Colômbia: um fantoche do imperialismo ianque na América do Sul
As classes trabalhadoras colombianas seguem, há quase um mês, mobilizadas em diversas regiões do país, levando a cabo uma greve nacional contra a ordem econômica, política, social e sanitária vigente. A faísca que incendiou as ruas foi a proposta de uma reforma tributária que visava elevar os impostos referentes a artigos e serviços básicos, como água, gás e energia elétrica, numa clara tentativa de elevar ainda mais os níveis de superexploração contra os trabalhadores. As políticas e práticas criminosas das classes dominantes locais - que respondem diretamente aos interesses do imperialismo ianque - vêm empurrando, ano após ano, as classes trabalhadoras colombianas em direção à miséria e as mais diversas mazelas, imprimindo a violência reacionária como um dos principais meios para manutenção de seus interesses.
A resposta da burguesia burocrática que governa o país, encabeçada pelo presidente Ivan Duque, foi a de utilizar toda a capacidade das forças armadas para reprimir brutalmente os protestos. A violência reacionária já causou, desde o início das mobilizações populares – no fim do mês de abril –, mais de 50 assassinatos, deixou mais de 520 desaparecidos, mais de 1600 feridos, prendeu mais de 1430 pessoas, além de terem sido registrados mais de 21 casos de abusos sexuais contra mulheres. O uso indiscriminado de armas letais e “não-letais” são vistos em diversos vídeos disparados nas redes sociais por cidadãos colombianos, registrando diversas execuções sumárias contra manifestantes, diversas emboscadas e ataques promovidos pelo braço armado do estado. O Estado colombiano, que conta com um moderno arsenal militar, tem utilizado dessa capacidade para cometer os mais hediondos crimes contra seu povo. O uso do sistema de lançamento de projéteis “Venom”, por exemplo, é alvo de críticas das mais diversas organizações populares e de defensores dos direitos humanos, apontando que a utilização dessas armas, que podem espalhar grandes quantidades de produtos químicos sobre uma ampla área em pouco tempo, é extremamente perigosa, podendo causar graves problemas respiratórios – num momento em que a Covid-19 ceifa vidas de pessoas por todo o planeta –, ou ainda, quando lançados diretamente contra as pessoas, pode matar.
O poderio bélico e de pessoal militar que dispõe o Estado colombiano é fruto de diversos acordos entre as oligarquias locais e o capital monopolista, principalmente ianque, que transformaram o país num imenso porta-aviões terrestre para levar a cabo a estratégia de dominação imperialista na América do Sul. Por sua privilegiada localização, situada entre o sul e o centro do continente americano, sendo o único país sul-americano com costas em dois oceanos – facilitando assim a implementação de sistemas aéreos e satélites de controle militar que possibilitam a espionagem e a agressão contra qualquer país da região –, a Colômbia é peça chave para a imposição das políticas colonialistas contra os povos da América do Sul e Caribe, que visam a garantir o acesso aos recursos naturais e de matiz energética, permitindo assim a manutenção do nível de produção e consumo do capitalismo para reprodução dos superlucros monopolistas. Em suma, para se reproduzir, o capital monopolista exige um fluxo constante de matérias primas, de petróleo, metais e outros minerais necessários para a produção das mais diversas mercadorias. Para produção de automóveis, aviões, tanques de guerra, computadores, celulares, televisores e inúmeros outros produtos, são necessárias quantidades colossais de recursos e a América do Sul possui grandes reservas dessas matérias, representando mais de 25% dos recursos consumidos pelos EUA, o que motiva as aves de rapina a tentarem por todos os meios assegurarem os saques e as pilhagens dessas riquezas.
As classes dominantes colombianas demonstram ao longo da história sua inclinação para aceitarem de bom grado a condição de capachos do imperialismo estadunidense; soma-se a isso as acirradas contradições de classe decorrentes das relações de produção, que se refletem nas permanentes rebeliões camponesas contra o gamonalismo e o latifúndio; as diversas frentes guerrilheiras que se organizam contra o Estado reacionário; as organizações paramilitares e o narcotráfico que de longa data atuam no país; dessa complexidade, emanam as mais diversas desculpas e justificativas que baseiam as políticas intervencionistas ianques e a exponencial militarização da Colômbia. Vale salientar que, em meados da década de 1990, o imperialismo ianque sob o governo de Bill Clinton iniciou um projeto para conceder “certificados de boa conduta” para os países que dedicassem esforços no combate ao narcotráfico, e aqueles "não certificados” passariam a sofrer penalidades econômicas. A Colômbia passou então a ser enquadrada com restrições em relação a empréstimos e em exportar seus produtos para os EUA, o que levou o país a se “voluntariar” para realizar trabalhos em conjunto com os ianques.
Em 1999, através do Plano Colômbia, foi dado um importante passo rumo à formalização da Colômbia como país subordinado e subjugado pelo imperialismo e, além disso, como o principal representante no plano militar para levar a cabo as tarefas de agressão, da guerra irregular contra todos os países da região que se coloquem minimamente contra os interesses dos seus amos, ou seja, contra a submissão, os saques e assaltos às riquezas naturais que o imperialismo tanto necessita para reprodução de seus super lucros. Os objetivos declarados pelo acordo firmado com os Estados Unidos em 1999 eram: criar uma estratégia para eliminar o narcotráfico no território colombiano; colocar um fim ao conflito armado, que na época já durava 40 anos, desestruturando os grupos guerrilheiros, principalmente as FARC. Vale pontuar que os Estados Unidos são os principais consumidores de drogas ilícitas no mundo e, junto dos países europeus, os maiores consumidores das drogas oriundas da Colômbia.
Com a ascensão de Álvaro Uribe à presidência no ano de 2002, o Plano Colômbia tomou novos contornos e, em 2006, já em seu segundo mandato, o governo de Uribe passou a atuar para potencializar a dominação ianque no território colombiano, culminando num acordo para o acesso, uso e propriedade de instalações militares por parte dos estadunidenses, materializando-se com o convênio assinado entre o chanceler da Colômbia, Jaime Bermúdez, e o embaixador dos Estados Unidos, William Broenfield, em outubro de 2009, abrindo caminho para implementação de ao menos 7 bases militares oficiais dos EUA no país. Entre o ano de 1998 e 2008, aproximadamente 72 mil militares e policiais colombianos foram treinados por agentes estadunidenses, número apenas menor que o de pessoal militar sul-coreanos treinado pelos ianques. Em 2010 já operavam na Colômbia cerca de 1400 militares e mercenários estadunidenses – no início do Plano Colômbia a expectativa era de 400 militares. As cifras do investimento estadunidense no plano militar colombiano só ficam atrás dos investimentos feitos em Israel e no Egito.
O resultado da aplicação das políticas de militarização sob as justificativas inicias e os objetivos declarados de combater o narcotráfico e de pôr fim aos conflitos armados passaram longe de condizerem com as práticas. O cultivo e produção de cocaína no país aumentou, expandindo-se territorialmente ao mesmo tempo em que se expandiram os grupos paramilitares subsidiados e municiados pelas oligarquias locais – alguns deles dirigidos por mercenários ianques –, para fazerem frente aos grupos guerrilheiros. Uma das principais formas de combate ao cultivo de drogas adotada pelo Estado colombiano foi a de fumigação de glifosato, um herbicida extremamente prejudicial à saúde que foi despejado sobre plantações de coca, bem como sobre cultivos de camponeses e sobre as cabeças do povo colombiano até 2015 e que está próximo de voltar a ser utilizado após as pressões de Washington. Em relação aos confrontos armados, chegou-se a um “acordo de paz” em 2016, entre o Estado colombiano e as FARC, que capitulou, entregou as armas para se tornar um partido da ordem. Como consequência, o Estado colombiano desencadeou uma ofensiva militar reacionária, ignorando o “acordo de paz” e promovendo o assassinato de mais de 250 ex-combatentes – sem contar as milhares de lideranças populares dos mais diversos seguimentos também assassinadas pelo braço armado e pelos grupos paramilitares –, o que levou diversos dissidentes das FARC a se reorganizarem já a partir de 2019 para retomar a luta armada no país.
Por trás de todo o suposto interesse ianque em assegurar a paz na Colômbia e auxiliar no combate ao narcotráfico, consolidaram-se por fim os verdadeiros interesses - a formação de um poderoso aparato militar subordinado aos ditames de Washington. Não por acaso, militares colombianos já participaram como membros de tropas de ocupação no Afeganistão, assim como mercenários colombianos foram enviados ao Iraque. O governo colombiano, por sua vez, passou a apoiar indiscriminadamente todas as aventuras e ingerências imperialistas na América Latina, auxiliando politicamente e por vezes militarmente pela desestabilização de governos progressistas, como o apoio ao golpe de Estado em Honduras em 2009. Uma ação emblemática foi a chamada Operação Fênix, realizada no Equador em 2008, numa grave violação de soberania territorial, quando a Força Aérea Colombiana realizou ataques aéreos no território do país vizinho, seguidos de incursão de helicópteros e de forças terrestres, resultando no assassinato de 25 pessoas, entre elas, civis e guerrilheiros das FARC, incluindo o comandante Raúl Reyes, incidente que causou uma crise diplomática na região. Esse ato demonstrou que, com o respaldo dos ianques, o narco-estado militarizado colombiano não hesitaria em agir fora de suas fronteiras quando achasse necessário ou quando fosse a vontade do imperialismo ianque - isso ficou claro nas declarações do ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, que afirmou que a Colômbia teria o direito de “legitima defesa” de invadir outros países caso fosse necessário para atacar forças guerrilheiras. Em 2018, a Colômbia foi aprovada para fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), o país foi incorporado como sócio global, sendo o primeiro país da região a adquirir tal insígnia, reafirmando seu papel hostil a ser desempenhado na América Latina.
Com o aumento das pressões imperialistas contra a Venezuela e a retomada da Doutrina Monroe, onde não são toleradas quaisquer políticas externas minimamente independentes dos países considerados um ”quintal” dos ianques que não passem pelo crivo imperialista, além do embargo comercial e financeiro, Washington confiscou ativos, promoveu atos de sabotagem, articulou isolamento diplomático de Caracas e intensificou a guerra irregular contra o país. Desenhou-se um cenário para a mobilização da Colômbia como o peão avançado dos ianques no tabuleiro latino-americano. A ganância de longos anos dos imperialistas pelo petróleo venezuelano fica evidente pelas inúmeras tentativas sem sucesso de promover golpes de estado e atentados no país, como o ataque terrorista em junho de 2017, feito com um helicóptero roubado no aeroporto de Cartola, onde os terroristas atiraram granadas de origem colombiana e procedência israelense contra o Ministério do Interior, Justiça e Paz e contra o Supremo Tribunal venezuelano. Dentre as diversas táticas de desestabilização estão a busca por corromper oficiais militares, mobilizar frações das classes dominantes locais, imputar no povo venezuelano que a única saída para a Venezuela seria sob as bases de acordos com o imperialismo ianque, além de propagandear ao mundo a necessidade de levar a “democracia” aos venezuelanos.
Em 2019 após o títere Juan Guaidó se autoproclamar presidente provisório da Venezuela, negando-se a reconhecer a eleição de Maduro, aumentaram as tensões internas no país. Com apoio do imperialismo, orquestrou-se a suposta missão de ajuda humanitária para o país a partir das fronteiras com a Colômbia e com o Brasil. Os governos brasileiros, colombianos, entre outros, reconheceram Guaidó como presidente provisório, auxiliando na pressão para efetivação dos interesses estadunidenses; o episódio acabou em conflitos nas fronteiras, mas sem sucesso para os golpistas. Recentemente, os próprios imperialistas publicaram um relatório em que a real intensão de tais atos, não tão implícitas assim, ficaram declaradas. O Relatório da Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA apontou para a instrução dada aos funcionários responsáveis por realizar o ato, alinhando as decisões sobre a operação para reforçar a credibilidade do “governo provisório”.
Já em 2020, no dia 26 de março, o então presidente Donald Trump informou em uma coletiva de imprensa que Maduro, presidente da Venezuela, e outros 13 membros de sua administração estariam envolvidos em um esquema internacional de tráfico de drogas, passando a oferecer uma recompensa pela cabeça dos procurados, buscando terceirizar uma guerra contra o povo venezuelano. No mês de maio, militares venezuelanos confrontaram mercenários que tentavam desembarcar no território venezuelano. O grupo era formado por mercenários contratados por uma empresa de segurança privada dos EUA, a SiverCorp, companhia de propriedade do veterano das forças especiais dos EUA, Jordan Goudreau, que dirigiu o treinamento dos mercenários em acampamentos na Colômbia, com a cumplicidade das autoridades colombianas, para assassinar o presidente venezuelano; entre os mercenários capturados estavam dissidentes venezuelanos, mercenários colombianos e dois ex-militares estadunidenses que compunham a chamada “Operação Gideon”.
O ano de 2021 não tem sido diferente e as tensões entre Venezuela e Colômbia seguem aumentando. Desde meados de março, no estado venezuelano de Apure, na fronteira com a Colômbia, foram registrados confrontos entre forças militares da Venezuela e grupos paramilitares colombianos que tentam realizar incursões no país. Diante da denúncia dos venezuelanos de que, por ordens de Ivan Duque, as Forças Armadas Colombianas abriram caminho para as milícias chegarem a fronteira, numa clara tentativa de liberar o território para atentados contra a Venezuela, o Ministério da Defesa da Colômbia emitiu ordem para que 2.000 soldados fossem enviados ao longo do ano para reforçar o Esquadrão Avançado de Observação Fronteiriça, para seguir com a política de “ajuda humanitária”, posto que o conflito fronteiriço causou uma fuga de milhares de venezuelanos e colombianos moradores da região. Desde a Colômbia, continuam as tentativas de invasão ao território venezuelano que, com a consentimento da burguesia burocrática colombiana, buscam gerar o caos no país vizinho para realizar os desejos do imperialismo ianque. O governo Venezuelano tem mobilizado as Forças Armadas Bolivarianas, bem como tem feito o chamado às milícias populares para se prepararem para conflitos maiores, pontuando que se ocorrer uma guerra, esta não ocorrerá em território venezuelano. Recentemente, aeronaves estadunidenses sobrevoaram regiões colombianas fazendo mapeamento geográfico de locais onde supostamente poderiam ocorrer conflitos caso se avance para um conflito declarado, além de buscar informações sobre os equipamentos militares venezuelanos.
Enquanto o Estado colombiano promove as tensões fronteiriças, mais preocupados em agredir e desestabilizar o país vizinho, o povo colombiano segue nas ruas denunciando o caos político, econômico e social que assola o país, pagando, à preço de sangue, o sonho de superação de um sistema maldito onde o latifúndio, o gamonalismo, a burguesia burocrática compradora e o imperialismo financiam esquadrões da morte para assassinar e massacrar o povo, para garantir que os saques e as pilhagens das riquezas dos povos siga retida nas mãos e nas contas bancárias de poucos vagabundos sanguessugas que não têm nada a oferecer além de miséria e morte, que encabeçam um sistema caduco e falido e, por entenderem isso, se debatem como podem para perpetuar o quanto for possível esse estado de coisas. Mas o povo trabalhador não se rende nunca, e a decadência dos vampiros que se alimentam do suor e da dor dos pobres, cedo ou tarde, sofrerá o golpe final. Toda solidariedade ao povo colombiano! Morte ao imperialismo!