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REIMPRESSÕES

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Kalinin: "O Estudo e a Vida"


O Trabalho Revolucionário e a Escola Teórica Na atualidade, atravessamos um período sumamente complexo. Cada ano nossa vida se complica mais e mais. Em nossa edificação soviética são necessárias forças cada vez mais qualificadas. Agora, já se torna sumamente difícil abordar dum modo primário os problemas sociais. Pelo contrário, a dialética marxista nos ensina que o que ontem era preto, hoje se tornou branco. E o que ontem era vermelho, hoje se tomou branco. Em cada ocasião, é necessário saber focalizar de forma profunda, marxista, cada problema social. É necessário saber abarcar o objeto em seu conjunto e ao mesmo tempo saber analisar todo o seu conteúdo interno. Compreende-se que para abarcar o objeto em seu conjunto e analisar-lhe o conteúdo, torna-se necessário possuir previamente uma ampla preparação marxista. E essa preparação marxista será tanto mais necessária quando a pessoa não tenha realizado antes um grande trabalho prático. Assim, pois, agora, tanto a edificação soviética como o trabalho do Partido estão profundamente necessitados de trabalhadores muito qualificados. Nossa União Soviética, pela educação política, pela atividade política das massas e pelo seu profundo espírito político, está, diria eu, certamente mais adiantada do que todos os países europeus e de outros continentes. Isto é algo de que não cabe duvidar, mas o auge da atividade política não basta por si só para uma edificação sistemática, regular e de enormes proporções. É indubitável que nossa tarefa deve ser a seguinte: utilizar a atividade das massas e seu desejo de orientar-se na política em um sentido cultural e de partido. Nos momentos de ascensão como ocorre agora com a greve inglesa, cada operário, que ontem era um homem comum e corrente, transforma-se em herói que luta pelos interesses operários; e o entusiasmo das massas vai criando cada vez novos heróis na luta pelos interesses dessas massas. Mas, camaradas, o ritmo do movimento progressivo nem sempre é rápido. Com grande frequência temos que retroceder e nos anos comuns, o habitual trabalho de cada dia ocupa os 99% da vida da pessoa. O que é mais apreciado num dirigente do Partido é que saiba trabalhar com entusiasmo na situação comum e corrente de cada dia, que saiba ir vencendo dia a dia um obstáculo após outro, que os obstáculos que a vida prática coloca diante dele a cada dia e a cada hora não possam extinguir-lhe o entusiasmo, que esses prosaicos obstáculos de cada dia desenvolvam e revigorem sua energia, que saiba ver nesse trabalho diário os objetivos finais e nunca perca de vista esses objetivos finais pelos quais luta o comunismo. O Partido, nosso Estado-Maior — no mais amplo sentido da palavra — no qual também vós ides trabalhar, não deve esquecer em seu trabalho cotidiano esses objetivos finais. E sejam da natureza que forem os obstáculos que encontre em seu caminho, sabe ele firmemente que se esses obstáculos não são vencidos hoje, sê-lo-ão amanhã. E é necessário que no trabalho prático diário e com exemplos concretos, saiba transmitir e inculcar na consciência das amplas massas de camponeses e operários sem partido essa sua profunda convicção da vitória final do comunismo. O operário (e o mesmo sucede convosco, vossos professores e dirigentes) só aprecia o dirigente que se inflama com as massas que, inflamando-se ele mesmo, inculca esse ardor à consciência da massa no seio da qual atua. Por isso, camaradas, para trabalhar no Partido, onde o próprio trabalho adquire um certo grau de heroísmo, para encontrar alegria nesse trabalho e achar interesse nele, cumpre estar profundamente convencido da beleza e da razão dos princípios pelos quais lutamos. E quem pode estar mais convencido da razão desses princípios e dessas ideias que o marxismo ensina, senão aqueles que o estudaram durante três anos?...

O Marxismo e sua Aplicação Ser marxista não significa somente ler e nem sequer estudar Lenin, Marx, Engels e Plekhanov. É certo que para conhecer o marxismo basta ler esses quatro autores. Mas uma coisa é conhecer o marxismo e outra saber aplicá-lo cada dia, cada hora, nas situações mais diversas, especiais e inusitadas. O conhecimento textual do marxismo, conhecer Marx ao pé da letra, não significa ainda que a pessoa seja capaz de abordar cada problema sob o ponto de vista marxista. Se, para ser marxista, bastasse a cada pessoa familiarizar-se com as obras de Marx, Engels, Lenin e Plekhanov, estudá-las mesmo que fosse um pouco, poderíamos fabricar marxistas como tortas. Por muito difícil que seja estudar a fundo os quatro colossos marxistas, isto se pode conseguir dedicando-lhe certo tempo. Acaso não existem numerosos funcionários de nosso Partido que conhecem Marx na ponta da língua? O marxismo — seu método, sua concepção — não se domina somente estudando as obras dos autores acima enumerados, mas também na marcha histórica dos acontecimentos. O marxismo se comprova realmente na prática. Não fizestes mais do que dominar o método marxista (se é que o conseguistes; a meu ver ainda não o dominastes completamente), mas vos encontrais na mesma situação que um militar que termina a Academia de Estado-Maior. É certo que a maior parte dos chefes militares que existem no mundo procede das academias, mas não se pode dizer que cada militar que tenha terminado a academia seja um grande chefe. Em nosso exército revolucionário as altas patentes não são de acadêmicos. Que significa isto? Que o marxismo é uma das ciências mais vivas e não uma teoria abstrata. Quando se lê o primeiro tomo de “O Capital” de Marx, a gente se encontra em plena abstração. E posto que lestes — ao menos por obrigação — o primeiro tomo de “O Capital” de Marx, tereis sentido essa impressão. E ao encontrar-vos sob o domínio da abstração deveis ter pensado em como poder aplicar essa teoria na prática. Essa abstrata teoria é ao mesmo tempo a mais viva, a teoria que mais se estuda no trabalho prático de cada dia.

O Marxismo e o Trabalho Criador Para ser marxista é preciso impregnar a teoria de vida, é preciso vincular o trabalho cotidiano à teoria. Ser marxista é ser criador. E que quer dizer ser criador? Que diferença há entre o artesão e o criador? A mesma que existe entre um artista e um pintor vulgar. Tomai, por exemplo, os ícones dos pintores Vladímir ou de Súsdal. Todos se parecem entre si; em nenhum deles achareis um rosto animado... Muito diferente é a obra do artista criador. Quando este trabalha põe toda a sua alma, mesmo que seja no trabalho mais simples, mesmo que não faça mais do que tecer alpargatas. O artesão pode ser um magnífico artista quando põe toda a sua alma no trabalho. E por sua vez, o artista pode ser um artesão, quando não faz mais do que besuntar, quando não põe a alma em seu trabalho. E o marxismo, quando não se põe alma no que se faz, quando não se realiza um trabalho criador, quando não se toma realmente em conta o que sucede em cada momento, se converte num quase-marxismo. Se ides aplicar, nos lugares onde atuareis, o que aprendestes, de modo escolástico, em forma estereotipada, não sereis mais do que uns artesãos do leninismo. Nunca conseguireis arrastar as massas e a aplicação que façais do método marxista será errônea. O método marxista se emprega com acerto, quando, ao mesmo tempo que trabalhamos com a teoria de Marx, estudamos o fenômeno que nos ocupa. E a decisão que tomemos será em cada caso uma decisão nova. Se hoje resolvemos um problema de uma forma, esse mesmo problema teremos que resolvê-lo amanhã de outro modo, pois amanhã a situação será diferente. As situações mudam sem cessar. A História marcha. A História não está parada, mas se move eternamente para a frente. E o marxismo deve avançar constantemente junto com o movimento histórico. O marxista deve saber orientar-se com precisão. Por muito simples que seja seu trabalho, a mente do marxista deve mover-se, estudar e criar sem descanso. Vós, camaradas, acabais de terminar um curso trienal de marxismo. É completamente natural que todos vos encontreis no melhor estado de ânimo possível, dispostos a fazer com que vosso trabalho renda o máximo resultado. Pois, que melhor recompensa para o homem do que a convicção de haver contribuído com algo para a sociedade! Não existe recompensa melhor! Por mais formosas que sejam as ilusões que tenhais, a satisfação maior que podeis receber é a de saber que sois úteis. Essa convicção satisfaz plenamente o homem. Entretanto, a juventude não pode ter passado pela experiência prática da vida, pela experiência política da luta revolucionária, pela experiência da luta entre as classes, pela experiência de direção, de conquista das massas. A juventude não possui essa experiência. Desejaria que tivésseis essa convicção, a convicção de que para dirigir as massas é preciso inflamar-se, de que se alguém se apresenta ante um auditório sem sentir-se emocionado, com vontade de dormir, é indubitável que o auditório sintonizará com esse estado de ânimo. Digo-vos com franqueza que não há nada mais sensível do que o auditório; este é o barômetro mais sensível. Podeis falar da tribuna com uma linguagem balbuciante, mas se vos sentis emocionados, se os problemas que levantais têm importância e se na tribuna resolveis um problema, a massa também se sentirá inflamada. O que é que isto significa? Isto significa que para ganhar as massas é preciso inflamar-se com elas.

Do Trabalho Entre as Massas E por último, camaradas, um pequeno preceito para terminar. Não cabe dúvida de que constituis e sereis uma força cultural nos lugares onde vos encontrardes. Agora, nossa União Soviética é grande, nosso Partido começa já a passar do milhão e nesse Partido numeroso, como em todo o nosso país, a cultura é ainda muito débil. Por isso, quando começardes a trabalhar, jamais deveis alardear ante as massas vossa instrução. Não o façais nunca. Nesse sentido a massa é muito sensível. Só se pode falar às massas quando se fala aberta, francamente, e com a ideia de que se trata de pessoas de tanto senso comum como nós e que podem resolver um problema com a mesma sensatez que o próprio informante e autor. Estas são as poucas palavras que considerei oportuno expor no dia em que vos despedis de vossa vida de estudo.

Do discurso pronunciado por M. I. Kalinin na colação de Grau dos estudantes da Universidade Sverdlov. “Izvéstia”, (“As Notícias’’), 27 de junho de 1926.

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