"Partido Comunista francês e Argélia: exemplo de social-chauvinismo"
De acordo com o internacionalismo proletário, o proletariado e os comunistas das nações opressoras devem apoiar ativamente tanto o direito das nações oprimidas à independência nacional quanto as suas lutas de libertação. Com o apoio das nações oprimidas, o proletariado das nações opressoras será mais capaz de vencer sua revolução.
Lenin acertou em cheio quando ele disse:
“O movimento revolucionário nos países avançados na verdade seria uma fraude completa, se em sua luta contra o capital, os trabalhadores da Europa e da América não estivessem intimamente e completamente unidos com as centenas de centenas de milhões de escravos coloniais que são oprimidos pelo capital”[1]
No entanto, alguns autodeclarados marxista-leninistas abandonaram o marxismo-leninismo nessa questão que se trata de um princípio fundamental. Os líderes do Partido Comunista Francês são típicos a esse respeito.
Durante um longo período de tempo, os líderes do PCF abandonaram a luta contra o imperialismo americano, se recusando a travar uma luta contra o controle e restrições do Imperialismo dos Estados Unidos nos aspectos políticos, econômicos e militares e entregando a bandeira da luta nacional francesa contra os Estados Unidos a pessoas como De Gaulle; por outro lado, eles têm usado vários mecanismos e desculpas para defender os interesses coloniais dos imperialistas franceses, se recusaram a apoiar, e com certeza se opuseram a eles, movimentos de libertação nacional em colônias francesas, e particularmente se opuseram a guerras revolucionárias de caráter nacional; afundaram no pântano do chauvinismo.
Lenin disse “Europeus frequentemente se esquecem que os povos coloniais são também nações, mas tolerar tal ‘’esquecimento” significa tolerar o chauvinismo”[2]. Ainda assim, a liderança do Partido Comunista Francês, representado pelo Camarada Thorez, não apenas tolerou esse “esquecimento”, mas abertamente se referia aos povos das colônias francesas como ‘’franceses naturalizados”[3], se recusaram a reconhecer seu direito à independência nacional em se dissociar da França e publicamente apoiaram a política de “assimilação nacional” aplicada pelos imperialistas franceses.
Nos últimos dez anos no mínimo, os líderes do PCF seguiram a política colonial dos imperialistas franceses e serviram como instrumentos do capital monopolista francês. Em 1946 quando as classes dominantes dos monopólios capitalistas franceses usaram um truque neocolonialista, ao propor formar uma “União Francesa”, eles seguiram o exemplo e clamaram que “nós sempre prevíamos uma União Francesa como uma ‘união livre de povos livres’”[4] e que “a União Francesa irá permitir a regulação, sobre uma nova base, das relações entre o povo da França e os povos estrangeiros que no passado foram anexados à França”[5]. Em 1958, quando a União Francesa ruiu e o Governo Francês propôs o estabelecimento de uma Comunidade Francesa para preservar seu sistema colonial, os líderes do PCF novamente seguiram o exemplo e afirmaram “Acreditamos que a criação de uma comunidade genuína será um evento positivo.”[6].
Além disso, ao se oporem à demanda dos povos das colônias francesas por independência nacional, os líderes do PCF inclusive tentaram intimidá-los, dizendo que “qualquer tentativa de romper com a União Francesa irá levar apenas para o fortalecimento do Imperialismo; ainda que possam conquistar sua independência, será temporária, formal e falsa”. Ainda declararam abertamente:
O problema é se essa independência já inevitável será com a França, ou sem a França e contra a França. O interesse de nosso país requer que a independência seja com a França.[7]
Sobre a questão da Argélia, a posição chauvinista dos líderes do PCF é ainda mais evidente. Recentemente, tentaram se justificar alegando que há muito haviam reconhecido a demanda correta do povo argelino por libertação. Mas quais são os fatos?
Durante muito tempo, os líderes do PCF se recusaram a reconhecer o direito da Argélia à independência nacional; eles seguiram os monopólios capitalistas franceses, bradando que “Argélia é parte inalienável da França”[8] e que a França “deveria ser uma grande potência africana, agora e no futuro”[9]. Thorez e outros estavam mais preocupados com o fato que a Argélia poderia fornecer à França “um milhão de cabeças de ovelhas” e grandes quantidades de trigo por ano para resolver o problema dela de “escassez de carne” e “sanar nosso déficit em grãos”.[10]
Vejam só! O chauvinismo febril por parte dos líderes do PCF! Eles mostram uma vírgula de internacionalismo proletário? Existe algum mínimo de internacionalismo proletário neles? Ao tomarem essa posição chauvinista, eles traíram os interesses fundamentais do proletariado internacional, os interesses essenciais do proletariado francês e os reais interesses da nação francesa.
Notas
[1] V.I Lenin, "O Segundo Congresso da Internacional Comunista", Obras Escolhidas,Moscou, 1952, Vol. II, Parte 2, pp. 472-73.
[2] V.I Lenin, “Sobre uma Caricatura do Marxismo e sobre o ‘Economismo Imperialista’”
[3] Maurice Thorez, Discurso em Argel, fevereiro de 1939.
[4] Léon Feix, Discurso no 15º Congresso do Partido Comunista da França, junho de 1959
[5] Maurice Thorez, Discurso na Cerimónia de Abertura da nova legislatura na Escola do Partido do Comitê Central do Partido Comunista da França, 10 de outubro de 1955.
[6] Léon Feix, Discurso no 15º Congresso do Partido Comunista da França, em junho de 1959.
[7] Raymond Barbé, "África Negra na Era da Guinea?",Démocratie Nouvelle do Partido Comunista Francês, Nº 11, de 1958.
[8] Documentos de 24 de setembro de 1946; Sessão da Assembleia Nacional Constituinte de França, Apêndice II, Nº. 1013
[9] Florimond Bonte, Discurso na Assembléia Constituinte de França de 1944.
[10] Maurice Thorez, Relatório ao X Congresso do Partido Comunista da França de 1945.
Trecho retirado de “Apologistas do neocolonialismo?”,
Quarto Comentário sobre a Carta Aberta do Comitê Central do PCUS
Publicado pelos departamentos editoriais do Renmin Ribao (Diário do Povo)
e Hongqi (Bandeira Vermelha), em 22 de Outubro de 1963
Tradução de Gabriel Duccini