O massacre do Jacarezinho é uma política geral do velho Estado brasileiro
O massacre executado na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro (RJ), na última semana, já é considerada a operação mais letal da história da polícia civil em números. Mas muito mais do que isso, evidencia claramente o conteúdo político que está por detrás deste tipo de terrorismo de Estado, tão comum em nosso país. Ao menos 29 pessoas foram assassinadas pelas forças policiais do velho Estado Brasileiro em mais uma operação violenta em áreas empobrecidas da capital fluminense.
Evidentemente, é possível apontar os inúmeros problemas da operação, seja do ponto de vista jurídico, técnico, moral ou mesmo sanitário, mas ressaltamos mais uma vez o sentido político de mais este ataque contra o nosso povo.
Do ponto de vista legal, é inútil indicar que os motivos alegados, de combate ao aliciamento de jovens pelo tráfico, ou os mandatos emitidos justificados por fotos de pessoas nas redes sociais que caracterizaria associação ao tráfico de drogas, são meras aparências usadas, desde sempre, para legitimar a violência escancarada contra as comunidades pobres.
É fácil encontrar a real motivação de mais esse ataque do Estado policial brasileiro. A morte do PM André Leonardo de Mello Frias desencadeou e motivou as execuções sumárias, a invasão de barracos e casas, uso de veículos blindados e helicópteros para ameaçar e atacar os moradores e causar a matança em questão.
E o caráter da operação, de uso de táticas militares de repressão, também é um resultado da história recente do Rio de Janeiro.
No auge da implementação da infrutífera política das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) aplicada na última década, sob as bênçãos e patrocínio do governo Lula (PT), esse tipo de ação já via a luz do dia. Em 2007, sob as mesmas alegações de combate ao tráfico, os governos do Estado e Federal, organizaram operação de grande magnitude, com mais de mil homens, veículos blindados, helicópteros e franco-atiradores no Complexo do Alemão. O resultado oficial foi de 42 mortos e 80 feridos, mas as denúncias feitas por moradores na época dão conta de ao menos 160 vítimas fatais da ação do Estado.
Na época, assim como agora, a operação foi noticiada pelos monopólios da grande mídia, seguindo o discurso oficial, de uma ação policial que visava a proteção dos moradores, oprimidos pelos traficantes, mas que tiveram que ver muitos dos seus assassinados pelas mãos da polícia “libertadora”.
Mesmo a chamada “Guerra as Drogas”, que inclusive boa parte da esquerda brasileira tenta reduzir a explicação central, hoje não passa de mero discurso para esconder os reais motivos de toda a ação militar no Rio de Janeiro. As principais facções criminosas na cidade – Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos – ocupam cerca de 15,4% do território carioca, enquanto o conjunto das milícias, que cresce exponencialmente há 20 anos, já chega a ocupar mais da metade da capital do Estado.
E não é coincidência que forças policiais combatam o domínio de áreas por traficantes, enquanto que os territórios dominados por milicianos crescem, sem oposição, cada vez mais.
O Rio de Janeiro, cidade do presidente Jair Bolsonaro e seus aliados milicianos, se vê em uma situação estarrecedora. A Segurança Pública já se tornou uma impossibilidade e é objeto do discurso demagógico de políticos de todos os vernizes. A inútil intervenção militar realizada há alguns anos, durante o governo Temer, e as ações do governo do agora ex-governador Wilson Witzel, que aumentaram a letalidade policial, são alguns dos passos recentes que ajudam a entender o caos que domina a cidade.
No atual momento, no qual a pandemia já vitimou mais de 40 mil pessoas no Estado e a crise econômica condena milhares de pessoas à fome, as massas trabalhadoras cariocas têm mais um risco mortal: a ação do terrorismo de Estado e suas forças de repressão contra as comunidades.