"Materialismo Pré-marxista e Idealismo"
Na história da filosofia ocidental, houve uma luta constante entre o materialismo e o idealismo. O ponto de parte do materialismo é a matéria, que vai para a consciência. O ponto de partida do idealismo, ao contrário, é a consciência. O idealismo objetivo vai mais longe ainda ao dizer que a consciência, sob a forma de seres sobrenaturais, é capaz de uma existência independente da realidade material. O idealismo subjetivo afirma apenas aquilo que é humanamente perceptível, e nega ou dúvida da existência de Deus, embora tenha a mesma atitude para com o mundo material objetivo.
O materialismo rudimentar dominou a filosofia pré-socrática com sua hipótese proto-científica. O materialismo rudimentar do período pré-socrático que é mais admirado pelos Marxistas é aquele formulado por Heráclito, com sua hipótese sobre o processo das mudanças ser interno à matéria. Na filosofia pós-socrática, o idealismo proposto por Platão e Aristóteles prevaleceu.
Platão defendia que uma hierarquia de ideias, em cujo topo encontrava-se a Ideia absoluta, era a realidade original da qual as coisas eram apenas cópias. Ainda que estivesse envolvido mais em estudos empíricos, Aristóteles também defendeu que “formas substanciais” precedem a matéria. Porém, ele apontou que a forma reside em coisas materiais.
Ainda que Platão e Aristóteles tenham prevalecido no período pós-socrático, o filósofo materialista Demócrito ensinou a hipótese de que os átomos seriam a fonte constitutiva da matéria. Ele é outro materialista rudimentar admirado pelos Marxistas.
Nas Idades Médias, dos séculos V a XIII, prevaleceu a adoção da metafísica platônica (através dos escritos de Plotino) por Agostinho na teologia cristã. Em sua forma mais pura, isso foi chamado de realismo, que estabeleceu que a ideia universal precede a matéria. A filosofia que se opôs a tal pensamento foi o nominalismo, que estabeleceu que a ideia universal é apenas um nome que vem após a matéria.
Tomás de Aquino adotou a filosofia de Aristóteles na teologia cristã. No século XIII, isto apenas serviria para aumentar o fermento filosófico na Igreja. O nominalismo posteriormente se tornaria occamismo, que depois se tornaria o empirismo da época moderna.
A tal “forma substancial” de Aristóteles seria utilizada para perpetuar o idealismo platônico.
A filosofia cristã aristotélica-platônica veio a permanecer cada vez mais sob ataque das filosofias materialistas do século XVII. Estes ataques coincidiram com uma série de experimentos científicos conduzidos por Copérnico, Galileu, Newton, etc.
Na Inglaterra, havia os filósofos empiristas Francis Bacon e John Locke. Ambos assumiram a existência de objetos materiais, ainda que defendessem que a percepção e observação humanas levassem ao conhecimento. É por essa razão que eles são os empiristas mais admirados pelos Marxistas, muito mais que Berkeley e Hume, que estabeleciam que a realidade consistia apenas nos sentidos, e negavam a realidade objetiva.
No século XVII, na Europa continental, nasceu a filosofia racionalista, teorizada por René Descartes, que afirmou a existência da matéria como objeto da investigação científica e levantou dúvidas sobre a autoridade política da Igreja além do domínio espiritual. Ele descreveu o universo como sendo um relógio criado por Deus. No século XVIII, as filosofias francesas abrangiam desde o racionalismo deísta de Voltaire ao materialismo mecânico e ateu de Holbach.
O materialismo Marxista, posteriormente, criticaria o materialismo mecânico como sendo muito estreito por reduzir as coisas e processos materiais à mecânica, subestimando a capacidade do mundo e dando espaço, assim, para a intervenção de seres sobrenaturais.
Mas este materialismo mecânico que descreveu o homem como uma máquina foi progressista em sua época, no sentido que afirmou a capacidade do homem de explicar o mundo em termos científicos, materialistas. Os materialistas mecânicos foram influenciados e limitados pelo nível de conquistas científicas de suas respectivas épocas, principalmente quanto aos experimentos de Galileu e as leis mecânicas da física de Newton.
No século XIX, o materialismo seria capaz de fornecer uma quantidade muito maior de conquistas científicas nos vários campos, e ao mesmo tempo aprender a partir do idealismo mais radical e progressista da dialética de Hegel.
1981-1982
Escrito por José M. Sison