¡Nos están matando! A revolta das massas colombianas contra o Estado reacionário
Desde o último dia 28 de abril, os trabalhadores e trabalhadoras levam a cabo uma combativa greve geral contra o projeto de reforma tributária que o governo de Ivan Duque tentou empurrar no Parlamento. O projeto nomeado como “Lei da Solidariedade Sustentável” (Ley de Solidariedad Sostenible) previa taxar todos os colombianos, mesmo os mais pobres isentos até então, além de aumentos de tarifas de serviços essenciais como água, gás e energia elétrica.
A grande mobilização do povo colombiano conseguiu barrar a tentativa de reforma do governo Duque, que terminou com a queda do ministro da Fazenda Alberto Carrasquilla, figura próxima de Álvaro Uribe, o grande fantoche do imperialismo ianque no país.
Contudo, a violenta repressão das forças policiais aos manifestantes que se reuniram por todo o país, e a crise política e econômica do país que se estende há anos, fez com que os patriotas seguissem nas ruas até aqui, denunciando o desastre do governo Duque e a violência descontrolada dos aparatos estatais contra as massas em luta.
A atual mobilização é em certa medida uma continuidade de outros grandes protestos ocorridos recentemente no país, como a grande greve do povo negro pelo reconhecimento de direitos básicos em 2017, e a greve geral de 21 de novembro de 2019, contra a violência policial.
Passados mais de dez dias do início das manifestações, passeatas e bloqueios da greve nacional, organizações sociais e defensores dos direitos humanos relataram dados não consolidados que são cerca de 1.023 pessoas detidas, 980 desaparecidos, 1.040 feridos, um número indeterminado de mulheres estupradas e pelo menos 42 pessoas assassinadas: a principal responsabilidade recai sobre a ESMAD, (esquadrões móveis anti-motim), espécie de forças especiais do país.
A brutalidade que se manifesta nas imagens que dão conta desses crimes contrasta com o silêncio oficial e a falta de resultados das supostas investigações que os altos policiais afirmam realizar. Existem indícios muito evidentes de crimes policiais, como as várias imagens captadas que mostram os espancamentos recebidos por Elvis Vivas, de 24 anos, que morreu em um hospital após ser espancado por vários polícias. Há também os ataques de grupos paramilitares, incentivados por políticos reacionários, contra os manifestantes. Como foi o caso da morte do estudante universitário Lucas Villa Vásquez, atingido em um ataque a tiros de um grupo a uma manifestação em Pereira.
A cidade de Cali se tornou um dos epicentros da revolta popular colombiano. Sindicatos, organizações estudantis e indígenas estão convocando protestos na cidade e erguendo barricadas e bloqueios para enfrentar as forças repressivas, com reivindicações como a desmilitarização de campos e cidades. Por sua vez, Duque já exigiu o maior uso possível das forças públicas na região e o Exército ocupa Cali há alguns dias, além da atuação de formas paramilitares e grupos reacionários contra os manifestantes. Nos últimos dias, ao menos 10 indígenas que se somaram aos protestos na cidade foram baleados, em um ataque de “policiais e civis armados” segundo o CRIC (Conselho Regional Indígena do Cauca).
Evidentemente, a base material para essa grande mobilização popular é a situação crítica a qual as massas colombianas estão jogadas. Quase 90% da população vive com menos de um salário mínimo, e a maioria, principalmente negros e indígenas, não tem acesso à saúde, educação, água ou eletricidade, além da insegurança alimentar que ameaça a todos. Com a pandemia, o quadro piorou ainda mais para as massas colombianas.
Junte-se a isso, o cenário político dominado pelo reacionário uribismo que transforma o país em um satélite dos interesses estadunidenses, que após a capitulação das FARC-EP em 2016 e os acordos de paz natimortos e não cumpridos, viu a repressão aos que lutam crescer assustadoramente.
Desde os acordos do farsante Nobel da Paz, Juan Manuel Santos, foram cometidos cerca de 1.200 assassinatos de lideranças sociais, defensores dos direitos humanos, ambientalistas, representantes estudantis, sindicalistas, autoridades indígenas; tudo com a cumplicidade (ativa ou passiva) das instituições do Estado. O ano de 2020 registrou a média de um assassinato político por dia, além de 43 massacres perpetrados ao longo do ano.