Patriotismo, revolução nacional e revolução proletária
O governo de Jair Bolsonaro segue, na mesma linha da maior parte dos governos que o antecederam, entregando as riquezas nacionais aos grandes grupos econômicos estrangeiros. Claro que isso não se deve a uma característica pessoal do atual presidente, uma vez que ele é um dos representantes da burguesia brasileira.
Nestes últimos anos, praticamente todos os dias, recebemos as notícias sobre privatizações, particularmente da Petrobras. Aliás, o entreguismo, pode-se dizer, é uma herança que tivemos da classe dominante portuguesa, aquela também sempre pronta a sacrificar os interesses nacionais aos seus próprios interesses, como se deu por exemplo com a fuga para o Brasil em 1808.
Escrevendo sobre o tratado de 1809, entre Portugal e Inglaterra, Nelson Werneck Sodré observou em “As Razões da Independência”: “O tratado de 1809 era um modelo de perfeição quanto às concessões, pois concedia tudo, suavizando por vezes as concessões com o mito da reciprocidade”. E mais adiante: “note-se que tudo o que se referia à soberania e aos interesses comerciais, era aceito, sem a menor dúvida, pela classe dominante, que pouco se preocupava com isso”.
A tragédia social brasileira, como temos registrado em nossas páginas, cresce aceleradamente, não podendo ser ignorada por quem quer que seja. Por isso, a imprensa burguesa tem tocado no assunto com frequência. Todavia, como também temos destacado, a imprensa burguesa tenta de todas as formas esconder as causas da miséria crescente, uma vez que ela é defensora, corresponsável e beneficiaria do mecanismo que leva a essa situação.
A imprensa burguesa, como todos sabem, é ardorosa defensora das privatizações que vem ocorrendo há 30 anos. Tais privatizações levaram a uma ainda maior desnacionalização da economia brasileira. Daí que esta mesma imprensa evite o debate sobre essas questões.
Os professores Gilberto Bercovici e José Augusto Fontoura Costa levantam essa questão na introdução de seu livro “Nacionalização: Necessidade e Possibilidades”, publicado pela editora Contracorrente em 2021. Na página 14 escreveram: “O debate sobre nacionalização ou a possibilidade de renacionalizar ou reestatizar certos setores estratégicos vem crescendo no país, apesar do boicote dos grandes meios de comunicação, da oposição dos setores econômicos e políticos beneficiados com o desmonte do Estado brasileiro e de seus bem remunerados consultores e prestadores de serviços jurídicos e do desejo irresistível de parcela da classe política brasileira de se mostrar dócil, confiável e subserviente aos grandes grupos econômicos estrangeiros”.
Nos anos 80 e 90 do século XX, quando o processo de privatização se intensificou, foram realizadas campanhas publicitárias, que apresentavam o setor público como um elefante, que dificultava o desenvolvimento do país. A imprensa burguesa divulgou tais campanhas de mentiras, que favoreceram a aceitação do desmonte do Estado. Entre elas, a de que os recursos das privatizações seriam aplicados nos setores de Saúde e Educação. Outra lorota sustentada pela imprensa burguesa, é lembrada por Bercovici e Fontoura: “O argumento principal utilizado para justificar a privatização, o da necessidade de obtenção de recursos para diminuir a dívida interna do país, não possui veracidade alguma.” E na página seguinte, afirmam: “Com a privatização, as empresas multinacionais ficaram sozinhas na pesquisa e exploração mineral no Brasil. Não por acaso, autores como Paul Starr afirmam que a privatização, no Terceiro Mundo, sempre significa desnacionalização.”
Todos os problemas que atingem uma grande parte da classe trabalhadora brasileira e que se agravaram nas últimas décadas, tem, evidentemente, uma relação direta com o que se passou na economia e nas outras esferas sociais do país. Assim, o escândalo de que tanta gente esteja passando fome, vivendo nas ruas, entregues à drogadição, tem a ver com o processo de desnacionalização da economia e entrega das riquezas aos grandes grupos econômicos brasileiros e estrangeiros.
Isso a imprensa burguesa esconde, porque é defensora do sistema de exploração. Ajudam-na nesta tarefa toda uma rede de organizações políticas, religiosas, etc., que atuam para que a nossa desgraça seja entendida e aceita como uma fatalidade, um castigo.
A luta pata mudar essa situação se recoloca de forma dramática no período que vivemos e exige a conquista de um governo revolucionário. Aqueles que tem consciência do tamanho desta tarefa precisam trabalhar na direção que é apontada por Bercovici e Fontoura: “Só existe libertação nacional com a politização das massas, com o despertar do espírito e a conscientização de que o processo político depende de cada um e de todos. Nas palavras precisas de Fanon: ‘A expressão viva da nação é a consciência em movimento do conjunto do povo. É a práxis coerente e esclarecida dos homens e das mulheres. A construção coletiva de um destino é assumir uma responsabilidade perante a dimensão da história. (...) O governo nacional, se quiser ser nacional, deve governar para o povo e pelo povo, para os deserdados e pelos deserdados’”.