"As questões da Luta Nacional e Colonial depois da Segunda Guerra Mundial"
Em imensas extensões do globo e em todos os continentes do mundo desenvolve-se a luta dos povos oprimidos pela sua libertação. Esta luta já conquistou grandes vitórias nos países que ficam na parte especificamente oriental da Ásia. Aos nossos olhos a Mongólia, outrora o mais retrógrado dos países atrasados, tendo escapado ao penoso caminho do desenvolvimento capitalista, lança os fundamentos da transição à construção socialista.
O povo da Coréia que, no decurso de longas dezenas de anos era objeto da mais cruel e feroz exploração dos barões japoneses, que “niponizavam”, zelosamente, o povo coreano, a fim de sufocar a sua cultura e extirpar o seu sentimento de dignidade nacional, tornou-se senhor do seu próprio destino na maior parte do território de seu país.
Finalmente, o grande povo chinês, cujas riquezas há mais de um século atraiam os olhares cobiçosos dos capitalistas estrangeiros, missionários e colonizadores, generais e militaristas, diplomatas e banqueiros, povo que sofreu muitas desgraças e humilhações, povo cuja terra foi dividida e reduzida a pedaços pelos saqueadores ingleses, franceses, japoneses e outros, povo que ainda ontem os intervencionistas americanos tentavam sufocar com a sua pretensa “ajuda”, este povo já conquistou uma grande vitória de significação histórica. Foi proclamada a República Popular da China, criou-se o governo popular central à cuja frente se encontra o célebre chefe dos comunistas chineses, Mao Tse-Tung. A bandeira da democracia popular tremula vitoriosamente sobre os centros mais populosos e mais importantes, sobre cidades industriais – berço da classe operária chinesa que marcha à frente do povo.
A Ásia Sul-Oriental, antigo campo de opressão e exploração colonial, transformou-se em arena de luta sangrenta e tenaz dos povos revoltados contra os escravizadores imperialistas.
Os imperialistas e seus lacaios nativos recorrem ao terror sangrento, cárceres e à força, às provocações mais vis, a fim de continuar a manter sob sua dominação os povos da Índia, do Oriente Próximo, da América Central e da América do Sul.
Mas até mesmo o continente mais atrasado, isto é, a África, já começa a preocupar seriamente os senhores coloniais com as manifestações ainda débeis, mas que se intensificam de maneira irrefreável da resistência popular aos opressores civilizados. A sublevação heroica do povo malgaxe em Madagascar – nesta imensa ilha, situada nas proximidades do litoral africano, distante dos centros da luta revolucionária, carecendo de informações verdadeiras sobre a vida e a luta dos outros povos, oculta pela cortina de ferro do império colonial francês – esta sublevação heroica, afogada no sangue, iluminou como um relâmpago a tensa situação que impera nos mais ocultos e mais isolados cantos do tenebroso reino dos bandidos imperialistas.
Nova Fase da Luta de Libertação Nacional das Colônias e Semicolônias
Os povos das colônias e das semicolônias não querem mais viver à maneira antiga. A questão não reside apenas em que para eles se tornaram insuportáveis as cadeias da escravidão colonial. A questão reside em que perceberam a possibilidade de quebrar estas cadeias, adquiriram fé nas suas forças e fé no futuro.
O camarada Stalin afirmou que a primeira guerra mundial e a vitória da revolução na URSS "abalaram as bases do imperialismo nos países coloniais e dependentes, que a autoridade do imperialismo nestes países já se acha minada, que não tem mais forças para continuar a dominar à maneira antiga nestes países. A segunda guerra mundial, a destruição dos agressores fascistas, a vitória mundialmente histórica da URSS e a separação, do sistema capitalista, de uma série de países que empreenderam o caminho do desenvolvimento socialista num grau ainda maior, sem precedentes, minaram a autoridade do imperialismo nos países coloniais e dependentes, aprofundaram a crise do sistema colonial surgindo como importantíssima parte integrante da crise geral do capitalismo.
Os povos coloniais e semicoloniais observaram com os seus próprios olhos o poder das forças que resistem ao imperialismo, a bancarrota dos impérios coloniais fascistas, a fraqueza e a covardia da «raça» inglesa dos velhos senhores coloniais, a instabilidade do domínio dos seus opressores. É possível, por exemplo, aos povos da Birmânia esquecerem como se comportaram vergonhosamente os «patrões» ingleses no período da segunda guerra mundial? Ou será que os povos das Filipinas não tiveram a possibilidade de observar as manifestações de todas as «qualidades» do furioso general Mac Arthur – da covardia à traição? Será que muitos povos da Ásia não se convenceram, pela sua própria experiência, de que os colonizadores japoneses ou os americanos os franceses ou os italianos, se “diferenciam” um do outro tanto quanto um diabo azul se distingue de um diabo branco?
Os povos das colônias e semicolônias, estimulados pelas gloriosas vitórias da URSS, pela destruição do fascismo, pelo desmascaramento da bárbara ideologia do racismo, pelo enfraquecimento dos seus antigos «patrões» coloniais, que eles aprenderam a considerar com o maior desprezo precisamente nos anos da segunda guerra mundial, e impregnados de uma nova energia e fé nas suas forças, desfraldaram a bandeira de luta pela sua liberdade e pela sua independência.
A luta armada dos povos de uma série de países coloniais e dependentes pela sua soberania e independência nacional testemunham não apenas a ampliação do campo da luta de libertação nacional mas também a elevação da qualidade do seu nível. A luta armada pela criação de repúblicas independentes na Indonésia e na Indochina, a luta armada na Malaia e Birmânia, as sublevações camponesas na Índia e, por fim, a vitoriosa guerra de libertação do povo chinês – constituem testemunho brilhante de que o movimento de libertação nacional penetrou numa nova e mais elevada etapa do seu desenvolvimento após a segunda guerra mundial.
O papel dirigente da classe operária e de sua vanguarda – os Partidos Comunistas – assume uma significação decisiva no movimento de libertação nacional nos mais importantes países coloniais e semicoloniais. Agora já podemos assinalar com toda segurança que, na maioria dos países coloniais e semicoloniais e, em primeiro lugar nos países onde a luta contra o imperialismo assumiu um caráter mais agudo, a classe operária assume o papel de dirigente reconhecido na revolução colonial, e os Partidos Comunistas – diretamente ou por meio de organizações de massas mais amplas – dirigem o movimento de libertação nacional.
Os Objetivos do Imperialismo nas Colônias e Semicolônias
Não é preciso dizer que é impossível falar-se do desenvolvimento da luta nacional nas colônias e semicolônias, sobre o caráter desta luta, sobre a sua direção, sobre as suas tendências em separado das condições internacionais gerais. Não é difícil perceber que o próprio ascenso e os próprios êxitos do movimento de libertação nacional depois da segunda guerra mundial se manifestaram inteiramente como resultado da modificarão da correlação das forças de classe em escala internacional em favor da democracia e do socialismo, em prejuízo do imperialismo, como resultado do aumento do poderio da URSS. Tal fato é confirmado por toda a marcha do desenvolvimento histórico deste após-guerra.
A política agressiva dos Estados Unidos, o crescimento da expansão colonial americana depois da segunda guerra mundial, a formação do bloco imperialista anglo-americano, dirigido contra a URSS, contra os países de democracia popular, contra os movimentos de libertação nacional, por um lado, e, por outro lado, o apoio ativo que a União Soviética presta aos povos que lutam pela sua libertação, condicionaram a intensificação da inclinação natural dos países coloniais e dependentes para o campo anti-imperialista e democrático, dirigido pela União Soviética, o Estado socialista. No fortalecimento do campo democrático encontra-se a garantia dos êxitos ulteriores da luta de libertação nacional dos povos coloniais e semicoloniais. Ao mesmo tempo, a formação e a luta dos dois campos – o campo da democracia e o campo do imperialismo – aguçaram a luta de classes em todos os países, possibilitando uma delimitação mais rápida e mais clara das forças de classe antagônicas também nos países coloniais e dependentes.
O ímpeto e os êxitos dos movimentes populares na Ásia alarmam seriamente o campo imperialista. Causam uma particular contrariedade aos pretendentes americanos ao domínio mundial, desmascarando o aventureirismo de seus planos e cálculos. O imperialismo americano, que se encontra à frente do campo antidemocrático e que aspira o domínio mundial, tornou-se o dirigente dos Estados colonialistas, o gendarme principal que tenta salvar os imperialistas dos movimentos progressistas e democráticos em todo o mundo, que tenta sufocar a luta de libertação nacional em todas as colônias e semicolônias. Os imperialistas americanos dos Estados Unidos consideram as possessões coloniais de qualquer potência imperialista como uma possessão potencialmente sua, e, lançando mão de vários métodos de pressão política, econômica e militar sobre os países marshalizados (Inglaterra, França, Holanda e Bélgica) vencem a resistência de seus concorrentes e obrigam-nos a seguir na maioria das colônias uma política que corresponde aos interesses do capital monopolista americano.
Esta política é ditada antes de tudo pelos interesses estratégicos do agressivo bloco imperialista anglo-americano. Esta política está dirigida no sentido do aproveitamento dos recursos humanos e materiais das colônias e semicolônias, e, em primeiro lugar, da obtenção de mão de obra barata ou de graça, de carne para canhão e matérias primas estratégicas com o objetivo da preparação de uma nova guerra mundial. Esta política estabelece como tarefa o aproveitamento dos territórios das colônias e semicolônias na qualidade de praças de armas de guerra e bases das forças armadas anglo-americanas. Esta política, por fim, significa a repressão cruel dos movimentos de libertação nacional no mundo colonial.
Os Truman e os Bevin têm em vista, por exemplo, um aproveitamento estratégico conjunto da África na qualidade de praça de armas gigantesca para a nova guerra mundial e ao mesmo tempo como fonte de matérias primas estratégicas e trabalho escravo.
A vitória da democracia na China provoca nos imperialistas anglo-americanos a tendência a organizar o seu gênero de «cortina» ou «barreira» a fim de defender a esfera da sua exploração colonial na Ásia Sul-Oriental e do Sul. Os imperialistas encaram com um pavor mortal a possibilidade do estabelecimento de um contato direto entre a China libertada e o Vietnã, a Indonésia, a Malaia e Birmânia, nas quais também se desenvolve uma luta incessante dos povos pela sua libertação. Wall Street e a City têm razões para temer também pela Índia, onde não podem deixar de chegar os novos ventos que sopram da China.
Se o pacto de agressão do Atlântico Norte, dirigido contra a URSS e os países de democracia popular, contém artigos que obrigam os seus participantes a tomar medidas policiais conjuntas contra as forças democráticas e, em primeiro lugar, contra o movimento operário nos países da Europa Ocidental, os pactos do Pacífico e do Mediterrâneo, por sua vez, preparados pelos imperialistas, tendo a mesma tendência antissoviética, estão além disso especialmente orientados contra o movimento de libertação nacional dos povos coloniais.
O Nacionalismo Burguês a Serviço da Dominação Imperialista
A correlação de forças, porém, entre a democracia e o imperialismo modificou-se agora em tal grau em favor da democracia que os imperialistas, cada vez mais frequentemente, fracassam todas as vezes em que tentam, na luta contra a democracia, pôr em prática, à maneira antiga, os métodos de aberta intervenção armada. Temos diante de todos nós a “experiência” da China e do Vietnã, dolorosa para os imperialistas. Por isso, não renunciando à política de guerra e de intervenção os colonizadores tentam mascarar esta política por todas as formas. Cada vez com maior frequência a intervenção imperialista se realiza sob a máscara de “ajuda”, de “apoio”, de “defesa” com devotas referências à Organização das Nações Unidas.
O ascenso sem precedentes da luta de libertação nacional dos povos dos países dependentes e coloniais depois da segunda guerra mundial, o nível elevado desta luta e, principalmente, a influência revolucionária que exerce sobre os países coloniais e semicoloniais o campo anti-imperialista e democrático, que se fortalece incessantemente, obrigam os imperialistas a manobrar, a modificar as formas de seu domínio nas colônias, a recorrer a métodos demagógicos com o objetivo de enganar os povos escravizados e de introduzir a divisão na sua frente nacional anti-imperialista. Os imperialistas, em grau cada vez mais elevado, se apoiam não somente nos elementos feudais latifundiários mas também na grande burguesia das colônias e semicolônias. Presa do medo diante da luta nacional libertadora dos povos, que atualmente atinge a um nível particularmente elevado e se encontra sob a hegemonia da classe operária, em face da sempre crescente atividade revolucionária das amplas massas populares, a grande burguesia das colônias e das semicolônias se passa definitivamente para o campo da reação imperialista, trai os interesses de seus países e povos.
Inquietos ante o ímpeto da luta de libertação nacional, ante o crescimento da consciência política dos trabalhadores e o papel dirigente da classe operária e dos Partidos Comunistas nos movimentos revolucionários nas colônias e semicolônias, os colonizadores imperialistas, com a ajuda da grande burguesia, aproveitando-se dos preconceitos religiosos, de raça e outros, procuram minar a consciência das massas com o veneno do nacionalismo burguês, tentando estimular as tendências chauvinistas.
A propaganda nacionalista burguesa representa nos planos de rapina dos imperialistas um papel de magna importância. Ela não visa apenas dividir e desunir os povos das colônias e semicolônias no interesse do imperialismo, mas também estabelece como sua tarefa neutralizar o movimento nacional-libertador, dirigindo-o para o caminho falso do nacionalismo sob a direção da burguesia reacionária e dos nacional-reformistas, afastando as massas dos métodos revolucionários e dos objetivos da luta revolucionária. O nacionalismo burguês nas colônias e semicolônias procura manter as massas populares sob a direção política e ideológica da grande burguesia que, na maioria dos países coloniais, já se passou para o campo imperialista. O nacionalismo burguês se dirige especialmente contra a incorporação dos movimentos nacionais libertadores nos países coloniais e dependentes ao campo anti-imperialista e democrático. O nacionalismo burguês é a arma de maior importância ideológica de que lança mão o bloco de agressão anglo-americano com o objetivo de salvar o abalado sistema colonial do imperialismo.
Por isso, um desmascaramento impiedoso da reacionária ideologia nacionalista burguesa nas suas diversas formas – seja o kemalismo ou o gandismo, o sionismo ou o pan-arabismo – apressa o processo de libertação nacional e colonial dos povos dos países coloniais e dependentes, desfaz os cálculos de provocarão dos imperialistas e de seus agentes.
Da Pseudo Democracia Burguesa aos Métodos de Terror Fascista
Assim como, nos países capitalistas desenvolvidos, os socialistas de direita, traidores da classe operária, tentam espalhar a podre teoria da possibilidade de um caminho intermediário, um «terceiro caminho», entre o comunismo e o capitalismo, mas, na realidade, servindo ativamente às forças da reação imperialista, que planejam a guerra contra a URSS e os países de democracia popular, os nacional-reformistas dos países coloniais e semicoloniais afirmam mentirosamente o seu desejo de “manterem-se afastados” da luta entre os dois campos, de manter a sua “neutralidade” em relação ao “conflito ideológico”, como dizem, entre a URSS e os Estados Unidos, mas na realidade, formando um só bloco com a burguesia reacionária, caluniam a URSS e ajudam ativamente os imperialistas.
Todos sabem do papel infame que representou Sutan Sharir na Indonésia, vendido ao imperialismo americano. Não há nenhuma calúnia, por mais odiosa que seja, que os pretensos "socialistas" indianos não tenham espalhado sobre a URSS. O títere da Inglaterra na Birmânia – Takin Nu – também se considera “socialista”.
O bloco dos colonizadores imperialistas anglo-americanos com a grande burguesia e com os seus lacaios nacional-reformistas na maioria dos países coloniais e semicoloniais permite aos imperialistas se aproveitar mais amplamente das ilusões democrático-burguesas reformistas para enganar as massas, permite-lhes trocar as formas descaradas e grosseiras e os métodos de domínio colonial por formas mais refinadas e mascaradas como, por exemplo, a concessão do estatuto de domínio, da «independência», o estabelecimento de relações entre “aliados” por meio de acordos baseados numa formal igualdade de direitos de ambos os lados.
Na realidade, porém, a “Igualdade de direitos” entre as Filipinas e os Estados Unidos, ou entre o Iraque e a Inglaterra não passa de uma farsa, como também não passam de farsas as tentativas da burguesia francesa de mascarar sob a etiqueta da “União Francesa” a opressão colonial nas suas possessões de além-mar.
Como resultado da “nova política” dos imperialistas nas colônias e semicolônias a grande burguesia nacional frequentemente vem sendo chamada por eles a participar do poder ao lado dos latifundiários e outros elementos feudais. A grande burguesia das colônias e semicolônias usa este poder para a repressão mais feroz e impiedosa dos movimentos de libertação das massas trabalhadoras, dos camponeses e da intelectualidade progressista. A situação da Índia demonstra que a grande burguesia, pela sua crueldade e pelo seu reacionarismo, não fica atrás nem dos senhores feudais e nem dos colonizadores imperialistas. Isto faz com que as novas formas e métodos de governo democrático-burgueses reformistas, que se destinam a mascarar a conservação da dominação imperialista nas colônias, se desmascarem rapidamente e se revelem pouco eficazes. Por isso mesmo as massas populares nas colônias e semicolônias chegam mais rapidamente a compreender a falsidade e a hipocrisia da pseudodemocracia burguesa. Por outro lado, o movimento de libertação nacional de massas que se intensifica, dirigido pelo proletariado, provoca uma violência sempre maior das forças reacionárias que jogam fora as folhas de parreira da democracia burguesa e cada vez com maior frequência lançam mão de métodos abertamente fascistas e terroristas.
Neste sentido o exemplo da Índia é particularmente convincente. A burguesia indiana atualmente entra em emulação com as forças mais reacionárias no sufocamento do movimento das massas populares, no terror contra os elementos progressistas do movimento operário e camponês. Constitui exemplo flagrante de tal situação a metamorfose de Nehru que, de congressista de esquerda e desmascarador do imperialismo se transformou em servo hábil de dois amos – a Inglaterra e os Estados Unidos – em aliado dos príncipes e latifundiários indianos, em sufocador sangrento das forças progressistas da Índia. Mas tal é realmente a lógica da luta de classes: não pode haver uma “posição intermediária” entre o imperialismo e a democracia.
As instituições democrático-burguesas nos países coloniais, ressuscitadas, como princípio, pela política de após-guerra dos imperialistas para o mascaramento de seu domínio, demonstram a sua bancarrota: não garantem nem a democratizarão do pais nem o enfraquecimento da opressão imperialista. A democracia burguesa, em toda a parte, inclusive nas colônias, é incapaz de pôr em prática até mesmo reformas burguesas limitadas.
A delimitação das forças de classe antagônicas em escala internacional, a formação dos dois campos e a luta entre eles, o papel histórico mundial da União Soviética como baluarte de todas as forças progressistas, contribuíram em grande escala para que a classe operária conquistasse a hegemonia do movimento de libertação nacional na maioria dos países coloniais e dependentes. O papel dirigente do proletariado na luta anti-imperialista e também a antiga experiência histórica, assim como a nova experiência de após-guerra, ao contribuírem para um mais profundo desmascaramento da democracia burguesa, que é incapaz de conquistar uma independência real e não objetiva a realização de transformações efetivamente democráticas, emprestaram ao movimento de libertação nacional o caráter de uma luta não pela democracia burguesa, mas pela democracia popular.
Os Povos das Colônias e Semicolônias Rompem as Cadeias da Escravidão Imperialista
A democracia popular, como forma particular do poder, que corresponde ao período de transição do capitalismo ao socialismo e que se tornou possível graças à vitória do socialismo na URSS e o fortalecimento das forças democráticas em todo o mundo, não apenas satisfaz integralmente aos interesses das mais amplas massas trabalhadoras das colônias e semicolônias, mas também é facilmente compreendida pelas, mesmas e praticamente realizável. A democracia popular se encontra em condições de assegurar tanto a libertação do jugo imperialista como a realização de transformações autenticamente democráticas, criando as premissas indispensáveis para a passagem à construção socialista.
Na luta pela democracia popular nas colônias e semicolônias se unem não somente os trabalhadores, o campesinato, a pequena burguesia urbana e os intelectuais, mas também certa parte da média burguesia, interessada na libertação da ruinosa concorrência estrangeira e do jugo imperialista. Dessa forma a luta pela democracia popular está em condições de unir, sob a hegemonia da classe operária, a esmagadora maioria do povo. Isto significa que a revolução democrática popular pode se transformar facilmente na forma de luta de libertação nacional, forma da revolução colonial.
A experiência vitoriosa da construção popular-democrática na Coréia Setentrional e nos territórios libertados da China, a popularidade da palavra de ordem de luta pela democracia popular na esmagadora maioria dos países coloniais e dependentes que lutam pela sua libertação demonstram claramente a justeza e a viabilidade do caminho democrático-popular da libertação nacional e social, o caminho do movimento em direção ao socialismo para os países ex-colônias que se atrasaram no seu desenvolvimento.
Todos os acontecimentos de após-guerra no mundo colonial que marcha sob o signo do desmascaramento e do enfraquecimento da reação e do desenvolvimento das forças revolucionárias, sob o signo do fortalecimento e maior ampliação do poderoso campo da democracia e do socialismo, conduziu ao fato de que a luta de libertação nacional dos povos de muitos países assume naturalmente a forma mais elevada de luta pela democracia popular.
Ao mesmo tempo seria errôneo ignorar as particularidades essenciais que distinguem a democracia popular nos países coloniais e dependentes que se libertam do jugo do imperialismo da democracia popular nos países da Europa Central e Sul-Oriental. A primeira e principal distinção consiste em que, no que diz respeito aos países coloniais e dependentes, cujo desenvolvimento cultural e econômico foi particularmente retardado e artificialmente freado pelo imperialismo, a amplitude das tarefas democrático-burguesas colocadas perante a democracia popular nestes países, será significativamente maior do que nos outros países, menos atrasados e mais desenvolvidos e que não conheceram ou quase não conheceram a opressão colonial.
É perfeitamente compreensível que a revolução democrático-popular nas colônias e semicolônias não pode deixar de assumir, antes de tudo, um caráter anti-imperialista e antifeudal. Por conseguinte, a revolução democrático-popular nas colônias em seu desenvolvimento, deverá atravessar uma série de etapas sucessivas e diversos prazos de transição até chegar à solução das tarefas de caráter socialista e à construção da economia socialista que, nestes países, podem ser mais prolongados do que nos demais países de democracia popular que não foram colônias.
As etapas de desenvolvimento da revolução democrático-popular nas colônias e semicolônias, que revelam na sua essência o processo de sua transformação em revolução socialista, serão determinadas em cada país pelas particularidades concretas do seu caminho histórico e pela correlação das forças de classe dentro do país e em escala internacional.
O programa comum, aprovado pelo Conselho Político Consultivo popular da China, demonstra que a República Popular da China “realiza a ditadura de democracia popular, dirigida pela classe operária, fundada na união dos operários e camponeses e unindo todas as camadas democráticas e todas as minorias nacionais da China”.
A República Popular trava a luta contra o imperialismo, o feudalismo e o capital burocrático e estabelece a tarefa de “anular todos os privilégios dos países imperialistas na China, confiscar o capital burocrático e transferir a sua propriedade ao Estado popular; realizar sistematicamente a transformação do sistema feudal e semifeudal de posse da terra no sistema de posse da terra pelos camponeses; proteger a propriedade social do Estado e a propriedade das cooperativas, defender os interesses econômicos e a propriedade privada dos trabalhadores, camponeses, da pequena burguesia e da burguesia nacional; desenvolver a economia popular da nova democracia e transformar firmemente o país, de país agrícola em país industrial”.
O Presidente do Comitê Central do Partido Comunista da China, Mao Tsé-Tung, escreveu no artigo ‘A ditadura da democracia popular’, publicado na Pravda de 6 de julho de 1949: “A experiência de algumas dezenas de anos, acumulada pelo povo chinês, nos fala da necessidade do estabelecimento da ditadura de democracia popular. Isto quer dizer que os reacionários devem ser privados do direito de manifestar a sua opinião e somente o povo pode ter o direito de voto, o direito de manifestar a sua opinião. O sistema democrático deve se realizar no seio do povo, pela garantia ao mesmo da liberdade de palavra, de reunião e de organização. O direito de voto é concedido somente ao povo, mas não aos reacionários. Estes dois aspectos, isto é, a democracia no seio do povo e a ditadura sobre os reacionários, representam por si mesmos a ditadura da democracia popular”.
O programa político e econômico da democracia popular chinesa fundamenta-se no crescimento sistemático do peso específico da propriedade social e estatal que constitui o fundamento de um desenvolvimento progressista posterior.
São idênticos os princípios gerais comuns do desenvolvimento social tanto dos países orientais como dos países ocidentais. Pode-se falar somente sobre a diferença dos prazos ou das formas concretas deste desenvolvimento. Neste sentido, a democracia popular no Oriente, nos seus traços fundamentais, não se distingue da democracia popular no Ocidente.
Lênin e Stálin nos ensinam que uma exigência incondicional para a apreciação do movimento revolucionário é a análise de suas particularidades locais, um tratamento concreto, nacional e específico em cada país «para a solução de uma única tarefa internacional». Uma vez que a própria tarefa é única e internacional, trata-se de aplicar da melhor maneira os princípios internacionais comuns e únicos às condições particulares, concretas e nacionais.
O desenvolvimento da luta de libertação nacional nas colônias e semicolônias, o desenvolvimento da luta contra o imperialismo já alcançou enormes êxitos, o que testemunha o profundo aguçamento da crise geral do sistema capitalista. O crescente movimento de libertação dos povos dos países coloniais e dependentes surge como um firme aliado e uma poderosa reserva, do campo da democracia e do socialismo, que resiste às forças do imperialismo e da reação. A República Popular da China já constitui uma parte inseparável do campo anti-imperialista, à cuja frente se encontra a União Soviética em luta pela paz e pela democracia. Toda a marcha da luta nacional e colonial e as grandes vitórias conquistadas pelas forças da democracia no Leste Asiático, constituem uma brilhante confirmação da verdade da doutrina leninista-stalinista sobre a questão nacional e colonial, o que demonstra o triunfo das invencíveis ideias de Marx, Engels, Lênin e Stálin.
por E. Zhukov, publicado na Revista Problemas nº 28, julho de 1950