Acontecimentos recentes da luta de classes nas áreas rurais brasileiras
Quem mandou matar Fernando? Os movimentos de massas brasileiros fazem esta pergunta. Um dia após o advogado José Vargas Junior ter sido solto da cadeia e transferido para a prisão domiciliar (25 de janeiro), foi executada, na Fazenda Santa Lúcia (Pau D’Arco – PA), a última testemunha do Massacre de Pau D’Arco, o companheiro Fernando, cujo depoimento era essencial para a condenação dos assassinos. No dia de 2017 em que os policiais civis e militares invadiram a Fazenda Santa Lúcia e abriram fogo contra os lavradores, o namorado de Fernando foi um dos primeiros a ser assassinado. O primeiro, por sua vez, teve de se fingir de morto para despistar os assassinos e fugir, logo em seguida, para o matagal. Seu assassinato, que se seguiu após Vargas ter conseguido prisão domiciliar em 25 de janeiro, revela o caráter arbitrário da prisão deste primeiro, bem como o fato de persistência da propriedade latifundiária da terra se traduzir, sobretudo, na persistência da violência reacionária contra os trabalhadores rurais.
Na zona da mata do estado de Alagoas, o governo municipal de Atalaia (AL) sinalizou, segundo informações da página do MST, um boletim de ocorrência contra as 120 famílias camponesas do acampamento Marielle Franco, ainda que se tratando de uma área cedida pela própria prefeitura municipal para a permanência destas pessoas. Em Turvelândia (GO), uma decisão do juiz da Comarca de Maurilândia (GO), tomada no dia 25 de janeiro, pretende despejar, dentro de um prazo de sessenta dias, as cerca de 140 famílias de pequenos agricultores que, desde os anos 1990, cultivam as terras do latifúndio improdutivo Monjolo, que se encontrava então abandonado, e que ergueram a comunidade Monjolo. Não apenas movimento de massas como CONTAG (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura) e FETAEG (Federação dos Trabalhadores Rurais na Agricultura Familiar do Estado de Goiás) expressaram sua solidariedade aos lavradores, como a população de Turvelândia expressa sua indignação com o despejo destes trabalhadores e exige que eles sejam assentados, por já estarem há mais de vinte anos no local e levarem adiante uma produção agrícola diversificada.
Em 01 de fevereiro, cerca de 150 famílias camponesas ocuparam a Fazenda Santa Rosa, no município de Frei Inocêncio (MG), em meio ao Vale do Rio Doce. No estado do Ceará, município de Crateús (CE), as famílias camponesas dos povoados Cabaças e Besouros comemoram a conquista dos títulos de terra após muitos anos vivendo como posseiras.