Houthis e a resistência anti-imperialista no Iêmen
Desde o final do ano passado, quando se iniciou mais uma guerra de agressão do Estado de Israel contra a Faixa de Gaza, o noticiário nos traz informações sobre ataques aos navios que atravessavam o Mar Vermelho levando mercadorias e armas para os israelenses. Com essas ações foi impactado de forma marcante todo o trânsito de navios e embarcações que do Canal de Suez liga o Mediterrâneo a todo o Oceano Índico e parte do Pacífico, representando quase 15% de todo o comércio mundial anual.
E tal bloqueio foi levado a cabo pelos Houthis, força de resistência nacional do Iêmen que trava uma luta de libertação há quase uma década no seu país e foi até então o único país que se lançou abertamente em defesa e solidariedade ao povo palestino contra o genocídio levada a cabo por Israel e Estados Unidos na Palestina.
Mas quem são os Houthis? Trata-se do movimento Ansar Allah (Seguidores de Allah) ou Houthi em alusão ao seu fundador Hussein al-Houthi que há quase uma década fez uma revolução ao tomar o poder e derrubar o antigo governo.
Desde o final de 2014, o Iêmen vem sendo completamente destruído devido à intervenção imperialista e de seu parceiro na região, o governo medieval e ultrarreacionário da Arábia Saudita.
O conflito que se estende coloca, de um lado, as forças lideradas pelo ex-presidente iemenita Abd-Rabbu Mansour Hadi, garoto de recados da coalizão sunita liderada pela monarquia Saudita e apoiada pelo imperialismo dos Estados Unidos. Do outro, está a milícia patriota Houthi, de xiitas, que controla a capital Sanaa, possui apoio do Irã e almeja um país independente sem a ingerência saudita. Em 2014, os Houthis passaram a controlar o país e, em março de 2015, iniciam-se as agressões de árabes e imperialistas – incluso Inglaterra e França – com o intuito de reinstaurar o governo fantoche anterior. Devemos destacar que os nanicos locais Emirados Árabes e Bahrein, funcionam como bases de apoio aos ataques das potências belicistas.
Como saldo do conflito, até o momento estima-se que pode chegar a 500 mil pessoas mortas e mais de 20 milhões se encontram em situação de vulnerabilidade e em deslocamento. A destruição da infraestrutura pelos ataques aéreos da coalização saudita ocasionou no país a falta de itens básicos como remédio e combustível. Os hospitais foram destruídos, a epidemia de cólera se espalhou com velocidade, isso tudo sem falar da fome generalizada e escassez de água. Em 2020, esse cenário calamitoso foi agravado pela crise mundial de Covid-19. O caso do Iêmen se compara ao dos países mais desamparados do continente africano.
A insegurança alimentar, somados à destruição quase total da saúde, educação e, energia, setores rodoviário e industrial, juntamente com dezenas de cidades e centenas de vilas e aldeias, fazem do conflito o maior desastre humanitário que o mundo enfrentou desde a Segunda Guerra Mundial.
A Organização para os Direitos de Mulheres e Crianças “Intisaf” denunciou em 2022 em um comunicado que crianças e mulheres iemenitas são mortas e seus direitos violados como resultado da agressão e do cerco imposto pela coalizão saudita sob proteção internacional. Denuncia que todas as leis internacionais e as cartas de organizações contra a violência no Iêmen foram ignoradas.
Mesmo diante de uma situação tão complexa na sua política interna, os iemenitas se levantaram em solidariedade à luta do povo palestino, enquanto lutam para defender sua própria terra.
E essa grande ação da luta anti-imperialista do povo do Iêmen não ficou sem a covarde resposta do imperialismo. Os Estados Unidos, juntamente com 20 nações, incluindo o Reino Unido, Bahrein, Canadá, Dinamarca, França, Itália, Países Baixos e Noruega, estão a preparar a Operação Guardião da Prosperidade com patrulhas conjuntas no sul do Mar Vermelho e no sul do Mar Vermelho adjacente ao Golfo de Aden. Sanaa e outros alvos iemenitas foram fortemente bombardeados durante vários dias. Contudo, a resistência dos Houthis segue ativa transformando o Mar Vermelho em uma nova frente de guerra para Israel e o imperialismo ianque diante do genocídio em andamento na Palestina. Por isso, a solidariedade anti-imperialista com os povos em luta no Oriente Médio é uma tarefa também para nós, brasileiros.