URC: "Sobre as eleições municipais e as lutas do povo brasileiro"
Sob o governo de Jair Bolsonaro, o Brasil passa por um dos períodos mais dramáticos de sua história. Todas as tendências reacionárias que já existiam em nosso país foram fortalecidas e aceleradas. Iniciadas por latifundiários, as chamas destroem nossa flora e matam nossa fauna; nosso subsolo é saqueado por empresas estrangeiras que deixam um rastro de destruição e miséria por onde passam e submetem nosso povo às condições mais degradantes possíveis; cidades inteiras são inundadas por conta da ganância de uma empresa como a Vale; nossas reservas de petróleo, que poderiam impulsionar o desenvolvimento da nação e melhorar as condições de vida de nosso povo, são entregues para monopólios que nunca esconderam seu desejo em possuí-las; nossas principais empresas estatais são desmembradas e jogadas para abutres financeiros; os itens básicos necessários para a manutenção da vida ficam cada vez mais caros e os salários e empregos cada vez mais escassos; os elementos mais destacados de nosso povo são diariamente assassinado por agentes da repressão oficial e extraoficial; as pessoas morrem às centenas de milhares em uma pandemia diante da indiferença ou vontade de matar do atual governante.
Mesmo tendo diante de nós um quadro alarmante como esse, para alguns, o que exige maior atenção e disposição de forças no atual momento são as eleições municipais que acontecerão em novembro. É evidente o que querem as forças abertamente reacionárias com a participação em um pleito como esse, ou seja, ganhar um espaço na execução desse terrível projeto que as classes dominantes e o imperialismo estão impondo e tirar o máximo de proveito pessoal nesse processo. Seu engajamento também é natural porque desfrutam atualmente de todas as vantagens nessa arena. Basta nos lembrarmos do que aconteceu nas eleições de 2018, em que uma série de manipulações e violações à ordem constitucional foram feitas para favorecer uma certa aposta que faziam as classes dominantes.
Em muitos momentos, nós da União Reconstrução Comunista destacamos a incapacidade sistemática da ordem burguesa-latifundiária brasileira sustentar seu próprio ordenamento jurídico, em especial em períodos de crise como é o atual. Os acontecimentos de 2016, que identificamos como um golpe de Estado, e o que se desencadeou a partir disso também evidenciam essa tese de forma inegável. Dessa forma, os acontecimentos de 2018 não deveriam ser nada além do esperado. Nessa época também denunciamos o caráter farsesco das eleições brasileiras em geral, aprofundado pela conjuntura específica.
Mesmo assim, seguem havendo ilusões com relação às eleições municipais deste ano. Uma série de elementos bem intencionados são arrastados para essa farsa por um punhado de partidos e políticos da “esquerda” institucional, pequenos burocratas que também não querem mais do que manter o seu espaço dentro do Estado brasileiro para fazer sua oposição rebaixada e consentida pelos piores inimigos do povo. Atrasam, dessa forma, a constituição de uma verdadeira frente popular capaz de enfrentar o fascismo e toda forma de reação, que deve ser fundada em princípios e em um programa comum, não na fisiologia típica do cretinismo eleitoral. Em um texto publicado no NovoCultura.info, lemos que “o fascismo não é um fenômeno puramente eleitoral, nem mesmo predominantemente eleitoral, ainda que haja no Brasil e nos países restantes políticos francamente fascistas”, portanto, “jamais conduziremos contra o fascismo qualquer golpe consequente por vias eleitorais”. Por isso que é a ilusão ou o cretinismo que guia aqueles que falam em “combater o fascismo com o voto”.
Nós da União Reconstrução Comunista não subscrevemos nenhuma dessas ilusões. Não vemos a menor possibilidade, em um país semicolonial e semifeudal como o Brasil e em uma conjuntura como a que nos encontramos, de empreender uma luta contra o fascismo ou de obter vitórias substanciais e duráveis para os trabalhadores brasileiros por meios eleitorais. Apenas a conscientização e a mobilização das massas podem oferecer as respostas para os problemas que enfrentamos, apenas as suas lutas podem nos conduzir para nosso objetivo: a reconstrução do Partido Comunista, uma organização política que não existirá para disputar eleições, mas para organizar e dirigir o proletariado e demais classes populares em todas as suas lutas.
Contanto, firmamos posição pelo boicote ativo nessas eleições, aproveitando a oportunidade para denunciar o caráter farsesco da democracia burguesa e todos os ataques que estão sendo feitos contra nosso povo. Essa posição vai de encontro com milhões de brasileiros que continuamente boicotam tal fraude, porque não veem nela nenhuma possibilidade de solucionar os seus problemas. Esse é para nós um período de propaganda e agitação política intensa, não para legitimar algum candidato ou o processo eleitoral como um todo, mas para dialogar com as massas trabalhadoras que cada vez mais rejeitam essa velha ordem de coisas.
UNIÃO RECONSTRUÇÃO COMUNISTA