do apoio dos interventores federais e do Governo Provisório. Foi isso o que perderam em 1932. Em 1930 obtiveram as promoções a que teriam direito se tivessem permanecido na carreira. Eram chamados de “picolés” por sua frieza diante da adesão de oportunistas de última hora ao movimento de 1930. Tais oportunistas eram chamados de “rabanetes”, por serem vermelhos por fora, mas brancos internamente. Conforme análise de José Murilo de Carvalho123, cerca de 500 oficiais e 500 praças do Exército foram expulsos ou reformados administrativamente depois da guerra constitucionalista124. Em 1931 já havia ocorrido a reforma administrativa de vários generais. A participação política do exército data da questão militar ainda no Império. Até 1922 o Exército estava dividido entre “hierárquico” e “político”. O que foi novo a partir de 1922 é que a iniciativa política que, até então, era da alta oficialidade, passa aos oficiais de baixa ou média patente. Em 1932 a ideia de Exército Hierárquico devolve a iniciativa à alta oficialidade. Por que em 1932? Porque na Guerra Civil, a complexidade das operações, como vimos, fez com que as ações militares passassem às mãos da alta oficialidade125. O próprio Exército havia se dividido porque parte da oficialidade estacionada em São Paulo e que mantinha-se na surdina fiel ao velho Regime, se sublevara. O Levante de 1932 permitiu a última manifestação tenentista. A hierarquia servia agora para punir a minoritária ala esquerda. É claro que a disciplina é uma ideologia. Se a patente se tornava inconveniente era lícito quebrar a cadeia hierárquica, como no golpe de 1964, quando oficiais superiores foram presos e até espancados por inferiores. Conclusão A elite de 1932 soube fazer uma contrarrevolução sem negar oficialmente os valores iniciais de 1930. Assim, fez a apropriação indébita de duas bandeiras que não lhe cabiam: a crítica da corrupção e a do autoritarismo. Aquela identificada com o PRP e o regime de 1889 a 1930; e ambas com o “populismo” de Getúlio Vargas. Pouco importa que a elite paulista comandara a República Velha e que o PRP fosse uma das forças do levante constitucionalista. Aquelas duas “ideias força” revelaram-se como permanências de longa duração e ainda hoje são mobilizadas pelo discurso hegemônico dos meios de comunicação. O levante de 1932 foi a contrarrevolução no interior do próprio leque de forças que gerou a revolução de 1930. Daí a sua força ideológica e sua persistência memorialística. Como escreveu um voluntário da época: “Fomos pelos ideaes da Revolução de Outubro de 1930, mas fomos trahidos126”. O 9 de Julho de 1932 foi uma guerra cívica para a sua elite dirigente. Já para Getúlio Vargas aquilo foi um movimento revanchista e separatista. Todavia, entre os dois coros há o longo silêncio do público, desinteressado desta e de outras datas históricas. Há vozes inaudíveis nos bastidores. Os operários que produziram as munições; as mulheres que serviram aos homens; os negros e indígenas que lutaram; os soldados que se feriram ou tombaram no campo de batalha. Liderados por seus adversários sociais, findo o combate, lançaram proclamas ao vento denunciando os “traidores” da causa. De volta ao lar, não encontravam mais o fervor cívico. Sobrava apenas uma disputa de cargos. O mesmo problema se impõe no outro lado. A vitória do Governo Provisório só afastou o setor mais ideológico da elite paulista. Em tranquila viagem a Portugal, lá se curtiu o exílio dos liberais conservadores. Mas a classe dominante como um todo foi poupada, acariciada e reintegrada. Foi este fato que permitiu perpetuar no tempo a memória da derrota militar, vitória política127. Mas a memória costuma misturar as cores do passado. O Governo Provisório de 1930 não é o mesmo em 1934, amparado por uma Constituição e desamparado do tenentismo social. Muito menos é o mesmo a partir de novembro de 1935, quando se dá o levante comunista da Aliança Nacional Libertadora (ANL) e do Partido Comunista do Brasil (PCB). O ovo da serpente está ali e não em 1937, quando ocorreu o golpe que implantou o Estado Novo. O ano de 1935 forjou o anticomunismo como amálgama ideológico das classes dominantes. Assim, o ditador, mais definido em seus propósitos, traduzia os interesses da classe operária em tutela política por um lado e em direitos trabalhistas por outro. Ergueu-se como o pai dos pobres. Assassinou e torturou os militantes da classe operária. Mas como se contrapor ao ditador sem reconstituir a memória daquela elite oligárquica paulista que era ainda mais funesta? O governante “populista” que retorna em 1950 representa outro momento de nossa história. A elite da classe dominante paulista não lhe perdoava a vitória em 1932. Mas o que incomodava mesmo era o “exagero” da aproximação com a classe operária. Era um Ministro do Trabalho oferecendo 100% de aumento do salário mínimo contra um estamento de farda capaz de anunciar sublevação por não tolerar que pobres ganhassem mais (vide o Manifesto dos Coronéis de 1954). O levante de 1932 consolidou um padrão que pode se resumir em dez tópicos: 1- discurso contra a corrupção; 2- recusa da “ditadura”; 3- defesa do mérito contra benefícios sociais que seriam associados “à mendicância” e “vadiagem”; 4- uso monopolista dos meios de comunicação; 5- controle político da polícia e do judiciário local; 6- defesa seletiva da legalidade constitucional128; 7- mobilização das camadas médias; 8- desmantelamento da legislação social; 9- promessas de aumentos salariais mediante intensificação do esforço de produção; 10- extensão da jornada de trabalho129. De suas trincheiras midiáticas São Paulo continuou a irradiar seus valores liberais e antidemocráticos. O movimento resignou-se diante das massas organizadas pelo discurso social dos tenentes, mas procurou sempre repor o Estado de São Paulo como o poder moderador130 da República.
por Lincoln Secco, do Gmarx
NOTAS
1Livre Docente de História Contemporânea na Universidade de São Paulo (USP).
2Artigo publicado com o título de “1932: Economia do Conflito Militar” na versão impressa de Mouro: Revista Marxista, São Paulo, N. 10, 2015. Aqui é publicado com algumas modificações. Dedicado ao Dr. José R. Mao Jr. e ao poeta Ciro Seiji, companheiros de jornada.
3Revista de História, 25, n. 51, USP, 1962.
4Revista de História, USP, Nº 91, 1972. 5José C. Borroul, “Em louvor do movimento cívico”, Digesto Econômico, julho de 1998, p. 31. 6Davino F. Santos, A Coluna Miguel Costa e não Coluna Prestes. São Paulo, Edicon, 1994, p.48. 7Getulio Vargas, A Nova Política do Brasil. Vol. II. Rio de Janeiro, José Olympio, 1938, p. 83. 8N. W. Sodré, História Militar do Brasil, São Paulo, Expressão Popular, p. 253. 9A Luta de Classe, N. 8. S. Paulo, 5 de outubro de 1932. 10 Hélio Silva. 1964: Golpe ou Contragolpe. Porto Alegre, L&PM, 1978, p.247. 11 Vejam-se as críticas pioneiras de Maria H. Capelato e Holien G. Bezerra, citadas adiante. Mais recentemente: F. Quartim de Moraes, O levante de 1932: fatores econômicos e políticos. USP, dissertação de mestrado, 2016. 12Jeziel de Paula, 1932: Imagens construindo a história, São Paulo, Unicamp,1992. 13J. A. V. Pontes, 1932: o Brasil se Revolta, São Paulo, Editora Terceiro Nome, 2004. Também: M. A. Vila 1932: Imagens de uma Revolução. São Paulo, Imesp, 2008. 14Uma Direção política encouraçada de coerção. Hoje, São Paulo não precisa mais exibir sua polícia militar contra o Exército Nacional, cuja liderança teme mais a esquerda do que elites regionais. Apesar disso, o poder coercitivo de algumas polícias não é desprezível, com sua experiência em combate com mais baixas de civis do que qualquer atividade que as Forças Armadas já tenham feito. O efetivo total das PMs em 2010 era de 404.954. São Paulo tinha 20% do total. Em 2014 o efetivo era de 425.248 policiais militares (aproximadamente 20% em São Paulo) e 117.642 policiais civis no Brasil (cerca de 27% em São Paulo). O efetivo total das Forças Armadas da ativa (ready-to-fight) é de 330 mil. A disparidade entre as forças é compensada pelo potencial bélico e uso exclusivo de armas por parte das três forças militares, embora a classificação destas seja genérica. Fontes: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94541.pdf, acesso: 30 de abril de 2017. http://www.globalfirepower.com/active-military-manpower.asp. Acesso em 30 de abril de 2017. 15A primeira revolta se deu em 1891, quando o Marechal Deodoro da Fonseca ordenou o fechamento do Congresso e o Almirante Custódio de Melo ameaçou bombardear o Rio de Janeiro. Terminou com a renúncia de Deodoro. A segunda revolta deu-se em setembro de 1893 contra Floriano Peixoto. A Revolta que foi derrotada no ano seguinte. 16Em 1892 principiam as escaramuças da guerra civil no sul, movidas pelas desavenças eleitorais entre os federalistas ou maragatos de Silveira Martins e os seguidores de Júlio de Castilhos, aliado do governo central. O chefe militar dos revoltosos foi Gumercindo Saraiva que empregou táticas inovadoras de guerra que prolongaram o conflito até 1895. 17Carone, A República Velha. São Paulo: Difel, 1974, p. 116. 18 Em 1930, quando Washington Luiz foi deposto e o presidente eleito (Júlio Prestes) impedido de tomar posse, seus correligionários de Itapetininga reviveram a velha história e se organizaram em “batalhões patrióticos”. Marco Santos e André Mota, São Paulo 1932, São Paulo, Alameda, 2010, p. 136. 19Refiro-me à máquina eleitoral do PRP-Partido Republicano Paulista. 20Mensagem do Governo do Estado de São Paulo, de 1919. 21 Frank Mccann. Soldados da Pátria. História do exército brasileiro, 1889-1937. São Paulo, Companhia das Letras, 2007, p. 616. 22A Luta de Classe, N. 9, São Paulo, janeiro de 1933. 23Simpósio sobre a Revolução de 1930. Porto Alegre: Erus, 1983, p. 501. 24 J. Quartim de Moraes. A Esquerda Militar no Brasil. São Paulo: Expressão Popular, 2005, p. 201. 25Eric Hobsbawm, Era dos Extremos. São Paulo, Companhia das Letras, 1995, pp. 108, 212. 26Félix Weil, El Enigma Argentino, Buenos Aires, Biblioteca Nacional, 2010, p. 21. 27Pablo G. Casanova, “Equador: 1925-1975”, in: América Latina, v. 2, Brasília, UNB, 1988, p.140. No Equador, a “Revolução Juliana” (9 de julho de 1925) já havia levado a oficialidade progressista ao poder. 28Carta ao Presidente do Clube 3 de Outubro, 12 de janeiro de 1932. Sem assinatura. Provavelmente de Miguel Costa. 29Anita Prestes, A Coluna Prestes, São Paulo, Brasiliense, 1990, p.379. 30Carta de Miguel Costa ao Partido Popular Paulista, São Paulo, 16 de março de 1932. 31Carta de Miguel Costa, São Paulo, 2 de maio de 1932. 32Diário Oficial do Estado de São Paulo, 28. XI. 1931. 33A Gazeta, 25 de janeiro de 1932. 34Heliodoro Tenório e Odilon Aquino de Oliveira, São Paulo Contra a Ditadura, São Paulo, Edição Ismael Nogueira, 1933, p. 200 35O Estado de S. Paulo, 11/07/1932. 36H. Donato, “Ideal nacional e não regional”, Boletim da Academia Paulista de História, ano XV, N. 96, julho 2002, P. 17. 37P. Calmon, História do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1963, v. VI, p. 2288. 38Dilermando Assis, Vitória ou Derrota: Campanha no Setor Sul de São Paulo, Rio de Janeiro, Calvino, 1936, p. 470. O autor era o então famoso assassino de Euclydes da Cunha. 39Pablo Ferreira dos Santos Gomes, São Carlos e o Movimento Constitucionalista de 1932: poder local e cooptação ideológica. São Carlos, Ufscar, Centro de Educação e Ciências Humanas, 2008. 40Petrônio José Domingues, “Os Pérolas Negras: a Participação do Negro na Revolução Constitucionalista de 1932”, http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia_n29_30_p199.pdf 41Capitão Alves Bastos, Palmo a Palmo (A Luta no Setor Sul), 3 ed, São Paulo, Sociedade Impressora Paulista, 1933, p. 43. 42Agostinho Ramos, Recordações de 32 em Cachoeira e Sectores, São Paulo, Editora Revista dos Tribunaes, 1937, p.118. 43Maria H. Capelato, O Movimento de 1932, São Paulo, Brasiliense, 1982, p.30. 44Santos Amorim, Santistas nas Barrancas do Paranapanema, Santos, Impressora Santista, 1932, p.94. 45José de Assis Pacheco, Revivendo 32..., São Paulo, SCP, 1954, p.39. 46Clovis Gonçalves, Carne para Canhão, p. 21. 47Dilermando de Assis, p. 114. 48Dilermando de Assis, p. 122. 49Os 3.282 homens que o Governo da Bahia enviou eram em sua maioria de Pernambuco e Piauí, via Petrolina e Remanso. Nelson de Souza Carneiro, XXII de Agosto! O Movimento Constitucionalista na Bahia, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1933, p. 156. 50Juarez Távora, Uma Vida e Muitas Lutas, Rio de Janeiro, José Olympio, 1974, p.81. 51Antonio de Andrade, 1932: Os Deuses Estavam com Sede, São Paulo, Siciliano, 1997, p. 306. 52Raimundo Helio Lopes. Os Batalhões Provisórios: Legitimação, Mobilização e Alistamento Para Uma Guerra Nacional (Ceará, 1932). Fortaleza, UFC, 2009. 53Todavia, o número de mortos na Revolução de 1924 foi apenas ligeiramente menor do que o de paulistas mortos em combate em 1932. 54Capitão Alves Bastos, Palmo a Palmo (A Luta no Setor Sul), 3 ed, São Paulo, Sociedade Impressora Paulista, 1933, p. 26. 55Fernando Penteado Medici, Trem Blindado, São Paulo, 1933, p.41. 56Augusto de Souza Queiroz, Batalhão 14 de Julho, São Paulo, Gráfica Sangirard, 1982, p.24. 57Atual Itapeva. 58Capitão Alves Bastos, Palmo a Palmo, p. 41. 59O Coronel Júlio Marcondes Salgado, comandante da Força Pública, havia combatido os revolucionários de 1924, liderados por Isidoro Dias Lopes e Miguel costa. Salgado morreria no início do levante armado de 1932, sendo substituído pelo Coronel Herculano C. da Silva. 60Herbert Levy, A Coluna Invicta, São Paulo, Livraria Martins, 1967, p. 149. 61Euclydes Figueiredo, História da Revolução Constitucionalista, São Paulo, Martins, 1977, p. 183. 62Euclydes Figueiredo, História da Revolução Constitucionalista, p.142. 63C. M. Matos, “Por que São Paulo foi derrotado?”, Boletim da Academia Paulista de História, ano XV, N. 96, julho 2002, p.7. 64Affonso de Carvalho, Capacete de Aço, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1933, p. 135. 65Affonso de Carvalho, Capacete de Aço, p. 134. 66Capitão Gastão Goulart, Verdades da Revolução Paulista, pp. 235 e ss. 67Herbert Levy, A Coluna Invicta, São Paulo, Livraria Martins, 1967, p. 133. 68Euclydes Figueiredo, Contribuição para a História da Revolução Constitucionalista, p. 202. 69A. Guanabara de Arruda Miranda e Horacio de Andrade, Cruzes Paulistas, São Paulo, Empreza Graphica Revista dos Tribunaes, 1936. Note-se que as mortes de pessoas pobres era normalmente subnotificada. 70Edgard Carone, Revoluções do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Difel, 1975, p. 100. 71Depoimento de Paulo Duarte ao repórter Noé Gertel, Folha de São Paulo, 8 de janeiro de 1979. 72Florentino de Carvalho (Primitivo Soares), A Guerra Civil de 1932 em São Paulo: solução imediata dos grandes problemas nacionais. São Paulo, Ariel, 1932. 73J. Love, A Locomotiva, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982, p.169. 74Marcehal Foch, Mémoires, Paris, Plon, 1931. 75O Estado de S. Paulo, 8 de julho de 1932. 76Marcos Tarcisio Florindo, A grande repressão de 1932 em São Paulo, Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, Vol. 4 Nº 8, Dezembro de 2012. 77Holien G. Bezerra, O Jogo do Poder, São Paulo, Ed. Moderna, s/d, p.102. 78A Platéa, 28 de agosto de 1934. 79A este respeito um estudo pioneiro: J. Paula, 1932: imagens construindo a história. Campinas: Editora da Unicamp, 1998. 80Lily Löw. Enfermeiras Negras na Revolução Constitucionalista de 1932. USP, Escola de Enfermagem, 2013. 81A Gazeta, 05 de setembro de 1932. 82Arnon de Mello, S. Paulo Venceu!, Rio de Janeiro, Editores Flores & Mano, 1933, p.259. 83Manoel Osório, A Guerra de S. Paulo, São Paulo, Empreza Editora Americana, 1932, p. 208. 84Santos Amorim, Santistas nas Barrancas do Paranapanema, p. 65. 85Bariani Ortencio, A Fronteira: Revolução Constitucionalista de 1932, Goiânia, Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, 2005, p.195. 86Florestan Fernandes, “Uma evocação da Revolução Constitucionalista”, in: Id. Mudanças Sociais no Brasil. São Paulo: Difel, s/d, p.263. 87O Estado de S. Paulo, 25 de setembro de 1932. 88Clovis de Oliveira, A Indústria e o Movimento Constitucionalista de 1932, p. 65. 89Maria H. Capelato, op. cit., p. 46. 90O Estado de S. Paulo, 21 de fevereiro de 1936. 91Benjamin de Oliveira Filho, MMDC, Rio de Janeiro, Schmidt Editor, 1933, p. 183. 92Maria H. Capelato, O Movimento de 1932, p. 70. 93 Mensagem Presidencial, 1933. 94Florentino de Carvalho, A Guerra Civil em São Paulo, p. 25. Vide também: Ivete B. da Silva Almeida, O Olhar de Quem Faz – o paulistismo sob a ótica do operariado paulista durante a Revolução Constitucionalista de 1932. São Paulo, Dissertação de Mestrado, FFLCH – USP, 1999 95Santos Amorim, Santistas nas Barrancas do Paranapanema, Santos, Impressora Santista, 1932, p.153. 96Por alguns dias o restaurante voltou a funcionar diante da catastrófica situação de soldados à espera de soldo. OESP, 10 de outubro de 1932. 97 Mensagem do Chefe do Governo Provisório, 1933. 98Contrato financeiro derivado que dá ao comprador o direito de negociar uma ação (por exemplo) a um preço pré-determinado em uma data futura também especificada de antemão. 99A. Guanabara de Arruda Miranda e Horacio de Andrade, Cruzes Paulistas, São Paulo, Empreza Graphica Revista dos Tribunaes, 1936, p. 379. 100Para acalmar os fazendeiros, tomou-se a decisão de financiar a safra de café em 35$000 réis a saca e compra de ¼ da produção pelo Estado mediante a emissão de obrigações do Estado a 20 anos de prazo e juros de 7%. O Governo foi, então, autorizado a emitir 290 mil contos. Clovis de Oliveira, A Indústria e o Movimento Constitucionalista de 1932, Fiesp, 1956, pp. 111-113. 101Clovis de Oliveira, A Indústria e o Movimento Constitucionalista de 1932, p. 149. 102Dilermando Assis, p. 470. 103Mário Savelli, “A Indústria e a Tecnologia Paulista em 1932”, in Cinquentenário da Revolução Constitucionalista de 1932, São Paulo, Comissão Estadual de Moral e Civismo, 1982, pp. 96-87. 104Guilherme Barros, A Resistência do Tunnel, São Paulo, Editora Piratininga, 1933, p. 173. 105Lysias Rodrigues, Gaviões de Penacho, Rio de Janeiro, Incaer, 2000, p. 81. 106Silva Duarte, A Revolução Victoriosa, São Paulo, Livraria Zenith, 1930, p. 63. 107Paulo C. Cintra, Revolução Paulista de 1932: a História de um Combatente, p.68. 108Roberto Hadock Lobo, Pro Brasilia Fiant Eximia: a psicologia dos que combateram pela Revolução, São Paulo, Estabelecimento Graphico Atlantico, s/d, p. 39. 109Paulo C. Cintra, Revolução Paulista de 1932: a História de um Combatente, p. 28. 110José Ben-Hur de Escobar Ferraz, A Guerra no Setor Norte. São Paulo, 1933, p. 161. 111Hamilton Queiroz Carvalho, Memórias de um Voluntário de 32, Brasília, Thesaurus, 1995, p.34. 112Cel. Herculano Silva, A Revolução Constitucionalista, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1932, mapa à p. 81. 113Capitão Gastão Goulart, Verdades da Revolução Paulista, p.240. 114Aquelas oficinas da Rede Sul de Minas eram naquele tempo as mais importantes da América do Sul em metalurgia. 115Samuel Baccarat, Capacetes de Aço: A Guerra no Setor Norte, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1933, p.108. Era uma estrela de seis bicos feita em peroba. Uma lâmina de aço batia contra os bicos, quando a estrela era movida em torno de um eixo por uma manivela. O barulho parecia o de uma metralhadora. 116Mensagem do Governo do Estado de São Paulo, 1930. 117 Décio Saes, Classe Média e Sistema político no Brasil, São Paulo, T.A. Queiroz, 1985, p. 107. 118A. C. Pacheco Silva, Armando de Salles Oliveira. São Paulo: Edusp, 1980, p.41. 119N. W. Sodré, História Militar do Brasil, 3 ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1979, p. 252. 120Maria S. Forjaz, “A organização burocrática do Exército na exclusão do tenentismo”, Revista de Administração de Empresas, vol.23, n.2, São Paulo,1983. 121Guilherme Barros, A Resistência do Tunnel, São Paulo, Editora Piratininga, 1933, p. 158. 122O Estado de S. Paulo, 7 de outubro de 1932. 123José M. Carvalho, “Forças armadas e política, 1930 – 1945”. In: Idem, Forças Armadas e Política no Brasil. Rio de Janeiro, Zahar, 2005, p. 85. 124Vide: Fernando da Silva Rodrigues, O Estado e o Exército Brasileiro entre 1930 e 1945 (Arquivo Histórico do Exército / Programa de Pós-Graduação em História da USS), in: www.uel.br/pos/mesthis/abed/anais/FernandodaSilvaRodrigues.doc, 1/8/2014. 125Sigo até aqui a análise de Edgard Carone, A República Nova, São Paulo, Difel, 1974, p.393. 126Jair Pinto de Moura, A Fogueira Constitucionalista, p.72. 127O Estado de S. Paulo, 9 de julho de 2016. 128 Depois de serem constitucionalistas, alguns líderes “paulistas” flertaram com o fascismo. Entre os conspiradores da Intentona Integralista de 1938 contra Getúlio Vargas estavam: Euclides de Figueiredo (comandante militar do levante de 1932), Júlio de Mesquita e seu genro Armando de Salles Oliveira. Apud, R. Levine, O Regime de Vargas, RJ, Nova Fronteira, 1970, p. 251. Sobre o parentesco: A. C. Pacheco Silva, Armando de Salles Oliveira. São Paulo: Edusp, 1980, p.41. 129O trabalho na guerra, como vimos, permitiu o crescimento da produtividade e de salários por dias de trabalho extra, o que significou, de fato, aumento da mais valia relativa e absoluta simultaneamente, já que os salários só podiam crescer abaixo da produtividade. 130 L. Secco, “O poder moderador de São Paulo na política nacional”, Folha de São Paulo, 4 de out de 2015.
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