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REIMPRESSÕES

Foto do escritorNOVACULTURA.info

"Entrevista de Stalin com Romain Rolland"



Stalin: É um prazer conversar com o maior escritor do mundo.


Romain Rolland: Lamento muito que a minha saúde não me tenha permitido visitar mais cedo este grande mundo novo, do qual todos nos orgulhamos e no qual colocamos as nossas esperanças. Com a sua permissão, gostaria de lhe falar na minha dupla qualidade de velho amigo e simpatizante da URSS e de testemunha do Ocidente, de observador e de confidente da juventude e dos simpatizantes de França.


Deve saber o que a URSS representa aos olhos de milhares de pessoas no Ocidente. Sabem-no de uma forma muito confusa, mas corporifica as suas esperanças, os seus ideais, que muitas vezes são diferentes e outras vezes contraditórios. Na atual grave crise económica e moral, eles esperam da liderança da URSS diretrizes e uma resposta às suas incertezas.


Obviamente, é difícil satisfazê-los. A URSS tem a sua própria tarefa, que é imensa, o seu trabalho de construção e defesa; e deve dedicar tudo a isso: a melhor orientação que pode dar é pelo seu exemplo. Mostra o caminho com a sua própria atividade.


No entanto, não pode ignorar-se a grande responsabilidade que a atual situação mundial lhe impõe – esta responsabilidade, de certo modo “imperativa”, de zelar pelas massas de outros países que nela depositaram a sua confiança. Não basta citar as famosas palavras de Beethoven: “Ó homem, ajuda-te!” Eles precisam de ajuda e sugestões.


Agora, para fazer isso com eficácia, devemos levar em conta o temperamento e a ideologia de cada país – falarei aqui apenas da França. O desconhecimento da natureza dessa ideologia dessa pode causar – na verdade causa – sérios mal-entendidos.


Não espere do público da França, mesmo dos simpatizantes, tal “dialética” de pensamento, que se tornou uma segunda natureza na URSS. Por temperamento, os franceses estão acostumados a uma lógica abstrata de raciocínio em linha reta, menos experimental do que dedutiva. É preciso conhecê-lo bem para o superar. São um povo, uma opinião, habituado a raciocinar. Deve-se sempre dar-lhes razões para a sua ação.


Na minha opinião, nas suas políticas, a URSS não se preocupa o suficiente em dar aos seus amigos estrangeiros as razões de algumas das suas ações. E não faltam razões justas e convincentes.


Mas parece que há nisso pouco interesse, e isto é, penso eu, um sério erro, porque pode levar e leva a interpretações erradas ou deliberadamente falsas, de certos factos que semeiam confusão entre milhares dos seus simpatizantes. É porque vi recentemente essa confusão entre muitas boas pessoas de França que chamo a sua atenção para o facto.

Dir-nos-á que é o papel dos nossos intelectuais e simpatizantes explicar essas ações. Não estamos totalmente à altura desta tarefa – e, desde logo, porque nós próprios estamos mal informados: não temos os meios necessários para os fazer compreender e explicar-lhes.

Parece-me que deveria haver no Ocidente um escritório de compreensão intelectual – um pouco como o VOKS, mas de um caráter mais político. Caso contrário, os mal-entendidos acumulam-se e, sem um escritório credenciado da URSS, não há ninguém preocupado em esclarecê-los.


Pode-se pensar que basta deixar a confusão dissipar-se com o tempo. Mas não se dissipa, condensa-se. Desde o início, deve-se agir e fazê-la dissipar à medida que ocorre. Aqui estão alguns exemplos:


Como é seu direito soberano, o governo da URSS toma decisões, sejam sentenças, averiguações e julgamentos ou leis que reformam as penas usuais. Nalguns casos, as questões ou pessoas envolvidas geraram um interesse e impacto gerais; e, por uma ou outra razão, a opinião estrangeira é apaixonada. Seria fácil evitar problemas. Por que não se faz isso?

Teve razão ao punir vigorosamente os cúmplices da conspiração de que Kirov foi vítima. Mas, ao lutar contra os conspiradores, dê a conhecer ao público, na Europa e no mundo, a esmagadora responsabilidade dos condenados. – Mandou Victor Serge para Orenburg por três anos e este era um assunto muito pouco importante; mas por que se permitiu que se desenvolvesse tanto, durante dois anos, entre a opinião pública europeia?


Serge é um escritor francês cujo valor está estabelecido; não o conheço pessoalmente, mas sou amigo de vários dos seus amigos. Eles bombardeiam-me com perguntas sobre o seu exílio em Orenburg e o tratamento que está a receber. Tenho a certeza de que o senhor não teria agido assim sem motivos sérios.


Mas por que não explicou os motivos desde o início, aos olhos do público francês, que proclama a sua inocência; é sempre muito perigoso, no país com questões como a de Calas e Dreyfus, permitir que uma pessoa condenada se torne o centro de um movimento de protesto geral. Outro caso de natureza muito diferente: o governo soviético promulgou uma lei sobre a punição de crianças criminosas com mais de 12 anos. O texto da lei não é bem conhecido; e mesmo se fosse conhecido, isso leva a uma formidável reação.


A pena de morte parece ter sido suspensa para essas crianças. – Compreendo bem os motivos pelos quais se deve inspirar receio nos irresponsáveis ​​e nos que querem lucrar com essa irresponsabilidade. Mas o público não o entende assim. Vê isso como uma ameaça efetiva, ou nas mãos de juízes que a podem usar de acordo com o seu humor. Isto pode tornar-se a fonte de um grande movimento de protesto. É necessário combater isso sem demora.

Finalmente, chego ao grande mal-entendido atual causado pelo problema da guerra e a atitude a tomar em relação a ele. Acho que esse problema deveria ter sido estudado há muito tempo na França.


Há muitos anos, conversei com Barbusse e com os meus amigos comunistas sobre o perigo de uma campanha incondicional contra a guerra. Parece-me necessário estudar os diferentes casos de guerra que podem surgir e distinguir a atitude a tomar em relação a cada um deles. Pelo que entendi, a URSS precisa de paz, quer paz. Mas a sua causa não é identificada com pacifismo. O pacifismo pode, em alguns casos, ser uma rendição ao fascismo, que por sua vez cria a guerra.


A este respeito, não estou satisfeito com certas diretrizes do movimento assumidas pelo Congresso Internacional de Amsterdã contra a guerra e o fascismo, em 1932, porque as suas resoluções, um tanto vagas, estão a originar dúvidas sobre a questão das táticas contra a guerra. Neste momento, a opinião dos pacifistas franceses e de muitos amigos da URSS, com um espírito socialista e quase comunista, é confusa. Choca-se com a aliança militar entre a URSS e o governo da democracia imperialista francesa.


Isto causa confusão na mente. Esta é uma das grandes questões das táticas dialéticas e revolucionárias a ser esclarecida. E isto deve ser feito em público, com toda a franqueza e clareza possíveis.


Estas são as principais coisas que tenho a dizer. Peço desculpas por ter falado muito.


Stalin: Não, não! Estou muito contente por tê-lo ouvido. Estou inteiramente à sua disposição. Agora, se posso responder, deixe-me fazê-lo em todos os pontos.


Em primeiro lugar, sobre a questão da guerra. Em que condições concluímos o nosso acordo com a França no domínio da ajuda mútua?


Hoje, na Europa, em todo o mundo capitalista, surgiram dois sistemas de Estado: um sistema de Estados fascistas, onde tudo o que está vivo é suprimido por meios mecânicos, onde a classe operária e o seu pensamento são reprimidos por meios mecânicos, onde não se pode respirar; e outro sistema de Estado, constituído pelos resquícios dos velhos tempos, o sistema dos Estados democráticos burgueses.


Estes também estariam dispostos a sufocar o movimento dos trabalhadores, mas fazem-no por outros meios: ainda têm um Parlamento, alguma imprensa livre, partidos legais, etc.

Há uma diferença! É verdade que essas democracias também praticam limitações de liberdades; mas, ainda assim, permanece um certo grau de liberdade e pode-se, mais ou menos, respirar. Entre os dois sistemas trava-se uma luta internacional.


E vemos que essa luta se está a tornar mais acirrada de dia para dia. Uma questão se coloca: nestas circunstâncias, deveria o governo do Estado dos trabalhadores permanecer neutral e não se envolver de forma alguma? – Não! Deve envolver-se, porque permanecer neutral tornaria mais fácil aos fascistas alcançarem a vitória; e a vitória dos fascistas é uma ameaça à URSS e, portanto, uma ameaça à classe operária de todo o mundo.


Mas se o governo da URSS se envolver na luta, em que lado deve alinhar?


Naturalmente, ao lado dos governos democráticos burgueses, que não tentam romper a paz. Portanto, a URSS está interessada em que a França esteja bem armada contra possíveis ataques dos Estados agressores fascistas.


Ao envolvermo-nos, estamos a situar-nos na balança da luta entre o fascismo e o antifascismo, entre a agressão e a não agressão; mais um peso que inclina a balança para o lado do antifascismo e da não agressão. Essa é a base do nosso acordo com a França.


Estou a falar do ponto de vista da URSS como um Estado. Mas deveria o Partido Comunista da França assumir a mesma posição sobre a questão da guerra? – Eu acho que não! Na França, não está no poder. Na França, os capitalistas e os imperialistas estão no poder; o Partido Comunista Francês é apenas um pequeno grupo de oposição.


Existe uma garantia de que a burguesia francesa não usará o exército contra a classe operária francesa? Certamente que não.


A URSS tem um acordo com a França para assistência mútua contra um agressor, contra um ataque de fora. Mas este não é, e não pode ser, um acordo que assegure que o governo francês não usará o seu exército contra a classe operária francesa.


Como vê, a situação do Partido Comunista da URSS não é a mesma do Partido Comunista em França. É evidente que a posição do Partido Comunista na França não pode coincidir com a do Partido Comunista da URSS, que está no poder.


É por isso que compreendo que a posição do Partido Comunista Francês deva, no seu âmago, permanecer a mesma que era antes do acordo da URSS com a França. Porém, isto não significa que, se apesar dos esforços dos comunistas, a guerra for imposta, os comunistas devam boicotar a guerra, sabotar o trabalho nas fábricas, etc.


Nós, bolcheviques, embora fôssemos contra a guerra e pela derrota do governo czarista, nunca rejeitámos as armas. Nunca apoiámos a sabotagem do trabalho nas fábricas ou do boicote à guerra. Ao contrário, quando a guerra se tornou inevitável, entrámos para o exército, aprendemos a atirar, a usar as armas; e, então, dirigimos essas armas contra os nossos inimigos de classe.


Quanto à questão de saber se é permitido à URSS concluir acordos com Estados burgueses, esta questão foi resolvida de forma positiva quando Lenin estava vivo e por sua iniciativa. Trotsky, então, foi um grande defensor desta solução; mas agora ele, obviamente, esqueceu-se disso ...


Disse que deveríamos guiar os nossos amigos no Ocidente. Devo dizer que temos medo de assumir tal tarefa. Não devemos ser nós a guiá-los, porque é difícil estabelecer diretrizes para homens que vivem num ambiente e sob condições totalmente diferentes.


Cada país tem as suas próprias condições; e dirigir essas outras pessoas de Moscou seria muito pretensioso da nossa parte. Nós limitamo-nos a dar sugestões mais gerais. De contrário, assumiríamos uma responsabilidade que não seríamos capazes de concretizar.

Nós próprios experimentámos o que acontece quando os estrangeiros lideram de longe. Antes da guerra – ou melhor, no início do século –, a social-democracia alemã era o centro da Internacional social-democrata, e nós, os russos, os seus discípulos. Nessa altura, eles tentaram liderar-nos.


E se lhes tivéssemos dado a oportunidade de nos liderar, não teríamos tido, certamente, o Partido Bolchevique ou a Revolução de 1905; portanto, também não teríamos tido a Revolução de 1917. A classe operária de cada país deve ter os seus próprios líderes comunistas. De outra forma, é impossível liderar.


Certamente, se os nossos amigos no Ocidente estão mal informados sobre as razões dos atos do governo soviético e se, muitas vezes, não sabem como responder aos nossos inimigos, isto significa que os nossos amigos também não sabem como se armar melhor do que os nossos inimigos. Isto também significa que não estamos a armar suficientemente os nossos amigos. Tentaremos remediar isso.


Diz que os nossos inimigos estão a lançar muitas calúnias e grosserias contra o povo soviético, sem a nossa refutação. Isto é verdade.


Os inimigos da URSS têm inventado todo o tipo de disparates e calúnias. Às vezes ficamos constrangidos em refutá-los, tão fantásticos e tão obviamente absurdos eles são. Escrevem, por exemplo, que marchei com o Exército Vermelho contra Voroshilov, que o matei; e seis meses depois, esqueceram o que disseram e escreveram no mesmo jornal que Voroshilov marchou com o Exército Vermelho contra mim e me matou – e, a isso, acrescentaram mais tarde que Voroshilov e eu tínhamos chegado a um acordo ... Há aqui uma razão para refutar tudo isto?


Romain Rolland: Mas é precisamente a completa ausência de refutações e explicações que encoraja este estúpido clamor e lhes permite que espalhem as suas calúnias.


Stalin: Talvez. Pode ter razão. Certamente, poderíamos reagir de forma mais agressiva contra esse clamor.


Agora, deixe-me responder às suas observações acerca da lei sobre a punição de crianças a partir dos doze anos. Este decreto tem um sentido puramente pedagógico. Quisemos criar-lhes receio, não só às crianças criminosas (bandidos), mas principalmente aos organizadores deste banditismo entre as crianças. É preciso saber que, nas nossas escolas, descobrimos grupos de 12-15 crianças bandidos, rapazes e raparigas, que tentam matar ou corromper os melhores estudantes, os shock-workers.

Nalguns casos, esses grupos atraem meninas para as casas de adultos, fazem-nas beber e introduzem-nas na prostituição.


Noutros casos, os rapazes que aprendiam bem na escola e eram shock-workers foram afogados em poços, ou injuriados, ou de alguma forma aterrorizados.


Descobriu-se que esses grupos de pequenos bandidos eram organizados e liderados por bandidos adultos. É claro que o governo soviético não poderia ignorar esses crimes. O decreto foi publicado para assustar e desorganizar os bandidos adultos e proteger deles as nossas crianças. Em simultâneo, outro decreto proíbe a venda, compra e posse de facas e adagas finlandesas.


Romain Rolland: Mas por que não publica esses fatos? Dessa forma, é possível entender as razões do seu decreto.


Stalin: Isso não é tão simples quanto pensa. Na URSS ainda existem muitas pessoas corruptas, polícias, funcionários czaristas, os seus filhos e parentes, etc. Estas pessoas não estão acostumadas a trabalhar, têm raiva e são um solo fértil para todo o tipo de crimes. Tememos que, para esses elementos, retirados de seu ambiente normal, a publicação desses atos ilegais e crimes de jovens bandidos possam ter um efeito contagioso e os empurre para crimes semelhantes.


Além disso, poderíamos ter explicado publicamente que o nosso decreto foi feito com um intuito pedagógico (preventivo), para amedrontar os criminosos? Claro que não poderíamos fazer isso, porque, nesse caso, a lei teria perdido toda a força aos olhos dos criminosos.


Romain Rolland: Isso é correto. Não poderia fazer isso.


Stalin: Devo acrescentar que, até agora, não houve um único caso de aplicação dos mais severos artigos deste decreto sobre crianças criminosas; e esperamos que não haja nenhum.

Pergunta por que não julgamos os criminosos terroristas em público.


Veja, por exemplo, o caso do assassinato de Kirov. Talvez aqui tenhamos sido instigados, de facto, pelo sentimento de ódio que surgiu em nós contra os assassinos. Kirov era um grande homem.


Os assassinos de Kirov cometeram o mais hediondo dos crimes. Não podíamos ignorar a emoção de tal crime.


Na verdade, as cem pessoas que fuzilámos não tinham uma relação direta com os assassinos de Kirov de um ponto de vista jurídico.


Mas eles foram enviados da Polônia, Alemanha e Finlândia pelos nossos inimigos; todos estavam armados e encarregados de realizar atos de terrorismo contra os dirigentes da URSS e, entre eles, o camarada Kirov. Essas cem pessoas, russos da guarda branca, nem pensaram em negar as suas intenções terroristas perante o tribunal militar.


Sim, disseram muitos deles, nós queríamos e queremos eliminar os líderes soviéticos; não temos de falar convosco; fuzilem-nos se não querem que vos eliminemos!


Pareceu-nos que seria dar demasiada honra a esses senhores examinar os seus crimes perante um tribunal público, com a ajuda de defensores. Sabíamos que, após o abominável assassinato de Kirov, os criminosos terroristas tentariam realizar os seus celerados planos contra os outros líderes.


Para os evitar, assumimos a desagradável obrigação de fuzilar esses senhores. Tal é a lógica do poder. Nestes casos, o poder deve ser forte, firme e destemido. Ou, então, não é um poder, não pode ser reconhecido como um poder.


Os Communards franceses [6] não entenderam isso; foram, evidentemente, demasiado moles e indecisos: foi por isso que Karl Marx os criticou. E foi por isso que perderam e os burgueses franceses não os pouparam. Essa foi uma lição para nós.


Depois de termos aplicado a pena suprema pelo assassinato de Kirov, não queríamos ter de a aplicar novamente no futuro. Mas, infelizmente, isso não depende inteiramente de nós.

Considere também que temos amigos, não só no Ocidente, mas também na URSS e, enquanto os nossos amigos no Ocidente nos recomendam a máxima indulgência para com os inimigos, os nossos amigos na URSS exigem firmeza; eles exigem, por exemplo, que Zinoviev e Kamenev sejam fuzilados, pois foram os inspiradores do assassinato de Kirov. Também não podemos ignorar isso.


Gostaria de chamar a sua atenção para o seguinte. Os operários no Ocidente trabalham oito, dez e doze horas por dia. Têm uma família, um cônjuge e filhos; têm de prover à sua subsistência. Não têm tempo para ler livros e extrair deles regras de conduta.


Eles não acreditam muito nos livros, porque sabem que os escritores burgueses enganam-nos muitas vezes. É por isso que eles só acreditam nos factos, só nos factos que eles próprios veem e podem tocar com os dedos.


E eis que esses trabalhadores veem que no Leste da Europa apareceu um novo Estado, um Estado operário e camponês, onde não há mais lugar para os capitalistas e os latifundiários, onde reina o trabalho e onde os trabalhadores gozam de honras sem precedentes.


A partir disso, os operários concluem: - “Pode-se, pois, viver sem exploradores. Então, a vitória do socialismo é inteiramente possível”. – Este facto, o facto da existência da URSS, é crucial para revolucionar os operários em todos os países do mundo.


Os burgueses de todos os países sabem isso e odeiam a URSS com um ódio bestial.

É precisamente por isso que os burgueses no Ocidente gostariam que nós, líderes soviéticos, morrêssemos o mais rápido possível. Eis por que organizam equipas de terroristas e os enviam para a URSS, através da Alemanha, da Polónia, da Finlândia, sem pouparem dinheiro ou outros meios ...


Vejamos: muito recentemente, descobrimos elementos terroristas entre nós, no Kremlin. Temos uma biblioteca do governo e há aí mulheres bibliotecárias que vão às casas dos nossos camaradas responsáveis, no Kremlin, para manter as suas bibliotecas em ordem.

E descobrimos que algumas destas bibliotecárias foram recrutados pelos nossos inimigos para realizar atos terroristas! É preciso dizer que a maioria dessas mulheres são provenientes de classes da burguesia e dos latifundiários, classes que antes governavam e hoje estão esmagadas.


Descobrimos agora que essas mulheres andavam com veneno e pretendiam envenenar alguns dos nossos camaradas! Naturalmente, prendemo-las; não quisemos fuzilá-las, mas isolámo-las. Este é mais um facto que mostra a ferocidade dos nossos inimigos e a necessidade de os homens soviéticos serem vigilantes.


Bem vê: a burguesia luta ferozmente contra os sovietes; e depois, na sua imprensa, grita contra a ferocidade dos homens soviéticos. Por um lado, envia terroristas, assassinos, bandidos e envenenadores contra nós; e, por outro lado, escreve artigos sobre a desumanidade dos bolcheviques ...


Quanto a Victor Serge, não o conheço e não tenho a possibilidade de o informar imediatamente.


Romain Rolland: Disseram-me que foi processado por trotskismo.


Stalin: Sim, agora me lembro ... Ele não é apenas um trotskista; é um traiçoeiro, um homem desonesto.


Tentou minar o poder soviético, mas não o conseguiu. Os trotskistas estão a iniciar um debate sobre ele, no Congresso da Defesa da Cultura, em Paris.


Atualmente, Victor Serge está livre, em Orenbourg, e creio que lá trabalha. É claro que não foi vítima de qualquer tortura, ou abuso, etc. Tudo isso são disparates! Não temos necessidade dele e podemos deixá-lo ir para a Europa a qualquer momento.


Romain Rolland: Disseram-me que Orenbourg é uma espécie de deserto.


Stalin: Não é um deserto, mas uma bela cidade. Eu passei quatro anos no exílio, num deserto, na região de Turukhan. Há lá temperaturas negativas de 50 a 60 graus…. E então! eu suportei-as!


Romain Rolland: Gostaria ainda de lhe dizer mais duas palavras sobre outro tema que, para nós, a intelectualidade do Ocidente, e especialmente para mim, é de uma muito particular importância: - é sobre o novo humanismo, que o camarada Stalin anunciou quando, num belo e recente discurso, lembrou que o mais precioso e decisivo de todos os capitais existentes no mundo são os homens.


O homem novo e a nova cultura que dele resulta. Nada pode conquistar melhor o espírito do mundo para os objetivos da Revolução do que oferecer-lhe estes grandes novos caminhos do humanismo proletário, esta síntese das forças do espírito humano.


Da herança de Marx e Engels, a parte intelectual, o enriquecimento do espírito de descoberta e de criação é, talvez, o menos conhecido no Ocidente; e isso é, no entanto, o que é chamado a ter mais efeito sobre os povos de cultura desenvolvida, como os nossos.


Fico feliz por constatar que, nestes últimos tempos, a nossa jovem intelectualidade começa a adquirir um conhecimento mais exato e mais íntimo do Marxismo.


Até hoje, os professores e os historiadores tentaram manter na sombra ou desacreditar a doutrina de Marx e Engels.


Mas hoje, desenha-se uma nova tendência, mesmo nas universidades de prestígio. Acaba de aparecer uma muito interessante coleção de conferências e discussões, com o título “À luz do marxismo” e sob a direção do professor Wallon da Sorbonne: o principal tema deste livro é o papel do Marxismo no pensamento científico de hoje.


Se tal movimento se desenvolver, como espero, e se soubermos, desta forma, propagar e popularizar as ideias de Marx e Engels, isso repercutir-se-á muito profundamente na ideologia de nossa intelectualidade.


Stalin: O nosso objetivo final, o objetivo dos Marxistas, é libertar os homens da exploração e da opressão e, assim, tornar o indivíduo livre. O capitalismo, que envolve o homem nas redes da exploração, priva o indivíduo desta liberdade.


Sob o capitalismo, só as pessoas de exceção, as mais ricas, se podem tornar mais ou menos livres. A maioria das pessoas, sob o capitalismo, não pode desfrutar de uma liberdade pessoal.


Romain Rolland: Isso é uma evidência.


Stalin: Ao quebrar as cadeias da exploração, libertaremos o indivíduo. Como o disse muito bem Engels, no Anti-Dühring, o comunismo, quando tiver quebrado as cadeias da exploração, far-nos-á passar, num salto, do reino da necessidade para o reino da liberdade.


A nossa tarefa é libertar o indivíduo, desenvolver as suas capacidades, reavivar nele o amor e o apreço pelo trabalho. Atualmente, no nosso país, criam-se condições de vida inteiramente novas, surge um tipo de homem completamente novo, o tipo de homem que ama e respeita o trabalho.


Na nossa casa, odiamos os ociosos e os indolentes; nas fábricas, são embalados em sacos (literalmente “em pedaços de 'rogoja' [esteiras]”) e levados para fora em carrinhos de mão. O respeito pelo trabalho, o amor ao trabalho, o trabalho criativo, o “trabalho de choque” – eis o tom predominante das nossas vidas.


Os oudarnikis [heróis do trabalho] são aqueles que são amados e estimados; em redor deles concentra-se, atualmente, a nossa nova vida, a nossa nova cultura.

Romain Rolland (levantando-se): Muito bem. – Lamento tê-lo retido tanto tempo.


Stalin: O que está a dizer! O que está a dizer!


Romain Rolland: Agradeço muito ter-me dado a possibilidade de falar consigo.


Stalin: O seu agradecimento deixa-me um tanto confuso. Normalmente, ficamos reconhecidos às pessoas de quem não se espera nada de bom. Pensou que eu não seria capaz de o receber suficientemente bem?


Romain Rolland: Francamente, posso dizer-lhe que não estou acostumado a isso. Em nenhum lugar fui tão bem recebido como em Moscou.


Stalin: Planeia estar com Gorky amanhã, dia 29?


Romain Rolland: Combinámos que, amanhã, Gorky viria a Moscou. Iremos à sua datcha; e, mais tarde, talvez aceite a sua oferta de ficar também um pouco na sua datcha.


Stalin (sorrindo): Não tenho nenhuma datcha. Nós, os líderes soviéticos, não temos datchas nossas. É apenas uma das muitas datchas de reserva que são propriedade do Estado. Não sou eu que lhe ofereço essa datcha, é o governo soviético, isto é: Molotov, Voroshilov, Kaganovich e eu. Ficaria lá muito sossegado, não há autocarros, elétricos nem comboios. Poderia aí repousar bem. A datcha está sempre à sua disposição. E, se o desejar, pode desfrutar dela sem receio de incomodar alguém. Vai participar no festival da Cultura Física, no dia 30?


Romain Rolland: Sim, desejo participar. Pedir-lhe-ei que me dê essa oportunidade. – E talvez me permita esperar que, quando estiver na datcha de Gorky, ou na datcha que amavelmente me ofereceu, o possa ver aí ainda mais uma vez e conversar consigo.


Stalin: Sim, claro. Quando o desejar, estou à sua inteira disposição e terei todo o prazer em ir ter consigo à datcha. E a oportunidade de assistir ao desfile será garantida.



Registro da entrevista do escritor francês Romain Rolland com J.V. Stalin em 28 de junho de 1935



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