"Churchill, um ídolo sanguinário, reacionário e com pés de barro"
A propaganda imperialista britânica criou o mito de que Churchill foi o principal combatente do fascismo. A verdade, entretanto, é que ele era um racista, fervorosamente anticomunista, reacionário e com consideráveis simpatias pelo fascismo. Sua principal preocupação era a defesa do Império britânico. As circunstâncias forçaram-no a alinhar-se, de maneira dissimulada e sem entusiasmo, com a União Soviética na guerra contra a Alemanha hitlerista. O único país na frente ocidental que lutava contra o fascismo era a União Soviética, que fez a contribuição mais significativa na derrota da Alemanha nazista. Os interessados nos detalhes desta façanha devem conferir o panfleto do CPGB-ML (Partido Comunista da Grã Bretanha) intitulado “The Soviet Victory against Fascism”. Este pequeno artigo pretende retratar precisamente a postura de Churchill.
Na Conferência do Teerã, em 1943, Churchill dissera a Stalin e Roosevelt que a história seria gentil para ele, já que pretendia escrevê-la.
Entre as duas Guerras Mundiais, ele ganhou experiência; enquanto era político, ganhava a vida escrevendo. Escritor da burguesia, Churchill criou um poderoso mito em torno de si mesmo. A história foi realmente gentil com Churchill, sendo seu nome mais reverenciado hoje do que durante a sua vida. Em 2002, ele liderou uma pesquisa da BBC como o "maior britânico". Na longa história da Grã-Bretanha, nenhum cientista, pensador, político ou ícone cultural poderia se aproximar do status de Churchill.
O objetivo principal deste artigo é desmistificar estas disparatadas concepções acerca da figura de Churchill. Tal análise se baseará em observações de suas principais ações e atitudes, sobretudo no que se refere às questões de classe social, raça, império e guerra. O artigo evidenciará que Churchill não era um perspicaz antifascista; e sim um Churchill que falhou em seus próprios termos diversas vezes. Suas opiniões a respeito de império e raça não se diferenciavam das opiniões dos fascistas que ele supostamente derrotou. Afinal, como um “Greatest Briton”, ele era um homem com ódio da grande maioria dos britânicos, assim eram suas opiniões sobre a classe trabalhadora.
Este artigo não trata da vida de Churchill. No entanto, na medida em que os eventos de sua vida lançam elementos para entendermos o caráter deste homem, é importante contextualizar o leitor. Assim, retornemos ao dia 10 de Janeiro de 1893.
Naquela época, Churchill, matriculado na Academia Militar de Sandhurst, se machucou em uma brincadeira. Churchill, mostrando a sua verdadeira face, recorreu a mentiras, inventando uma história com o propósito de romantizar o ocorrido. Embora tenha sofrido ferimentos leves, Churchill não resistiu, e alegou que havia rompido um rim e permanecido inconsciente por três dias. Se isso realmente tivesse acontecido, o sangramento interno provavelmente o teria matado dentro de uma hora. O próprio pai se cansou dos devaneios de seu filho. Esta ocasião provou-se ser um ponto de inflexão; em uma das cartas que o pai enviou para Winston, havia os seguintes dizeres: "Eu não atribuo crédito algum a qualquer coisa que você possa dizer a respeito de suas próprias... façanhas" (D'Este 2009: pp3435).
Tendo falhado duas vezes em seus exames na Academia de Sandhurst, Churchill foi enviado para a escola de elite do capitão Walter H. James. Devido aos seus fracassos anteriores, teve de recorrer a ajuda especial de um militar privado, que assumiu o posto de seu tutor. O capitão dissera o seguinte sobre Churchill: “Ele é claramente inclinado a ser desatento e a pensar demais em suas próprias habilidades” (D'Este 2009: p35). O que a exposição destes acontecimentos nos mostra é que Churchill era uma testemunha desconfiável. Isso se mostrou patente nos eventos que o envolvem. Ele era completamente incapaz e/ou não estava disposto a fornecer qualquer grau de imparcialidade em assuntos que envolvessem a si mesmo.
Um Guerreiro de sua Classe
O ódio ao chamado “maior britânico de todos os tempos” pelo povo das colônias era uma extensão do ódio que a classe trabalhadora inglesa cultivava por Winston Churchill. Não faltaram controvérsias em sua carreira política na Inglaterra, sobretudo as que envolveram ataques violentos contra a classe trabalhadora. O autointitulado "homem do povo" foi um inimigo jurado do povo. Por exemplo, enquanto ministro do Interior em 1911, teve de lidar com a greve geral de transporte de Liverpool. 250 mil trabalhadores entraram em greve em Agosto daquele ano, exigindo reconhecimento sindical, o aumento de seus salários e melhores condições de trabalho. O dia 13 daquele mês ficou conhecido como “Domingo Sangrento”. Cerca de 80.000 pessoas marcharam para o St. George’s Hall, um edifício localizado no centro da cidade. Um ataque massivo contra os trabalhadores pela parte da polícia se seguiu. 96 prisões foram feitas e 196 pessoas foram hospitalizadas. Os trabalhadores de Liverpool travaram um combate mão a mão com polícia. Sempre oportunista, Churchill se utilizou desses eventos para dar um pontapé na classe trabalhadora. 3.500 tropas foram trazidas para Liverpool no intuito de reprimir os trabalhadores; ao mesmo tempo, a embarcação canhoneira HMS Antrim posicionou-se no Rio Mersey. Dois assassinatos foram relatados nas mãos do exército e pelo menos três outros trabalhadores foram baleados. Enquanto trabalhadores de todo o país saíam em apoio aos grevistas do Liverpool, Churchill mobilizou mais de 50.000 soldados. Novos tiroteios de trabalhadores foram registrados em Llanelli (BBC News, 16 de agosto de 2011).
Esta não foi a primeira vez que Churchill foi responsável por ações como esta. Um ano antes desses eventos, ele havia tomado medidas semelhantes em Tonypandy. A Cambrian Combine (conjunto de empresas de mineração locais) abriu uma nova mina em Penygraig. Eles realizaram um curto período de teste com 70 mineiros para decidir qual deveria ser a taxa de extração desejada. Os patrões ficaram insatisfeitos com a taxa de extração dos 70 trabalhadores de teste e os acusaram de desleixados. Esta foi uma acusação ridícula, visto que os homens foram pagos com base nos montantes extraídos, e não taxa horária (Garradice, BBC Blog, 03 de novembro de 2010). No dia 1º de setembro, todos os 950 trabalhadores do Ely Pit apareceram para o trabalho apenas para descobrir que haviam sido impedidos de entrar. Em novembro, apenas um dos poços do Cambrian Combine permaneceu aberto. Em 8 de novembro, uma manifestação de mineiros foi atacada pela polícia. Mais uma vez o suposto senhor da guerra enviara as tropas. E mais uma vez houvera uma carnificina de 500 pessoas, segundo o relato de um trabalhador (BBC News 22 de setembro de 2010). A história repetiu-se em 1919. Desta vez, os trabalhadores de Glasgow já estavam familiarizados com o brutal Secretário do Interior.
Depois da Primeira Guerra Mundial, os trabalhadores, compulsoriamente recrutados para participar da Guerra Imperialista, voltaram para suas casas com a esperança de uma vida melhor. Viveram os horrores da guerra e, ao retornaram, viveram os horrores do desemprego e da pobreza. Uma greve de 40 horas foi convocada, sendo a pauta principal a redução da jornada de trabalho, a fim de criar mais vagas de emprego e aliviar o desemprego. Em 31 de janeiro havia 60.000 trabalhadores nas ruas de Glasgow e a bandeira vermelha tremulou em George Square. 14 meses após a Grande Revolução Socialista de Outubro na Rússia, a classe dominante britânica temia o poder da classe trabalhadora. Uma brutal repressão promovida por Churchill veio como resposta a isto. Neste processo, incontáveis pessoas foram presas, incluindo o líder comunista Willie Gallacher.
Autoridades do governo se referiram à greve como uma insurreição bolchevique; e Churchill agiu de acordo: decidiu enviar 10.000 soldados – apoiados por tanques e armados com metralhadoras – para Glasgow com o propósito de esmagar os trabalhadores. A luta organizada dos trabalhadores que desafiava a autoridade do Estado mostrava, à imagem e semelhança de Churchill, o mesmo espírito agressivo que a revolução russa havia despertado: assim que as barricadas se ergueram, Churchill certamente sabia qual lado escolhera (Charmley, p. 216).
A Greve Geral de 1926 deu a Churchill uma guerra para lutar em casa. E as barricadas foram erguidas. A cobertura da greve, feita pelo camarada Harpal Brar no panfleto do CPGB-ML (Partido Comunista da Grã Bretanha – Marxista-leninista), The General Strike, de 1926, descreve minuciosamente todo o processo. Em um contexto mais amplo, todos os leitores são remetidos a este trabalho. Em 2 de maio, os trabalhadores do Daily Mail se recusaram a imprimir os artigos anti-obreiros. Tal recusa por parte do jornal tempestuou Churchill, que declarou, injurioso, que: “Um grande órgão da imprensa (foi) amordaçado por grevistas” (Charmley, p.217). Dissera isto aos seus colegas ministros, o que certificou a eles seu nervosismo frente à batalha que se avizinhava. Um confronto com os sindicatos daria a Churchill uma “avenida” para nutrir sua fantasia de ser um Mussolini britânico.
A greve começou no dia seguinte. Dois dias depois, um jornal de propaganda estatal, The British Gazette, foi lançado, com Churchill assumindo a Comissão Editorial. Ele inclinou-se a posição de Baldwin, aparentemente no sentido de mantê-lo fora de perigo, pois Baldwin confessou que estava "apavorado com o que Winston seria" (Charmley, p. 218). Além de encarregar-se do jornal de propaganda do estado, Churchill também confiscou o fornecimento do The British Worker, da TUC. Churchill estava absolutamente certo de que nenhum acordo poderia ser feito em relação aos grevistas. Indiscutivelmente, ele os tratou com mais desprezo do que os imperialistas britânicos trataram os alemães durante a guerra, de uma maneira similar ao nazismo. Em 7 de maio declarou "Estamos em guerra" (Charmley, p.218).
Esta foi uma guerra iniciada por Churchill e companhia. Kingsley Martin, o futuro editor do New Statesman, explicou: “Churchill e outros militantes do gabinete estavam ansiosos por uma greve, sabendo que haviam construído uma organização nacional nos seis meses de ‘dádivas’ conquistadas devido ao subsídio da indústria de mineração. O próprio Churchill me contou ... Perguntei a Winston o que ele achava da Comissão de Carvão de Samuel ... quando Winston disse que o subsídio fora concedido para permitir que o governo esmagasse os sindicatos ... minha impressão sobre Winston fora confirmada” (Knight, p34). Mais uma vez ele queria recrutar o exército e colocá-lo contra a classe trabalhadora; assim, teve de publicar um artigo pedindo por isso. Durante a greve ele se referia aos trabalhadores como “fogo” e ao estado como o “corpo de bombeiros”. Afirmou que só abriria negociação se o TUC (Trades Union Congress) se rendesse.
Nada obstante, as lideranças do TUC e do Partido Trabalhista, para o interesse de Churchill, estavam como “cachorrinhos”, ansiosas para rolar e ter suas barrigas acariciadas. Como Charmley diz acertadamente: "Ter escrito sobre os líderes do TUC como se fossem potenciais Lenins ... disse mais sobre o estado de imaginação de Churchill do que sobre seu julgamento" (Charmley, p.219).
Ódio do poder Soviético
Acerca das tentativas de Churchill de estrangular a Revolução Russa, D'Este resume: "Antes de terminarem de contar os mortos da Primeira Guerra Mundial, Churchill estava pleiteando outra guerra. Desta vez contra os bolcheviques na Rússia ... Embora Churchill dissesse ‘procuro evitar a guerra ... mas se a guerra for o último recurso, a defenderei e sairei vitorioso’, ele não aplicou esses princípios à Rússia" (D'Este, p.343). A Rússia Soviética era a manifestação suprema de tudo o que Churchill odiava e temia na classe trabalhadora de seu país. A Revolução Russa foi um exemplo vivo e estimulante para a classe trabalhadora de como conquistar o poder político; fato absolutamente intolerável para um descendente da burguesia. Churchill nunca tentara nem sequer uma vez estrangular um estado fascista. Mas o fascismo nunca representou uma ameaça aos seus interesses de classe. Sua agressão contra a União Soviética fora um acrescento de sua agressão contra a classe trabalhadora de seu país.
Machismo
Um tema em que Churchill era comprovadamente um reacionário que ia à contracorrente da história era o seu posicionamento sobre os direitos das mulheres. Embora sua posição política variasse de acordo com a conjuntura que estava em voga, ele mantinha sua opinião contrária ao direito de voto das mulheres; Churchill via o movimento pela emancipação política das mulheres como algo ridículo. Ademais, considerou que esse movimento era “contrário à lei natural e à prática de estados civilizados” (Rose, p.66). Durante um comício em Dundee, afirmou: "Nada mudaria minha opinião sobre o direito de voto das mulheres" (Sarah Gristwood, "Winston versus the women", Huffington Post, 30 de setembro de 2015).
Depois disso, em novembro de 1910, quando ele era o ministro do Interior, ocorreu a "Sexta-feira Negra". Uma manifestação sufragista na Parliament Square foi repreendida pela polícia. O conflito durarou 6 horas e 200 pessoas foram presas. Quatro dias depois, Churchill mandou prender o líder de um movimento social que promovia uma manifestação em Downing Street. Finalmente, assim que as mulheres obtiveram o poder do voto e podiam até se tornar MPs (Members of Parliament of the United Kingdom), Churchill registrou o seu desconforto. Para ele, a entrada das mulheres reduziria a qualidade do parlamento. Declarou: “[a presença das mulheres no parlamento será] tão embaraçosa quanto se alguma delas invadisse meu banheiro e eu não tivesse nada para me defender” (BBC News, 6 de fevereiro de 1998).
Resposta contemporânea da classe operária britânica
Mesmo depois da guerra, a classe trabalhadora britânica não aceitou Churchill. A “história oficial” pode nos dizer outra coisa, mas em seu próprio tempo o povo o desprezou. Em Walthamstow, durante a campanha para as eleições gerais de 1945, explicitou-se o desprezo que a classe trabalhadora nutria por Churchill. O evento é relembrado no documentário da BBC com o nome de "Quando a Grã-Bretanha disse não". Lionel King era uma criança na multidão reunida naquele dia. Sua família estava entre a minúscula contingência pró-Churchill na audiência. Ele recorda: “O que me surpreendeu: havia um grande número de pessoas carregando cartazes proclamando os méritos da Rússia Soviética. Havia foices e martelos em faixas, além de fotos de Stalin. O pobre homem [Churchill] dificilmente poderia se fazer ouvir”.
A história de Churchill nos diz que ele foi o responsável por derrotar o nazismo praticamente sozinho. O mundo viu sua perspicácia e firmeza naquelas horas mais sombrias. Mas os trabalhadores que viveram à época sabem a verdade. Os esforços heroicos da liderança soviética e do povo é que haviam vencido aquela guerra. As manobras de Churchill e a recusa de abrir uma segunda frente não podiam ser esquecidas tão rapidamente.
Outrossim, seus crimes contra a classe trabalhadora antes da guerra não foram esquecidos. De geração para geração seu nome era passado como sinônimo de inimigo da classe trabalhadora. A guerra trouxera apenas um cessar-fogo entre ele e a classe trabalhadora britânica. O cessar-fogo terminara. Como John Charmley descreve, “Walthamstow mostra algo que esquecemos. Uma seção inteira do eleitorado, particularmente a classe trabalhadora, mais particularmente o eleitorado sindical, que nunca teve tempo para Churchill”. Ele achava que Walthamstow fora um incidente isolado. Não fora. Walthamstow era uma expressão da repulsa geral da classe trabalhadora pelo que Churchill defendia em termos de política da classe trabalhadora.
Raça
Quando se trata da questão da raça, certamente podemos afirmar que Churchill teve algumas opiniões um tanto quanto pedantes. Ele acreditava em uma hierarquia racial. Sem novidades, afinal, sendo branco e adepto do protestantismo, Churchill repousava tranquilamente no topo desta suposta hierarquia. Ele menosprezava os católicos, os negros e os não brancos em geral. A história fora de fato gentil com Churchill, mas a verdade é que o suposto vencedor do fascismo manteve visões não tão diferentes dos ideais nazistas. O objetivo desta seção é apresentar uma representação precisa das opiniões de Churchill acerca de raça, sobretudo se utilizando das suas próprias palavras e declarações. Historiadores burgueses tentam inocentar Churchill e minimizar seu racismo. Para eles, Churchill era um homem de seu tempo e de sua classe. Esperar qualquer outra coisa é pensar anacronicamente. Uma defesa tipicamente fraca é dada por Richard Holmes, o qual argumenta que "raça", para Churchill, era entendida como "cultura", e que os críticos são culpados de argumentar sobre isso deliberadamente. Além disso, ele afirma que foi apenas em resposta ao nazismo que surgiu uma mudança de vocabulário. Paradoxalmente, ele afirma dizendo que Churchill pode ter sido um preconceituoso, mas não era um intolerante (Holmes, p.1415).
Tais argumentos caem por terra. Em primeiro lugar, tomemos como base o que o historiador Richard Toye disse: “Estamos sendo induzidos a acreditar em duas coisas contraditórias. Por um lado, sugere-se que os aspectos aparentemente desagradáveis de seu raciocínio racial podem ser justificados com base no fato de que não se poderia esperar que ele escapasse da mentalidade predominante de sua época. Por outro lado, tentam nos convencer que ele escapou e deve ser admirado porque, na verdade, foi extraordinariamente esclarecido” (Toye, p.xv). Os progressistas de seu tempo certamente não compartilhavam de seus pontos de vista sobre raça, ou o que Holmes chama de "cultura". Para ratificar a afirmação antedita e analisar como eram os pensamentos progressistas da época, basta pegarmos como exemplo textos de Stálin sobre a questão nacional e racial. Por exemplo: Stalin apontava que o chauvinismo nacional e racial era um vestígio dos costumes misantrópicos característicos do período do canibalismo (Stalin, "Anti-Semitism", 1931, CW Vol 13).
Com todas as falácias e sofismas típicos de Churchill, ele claramente não se opunha à grande mentira de Goebbels. Por exemplo, nas palavras desse primeiro-ministro racista: “Stalin e os exércitos soviéticos estão desenvolvendo os mesmos preconceitos contra o povo escolhido que são notáveis na Alemanha” (Holmes, p.191). De fato, a realidade da situação era muito diferente: os comunistas, como internacionalistas, não podem ser irreconciliáveis, inimigos jurados do antissemitismo. Na URSS, o antissemitismo era punível com a máxima severidade da lei. Sob a lei soviética, os antissemitas poderiam enfrentar a pena de morte (Stalin, op. Cit.). O secretário de Estado de Churchill na Índia, Leopold Amery, revelou quem era mais parecido com Hitler; em seus diários privados ele escreveu: “Sobre a Índia, Winston não é sensato… (não vejo) muita diferença entre ele e Hitler” (Tharoor, 2015). Qualquer estudante de história no ensino médio teria dificuldade em apontar a diferença entre uma citação de Churchill ou de Hitler. “Mantenham-se brancos; é um bom slogan” (Macmillan, p.382). Estas são palavras de Winston Churchill, não de Adolf Hitler. O país é a Inglaterra, não a Alemanha. Da mesma forma, a seguinte frase não é um excerto do Mein Kampf, e sim uma frase proferida por Winston: “Os arianos estão destinados a triunfar” (ver Johann Hari, “Not his finest hour: the dark side of Winston Churchill”, The Independent, 27 de outubro de 2010).
Assim como Hitler, Churchill considerava que o genocídio podia ser justificável. Após a Segunda Guerra Mundial, Churchill pode ter se apresentado como o salvador do povo judeu, mas a verdade é que a limpeza étnica e a aniquilação em massa eram consideradas e propostas por ele. Para a Comissão Real da Palestina, em 1937, ele deixou isso bem claro. “Eu não consinto com a ideia de que o massacre dos índios na América e do povo aborígene na Austrália tenha sido um erro pelo fato de que uma raça mais forte, uma raça mais alta chegou e tomou o seu lugar” (Heyden, BBC News Magazine, 26 de janeiro de 2015). Ele acreditava completamente na capacidade da raça inglesa - "genius of the english race” (Edmonds, p.45). Ainda dissera: “Não posso fingir ser imparcial quando o assunto é etnia. Admiro os brancos e tenho pena dos negros” (Churchill, Strand Magazine, “Painting as a pastime", 1921). Este é o tipo de pessoa intitulada de "o maior britânico de todos os tempos". Tal era sua visão de mundo e senso de justiça.
Outro indício do chauvinismo nacional do homem é dado em uma rara ocasião de compaixão. Durante os horrores da Primeira Guerra Mundial, ele, afetuosamente, disse a seus companheiros membros do parlamento: "O que está acontecendo? Enquanto estamos sentados aqui quase 1000 homens ingleses, britânicos, homens de nossa própria raça são jogados em valas" (D'Este, s/p). Mesmo sendo um apologista do racismo de Churchill, Richard Holmes admite que: “Não há como negar que ele pronunciou os clichês da eugenia quando era jovem, e que considerava os povos nativos como inferiores, ou que apelava para preconceitos raciais em seus discursos contra o governo indiano” (Holmes, p.15).
O que deve ser perguntado aos historiadores tradicionais e apologistas de Churchill, como o próprio Holmes, é: quantas vezes um homem pode ter um comentário racista/xenófobo "fora de contexto"? Ou ele é incrivelmente desafortunado e consegue que, todas as vezes, suas palavras sejam tiradas do contexto, ou essas palavras são realmente contextualizadas e completamente imbuídas de preconceito. Sua posição é bastante insustentável. Tudo se resume a Churchill não era racista, ele apenas disse muitas coisas racistas.
O recente documentário da BBC "Quando a Grã-Bretanha disse não", fez com que historiadores fizessem avaliações muito mais honestas a respeito de Churchill. Estas avaliações harmonizaram com a imagem de Churchill que está sendo apresentada aqui. Em primeiro lugar, o professor John Charmley afirmou: "Churchill não está lutando uma guerra contra o fascismo". De fato, muitas das opiniões de Churchill nos anos 1930 eram alusivas ao fascismo. Ele admirava Mussolini e admirava Franco. E pelo menos até 1938, dissera que também simpatizava com Hitler. De fato, Churchill dissera abertamente que admirava as "conquistas patrióticas" de Hitler e se referiu a ele, quando escreveu na revista Strand na década de 1930, como "campeão indomável". Ele assumiu a Mussolini: “Se eu fosse italiano, tenho certeza de que teria estado ao seu lado desde o início até o fim de sua luta contra o leninismo” (Gilbert, 1992).
No mesmo documentário, Max Hastings refutou a falsa ideia de Churchill como defensor da democracia. Ele destacou o simples fato de que os não brancos eram completamente excluídos de qualquer política social ou de direitos humanos de Churchill. Este fato foi notável ao longo de sua carreira, desde a fome em Bengala até a morte de três "selvagens" no Sudão (Tharoor, 2015). Sobre Gandhi ele dissera: “Ele deve ficar amarrado nos portões de Deli e ser pisoteado por um enorme elefante, com o novo vice-rei sentado em suas costas” (Toye, p.172). Além disso, em um discurso para a West Essex Conservative Association, ele comentou: “É alarmante e também nojento ver o Sr. Gandhi, um advogado rebelde do Templo Médio, agora posando como um faquir, caminhando seminu até as escadas do Vice-regal Palace” (Toye 2010: p. 176). É interessante notar que Churchill nunca referiu-se de tal maneira a Hitler. Por último, Charmley resumiu-o como: "O equivalente a Nigel Farage, e nos esquecemos por causa do mito... alguém de extrema direita que a próxima parada foi Oswald Mosley e os blackshirts".
Do Lalkar (Periódico bimestral anti-imperialista britânico)
Bibliografia
Charmley, John. Churchill, the end of glory, Faber & Faber, London, 2011.
D’Este, Carlo. Warlord – a life of Winston Churchill at War, HarperCollins, New York, 2009.
Robin, Edmonds. The Big Three: Churchill, Roosevelt and Stalin in Peace and War, Hamish Hamilton, 1991.
Gilbert, Martin. Churchill – a Life, Henry Holt & Company, New York, 1992.
Holmes, Richard. In the Footsteps of Churchill, BBC Books, London, 2006.
Knight, Nigel. The greatest Briton unmasked, David & Charles, Cincinatti, 2008.
Macmillan, Harold. The Macmillan Diaries, Pan Macmillan, London, 2003.
Rose, Norman. Churchill, an unruly life, Taurus Parke, London, 2009.
Tharoor, Shashi. Inglorious Empire, Hurst Publishers, London, 2017.
Toye, Richard. Churchill’s Empire, Pan Macmillan, London, 2010.