"O Papel e Significância da Revolução Colonial na nova onda de revoluções e guerras"
Publicamos agora, em quatro partes, a tradução do importante documento "The Revolutionary Movement in the Colonial Countries" de Wang Ming. Na sua introdução, o autor apresenta o trabalho como as seguintes palavras: "O relatório sobre a ofensiva fascista e as tarefas da Internacional Comunista na luta pela unidade da classe trabalhadora contra o fascismo foi feito em nosso histórico Sétimo Congresso por um companheiro cuja voz capta a atenção de milhões de trabalhadores, comunistas, bem como socialistas e desorganizados, e pelos melhores e mais importantes intelectuais de todo o mundo. Este relatório foi feito por alguém cuja histórica vitória no julgamento de Leipzig é uma personificação viva do poder de luta da frente unida da classe trabalhadora na luta contra o fascismo, e ao mesmo tempo é uma prova indiscutível da fraqueza e instabilidade do regime de Hitler – pelo nosso amado camarada Dimitrov. Neste panfleto, irei me aprofundar nas questões do movimento revolucionário nos países coloniais e semicoloniais – particularmente na China e na Índia – bem como nas táticas dos nossos Partidos Comunistas, e tentarei lidar explicitamente com essa parte do relatório do camarada Dimitrov, que trata esses assuntos".
O Movimento Revolucionário nos Países Coloniais
IV. O PAPEL E SIGNIFICÂNCIA DA REVOLUÇÃO COLONIAL NA NOVA ONDA DE REVOLUÇÕES E GUERRAS
Enquanto nas vésperas e mesmo durante a Primeira Guerra Mundial imperialista as colônias e semicolônias serviram principalmente como objetos de partilha entre os imperialistas e atuaram para as matrizes como reservas de matéria prima, gêneros alimentícios, mão de obra e reforços militares, o problema é completamente diferente agora, nas vésperas e no período da nova onda de revoluções e guerras. Sob a influência da grande Revolução de Outubro e da vitória do socialismo na URSS, sob a influência da crise geral do capitalismo e da crise econômica mundial, e como resultado da relação alterada das forças de classe e do crescimento do proletariado e dos partidos comunistas, os povos coloniais e semicoloniais irão preencher e estão preenchendo um papel histórico importante na grande luta da humanidade pela derrubada do imperialismo e vitória da revolução socialista internacional.
Como prova disto, tomemos as greves da classe trabalhadora ao redor do mundo. De acordo com os dados estatísticos verificados, quase cinquenta por cento da participação em greves durante os anos recentes foram de trabalhadores do Oriente e da América Latina. Para prova-lo, podemos considerar a luta camponesa. Mesmo que em muitos grandes países capitalistas seja recente a inserção dos camponeses numa luta parcial contra o monopólio imperialista, contra a escravização dos bancos e contra os governos burgueses, os camponeses em muitos países coloniais e semicolônias, por conta de sua tripla exploração e opressão pelos imperialistas, latifundiários e capitalistas, estão constantemente sublevando-se em luta armada em defesa de seus interesses vitais e constituem a força motora imediata da revolução anti-imperialista e agrária. Para prova-lo, podemos tomar a revolução soviete na China, que hoje se tornou já um dos fatores decisivos no movimento revolucionário mundial e que no seu desenvolvimento contínuo não poderá senão destruir a fundação do imperialismo mundial. Como prova, podemos citar o papel da revolução indiana, cujo desenrolar vitorioso não poderá senão conduzir a queda do imperialismo britânico.
Devemos, ainda assim, mencionar o fato que nem todos os comunistas compreendem de forma correta e reconhecem o papel importante das revoluções coloniais. Isto é claramente demonstrado na atitude de nossos partidos irmãos em países capitalistas frente à revolução chinesa. Mostram os fatos que, com a exceção de nosso partido irmão japonês, que está lutando heroicamente com seu máximo poder contra o imperialismo japonês e pela defesa do povo chinês, e do partido irmão americano, que começou – mesmo que apenas tenha começado, de qualquer forma, começou – a coletar dinheiro para o Exército Vermelho da China, nossos partidos irmãos, no que concerne o auxílio à Revolução Chinesa, limitaram-se, em certo nível, à agitação e propaganda. Enquanto isso, a Revolução Chinesa precisa de fato de apoio, primariamente pela parte dos trabalhadores de todos os países imperialistas. Em seu informe, o camarada Dimitrov nos assegurou, para o aplauso estrondoso de todo o Congresso, de sua firme determinação para o apoio da luta do povo chinês por sua emancipação de todas as aves de rapina imperialistas e de seus agentes chineses. O povo chinês tem o direito de esperar medidas práticas do proletariado mundial em apoio ao seu movimento de libertação.
Em consonância com isto, eu gostaria de mencionar um ato comovente e proeminente de solidariedade internacional genuína, levado a cabo por nossos heroicos camaradas japoneses a um mês e meio. Em 23 de junho, 1935, na Kirin Oriental, condado de Lin-na, um motorista militar japonês dirigiu um caminhão, carregado com 60 mil balas de metralhadora e de rifle, granadas e bombas, para um ponto solitário de uma montanha onde destacamentos antijaponeses de partidários chineses comumente se escondem. Contudo, apesar de longa busca, não pode achar os partidários. O tiroteio de um destacamento de ataque japonês poderia já estar por perto. Neste momento o motorista japonês cometeu suicídio.
Os partidários chineses repeliram o ataque das tropas japonesas e na manhã de 24 de junho acharam o caminhão com o motorista morto em um caminho da montanha. Em seu bolso acharam uma carta de despedida a eles endereçada. Na carta, escreveu o desconhecido motorista japonês:
“Queridos camaradas do exército popular antijaponês e de todos os destacamentos partidários japoneses:
Eu trouxe-os um pequeno presente – 60 mil balas e muitas granadas e bombas. Eu gostaria muito de ter conversado com vocês pessoalmente sobre o amor sem limites, a solidariedade e o respeito que o Partido Comunista do Japão e os trabalhadores japoneses sentem por vocês – heróis nacionais –, por todo o povo chinês que nos são próximos e queridos e por nosso valioso irmão, Partido Comunista da China, que junto a nós leva a cabo a luta contra os abutres imperialistas japoneses. Eu esperei muito tempo por vocês, mas não posso mais esperar. Já posso ouvir o tiroteio das tropas japonesas se aproximando. Apenas uma coisa me resta fazer sob tais circunstâncias. Não posso e nem irei retornar às tropas japonesas. Decidi me matar e deixa-los este pequenos presente. Não sei, porém, se irão recebe-lo. Espero que sim.
Dou-lhes um aperto de mão
Com saudações camaradas,
Um de seus camaradas comunistas japoneses
23 de Junho de 1935”
Este não é um ato fortuito, é um ato de significância histórica refletindo o amor, respeito e solidariedade mútuos dos dois grandes povos do Extremo Oriente. Sim! Nós, chineses, estamos contra o imperialismo japonês, mas nós amamos o povo japonês. Somos contra o imperialismo japonês porque ele oprime, explora e nos aniquila, o povo chinês, mas amamos o povo japonês porque o povo japonês é o mais próximo de nós, o povo chinês, no que diz respeito à história e cultura, o mais proximamente irmanado no que concerne à compreensão mútua e respeito. Amamos o povo japonês porque junto conosco ele leva à cabo uma luta contra um único inimigo comum: o imperialismo japonês.
Sim! Este foi apenas um de nossos heroicos camaradas comunistas japoneses. Devem haver muitos destes heróis do internacionalismo revolucionário nos partidos do Japão e em outros. E cada um desses heróis é digno da admiração e respeito dos revolucionários e das melhores mentes de nosso mundo.
Glória eterna ao nosso herói imortal, o camarada japonês desconhecido!
Glória ao heroico Partido Comunista do Japão que criou em suas linhas tal heroico combatente do internacionalismo revolucionário!
Glória à heroica classe trabalhadora japonesa e aos trabalhadores japoneses que são capazes de produzir este grande filho de quem o mundo inteiro pode se orgulhar!
Glória à nossa Internacional Comunista Leninista-Stalinista! Apenas em suas linhas poderia um verdadeiro grande herói, que não poupou sua própria vida pela causa da revolução mundial, ser forjado e temperado!
Já apontei que nem todos os comunistas compreendem corretamente e estimam corretamente o papel e significância das revoluções coloniais. Isto é demonstrado pelo fato de certos comunistas que trabalham em países capitalistas considerarem as revoluções coloniais como algo estranho ou, na melhor das hipóteses, insignificantes, forças auxiliares da revolução mundial. Isto é uma concepção completamente errada do papel e significância das revoluções coloniais da nova época – a época da revolução proletária mundial, da qual uma das partes componentes, de acordo com Lenin e Stalin, é a revolução colonial.
Camaradas comunistas e trabalhadores social-democratas! O problema das revoluções coloniais é importante não apenas porque os povos de países coloniais e semicoloniais constituem uma absoluta da humanidade; este problema é importante não apenas porque a maioria dos povos coloniais são verdadeiros trabalhadores; é importante não apenas porque partes de nossa classe trabalhadora e de seus partidos vivem e lutam nestes países. É importante porque os verdadeiros governantes nesses países são os mesmos inimigos do povo contra os quais e pela derrocada dos quais lutamos em nossa pátria. Uma atitude aviltante em relação às revoluções coloniais é uma das questões remanescentes dos desvios social-democratas entre os comunistas e trabalhadores avançados. Devemos decididamente dar fim a isto!
Na séria situação presente da luta de classes internacional nós devemos, a qualquer preço, lutar para estabelecer uma frente mundial de luta revolucionária do proletariado em países capitalistas com os povos oprimidos do mundo colonial inteiro, por uma luta comum contra a frente única contrarrevolucionária do imperialismo e de seus agentes.
Temos todos os pré-requisitos fundamentais para isso. Compartilhamos um inimigo, o imperialismo, temos um único programa e os mesmos objetivos de uma luta pelo socialismo, temos as estratégias e táticas da revolução mundial, temos a mesma fortaleza de luta revolucionária, a URSS, temos o mesmo partido mundial, a Internacional Comunista, e temos o mesmo professor e líder, o grande Stalin!
Devemos sempre nos lembrar do último artigo de Lenin, seu último legado, no qual ele nos deu uma clara avaliação das perspectivas de desenvolvimento do capitalismo pós-guerra, das perspectivas de luta entre capitalismo e socialismo, e, ao mesmo tempo avaliou o papel e significado da revolução colonial na luta decisiva entre os mundos capitalista e socialista. No fim deste artigo, escreveu Lenin:
“O desenlace da luta, em última análise, depende do fato da Rússia, Índia, China etc. constituírem uma enorme maioria da população. E é precisamente esta maioria da população que durante os últimos anos está sendo levada à luta por sua emancipação com rapidez incomum, de tal forma que, neste sentido, não há sombra de dúvida sobre o qual será o resultado da luta mundial. Assim, a vitória final do socialismo está completamente e incondicionalmente garantida”
Sim! A vitória final do socialismo está completamente e incondicionalmente garantida, especialmente agora, quando tanto a classe trabalhadora dos mais importantes países imperialistas e os povos oprimidos do mundo colonial estão se levantando em luta comum contra o fascismo, capitalismo e contra a guerra imperialista, em luta comum pelo poder Soviete e pelo socialismo!
A frente! Erguer mais alto a bandeira de Marx, Engels, Lenin e Stalin! Erguer bem alto a bandeira da Internacional Comunista! A frente para a vitória da revolução socialista mundial!