Sobre os juros e os impactos na vida dos trabalhadores
Recentemente vários meios de comunicação noticiaram a frágil pressão do presidente Lula sobre o Banco Central a fim de que a taxa de juros fosse reduzida, como se a improvável baixa nesta taxa fosse representar um automático crescimento econômico capaz de alavancar um ciclo de desenvolvimento.
Precisamos nos lembrar que os dois primeiros governos Lula (2003 A 2010) foram marcados por uma alta nos preços internacionais de determinados itens produzidos no Brasil, as chamadas commodities, produtos que têm seus preços regulados internacionalmente, portanto, em dólar.
Não é esse o caso para o momento.
A atual fase do capitalismo é marcada pela incapacidade do capital em cumprir todo o seu ciclo de reprodução, assim, grandes massas de dinheiro ficam represadas em uma das fases da sua reprodução não completando o ciclo e impossibilitando ao capitalista ampliar seus lucros.
Em momentos como esse duas das possibilidades de ampliação dos lucros dos capitalistas encontram-se na especulação e na inflação.
Grandes somas de capital são revertidas no movimento especulativo para ampliar a remuneração do capital e essa remuneração é garantida com o pagamento de juros altos, em especial os juros pagos pelos títulos da dívida pública.
Somente em 2022 essa dívida chegou a R$ 7,22 trilhões, ou o equivalente a 73,5% do Produto Interno Bruto, entretanto, o pagamento dos juros e amortizações da dívida pública somaram R$ 1,879 trilhão, o que representou 46,3% do Orçamento Federal Executado para o ano de 2022, enfim, a maior fatia do orçamento público Federal foi destinada ao pagamento de parte dos juros e das amortizações da dívida pública, sem que se arranhasse o montante da dívida.
Como se vê, é um grande negócio apostar no mercado a fim de garantir o recebimento de juros, ainda mais em um momento em que a produção se encontra travada.
Mas de onde sai os valores que garantem o pagamento destes juros? Ora, como sempre a resposta para essa pergunta é simples: dos trabalhadores.
Como apontado acima, a maior parcela do orçamento público Federal (46,3%) foi reservada para o pagamento dos juros da dívida pública (somente dos juros, já que não se consegue pagar uma dívida deste montante nem nesta, nem nas próximas gerações) e o orçamento público é composto por dinheiro público (ou dinheiro dos trabalhadores), somos nós que garantimos o pagamento de grandes somas de dinheiro à especulação dos capitalistas através do pagamento dos juros, para que eles ganhem nós, trabalhadores, vivemos sem acesso à educação, a saúde, aos serviços públicos de qualidade, a alimentação decente, ao trabalho digno.
A taxa de juros do Banco Central (13,75%) impacta diretamente na vida dos trabalhadores e muitos ganham com ela, menos o trabalhador, que não tem dinheiro para investir em ações, nem consegue emprego porque, diante da farra dos juros, capitalista algum opta por investir na produção, ainda mais em um momento em que não faltam excedentes neste processo, é sabido a pressão que os capitalistas do ramo de veículos automotivos têm feito sobre o governo, devido à queda de vendas e a paralisação da produção.
Precisamos lembrar que os juros que atingem diretamente aos trabalhadores são outros.
Os juros do cartão de crédito e do cheque especial, juntos com a inflação, são os que mais atingem aos trabalhadores.
Os juros do cartão de crédito chegaram à 411,5% em janeiro de 2023 e os do cheque especial chegaram a 151,8% ao ano. Sobre a inflação, apesar do que dizem os economistas burgueses, cada trabalhador sabe o quanto ela pesa nos nossos salários, em especial em um momento em que o trabalho se encontra tão precarizado que muitos trabalhadores recebem uma remuneração no limite do salário-mínimo, quando muito, já que muitos entre nós sequer recebem uma remuneração dessa monta.
Já a inflação contribui para o aumento da remuneração do capital e para o aumento do empobrecimento dos trabalhadores, na medida que uma parcela maior dos valores que são pagos pelos diversos produtos que consumimos vai para o capitalista e uma parcela maior do já pouco dinheiro que o trabalhador tem é gasto por eles para adquirirem os produtos de que necessitam, em especial os poucos alimentos a que ainda temos acesso.
Em resumo, o atual momento da economia não indica aos trabalhadores que um novo ciclo de crescimento das commodities possa ocorrer e assim alimentar um parco e insuficiente período de crescimento econômico baseado no consumo e no endividamento das famílias (semelhante ao acontecido nos dois primeiros governos de Lula).
Ainda que as taxas de juros do Banco Central fossem reduzidas em 2 ou 3 pontos percentuais, não haveria um ciclo produtivo suficientemente grande para sustentar um crescimento econômico semelhante ao ocorrido entre 2003 e 2010.
Cabe lembrar que o setor produtivo se encontra travado e que existe um excedente que não permite a ampliação da produção, além do que, ainda que fosse possível pensarmos em aumentar a produção, a atual capacidade ociosa do parque produtivo possibilitaria o aumento desta com pouco ou nenhum investimento em mão de obra ou maquinário, ou seja, o desemprego ainda persistiria e pessoas desempregadas pouco consomem, assim como pouco consomem as pessoas subempregadas.
Precisamos pressionar aos governos, em especial o Governo Federal para a reversão das reformas que foram aprovadas recentemente e que significaram enormes ataques ao conjunto da classe trabalhadora, em especial a Reforma da Previdência e a reforma trabalhista, além disso precisamos buscar alternativas que gerem emprego e que estejam ligadas aos interesses dos trabalhadores. A mais importante para o período é a redução da jornada sem a redução de salários.
Neste momento torna-se urgente deixarmos de destinar o grosso do arrecado pelo Governo Federal através de diversos impostos para o pagamento aos bancos e aos especuladores individuais ou coletivos, não podemos mais permitir que esse modelo de sistema de produção econômica oprima o grosso da classe trabalhadora para garantir os lucros de uma minoria endinheirada.