Engels: "Marx e a Nova Gazeta Renana"
Ao rebentar a Revolução de Fevereiro, o “Partido Comunista” alemão, como nós lhe chamávamos, consistia apenas num pequeno núcleo, a Liga dos Comunistas, organizada como sociedade secreta de propaganda. A Liga só era secreta porque, naquela altura, na Alemanha, não havia qualquer direito de associação e de reunião. Além das associações operárias no estrangeiro — onde ela recrutava —, tinha aproximadamente trinta comunas ou seções no próprio país, para além de membros isolados em muitos lugares. Mas esta insignificante força de combate tinha um dirigente, a quem todos de boa vontade se subordinavam, tinha em Marx um dirigente de primeira ordem e, graças a ele, um programa de princípios e tático, que ainda hoje tem plena validade: o Manifesto Comunista.
Aqui, toma-se em linha de conta em primeira instância a parte tática do programa. Esta afirma, em geral:
“Os comunistas não são nenhum partido particular face aos outros partidos operários.
“Não têm nenhuns [interesses] separados dos interesses de todo o proletariado.
“Não estabelecem nenhuns princípios particulares segundo os quais queiram moldar o movimento proletário.
“Os comunistas distinguem-se dos restantes partidos proletários apenas porque, por um lado, nas diversas lutas nacionais dos proletários acentuam e fazem valer os interesses comuns, independentes da nacionalidade, do proletariado todo, e porque, por outro lado, nos diversos estádios de desenvolvimento por que a luta entre proletariado e burguesia passa, representam sempre o interesse do movimento todo.
“Os comunistas são, pois, praticamente, a parte mais decidida, sempre impulsionadora, dos partidos operários de todos os países: teoricamente, têm, em avanço sobre a restante massa do proletariado, a compreensão das condições, do curso e dos resultados gerais do movimento proletário.”
E, para o Partido alemão, [afirma], em particular:
“Na Alemanha, o Partido Comunista luta, assim que a burguesia entra revolucionariamente [em cena], em conjunto com a burguesia contra a monarquia absoluta, a propriedade fundiária feudal e a pequena burguesia [Kleinbürgerei].
“Mas, nem por um instante deixa de fazer sobressair entre os operários uma consciência o mais clara possível acerca da oposição inimiga entre burguesia e proletariado, para que os operários alemães possam virar, de pronto, como outras tantas armas, contra a burguesia, as condições sociais e políticas que a burguesia com a sua dominação tem que ocasionar para que, após o derrube das classes reacionárias na Alemanha, comece logo a luta contra a própria burguesia.
“Para a Alemanha dirigem os comunistas a sua atenção principal, porque a Alemanha está em vésperas de uma revolução burguesa”, etc. (Manifesto, IV).
Nunca um programa tático se comprovou tanto como este. Estabelecido nas vésperas de uma revolução, aguentou a prova dessa revolução; sempre que um partido operário, desde esse tempo, se desviou dele, todo- o desvio foi castigado; e hoje, depois de quase quarenta anos, forma a regra de conduta de todos os partidos operários decididos e autoconscientes da Europa, de Madrid a Petersburgo.
Os eventos de Fevereiro em Paris precipitaram a revolução alemã iminente e modificaram, com isso, o seu caráter. A burguesia alemã, em vez de vencer pela sua própria força, venceu a reboque de uma revolução operária francesa. Ainda antes de ter definitivamente derrubado os seus velhos adversários — a realeza absoluta, a posse fundiária feudal, a burocracia, a pequena burguesia [Spiess-bürgertum] covarde — teve logo que fazer frente a um novo inimigo: o proletariado. Porém, aqui, mostram-se logo os efeitos das condições [Zustände] econômicas, que tinham ficado muito para trás da França e da Inglaterra, e da situação das classes na Alemanha que, com aquelas, igualmente havia ficado para trás.
A burguesia alemã, que, precisamente, só [então] começava a fundar a sua grande indústria, não tinha nem a força, nem a coragem, nem a necessidade premente, de conquistar para si a dominação incondicional no Estado; o proletariado, na mesma proporção, não desenvolvido, crescido em completa servidão espiritual, desorganizado e nem sequer capaz de organização autônoma, possuía apenas o sentimento vago da sua profunda oposição de interesses contra a burguesia. Assim, apesar de, segundo [a natureza] das coisas, ser um adversário ameaçador dela, permaneceu, por outro lado, um apêndice político dela. Aterrorizada, não com o que o proletariado alemão era, mas com aquilo em que ele ameaçava tornar-se e com o que o [proletariado] francês já era, a burguesia só viu salvação nalgum compromisso, mesmo o mais covarde, com a monarquia e a nobreza; desconhecedor ainda do seu próprio papel histórico, o proletariado, na sua grande massa, tinha, em primeiro lugar, de adotar o [papel] da ala esquerda mais extrema, impulsionadora, da burguesia. Os operários alemães, antes de todas as coisas, tinham de conquistar aqueles direitos que eram indispensáveis à sua organização autônoma como partido de classe: liberdade de imprensa, de associação e de reunião — direitos que a burguesia, no interesse da sua própria dominação, tinha tido de conquistar, mas que agora, com o seu medo dos operários, lhes contestava. As poucas centenas de membros da Liga isolados desvaneciam-se na enorme massa repentinamente atirada para o movimento. O proletariado alemão apareceu, portanto, em primeiro lugar, na cena política como partido democrático mais extremo.
Por isso, quando fundámos na Alemanha um grande jornal, a sua bandeira ofereceu-se-nos de per si. Não podia ser senão a da democracia, mas a de uma democracia que por toda a parte, em cada caso, acentuava o caráter especificamente proletário que ainda não podia inscrever, de uma vez por todas, no seu estandarte. Se o não quiséssemos [fazer], se não quiséssemos aderir ao movimento na sua ponta que mais progredira, efetivamente proletária, já existente, e impulsioná-lo para diante, não nos restava senão ensinar comunismo numa pequena folhinha de província e, em vez de um grande partido de ação, fundar uma pequena seita. Mas, de pregações no deserto estávamos nós fartos; tínhamos estudado os utopistas bem de mais para isso. [Se fosse] para isso, não teríamos esboçado o nosso programa.
Quando chegámos a Colônia, encontrámos lá, do lado democrático e, em parte, do lado comunista, preparativos para um grande jornal. Queria-se fazer dele algo de puramente local, de Colônia, e banir-nos para Berlim. Mas, em 24 horas, nomeadamente graças a Marx, conquistámos o terreno, o jornal ficou nosso, com a contrapartida de aceitar Heinrich Bürgers para a chefia da redação. Ele escreveu um artigo (no n.° 2) e nunca mais escreveu segundo.
Tínhamos, precisamente, que ir para Colônia e não para Berlim. Em primeiro lugar, Colônia era o centro da Província renana, que passara pela Revolução Francesa, que conservava no Code Napoléon visões modernas do Direito, que tinha desenvolvido, de longe, a grande indústria mais significativa e que, sob todos os aspectos, era então a parte que mais progredira da Alemanha. Conhecíamos bem de mais, pelos nossos próprios olhos, a Berlim de então, com a sua burguesia mal acabada de surgir, com a sua rastejante pequena burguesia [Kleinbürgertum], insolente nos ditos, mas covarde nos feitos, com os seus operários ainda totalmente por desenvolver, a sua massa de burocratas, chusma de nobres e cortesãos, com todo o seu carácter de mera “Residenz”. Porém, decisivo era que: em Berlim, dominava o miserável Landrecht prussiano e os processos políticos iam perante juízes de profissão; no Reno subsistia o Code Napoléon, que não conhece quaisquer processos de imprensa, porque pressupõe a censura e se se não incorrer em nenhuma transgressão política, mas apenas em crimes, comparece-se perante jurados; em Berlim, depois da revolução, o jovem Schlöffel, por causa de uma ninharia, foi condenado a um ano [de prisão]; no Reno, tínhamos liberdade de imprensa incondicional — e nós usámo-la até à última gota.
Assim, começámos em 1 de Junho de 1848, com um capital de ações muito limitado, do qual só pouco estava pago, e os próprios acionistas estavam mais do que inseguros. Logo a seguir ao primeiro número metade [deles] abandonou-nos e, no fim do mês, já não tínhamos nenhum.
O regime [Verfassung] da redação era a simples ditadura de Marx. Uma grande folha diária, que tem de estar pronta a determinadas horas, com outro regime não pode conservar uma atitude consequente. Mas, a ditadura de Marx aqui, ainda além disso se entendia por si, era incontestada e reconhecida por todos nós de boa vontade. Foi, em primeira linha, a sua visão clara e a sua atitude segura que fizeram da folha a gazeta alemã mais conhecida dos anos da revolução.
O programa político da Neue Rheinische Zeitung consistia em dois pontos principais:
República alemã democrática, una, indivisível, e guerra com a Rússia, que incluía o restabelecimento da Polônia.
A democracia pequeno-burguesa repartia-se, então, em duas frações: a norte-alemã, a quem agradava um imperador prussiano democrático, e a sul-alemã, então quase toda especificamente de Baden, que queria transformar a Alemanha numa república federativa segundo o modelo suíço. Tínhamos de combater ambas. O interesse do proletariado impedia tanto a prussianização da Alemanha como a eternização da pequena estadaria [Kleinstaaterei]. Exigia a unificação definitiva da Alemanha numa nação, a qual somente podia estabelecer o campo de batalha, depurado de todos os pequeninos obstáculos herdados, em que proletariado e burguesia haviam de medir as suas forças. Mas ele impedia igualmente o estabelecimento de uma cúpula prussiana; o Estado prussiano, com toda a sua organização, a sua tradição e a sua dinastia, era, precisamente, o único adversário interno sério que a revolução na Alemanha tinha de abater; e, ainda por cima, a Prússia só podia unificar a Alemanha pela dilaceração da Alemanha, pela exclusão da Áustria alemã. Dissolução do Estado prussiano, desagregação do Estado austríaco, unificação real da Alemanha como república — não podíamos ter outro programa revolucionário próximo. E era de realizar isto através da guerra contra a Rússia e só através dela. Voltarei ainda a este último ponto.
Quanto ao resto, o tom da folha não era de modo nenhum solene, sério ou entusiástico. Não tínhamos senão adversários desprezíveis e tratávamo-los sem exceção com o mais extremo desprezo. A realeza conspiradora, à camarilha, à nobreza, à Kreuz-Zeitung, à “reação” toda, com as quais os filisteus se indignavam moralmente — tratávamo-las apenas com troça e mofa. Mas também não [tratávamos com] menos [troça e mofa] os novos ídolos erigidos pela revolução: os ministros de Março, as Assembleias de Frankfurt e de Berlim, tanto as direitas como as esquerdas. Logo o primeiro número começou com um artigo que mofava com a nulidade do Parlamento de Frankfurt, a falta de objetivos dos seus discursos intermináveis, a superfluidade das suas resoluções covardes. Custou-nos metade dos acionistas. O Parlamento de Frankfurt não era sequer um clube de debates; lá, quase que não se debatia, mas, na maior parte dos casos, apenas se debitava dissertações acadêmicas que se traziam prontas e tomava-se resoluções, que deveriam entusiasmar os filisteus alemães, mas com as quais, aliás, pessoa nenhuma se importava.
Já a Assembleia de Berlim tinha mais significado: ela confrontava-se com um poder real, debatia e resolvia com os pés no chão, não no país dos sonhos [Wolkenkuckucksheim] de Frankfurt. Era tratada, por conseguinte, também mais em pormenor. Mas também os ídolos das esquerdas de lá — Schulze-Delitzsch, Berends, Elsner, Stein, etc. — eram tão penetrantemente maltratados como os de Frankfurt; a sua indecisão, hesitação e calculismo eram impiedosamente postos a descoberto e era-lhes provado como passo a passo eles se comprometiam na traição da revolução. Isto, naturalmente, provocou um arrepio nos pequenos burgueses democráticos que, precisamente, tinham fabricado estes ídolos, em primeiro lugar, para uso próprio. Para nós, este arrepio era um sinal de que tínhamos acertado em cheio.
Do mesmo modo, voltámo-nos também contra a ilusão, zelosamente espalhada pela pequena burguesia, de que a revolução estava concluída com as jornadas de Março e de que agora só havia que embolsar os frutos. Para nós, Fevereio e Março só podiam ter então o significado de uma revolução real se não fossem conclusão, mas, pelo contrário, ponto de partida de um longo movimento revolucionário, no qual, como no grande revolucionamento francês, o povo se continuasse a desenvolver pelas suas próprias lutas, os partidos se diferenciassem cada vez mais agudamente até coincidirem totalmente com as grandes classes — burguesia, pequena burguesia, proletariado — e no qual as posições particulares do proletariado fossem conquistadas uma após outra numa série de jornadas de combate. Por conseguinte, voltámo-nos também por toda a parte contra a pequena burguesia democrática, quando ela queria esconder a sua oposição de classe ao proletariado com a frase favorita: afinal queremos todos o mesmo, todas as diferenças repousam em meros mal-entendidos. Porém, quanto menos permitimos à pequena burguesia que entendesse mal a nossa democracia proletária, tanto mais dócil e tratável se tornou para conosco. Quanto mais penetrante e decididamente se se lhe opõe, tanto mais de boa vontade se abaixa, tanto mais concessões faz ao Partido operário. Nós vimos isso.
Finalmente, desmascarámos o cretinismo parlamentar (como Marx lhe chamou) das diversas chamadas assembleias nacionais. Estes senhores tinham deixado escapar todos os meios de poder, em parte tinham-nos entregado de novo de livre vontade aos governos. Ao lado de governos reacionários recém-fortalecidos estavam, tanto em Berlim como em Frankfurt, assembleias sem poder que, apesar disso, imaginavam que as suas resoluções impotentes haviam de fazer o mundo saltar dos gonzos. Até na esquerda mais extrema dominava esta auto-ilusão cretina. Nós gritávamos-lhes: a vossa vitória parlamentar coincidirá com a vossa derrota real.
E assim aconteceu tanto em Berlim como em Frankfurt. Quando a “esquerda” obteve a maioria, o governo dispensou toda a assembleia; pôde fazê-lo porque a assembleia tinha perdido o seu próprio crédito junto do povo.
Quando, mais tarde, li o livro de Bougeart sobre Marat, vi que, sob mais do que um aspecto, apenas tínhamos imitado inconscientemente o grande modelo do autêntico (não do falsificado pelos realistas) Ami du peuple e que toda a explosão de raiva e toda a falsificação da história, em virtude das quais, através de quase um século, apenas se conheceu um Marat totalmente distorcido, tinham só esta causa: a de que Marat tirou impiedosamente o véu aos ídolos do momento — Lafayette, Bailly e outros — e os denunciou como traidores consumados da revolução; e a de que ele, tal como nós, não queria saber de declarar a revolução por concluída, mas [de a declarar] em permanência [in Permanenz].
Dissemos abertamente que a orientação que nós representávamos só podia entrar na luta pela obtenção dos nossos reais objetivos de Partido quando o mais extremo dos partidos oficiais existentes na Alemanha estivesse ao leme: então, face a ele, formaríamos a oposição.
Os eventos providenciaram, porém, no sentido de que, ao lado da mofa contra os adversários alemães, entrasse também a paixão inflamada. A insurreição dos operários de Paris de Junho de 1848 apanhou-nos no nosso posto. Desde o primeiro tiro interviemos incondicionalmente a favor dos insurretos. Após a sua derrota, Marx celebrou os vencidos num dos seus mais vigorosos artigos.
Aí o último resto de acionistas abandonou-nos. Mas tivemos a satisfação de ser a única folha na Alemanha e quase na Europa que tinha levantado bem alto a bandeira do proletariado esmagado, no momento em que os burgueses e os pequenos burgueses [Spiessbürger] de todos os países atabafavam os vencidos com a tralha das suas calúnias.
A [nossa] política externa era simples: intervir a favor de qualquer povo revolucionário, apelo à guerra geral da Europa revolucionária contra o grande apoio da reação europeia — a Rússia. Desde 24 de Fevereiro, era para nós claro que a revolução tinha apenas um inimigo realmente temível: a Rússia, e que este inimigo era tanto mais obrigado a entrar na luta quanto mais o movimento alcançasse dimensões europeias. Os eventos de Viena, Milão, Berlim tiveram que retardar o ataque russo, mas o seu final advento tornava-se tanto mais certo quanto mais próximo da Rússia a revolução chegasse. Se se conseguisse, porém, levar a Alemanha à guerra contra a Rússia, acabava-se com os Habsburg e Hohenzollern, e a revolução vencia em toda a linha.
Esta política perpassa cada número da gazeta até ao momento da entrada real dos russos na Hungria, que confirmava plenamente a nossa previsão e decidia a derrota da revolução.
Quando, na Primavera de 1849, a luta decisiva se aproximou, a linguagem da folha a cada número se tornava mais veemente e apaixonada. Wilhelm Wolff, no “Schlesischen Milliarde” [“Mil milhões da Silésia”] (oito artigos), lembrava aos camponeses silésios como, quando do resgate dos impostos feudais, haviam sido aldrabados em dinheiro e em posse de terra [Grundbesitz] pelos senhores da terra [Gutsherren] com a ajuda do governo e exigia mil milhões de táleres de indenização.
Ao mesmo tempo, aparecia, em Abril, o ensaio de Marx sobre trabalho assalariado e capital, numa série de artigos de fundo, como uma clara indicação do objetivo social da nossa política. Cada número, cada número especial, apontava para a grande batalha que se preparava, para a agudização das oposições em França, Itália, Alemanha e Hungria. Designadamente, os números especiais de Abril e Maio foram outros tantos apelos ao povo para que estivesse pronto para começar o ataque.
“Lá fora, no Império”, as pessoas admiravam-se de que nós empreendêssemos tudo isto tão à vontade, numa fortaleza prussiana de primeira ordem, face a uma guarnição de 8000 homens e diante do posto principal da guarda; mas, em virtude das oito espingardas com baioneta e dos 250 cartuchos carregados, na sala da redação, e dos barretes de jacobino vermelhos dos compositores tipográficos, a nossa casa era igualmente tida pelos oficiais como uma fortaleza que não se podia tomar com um mero golpe de mão.
Finalmente, a 18 de Maio de 1849, veio o golpe.
A insurreição em Dresden e Elberfeld foi reprimida, a em Iserlohn cercada, a Província renana e a Vestefália estavam eriçadas de baionetas que, após completa violAção da Renânia prussiana, estavam determinadas a marchar contra o Palatinado e Baden. Então, finalmente, o governo ousou atirar-se a nós. Metade dos redatores foi processada judicialmente, a outra, como não-prussiana, era expulsável. Contra isto nada havia a fazer, enquanto todo um corpo de exército estivesse por detrás do governo. Tivemos que entregar a nossa fortaleza, mas retirámos com armas e bagagens ao som do tambor e com a bandeira desfraldada do último número, vermelho, em que prevenimos os operários de Colônia contra golpes [Putschen] sem esperança e lhes gritámos:
“A despedida, os redatores da Neue Rheinische Zeitung agradecem-vos pela simpatia demonstrada. A sua última palavra será sempre e em toda a parte: Emancipação da classe trabalhadora!'”
A Neue Rheinische Zeitung acabou, assim, pouco antes de completado o seu primeiro ano. Começada com quase nenhuns meios financeiros — do pouco que lhe foi prometido, como dissemos, em breve, ficou privada —, atingiu ainda em Setembro uma edição de quase 5000. O estado de sítio de Colônia suspendeu-a; em meados de Outubro, tinha de começar de novo desde o princípio. Mas, em Maio de 1849, aquando da sua supressão tinha já de novo 6000 assinantes, enquanto a Kölnische dessa altura, segundo sua própria confissão, não possuía mais de 9000. Nenhum jornal alemão, nem antes nem a partir daí, alguma vez possuiu o poder e a influência da Neue Rheinische, [alguma vez] soube eletrizar as massas proletárias [como a Neue Rheinische]. E ela deve isso, antes de tudo, a Marx.
Quando se deu o golpe, a redação dispersou-se. Marx foi para Paris, onde o desenlace [Entscheidung] que se preparava ocorreu a 13 de Junho de 1849 58; Wilhelm Wolff tomou, então, o seu lugar no Parlamento de Frankfurt — então, quando a assembleia tinha de optar entre dissolução por cima ou adesão à revolução; e eu fui para o Palatinado e tornei-me ajudante-de-campo no corpo de voluntários de Willich.
Escrito por Friedrich Engels em meados de Fevereiro e no princípio de Março de 1884. Publicado no jornal Der Sozialdemokrat n.° 11, de 13 de Março de 1884.