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REIMPRESSÕES

Foto do escritorNOVACULTURA.info

Che Guevara: "O Médico Revolucionário"



Fragmentos do discurso pronunciado por Ernesto ‘Che’ Guevara, no dia 19 de agosto de 1960, no salão de teatro da CTC, no ato inaugural do ciclo de conversas de Capacitação Cívica, organizado pelo Ministério de Saúde Pública. Publicado no jornal Revolución, no dia seguinte.

Para ser um médico revolucionário ou ser revolucionário, a primeira coisa que deve-se ter é a revolução. De nada vale o esforço isolado, a ânsia de sacrificar uma vida à mais nobre de todos os ideais se este esforço é solitário em algum canto da América, onde as condições sociais não permitem avançar.

Para fazer a revolução é necessário isto que há em Cuba. Que todo o povo se mobilize e aprenda utilizar a arma e o que vale da unidade do povo. Hoje sim podemos dizer que em Cuba pode ter mais médicos revolucionários.

Deve-se criar um novo tipo humano

Deve ser feito novamente um reconto da vida de cada um de nós, com uma profunda ânsia crítica, para então chegar na conclusão de que quase tudo o que pensávamos e sentíamos na época passada deve ser arquivado para poder criar um novo tipo humano. Será fácil para todos a criação deste novo tipo humano, que será o expoente da nova Cuba. É bom que seja enfatizado a ideia de que em Cuba está sendo criado um novo tipo de humano.

Esse é o novo tipo de humano que está sendo forjado nas serras, nas cooperativas e nos centros de trabalho. Tudo isso tem muito a ver com o tema de nossa conversa de hoje, com a integração do médico ou qualquer outro trabalhador da Medicina dentro do movimento revolucionário. Porque a tarefa de educar as crianças, de educar e preparar o exército, de repartir as terras para os camponeses é a maior obra de medicina social que já fora realizada em Cuba. Prevenir as enfermidades com o trabalho de toda a coletividade é uma grande tarefa; e a Medicina terá que se converter então para uma ciência que sirva para prevenir as enfermidades, para orientar a todo o público de seus deveres médicos, e que apenas deva intervir e que apenas o médico deve intervir em grau de extrema urgência para praticar uma operação cirúrgica.

O trabalho que está encomendado hoje ao Ministério da Saúde Pública é de organizar a Saúde Pública de tal forma que sirva para dar assistência ao maior número de pessoas e sirva para prevenir o maior número de enfermidades; porém, para essa tarefa revolucionária é preciso principalmente o indivíduo.

Mudanças Profundas

A Revolução é uma libertadora da capacidade intelectual do homem, e ao mesmo tempo é a orientadora dessa capacidade. Nossa tarefa hoje é orientar a capacidade dos trabalhadores da Medicina para as grandes conquistas desta sociedade.

As formas de vida capitalistas na qual nascemos e nos desenvolvemos estão em falência em todo o mundo. Temos o orgulho de ser a vanguarda de um movimento de libertação que têm ecoado em outros lugares da Ásia e da África, e essa mudança social profunda demanda também mudanças muito profundas na estrutura moral das pessoas. O individualismo deve ser no amanhã o aproveitamento pleno de todo o indivíduo para o benefício absoluto da coletividade. Porém, ainda quando isso se compreenda hoje e quando todo o mundo estará disposto para pensar um pouco no presente, no passado e no que deve ser o futuro, é necessário sentir profundas mudanças interiores e auxiliar as mudanças profundas exteriores.

Uma maneira de aprender a conhecer os princípios desta Revolução e as grandes mudanças que ela está produzindo, para ver as cooperativas e centros de trabalho, e também as pessoas que integram tais centros. Porém, além disso, deve-se averiguar quais são as necessidades dessas pessoas, quais são as enfermidades que elas têm sofrido. O médico deve ir ali, para que conheça os meios em que vivem seus pacientes, para que possa realizar sua obra social de médico dentro da massa.

O médico tem uma obrigação de muita responsabilidade no campo social. Ocorreu recentemente um grupo de médicos recém chegados que não queriam ir ao campo para prestar seus serviços. E desde o ponto de vista do passado é lógico que aquilo aconteceria. Eu pensava que aquele passado que me falavam de ambições e glória pessoal. Porém, o que aconteceria se aqueles graduados tivessem sido pessoas do campo que tiveram a oportunidade de terem aulas universitárias?

Teria acontecido o que aconteceu dentro de seis ou oito anos quando os novos estudantes, que vieram das classes operárias e campesinas saíram das aulas universitárias.

Teve quem tinha que trabalhar e tinha conhecido certa necessidade na infância, mas a fome, a fome de verdade, não conheceu nenhum de nós. Começamos a conhecê-la transitoriamente nos dois anos da Sierra Maestra, e então muitas coisas ficaram muito claras para nós, que a princípio castigávamos duramente quem tocasse sequer uma galinha de um camponês rico.

Compreendemos que vale 10.000 vezes mais a vida de um ser humano de que todas as propriedades do homem mais rico da terra.

Aprendemos ali que não éramos filhos da classe operária nem da classe campesina. Por quê vamos dizer agora que éramos os privilegiados e que o resto das pessoas de Cuba não podem aprender também? Podem, sim. Porém, além disso, a revolução hoje exige que se aprenda, que se compreenda bem que muito mais importante que uma retribuição é o orgulho de servir ao próximo, que é mais definitivo, mais perene que todo o ouro que pode-se acumular, é a gratidão do povo.

Cada médico, em seu círculo de ação, pode e deve acumular essa apreciada gratidão do povo. Temos então que começar a apagar nossos velhos conceitos e começar a nos aproximar mais do povo, não como nos aproximávamos antes, porque vocês dirão: Eu sou amigo do povo, eu gosto de conversar com os trabalhadores, eu vou todos os domingos a tal lugar e faço tal coisa. Todo mundo já fez isso, porém o fez praticando a caridade, e hoje temos que praticar a solidariedade. Não devemos nos aproximar do povo para lhes dizer: Aqui estamos, viemos dar a caridade de nossa presença, para mostrar os seus erros, sua falta de cultura, sua falta de conhecimento. Devemos ir com a ânsia investigativa, para aprender com a fonte da sabedoria que é o povo.

Temos que mudar ainda os conceitos médicos. Nem sempre as enfermidades se tratam como em um hospital ou em uma cidade grande. Veremos como o médico tem que ser agricultor e como aprender a cultivar novos alimentos e plantar com seu exemplo a ânsia de consumir novos alimentos, de diversificar essa estrutura alimentícia cubana tão pequena, tão pobre, em um dos países agrícolas potencialmente mais ricos da Terra.

Veremos então como teremos que ser essa circunstância um pouco pedagoga às vezes, e também política, como o primeiro passo que se deve fazer é não brindar nossa sabedoria, e sim ir demonstrar que vamos aprender com o povo, a realizar a bela experiência em comum que é a construção da Nova Cuba.

Já foram dados muitos passos e há uma distância que não pode ser medida na forma convencional, entre o dia Primeiro de Janeiro de 1959 e hoje. Faz muito tempo em que a maioria do povo compreendeu que um ditador não só caiu, se não compreendeu que não só caiu um sistema. Vem então agora a parte em que o povo deve aprender que sobre a ruína de um sistema desmoronando, tem que ser construído o novo sistema que faça a felicidade do povo. (…)

Solidariedade com o Povo

Deve-se conhecer todo o povo com quem vai trabalhar. Creio ainda que não nos conhecemos bem, que nos falta ainda caminhar por essa direção. São muitos os meios para conhecer o povo; não apenas indo ao interior, para trabalhar e viver junto aos campesinos das cooperativas. Uma das grandes manifestações da solidariedade do povo de Cuba são as milícias revolucionárias.

Essas milícias revolucionárias dão agora ao médico uma nova função e o prepara para o que até poucos dias atrás foi uma dolorosa e triste realidade de Cuba; íamos ser vítimas de um ataque armado em grande escala. O médico, nesta função de miliciano, deve ser sempre médico, e não cometer o erro que cometemos na Sierra – que talvez não seja um erro grande – que, estado aos pés de um gerido ou de um doente, buscamos o fuzil para ir para a frente de batalha e mostrar o que podíamos fazer.

Agora nosso Exército segue uma tática distinta e o médico adquiriu uma nova importância dentro dessa tática. E isso atinge não somente o médico, como também os enfermeiros, laboratórios e a todos que se dedicam a esta profissão tão humana.

Ainda sabendo do perigo latente, preparando-nos para repelir a agressão cuja ameaça ainda existe, devemos deixar de pensar nela, porque se fazemos da guerra o centro de nossa atenção, não podemos nos dedicar ao trabalho criativo para construir o que desejamos.

(…) Se tivermos sucesso, trabalhadores da Medicina – e permitam-me usar um título que havia esquecido há muito tempo - , se todos nós usarmos desta nova arma que é a solidariedade, se conhecemos as metas, conhecemos o inimigo e conhecemos o rumo por onde temos que trilhar, nos falta apenas conhecer a parte diária do caminho a percorrer, e essa parte ninguém pode nos ensinar: é o caminho de cada indivíduo, que se fará a cada dia, que se recorrerá para sua experiência individual e que o experimente no exercício de sua profissão, para o bem-estar do povo.

Se já temos todos estes elementos, podemos marchar para o futuro. Lembremos de Martí, cujo pensamento devemos estudar assiduamente: “A melhor forma de dizer, é fazendo”. E marchemos então para o futuro de Cuba.

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