"A Situação Internacional do pós-Guerra"
Estamos agora no novo ano de 1947. Desejamos fazer um levantamento de toda a situação internacional, sob todos os ângulos, a fim de desfazer certas noções falsas neste terreno. Durante todo o ano passado, mesmo antes e até hoje, devido a complexas modificações na situação, e à propaganda demagógica espalhada intencional e amplamente pelos reacionários tanto chineses como estrangeiros, ainda há pessoas pertencentes ao setor democrático na China cuja compreensão de várias questões básicas da situação política do após guerra não corresponde, no todo ou em parte, ao atual estado de coisas. Entre essas pessoas há alguns Comunistas, alguns críticos de esquerda, e alguns críticos do centro. O objetivo deste artigo é apresentar uma interpretação geral de algumas destas questões básicas.
1 - A Predição de Mao Tsé-tung
Já decorreram dezesseis meses desde a vitória da guerra antifascista, constituindo estes meses um período de complicadíssimos transformações na situação política internacional. O curso dessas transformações tem sofrido muitas alterações; um certo número de condições prevaleceu na Conferência dos Chanceleres realizada em Londres em setembro de 1945; na Conferência dos Chanceleres realizada em Moscou, em dezembro do mesmo ano, elas foram modificadas; novas modificações ocorreram em fevereiro e março do ano passado (194é) e de setembro do ano passado para cá, ainda houve muitas alterações. Depois das numerosas modificações dos últimos dezesseis meses, é com toda segurança que afirmamos: o desenvolvimento da situação internacional está inteiramente de acordo com a predição do camarada Mao Tsé-tung. Em seu informe político à Sétima Convenção Nacional do Partido Comunista Chinês, realizada em abril de 1945 e intitulado “Sobre o Governo do Coalizão”, o camarada Mao Tsé-tung fez a seguinte predição sobre a situação mundial nova que sucederia a Segunda Guerra Mundial:
“Essa nova situação é muito diferente da que se seguiu à primeira guerra mundial e do chamado período pacífico que lhe sucedeu. Naquela ocasião não existia uma União Soviética tal como a que existe hoje, nem havia o nível de consciência hoje demonstrado pelos povos da Grã-Bretanha, América, China, França e outros Aliados antifascistas e, naturalmente, não poderia haver a unidade internacional que hoje existe, liderada por três ou cinco grandes potências. Vivemos hoje uma situação inteiramente nova. Existem atualmente no mundo povos e forças organizados que foram despertados e unificados, e cujo processo de mobilização e unificação prossegue com vigor crescente. É isto o que determina o objetivo para o qual rodam agora as rodas da história, e o caminho que deve ser seguido para atingi-lo.
A derrota dos países fascistas agressores e a emergência de uma situação geral de paz, não significam que não haverá mais luta. As forças remanescentes do fascismo, espalhadas por todos os lugares, certamente continuarão a provocar distúrbios. As forças antidemocráticas, que permanecem no campo da guerra antifascista contra a agressão, continuarão a oprimir o povo. Portanto, depois de conseguida a paz internacional, a luta entre as massas populares antifascistas e as forças remanescentes dos fascistas, entre a democracia e a antidemocracia, continuará a absorver a maioria do mundo. A mais ampla vitória do povo só poderá ser conseguida através de um longo período de esforços enérgicos para esmagar as forças dos remanescentes fascistas e as forças antidemocráticas. Consegui-lo não será defesa muito rápida ou muito fácil, mas nem por isso deixará de ser realizada. A vitória na luta antifascista — a justa Segunda Guerra Mundial — abriu o caminho para a vitória na luta dos povos no período do após guerra. Somente depois de conseguida essa vitória será possível garantir uma paz estável e duradoura. É esse o luminoso futuro que se apresenta aos povos do mundo”.
Desejo que todos os meus leitores leiam várias vezes com a maior atenção essas palavras do camarada Mao Tsé-tung.
Isto nos ajudará a compreender os problemas básicos da atuai situação internacional.
2 - Dois Pontos Básicos
Essas palavras do camarada Mao Tsé-tung acentuam dois pontos básicos: Primeiro ponto básico a vitória na guerra antifascista abriu o caminho para o progresso das forças democráticas de todos os países. A extensão do progresso dessas forças democráticas será incomparavelmente maior do que depois da Primeira Guerra Mundial. Um ataque das forças antidemocráticas contra os povos de todos os países virá fatalmente. Mas as forças democráticas, diante da contingência, serão capazes de vencê-las, assegurar sua vitória e conquistar uma paz internacional sólida e duradoura. Isto implica em duas inevitabilidades: primeira, que as forças antidemocráticas atacarão inevitavelmente, e segundo, que as forças democráticas serão inevitavelmente vitoriosas.
Portanto, todos os argumentos pessimistas errôneos, são jogados por terra. Esses argumentos pessimistas são os seguintes: a alegação de que a extensão do progresso das forças democráticas depois da Segunda Guerra Mundial será menor do que o fora depois da primeira guerra; declarações sobre a “supercolossal” força reacionária do imperialismo americano e de Chiang-Kai-Shek, e de como ambos oprimirão, até sufocar, o povo da China e os povos de todo mundo; declarações de que a terceira guerra mundial é inevitável ou que está iminente; de que uma paz sólida e duradoura é impossível, etc., etc. Todos esses pontos de vista são claramente errôneos. Certas pessoas os adquirem porque se deixam enganar pela aparência exterior e temporária do poderio das forças reacionárias nacionais e internacionais, ou porque estão cegas pela propaganda reacionária e, em consequência sobrestimam a força dos elementos reacionários e subestimam a força do povo.
Segundo ponto básico a luta entre as forças da democracia e as da antidemocracia envolverá a parte maior do mundo. Isto é, há no mundo uma União Soviética Socialista onde há muito tempo já não existem forças antidemocráticas e, portanto, não há luta interna entre a democracia e a antidemocracia. Nos outros países do mundo, excluindo-se a União Soviética, — isto é, em todo o mundo capitalista — é intensa a luta entre as forças da democracia e as da antidemocracia. Assim é que, depois da segunda guerra mundial a contradição predominante no mundo político de hoje é a que existe dentro dos países capitalistas, entre as forças democráticas e as antidemocráticas e não a contradição entre os países capitalistas e a União Soviética, ou entre a União Soviética e os Estados Unidos. Falando mais concretamente: as contradições atualmente predominantes no mundo são as que existem entre o povo americano e os reacionários americanos, a contradição anglo-americana, e a contradição sino-americana.
A propaganda demagógica levada a efeito pelos reacionários na China e no estrangeiro fica assim completamente desmascarada de forma a que não haja uma só pessoa bem intencionada que ainda se deixe levar por ela. Eis o que diz essa propaganda demagógica: que a contradição atualmente predominante no mundo político é a que existe entre os países capitalistas e socialistas, que a contradição americano-soviética é a predominante, enquanto as contradições anglo-americana e sino-americana são secundárias; que os países socialistas não podem cooperar pacificamente, que uma guerra soviético-americana é inevitável, etc., etc.
Abaixo esclarecemos: Quais são as forças antidemocráticas? Qual é o seu presente e qual será o seu futuro?
3 - Os Reacionários Internacionais: sua Cortina de Fumaça e suas Verdadeiras Atividades
Depois da Segunda Guerra Mundial os imperialistas americanos tomaram o lugar dos fascistas da Alemanha, Itália e Japão como fortaleza das forças reacionárias mundiais. As forças reacionárias do mundo são precisamente os imperialistas americanos, e mais os reacionários de vários outros países — Chiang-Kai-Shek na China, De Gaulle na França, Churchill na Inglaterra, etc., etc. — e os remanescentes fascistas — o governo de Franco na Espanha, o gabinete de Yoshida no Japão; Von Papen, Schacht, na Alemanha, etc., etc. Os reacionários de todos os países e os remanescentes fascistas, tornaram- se agora, todos, traidores, direta ou indiretamente apoiados pelos imperialistas americanos, vendendo os povos de seus respectivos países.
A produção industrial da América no período de guerra atingiu mais do que o dobro de sua produção de antes da guerra. Também cresceu muito durante a guerra o monopólio americano. Simultaneamente surgiu na América um grupo de senhores da guerra. Depois do término da guerra esse grupo de capitalistas monopolistas e de militaristas, esse bloco constituído por um punhado extremamente reduzido de agressores fanáticos, advogou uma política de agressão imperialista para ampliar mercados e subtrair mercados, colônias e semicolônias de outros países capitalistas, oprimindo sobretudo os grandes países imperialistas colonizadores como a Grã-Bretanha e a França, e oprimindo a China, enquanto ao mesmo tempo exerciam sua dominação exclusiva sobre o Japão e a América Latina. Os imperialistas americanos estão levando avante essa agressão sob o disfarce dos slogans de “política de portas abertas”, de “igualdade de oportunidades”, etc., porque a técnica produtiva americana é muita elevada, é tremendo o capital monopolizador americano, de forma que, onde quer que penetrem necessitam apenas das condições de “portas abertas”, “iguais oportunidades”, etc., para adquirirem uma posição de predominância esmagadora que lhes permite expulsar os concorrentes e monopolizar o mercado. Além disso, os americanos imperialistas estão fazendo preparações militares em grande escala contra outros países, capitalistas, coloniais e semi- coloniais, sob toda a sorte de pretextos. Suas bases militares estão espalhadas por numerosos países fora da União Soviética. Os imperialistas americanos, por meios “pacíficos”, ocuparam vários “Pearl Harbors” em numerosos países, sob o pretexto de que o faziam a fim de “evitar uma outra Pearl Harbor”.
Em fevereiro e março de 1946, os reacionários de todo o mundo programaram provocações de guerra contra a União Soviética. Isto ficou patente pelos discursos reacionários de Churchill. Não é de espantar que isso pusesse todo o mundo em guarda. A agitação de Churchill, entretanto, encontrou oposição e frieza da parte de pessoas de todas as partes do mundo, e os planos dos reacionários sofreram uma triste derrota.
Mas a propaganda de “guerra contra a União Soviética” iniciada por Churchill foi adotada e continuada pelos imperialistas americanos. A razão pela qual os imperialistas americanos gostam dessa espécie de propaganda não é devido ao fato de pretenderem desencadear neste momento uma guerra contra a União Soviética, e sim ao fato de que essa propaganda pode ser usada como uma cortina de fumaça para encobrir suas atividades de agressão mundial e de opressão de seu próprio povo.
“Antissoviético” — o que quer dizer isto? O antissovietismo de Hitler foi um outro nome dado à escravização do povo alemão e à conquista dos povos da Europa. O antissovietismo do Japão fascista foi também outra designação para a escravização do povo japonês e para a invasão de todos os países da área do Pacífico. O antissovietismo dos reacionários americanos não pode ser senão uma palavra destinada a designar a escravização do povo americano e o desencadeamento da agressão contra o mundo inteiro.
Há, entretanto, pontos divergentes na significação do atual “slogan” antissoviético dos reacionários americanos e no dos reacionários alemães e japoneses do passado. A Alemanha fica muito peito da União Soviética e, garantidas as outras condições, os fascistas alemães podiam atacar a União Soviética. O Japão e a União Soviética são vizinhos, mas como a força natural do fascismo japonês não era tão grande quanto a de Hitler, o Japão só pôde atacar a China e as áreas do Pacífico, sendo derrotado antes de poder invadir a União Soviética. A América fica muito distante da União Soviética, havendo vastos territórios entre ambas. Esses territórios que as separam compreendem todos os países capitalistas, coloniais e semicoloniais da Europa, da Ásia e da África. Nessas e noutras condições, é extremamente difícil para a América atacar a União Soviética. A verdadeira significação do “slogan” antissoviético da América no período de após guerra é sua utilidade para oprimir o povo americano e para invadir por meios “pacíficos” todos os países, fora da União Soviética.
É claro que há contradições entre o capital monopolizador e os senhores de guerra de um lado, e a União Soviética Socialista, do outro. Na natureza pode-se dizer que essa é a contradição entre o novo e o velho mundo, e é uma das contradições básicas do mundo. O sistema social e estatal da União Soviética é muito mais forte e mais estável do que o do capitalismo americano. A União Soviética é a protetora da paz mundial — enquanto existir uma União Soviética, a cupidez e as ambições dos reacionários americanos e do mundo, serão fundamentalmente difíceis de realizar. Eis porque os reacionários da América e do mundo odeiam a União Soviética e querem desesperadamente desencadear uma luta antissoviética. Mas antissovietismo é uma coisa e outra diferente é guerra contra a União Soviética. De maneira nenhuma estamos afirmando que os imperialistas não desejam atacar a União Soviética. Mas enquanto os imperialistas americanos não houverem subjugado o povo da América e os povos dos vários países capitalistas, coloniais e semicoloniais, não poderão atacar a União Soviética. Mas, subjugar esses povos é impossível. Portanto, embora a contradição soviético-americana seja uma das contradições básicas no mundo, não é a contradição urgente — não é a contradição predominante na atual situação política. O desenvolvimento dos acontecimentos nos últimos dezesseis meses já provou este ponto.
A verdadeira política dos imperialistas americanos é atacar o povo americano e oprimir os povos dos vários países capitalistas, coloniais e semicoloniais por meios “pacíficos”. Mas os imperialistas americanos escondem suas verdadeiras atividades mantendo sobre elas o maior silêncio. Não têm meios de atacar a União Soviética, mas fazem grande alarde de uma “guerra contra a União Soviética”. Isto é claramente, lançar uma cortina de fumaça.
Por que precisam os imperialistas americanos dessa cortina de fumaça? E se esta não for desfeita que prejuízo causará? O objetivo dos imperialistas americanos, ao levantarem essa cortina de fumaça é fazer com que o povo americano, e as amplas massas dos povos dos vários países capitalistas, coloniais e semicoloniais suspendam sua vigilância sobre a verdadeira política dos imperialistas americanos e percam, e diminuam, seu poder de resistência aos ataques e às agressões dos imperialistas americanos. Dessa maneira aproveitam-se estes últimos da falta de vigilância do povo americano e dos povos de vários países, conseguindo, de maneira relativamente fácil, fascistizar a América do Norte e transformar os demais países em colônias americanas ou dependentes. Senão desfizermos essa cortina de fumaça, ou senão considerarmos que fazê-lo é uma tarefa urgente, cairemos, em maior ou menor escala, na armadilha preparada pelo imperialismo americano, ou mesmo serviremos, em maior ou menor escala, de megafones do inimigo público — os elementos imperialistas da América.
Não devemos, portanto, nos deixar mistificar pela cortina de fumaça dos imperialistas americanos, perdendo nossa capacidade de raciocinar e sendo presas da propaganda demagógica da chamada “contradição soviético-americana” como “a contradição predominante no mundo”, da “inevitabilidade da terceira guerra mundial”, etc., etc.
O único caminho correto e o dever de todos os que pertencem ao campo democrático é desfazer resolutamente a cortina de fumaça e conclamar todos — o povo americano e os povos dos vários países capitalistas coloniais e semicoloniais para que se levantem abertamente e reconheçam o inimigo, a fim de se salvarem da destruição e de resistirem ao ataque e à agressão dos imperialistas americanos.
4 - O Poderio do Mundo Democrático
Contra os reacionários de todo o mundo — os imperialistas da América e seus cães de fila em todos os países — estão as forças democráticas do mundo.
Além da União Soviética, que é o principal esteio, as forças democráticas do mundo compõem-se de três setores: as amplas massas do povo americano, as amplas massas dos povos de todos os demais países capitalistas e as amplas massas dos povos de todos os países coloniais e semicoloniais. Em termos de composição de classe elas incluem todos, desde os operários e os camponeses até os elementos patrióticos e os defensores da paz entre a burguesia.
O povo americano deu heroicas contribuições à guerra antifascista.
A finalidade da sua luta de sacrifícios foi a conquista de paz e democracia para o mundo e de uma vida feliz para o seu povo. Depois do término da guerra, entretanto, o povo americano deparou-se com a seguinte situação: após haverem derrotado os reacionários estrangeiros, defrontaram-se com os reacionários nacionais. Estes eram precisamente os capitalistas monopolizadores que durante a guerra se encheram com a especulação e as riquezas mal adquiridas. No campo da política nacional esse grupo de capitalistas reacionários e seus reacionários porta-vozes no governo aumentam o preço das mercadorias a fim de baixar o nível de vida do povo, sufocam as greves a fim de eliminar as liberdades do povo, e alimentam o antissovietismo a fim de desviar a atenção do povo americano, a fim de que ele fique desprevenido contra os ataques dos capitalistas monopolizadores. No campo da política externa, os reacionários americanos não se chamam de “isolacionistas”, mas de “internacionalistas”. Mas esses “internacionalistas” são agressores internacionais e não cooperadores internacionais democráticos. Esses reacionários têm seus representantes nos partidos americanos, tanto no Republicano como no Democrático. A agressão mundial por parte desses reacionários já manchou seriamente a reputação da América, já prejudicou a amizade internacional e está cozinhando o perigo de guerra.
Eis porque o povo americano, inclusive o setor esclarecido da burguesia representado por Wallace, se erguerá certamente para uma luta decidida contra os reacionários.
Os países capitalistas, excluindo-se a América, principalmente a Grã-Bretanha e a França, sofreram profundamente com a guerra, e em comparação com a América, são países de segunda e terceira categorias. São objeto de agressão por parte do imperialismo americano. A lei do desenvolvimento desigual do capitalismo força-os a resistir à opressão americana.
Esses países capitalistas lutam agora pelo reerguimento econômico depois da devastação da guerra e estão simultaneamente na seguinte situação: enfrentam, de um lado, o movimento democrático de seus povos e a exigência da independência e autonomia dos povos de suas colônias e semicolônias e, de outro lado, a selvagem agressão do imperialismo americano. A linha seguida pelos reacionários da categoria de Churchill e De Gaulle nesses países é a de se apoiarem na América na luta contra os movimentos democráticos dos povos de seus próprios países e contra os movimentos de independência dos povos das colônias e semicolônias. O preço dessa linha reacionária é levar inevitavelmente esses países à posição de dependentes da América. O povo nesses países capitalistas, entretanto, tem uma linha diversa: conquistar reformas democráticas e sociais para seus países, conceder independência e autonomia para os países coloniais e semicoloniais e cooperar com a União Soviética a fim de resistir à agressão do imperialismo americano e conservar sua independência nacional. Sem sombra de dúvida, será vitoriosa a linha do povo. Essa linha conquistará o apoio de todas as classes do povo, inclusive do setor mais esclarecido da burguesia. A linha dos reacionários, pelo contrário, tem forçosamente que falhar, pois que encontrará a resistência de toda a nação.
Tomemos como exemplo, o mais importante desses países capitalistas — a Grã-Bretanha. Está empregando todos os seus esforços neste período de após guerra a fim de reerguer sua economia. Suas exportações estão aumentando gradativamente, o que não agrada muito aos imperialistas americanos. O imperialismo americano tenciona destruir o bloco esterlino através da exploração da necessidade que a Grã-Bretanha tem de empréstimos e, em nome da chamada “defesa contra os ataques da União Soviética”, procura fazer com que a Grã-Bretanha conclua um pacto militar com a América. Todos esses são passos muito sérios (preparatórios à absorção da Grã-Bretanha. O Império Britânico tem suas colônias e países dependentes espalhadas por todo o mundo, e, devido à política de dominação exclusiva dos imperialistas, está agora sofrendo tremendos ataques no Canadá, na Austrália, na América do Sul, nas Ilhas do Atlântico, no Oriente Médio, na Palestina e na Arábia, no Egito e no Mediterrâneo, e, finalmente, na Índia em Burma e em outros lugares. Em determinados lugares esses choques já se transformaram ou marcham para se transformarem em lutas armadas. No futuro é possível que a América incentive guerras de agressão contra outros países capitalistas (em primeiro lugar, a Grã-Bretanha).
O gabinete Attlee—Bevin, que continua na Grã-Bretanha a política externa do Partido Conservador, já adotou várias medidas prejudiciais mancomunado com o imperialismo americano e já hipotecou sua solidariedade e simpatia, ou mesmo já agiu de comum acordo com o imperialismo americano, em diversas questões. A política do imperialismo americano, entretanto, não pode deixar de obrigar o povo britânico a adquirir gradualmente consciência. O aumento constante de votos contra a política externa de Bevin na Câmara Baixa Britânica é uma prova do que afirmamos. À medida que for despertando a consciência do povo britânico tornar-se-á mais difícil à Inglaterra prosseguir na sua atual política externa e não está longe o dia em que ela se verá forcada a modificá-la. Assim ocorre com a Grã-Bretanha; mais acentuado ainda ocorrerá com a França. Em face do crescimento cotidiano da consciência do povo francês, a França com toda a certeza não seguirá o imperialismo americano.
A política dos imperialistas americanos de agressão aos demais poises capitalistas não pode deixar de provocar a oposição desses países. Não há condições, entretanto, depois da segunda guerra mundial, (para o que se vem chamando de “cerco capitalista da União Soviética”. Pelo contrário, devido à política externa da União Soviética, pacífica e democrática, e à sua política de concorrência pacífica e de comércio amigável com todos os países, e porque a Grã-Bretanha, a França e outros países precisam resistir à opressão americana, evitar os golpes da crise econômica e, ainda, restaurar sua economia, esses países precisam cooperar e comerciar com a União Soviética. Portanto, não mais existe o “cerco capitalista”.
A política dos imperialistas americanos para com os países coloniais e semicoloniais visa transformá-los em colônias e dependências americanas. A política imperialista da América na China é um exemplo típico. Não há diferença na natureza da política do imperialismo americano e na dos fascistas japoneses na China, apesar de existirem algumas na forma. Os métodos empregados pelo imperialismo americano, entretanto, ultrapassam os dos imperialistas japoneses em malícia e dubiedade. Depois da derrota do imperialismo japonês, a América passou a apoiar Chiang-Kai-Shek e outros reacionários na sua opressão do povo chinês. No Japão, apoia Yoshida e outros reacionários na opressão do povo japonês, ajudando-os a reviver a política de agressão para com a China. Atualmente os reacionários, tanto da China como do Japão, estão no mesmo papel de cães de fila do imperialismo americano, enquanto os povos desses dois países sofrem a opressão do imperialismo americano. A guerra de autodefesa agora desencadeada pelo povo chinês contra Chiang-Kai-Shek, que é apoiado pelos americanos, é uma guerra de defesa do território nacional. É uma guerra nacional em que participa toda a nação. Essa espécie de guerra pela defesa da mãe pátria está sendo desencadeada em vários países coloniais e semicoloniais, isto é, nas Filipinas, na Indochina, na Índia, no Irã, na Grécia, etc., etc. Essas guerras são todas contra o imperialismo americano e seus cães de fila em todos os países. São diretamente ou indiretamente contra o imperialismo americano, pela conquista da paz mundial e da democracia. A contradição entre o imperialismo americano e as forças democráticas no mundo capitalista não está diminuindo, pelo contrário, está se desenvolvendo e crescendo. Quando sobrevier a crise econômica americana, os imperialistas americanos, em consequência, redobrarão os seus ataques, acentuando assim as três contradições. E esse período não está longe porque a crise econômica americana sobrevirá este ano ou no ano próximo.
5 - Frente Única em Escala Mundial
As forças mundiais antidemocráticas são os imperialistas americanos e os reacionários de todos os países. Como as forças mundiais antidemocráticas estão atacando simultaneamente o povo americano e os povos dos demais países capitalistas, coloniais e semicoloniais, o povo da América e dos demais países capitalistas, coloniais e semicoloniais também precisam agir de comum acordo, formando uma frente única mundial contra o imperialismo americano e os reacionários de todos os países. Essa frente única mundial, esse exército colossal, compreendendo mais de um bilhão de pessoas, é precisamente o que constitui o poderio do mundo democrático.
Essa frente única mundial não pode de maneira nenhuma ter outro caráter senão o de uma frente unida, lutando pela paz mundial e pela democracia e a independência de todas as nações contra o imperialismo americano e seus cães de fila nos vários países. Essa frente única conquistará indubitavelmente a simpatia e o apoio moral da União Soviética Socialista.
Essa frente única em escala mundial marcará uma nova página na história, a história do mundo a partir do término da segunda guerra mundial até o dia em que for assegurada uma paz sólida e duradoura. O movimento chinês pela sua independência, pela paz e pela democracia é uma parte importante desse capítulo da história do mundo.
Dentro de cada país capitalista, colonial ou semicolonial, também se formarão amplas frentes únicas, como na China, contra os imperialistas americanos e contra os reacionários internos.
A tarefa central imediata dos povos e das forças democráticas de todos os países é lutar pela realização dessa ampla frente única mundial e pela frente única interna.
6 - O Poder Relativo das Forças
Os fatos depois de mais de um ano da vitória da guerra antifascista provam que o ritmo do progresso mundial é acelerado e que alguns acontecimentos se desenvolveram mais depressa do que esperávamos. O escopo do desenvolvimento das forças democráticas em todos os países do mundo é imensamente maior do que o foi depois da primeira guerra mundial.
O progresso dos povos no mundo capitalista durante o último ano e pouco mais, manifesta-se pelo seguinte:
o firme estabelecimento de regimes democráticos em vários países do leste e sudeste da Europa;
o rapidíssimo progresso dos povos da Grã-Bretanha e da França;
o florescente desenvolvimento das lutas dos povos dos países coloniais e semicoloniais, liderados pela China, pela sua independência e autonomia;
a rápida tendência para a esquerda dos povos da Alemanha, Itália e Japão;
a maré alta dos movimentos grevistas na América e a ocorrência do incidente Wallace (que revela as divergências existentes entre a burguesia americana, como a oposição do Partido Trabalhista Britânico revela na Inglaterra as divergências dentro da burguesia deste país;
o amplo desenvolvimento das forças democráticas em todos os países da América Latina.
A rapidez do progresso do povo e do desenvolvimento das forças democráticas no mundo capitalista é verdadeiramente espantoso.
A posição internacional do país mais progressista do mundo — a União Soviética — fortaleceu-se consideravelmente. Atualmente dedica ela todas as suas forças ao trabalho construtivo e pacífico do novo Plano Quinquenal. O fato de o Plano de Produção Industrial para o primeiro ano ter sido completado um mês antes do prazo, prova que é perfeitamente possível completar, e mesmo ultrapassar, o novo plano de construção. A luta da União Soviética no terreno da política internacional, pela paz internacional e pela proteção dos interesses das pequenas nações, obteve grandes vitórias na recente Conferência dos Chanceleres, na Assembleia das Nações Unidas; os planos dos reacionários americanos e britânicos para isolar a União Soviética, seguindo as declarações reacionários de Churchill em março do ano passado, foram derrotados. As vitórias da União Soviética no terreno da construção econômica como no terreno da política internacional terão grande influência na história do progresso do mundo, e trarão benefícios aos povos de todos os países.
As forças reacionárias do mundo são fortes na superfície, mas fracas internamente. Além do mais, estão ficando cada vez mais isoladas. O imperialismo americano é a mais alta fase do desenvolvimento do capitalismo, mas exatamente por isso é mais fraco do que o capitalismo em qualquer outra fase anterior. Quanto mais alta a ascensão, tanto mais forte a queda — a crise econômica americana que. sobrevirá este ano ou o próximo não poderá deixar de ser de natureza extremamente violenta. Á política reacionária, tanto externa como interna, dos imperialistas americanos, conduzirá necessária- mente, e já conduziu, à resistência das mais amplas massas, tanto dentre como fora do país. Isto resultará numa oposição cada vez maior das massas, bem como na crescente deserção de seus aliados. Todos os cães de fila dos imperialistas americanos nos vários países, como por exemplo, Chiang-Kai-Shek na China, não podem deixar de se tornar traidores e de se defrontarem com a oposição total de seus respectivos países. Não têm, portanto, outro remédio senão se isolarem rapidamente, eles próprios, repudiados como estão pelas massas e abandonados por seus aliados. É o que está acontecendo com Chiang-Kai-Shek na China, e com os reacionários de todos os países. As forças reacionárias serão finalmente vencidas. Elas realmente parecem muito ferozes durante um certo tempo, chegando mesmo a intimidar pessoas de ânimo fraco, a ponto de criar nelas pessimismo e desilusão, de fazê-las perder a confiança em si próprias e mesmo de fazê-las sucumbir e se renderem aos reacionários. Mas as amplas massas dos povos e todos os homens de ânimo forte não se podem deixar intimidar. O povo, à medida que for adquirindo experiências na prática, compreenderá não somente a natureza reacionária, como também a fraqueza desses reacionários. Compreenderá que os ataques dos reacionários contra o povo podem ser esmagados.
Resumindo: — o progresso mundial, os sucessos da União Soviética e a crise americana são os três fatores de significação decisiva na história do futuro desenvolvimento do mundo.
7 - O Caminho da Vitória
A época atual ainda representa um período em que a reação mundial pode ser francamente agressiva. A razão disto é sobretudo que as lutas dos povos nos vários países ainda não atingiram sua fase culminante e também porque a crise econômica americana ainda não sobreveio. Mas mesmo neste período as forças reacionárias revelaram sua impotência corrupta. Já revelaram que são ocas por dentro e fortes na aparência. Quando as lutas dos povos de todos os países atingirem a um maior desenvolvimento e quando sobrevier a crise econômica americana, então terá soado a hora em que a arrogância dos reacionários entrará em colapso. E essa hora já não está tão distante. Antes que ela soe, entretanto, os povos de todos os países encontrarão várias dificuldades, que em certos países e regiões poderão ser sérias. Essas espécies de dificuldades podem, entretanto, ser superadas. É esta a presente tarefa de todo o mundo que para isso deve empregar todos os seus esforços.
Depois do desenvolvimento desses três fatores — o progresso mundial, os sucessos da União Soviética e a crise americana — as forças democráticas tornar-se-ão ainda mais poderosas, e a correlação de forças entre os setores democráticos e antidemocrático será mais favorável ao povo. Mas não se deve pensar que as forças reacionárias abdicarão voluntariamente em favor das forças democráticas. Entretanto, antes de atingirmos o que o camarada Mao Tsé-tung chama ''da mais ampla vitória do povo” e da “garantia de uma paz sólida e duradoura” ainda temos que enfrentar uma luta longa e tortuosa. Lutaremos até a completa vitória da causa democrática e a conquista da paz e da independência da nação. Temos a maior confiança nesse brilhante futuro, enquanto que a burguesia mundial, pelo contrário, perdeu completamente a confiança no seu.
O terrorismo desencadeado depois da guerra, pelas forças antidemocráticas contra os povos de vários países, seu pavor pelo poderio da União Soviética, sua opressão fanática dos povos, seu horror à verdade, seu sistema de viver completamente do recurso de mentiras — tudo isso são manifestações de sua completa perda de confiança. Não é certamente por acaso. que todos os jornais da burguesia da China revelam um pessimismo e um desapontamento sem precedentes a respeito de seu futuro.
De maneira geral, tudo mudou depois da segunda guerra mundial e ainda continua a mudar. E como o povo se tornou forte — como se tornou consciente, organizado, resoluto e cheio de confiança como se tornaram selvagens os reacionários, aparentemente muito fortes, realmente muito fracos, repelidos pelas massas e abandonados por seus aliados, completamente destituídos de qualquer confiança no seu futuro! Podemos predizer categoricamente que a situação da China como a de todo o mundo será grandemente diferente dentro de três a cinco anos. Todos os camaradas de nosso partido e todo o povo da China devem lutar devotadamente por uma nova China e por um novo mundo.
por Lu Ting-Yi, Secretário de Educação e Propaganda do Partido Comunista da China
Publicado na Problemas - Revista Mensal de Cultura Política, nº 3, outubro de 1947.