Pomar: "O Papel da Classe Operária na Luta Pela Paz"
A paz é o grande problema político dos dias atuais. A humanidade progressista e avançada tem a tarefa grandiosa de impedir a nova guerra planejada pelos trustes ianques. A política de desencadeamento de uma nova guerra dos dirigentes anglo-norte-americanos, é fruto do desespero e da incapacidade para enfrentar a crise capitalista e as contradições no bloco imperialista em agravação de um lado e o crescimento da luta dos povos coloniais e semicoloniais pela libertação nacional, e o fortalecimento do campo da Paz, conduzido firmemente pela União Soviética, de outro.
Os povos estão assim colocados sob essa terrível ameaça que precisa ser o quanto antes conjurada. Mas a luta pela paz é feita principalmente contra os provocadores de guerra e exige uma mobilização e uma amplitude ainda não atingidas até agora pelo nosso povo. E isso porque, como nos ensina Prestes, não foram compreendidas nem a gravidade nem a eminência do perigo de guerra, o que se deve à falta de conhecimento da essência mesma do capitalismo que "conduz a guerra como a nuvem a tempestade".
A responsabilidade do proletariado na realização dessa histórica tarefa é a maior de todas. Na verdade, a classe operária sempre esteve na vanguarda da luta contra o imperialismo, o fascismo e a guerra. Desde que ela tomou consciência de seu papel revolucionário, encetou a luta em defesa dos seus direitos e em defesa da paz. De tal maneira comportou-se o proletariado, que em duas guerras mundiais provocadas pelos bandos imperialistas, deu-lhes golpes esmagadores e ampliou e consolidou de tal modo suas forças que hoje o campo da paz é cada dia mais poderoso e invencível.
Isto, entretanto só foi possível porque o proletariado cumpriu até o fim o seu dever internacionalista, porque não se deixou impregnar pelo veneno da propaganda chauvinista e patrioteira que procura enganar as grandes massas sobre o caráter das guerras feitas pelos trustes capitalistas internacionais. Esta é ainda a primeira condição para que a classe operária em nosso país cumpra com honra sua missão de guardiã da segurança e da integridade de nosso povo e de todos os povos amantes da paz. O proletariado brasileiro será fiel ao internacionalismo, pois considera como sua a causa de todo o proletariado mundial em luta contra o imperialismo e o perigo de guerra.
A participação sempre maior da classe operária na luta pela paz, é que dará ao movimento, a mobilização de massas, um sentido democrático e progressista, verdadeiramente revolucionário. Ao procurar distinguir as guerras justas das injustas, o proletariado, dirigido pelos comunistas, verifica que o caráter da guerra que ora pretendem deflagrar, seus objetivos, são reacionários e imperialistas. Há além. Sabe e aponta quais são os seus setores, denuncia os seus propósitos, não esconde o lugar de onde parte a ameaça e demonstra corajosamente que os círculos dominantes e monopolistas norte-americanos deflagrarão a guerra se não forem contidos a tempo em suas ambições de expansão e domínio mundial.
A classe operária dá à luta pela paz um conteúdo democrático e revolucionário porque não desliga da mesma os problemas das reivindicações mais imediatas e sentidas das massas. Ao contrário, ela sabe que a luta pela paz é também uma luta pelo pão e contra a carestia, em defesa de nossa indústria ameaçadas pela ofensiva dos trustes ianques, é uma luta em defesa das liberdades democráticas e contra a "lei de segurança" e a ditadura. O papel da classe operária na luta pela paz, portanto, destina-se a dar maior consequência ao movimento de massas, encaminhá-lo não para as soluções oportunistas e sim para a modificação do estado de coisas atual, para a implantação de um regime genuinamente democrático e popular, pela formação de um governo que seja capaz de resolver os grandes problemas de nosso povo e de garantir a nossa soberania e independência, postas à venda pelos governantes atuais.
A classe operária, ainda, como campeã e a força mais interessada na preservação da paz é aquela que tem também a capacidade de unir, de organizar as outras, pelo exemplo abnegação, pela ausência de preconceitos e sectarismos, pela compreensão política de que a frente única pela paz é a condição essencial para tornar vitoriosa as reivindicações básicas de nosso povo. O proletariado, quando defende a paz, não está somente visando os seus interesses imediatos, como aumento de salários, a liquidação da assiduidade 100 por cento, ou ainda melhores condições de trabalho e liberdade sindical, mas também os interesses mais gerais do povo, da Pátria e da humanidade, porque ele tem consciência cada vez maior de que de sua organização, de sua unidade e de sua ação dependem o bem estar e a paz para todos os povos.
No Congresso Mundial de Paris-Praga a participação ativa do proletariado foi decisiva. Tanto pelas suas organizações sindicais, como pelas suas vanguardas políticas, e pelas nações onde ele governa, particularmente a União Soviética, foi o proletariado o grande fator de sucesso e unidade do Congresso e é o principal esteio da campanha.
O 1° de Maio de 1949, data internacional dos trabalhadores, transformou-se num dia de luta e de unidade do proletariado e de todos os povos em defesa da paz. Cresce de importância a missão do proletariado mundial e a medida que a campanha da paz, em nosso país, assume maior envergadura e que os seus inimigos, essa minoria de traidores, como classifica Prestes, tentam pelo terror intimidar os patriotas que não querem ver a nossa pátria colonizada, mais fundamental se torna o papel do proletariado brasileiro nessa luta. Não somente porque o Brasil transformou-se num centro de primeira grandeza nos planos guerreiros dos imperialistas ianques, mas também porque os governantes, com Dutra à frente, tudo fazem para colocar nossa juventude e nossas riquezas á disposição dos fabricantes de armas norte-americanos.
E esse papel, neste instante, deve ser o de esclarecer, mobilizar e organizar a todos os que aspiram á paz, á imensa maioria de nosso povo. Particularmente incumbe ao proletariado dar o exemplo de organização, de unidade e de força. E estas condições, ele só as obterá, se constituir os conselhos ou organismos de qualquer nome nas empresas, fábricas e locais de trabalho. A experiência de algumas empresas de São Paulo e do Distrito Federal pode servir de modelo para a criação de organizações, a fim de esclarecer e unir para a luta os companheiros trabalhadores.
Na fábrica de tecidos Mavilis por exemplo, formou-se um Conselho de Paz, com uma diretoria e mais uma comissão consultiva. E agora estão procurando estendê-lo às seções e sub-seções da fábrica. Ao mesmo tempo lançaram uma proclamação que assim inicia: "A guerra não traz benefício algum aos trabalhadores; ao contrário, só traz miséria, sofrimento e luto. São milhões de jovens que morrem no campo de batalha, e milhões que voltam sem pernas, sem braços, cegos e loucos. Na época de guerra os transportes se tornam mais difíceis e a vida encarece de maneira assombrosa, enquanto os salários são congelados no período de conflagração, os operários são obrigados a trabalhar 12 e 14 horas por dia". É claro que o campo de ação do Conselho da empresa é bastante amplo. Não pode limitar-se a lançar proclamações e manifestos sobre o perigo de guerra nem ficar circunscrito a redigir memoriais de apoio aos que lutam pela Paz. Esta atividade é necessária e importante, mas não é suficiente. Os Conselhos de empresa devem tirar delegados para os congressos, pedir para eles o apoio das massas tanto moral como financeiro e fazer mesmo como fizeram numa fábrica de São Paulo: uma comissão de trabalhadores exigiu e obteve que o patrão pagasse os dias de trabalho dos companheiros que foram enviados como delegados ao Congresso Brasileiro pela Paz. É preciso ainda denunciar as medidas de preparação de guerra do governo, não só por escrito como verbalmente, preparar palestras e conferencias de partidários da paz, etc.
Cabe aos Conselhos, além disso, levantar as reivindicações quando não houver comissões de salários ou associações destinadas a esse fim, e no caso de havê-las, cumpre aos conselhos apoiar a essas organizações e no processo da luta ir demonstrando que as reivindicações econômicas estão intimamente relacionadas com o problema da paz, até chegar a fundir essas organizações numa só. Tanto isso é certo que, preparação de guerra é inseparável, como vemos hoje, da política de fome, de congelamento dos salários, da exploração brutal que os patrões e o governo descarregam sobre as costas dos trabalhadores. A organização nas empresas da luta pela Paz exige dos seus responsáveis o abandono de todo sectarismo, a compreensão de que o problema da paz toca a todos, de que não há privilégio em defender a paz, que esta é um bem que pode e deve ser salvaguardado mesmo á custa dos maiores sacrifícios. Não é justo por isso fazer distinção entre os trabalhadores, sejam espíritas, católicos, protestantes ou ateus, trabalhistas, pessedistas ou comunistas. Deve-se além disso utilizar todas as formas de luta e de organização para ligarmo-nos às massas ainda não conscientes do perigo da guerra e dessa maneira mobilizá-las para a luta sem tréguas, enérgica e decidida em defesa da paz.
Artigo de Pedro Pomar
POMAR, P. O Papel da Classe Operária na Luta Pela Paz. 1949. In: Voz Operária. ANO 1 - Rio de Janeiro, 23 de Junho de 1949. n. 5.
Transcrição realizado por: Vinícius Braga Mendonça