Amazônia registra boa parte dos conflitos no campo no Brasil
O processo de destruição da Amazônia tem avançado a passos largos nas últimas décadas, patrocinado em grande medida pelo Estado brasileiro, a serviço dos interesses dos latifundiários e dos interesses imperialistas, em nome da ampliação de plantação de soja, aumento do garimpo, exploração da madeira e outros produtos, além da tomada das terras dos povos originários da região.
Como já escrevemos aqui, a ofensiva final contra os povos indígenas no Brasil é parte importante desse processo, assim como a grilagem de terras de posseiros, desmonte das leis ambientais no Congresso Nacional, destruição da fiscalização e sabotagem do trabalho do Ibama e da Funai, entre outras ações fazem parte do plano geral das classes dominantes para se apoderar totalmente das terras amazônicas.
E os números dos últimos anos comprovam que o processo avança na parcela brasileira do bioma, cujo 60% está no nosso território. Somente em 2022, foram devastados 10.573 km² em território amazônico brasileiro, a maior destruição desde 2008, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). E as consequências já são constatáveis: no norte da Amazônia, o período seco aumentou e a época de chuvas diminuiu, enquanto no Sul, houve aumento de temperatura, redução da quantidade de chuvas e aumento do período seco. Além disso, as consequências dos desmatamentos também já são sentidas nas demais regiões do Brasil.
Os dados relatório Conflitos no Campo Brasil 2023, produzido Comissão Pastoral da Terra (CPT) também apontam para a agudização desse processo. Segundo o estudo, “dos 2.203 conflitos no campo registrados no Brasil em 2023, 1.034 ocorreram na Amazônia Legal, o que corresponde a quase metade do total. A região compreende quase 60% do território brasileiro, abrangendo os estados da região Norte, além do Mato Grosso e parte do Maranhão e do Tocantins. Este é o terceiro maior número dentre os anos da série histórica, com 2020 ocupando o 1º lugar, com 1.167 ocorrências, e 2022 com 1.117 registros”.
Além disso, também aponta que “dentre os 5 estados com os maiores números de conflitos no país, 3 estão na área da Amazônia Legal: Pará (226 ocorrências), Maranhão (206) e Rondônia (186). Analisando as regiões do país, a região Norte foi a que mais registrou conflitos no campo em 2023, com 810 ocorrências”.
O Pará lidera com 183 conflitos afetando 38.597 famílias, seguido do Maranhão (171 registros e 17.074 famílias), Rondônia (162 casos e 9.573 famílias atingidas), Amazonas (86 registros e 16.805 famílias) e Acre (84 registros, atingindo 8.656 famílias). No Pará, as Terras Indígenas Munduruku (com 1.630 famílias) e Kayapó (com 1.137 famílias) são algumas das mais impactadas pelos conflitos por terra no estado.
As principais vítimas dos conflitos na Amazônia são pequenos proprietários (26,4% dos registros), ao lado de indígenas (24,7%). Seguem-se trabalhadoras e trabalhadores sem terra (18%), posseiros (14%) e seringueiros (5%).
Ainda segundo o relatório, “mais da metade dos conflitos são causados por fazendeiros (54,4%), seguidos de grileiros (11,3%), garimpeiros (9,7%) e empresários (9%). Em menor proporção, estão os agentes dos governos federal (4,2%), estadual (2,5%) e municipal (2,2%), além das hidrelétricas (2%). No Amazonas, as áreas indígenas têm sido atingidas por mineradoras e garimpeiros em projetos de exploração mineral, principalmente na exploração de gás nos municípios de Silves e Itapiranga, e de potássio em Autazes, com o apoio do governo do Estado”.
Por isso, a luta dos povos originários e camponeses da região ganham ainda maior importância no cenário das lutas de classes no nosso país. É necessário apoiar incondicionalmente tais lutas e denunciar a cumplicidade do Estado brasileiro, em todas suas esferas e todas as legendas políticas que a ocupam, pela cumplicidade com essa ofensiva dos latifundiários e burgueses em conluio com os interesses do imperialismo.