"Vilma Espín, paradigma para as mulheres cubanas"
Qualidades humanas formadas por preceitos familiares, sentido de justiça, rejeição à mentira, ao banal e ao superficial,(1) caracterizam Vilma Espín Guillois, que nasceu em Santiago de Cuba exatamente há 86 anos, em 7 de abril de 1930. Frente à situação social, apesar de sua vida cômoda, repudiou o que via, perguntando-se “por que há pedintes na rua?”, “Como resolver isso?”(2)
Iniciou a carreira de Engenheira Química em 1948, na Universidade do Oriente, coincidindo com as lutas pela oficialização de um financiamento estatal, atividades em que esteve presente. Se filiou à Federação Estudantil Universitária do Oriente (FEUO) e não deixou de somar-se as mais variadas jornadas de protestos convocados(3).
Com o golpe de Estado de 1952, que violou a Constituição, e a derrota do Partido do Povo Cubano (Ortodoxo), aflora seu ideal de acabar com a tirania, considerando o ocorrido como uma ofensa pessoal. Dessa forma, participou de diversas ações de oposição junto com outros estudantes e se integrou a geração que mobilizou seu pensamento radical, fazendo militância revolucionária que proporcionou a insurreição armada.
Consequentemente em 1952, depois do jovem estudante Rubén Batista ser condenado à morte em Havana, consolidou seu pensamento e teve o valor de aproximar-se ao Moncada junto com outras companheiras, e de vincular-se aos combatentes do assalto ao quartel Moncada e Carlos Manuel de Céspedes levados a cabo em Santiago de Cuba e Bayamo, respectivamente, pela Geração do Centanário encabeçados por Fidel.
Sobre o ocorrido diria “...Muitas das nossas famílias acolheram a companheiros do Moncada, ajudaram os que estavam no hospital, levando comida aos que estiveram presos”,(4) exemplo foi sua ajuda a José Ponce e Abelardo Crespo. Vilma também escondeu Severino Rossel, na casa de sua família em Punta de Sal.
Seu vínculo com Frank País e José Tey (Pepito), possibilitou a uma maior preparação ideológica que canalizou no Movimento Nacional Revolucionário, com um programa de acordo com seus ideais(5). “Dessa forma, se torna parte de um desfile em homenagem a Antonio Maceo que foi reprimido, mas consegue chegar a casa do Titã[em Cuba Maceo é apelidado de Titã de bronze], expressado em uma nota: “... muitos saímos a homenageá-lo hoje 7 de dezembro, mas só um pequeno grupo chegou… As forças policiais que destruíram a nação que você liberou, se encarregaram de detê-los. Mas saibas, Titã de Bronze, com isso, que seus filhos sabem defender a pátria”.(6)
Quando Frank cria a Ação Revolucionária Oriental (ARO), Vilma se incorpora e trabalha junto na seção de finanças, onde demonstra honestidade e desempenho. A organização cresce e começa a ser chamada Ação Nacional Revolucionária (ANR), nome que segundo Calas Benavides foi acordado em uma reunião na casa de Frank em que estava Vilma e Pepito Tey.
A oportunidade de ler e compreender A História me absolverá [histórico discurso de Fidel Castro], fortalece sua formação ideológica, o que a faz expressar ”... lí o discurso todo de uma vez só.. Estávamos todos fascinados, se clareava um programa no qual podíamos aglutinarmos para lutar..”,(7) e em seguida contribuiu para sua distribuição. “Depois de concluir seus estudos em 15 de julho de 1954, continuaria vinculada no centro e aos revolucionários.
Junto a sua irmã Nilsa apaga os rastros de pólvora que Frank teria nas mãos logo depois do assalto ao quartel de Caney. Quando este é preso, assume alguns dos seus trabalhos. Era considerada sua ajudante e sobre isso disse Graciela Aguiar”... mandou fazer todo o possível para garantir sua vida… juntos fomos à prísão e me disse que tinha tanta coisas a dizer-me em tão pouco tempo, que não sabia como começar”.
Mostrou sua capacidade de manejar as estratégias do Movimento.
O Movimiento Revolucionario 26 de Julio, é fundado no Oriente no último trimestre de 1955 e Vilma participa do processo de consultas efetuado por Frank, antes que fosse estudar em Boston, Estados Unidos. Poder-se-ia pensar que acabava uma etapa ativa de luta, ainda que não deixasse de se preocupar com a situação de Cuba. (8). Em junho de 1956 vai ao México, se reúne com Fidel Castro já exilado, e traz à Cuba mensagens para a coordenação de ações de apoio no país. Foi protagonista do trabalho em Santiago, onde preparou suprimentos e facilitou a estadia para a organização de levantamento armado de 30 de novembro, no local que depois passou a ser a sede do quartel general.
O ano de 1957 foi decisivo. Esteve na Sierra Maestra em reunião com os chefes da guerrilha nascida na expedição do Granma, e participou da entrevista de Fidel com o jornalista norteamericano Herbert Matthew. Junto com Frank organizou o primeiro envio de homens a Sierra e é encarregada, em 20 de julho, da Coordenação Provincial do Oriente, responsabilidade que a colocou na vanguarda em momentos decisivos, como foi a morte de Frank e tudo o que ela gerou posteriormente.
Sua ação não cessa, e em 1958 é vista no abastecimento da guerrilha, na grande greve de 9 de abril e em reuniões importantes convocadas na Sierra Maestra, o que contribuiu para que Oriente fosse considerado um baluarte na luta. Em junho participa junto ao comandante Raúl Castro Ruz nas conversas com o cônsul americano, em função da Operação Antiaérea realizada na Segundo Frente Oriental Frank País, e por sua segurança decide permanecer em território rebelde, como Delegada Nacional de MR-26-7. Participou em diferentes reuniões realizadas para a tomada de Santiago de Cuba e entrou triunfante na sua cidade natal em 1º de Janeiro de 1959.
A partir de então se inicia uma nova etapa de luta, pela plena igualdade de direitos da mulher, desde a Federação de Mulheres Cubanas, que presidiu por 47 anos, assim como desde o Partido comunista e como Deputada da Assembleia Nacional do Poder Popular. Em 18 de Junho de 2007 nos deixa fisicamente, mas segue sendo a eterna Presidenta e seu exemplo, como disse Fidel, é hoje mais necessário que nunca.
Notas
1 Palavras de Asela de los Santos en el montaje do memorial Vilma Espín.
2 Margot Randall: “La mujer cubana de ahora” en revista Mujeres, julio de 1973, p. 6, entrevista a Vilma Espín.
3 Mirza, Ramos Ochoa: Participación de Vilma Espín en las luchas estudiantiles, 2011 (inédito).
4 Vilma Espín: “Seguimos a Fidel”, en revista Mujeres no. 2, 2003, p. 57.
5 Vilma Espín: “Deborah” en Una Revolución que Comienza, p. 56.
6 Renaldo Infante Urivazo: Frank País: Leyenda sin Mitos, p. 104.
7 Vilma Espín: “Deborah” en Una Revolución que Comienza, p. 59. Contra todo Obstáculo, p. 23.
8 Vilma Espín: “Deborah” en Una Revolución que Comienza, p. 60.
por María Esther Mora Abad, mestre en Ciencias. Museóloga del Memorial Vilma Espín, Santiago de Cuba. Miembro de la UNIHC.
Tradução Fuzil contra Fuzil