Avanço da luta do Exército do Povo Paraguaio e a ameaça de intervenção imperialista ianque
Desde há muito, o povo paraguaio é oprimido por um regime que representa interesses conjuntos do imperialismo ianque, do capitalismo burocrático local e das oligarquias agroindustriais brasileiras (particularmente sojicultores). A despeito de as classes dominantes paraguaias se gabarem de terem construído uma “potência do agronegócio” com “supersafras” de mais de cinquenta milhões de toneladas de grãos por ano, capazes de alimentar uma população muitas vezes superior aos cerca de sete milhões de paraguaios, quase um quinto do povo paraguaio vegeta na desnutrição, sujeito às condições de miséria impostas por uma economia semicolonial e semifeudal, pré-industrial, subdesenvolvida e agrária. Muito embora agrária, mais de 80% da área cultivada se encontra ocupada por lavouras de exportação como soja e milho transgênicos, ostentando a riqueza de um punhado de fazendeiros na mesma proporção da fome do povo.
Contra esta situação opressiva, desde os anos 1990, o Exército do Povo Paraguaio (EPP) leva a cabo a luta armada rural, sob forma de guerra de guerrilhas, em defesa de uma série de reivindicações democráticas das massas paraguaias, como a reforma agrária e “terra para quem trabalha”. O EPP é um importante instrumento de luta do povo paraguaio, junto a uma série de outros movimentos de massas como sindicatos operários, associações e federações camponesas e indígenas.
A situação paraguaia foi bastante debatida particularmente no ano de 2012, quando a polícia e o exército paraguaios levaram a cabo o que ficou conhecido como o “Massacre de Curuguaty”, no qual dezenas de camponeses sem-terra que ocupavam uma fazenda no distrito de Curuguaty, departamento de Canindeyú, foram fuzilados em massa. A reação paraguaia utilizou esta situação como pretexto para derrubar mediante o impeachment o ex-presidente Fernando Lugo que, segundo eles, não estava conseguindo controlar a situação na qual supostos “movimentos terroristas” estavam espalhando “terror” nas áreas rurais do país.
Nos últimos dias, contudo, a situação paraguaia voltou a ocupar um espaço importante no debate político brasileiro.
Os reacionários paraguaios constituíram a chamada “Força-Tarefa Conjunta” (FTC), um braço armado especificamente dedicado a combater e supostamente “varrer” as guerrilhas do EPP. Esta força armada reacionária, supostamente dedicada a cumprir a tarefa de “pacificar o campo”, cometeu a brutalidade de assassinar, em 3 de setembro, duas adolescentes de onze e doze anos de idade, Aurora e Liliana, na cidade Yby Yaú. Ambas eram filhas de combatentes do EPP. O facínora Mario Abdo, “presidente” paraguaio, celebrou o morticínio do FTC como um “grande feito” da “luta contra o terrorismo”, e chegou a ser fotografado posando armado no local do assassinato das meninas. Absurdamente, a propaganda do regime reacionário colocou as meninas como “guerrilheiras”. Soldados da FTC violaram os corpos das meninas, queimaram seus pertences, despiram-nas e as vestiram com uniformes camuflados para que a mentira de que se tratava de “guerrilheiras” fosse aceita. Porém, a ação terrorista dos reacionários paraguaios recebeu o repúdio mais contundente de organizações paraguaias ligadas à defesa de direitos humanos, e gerou até mesmo rixas diplomáticas por parte do regime paraguaio: para se verem livres de perseguições políticas no Paraguai, ambas as meninas eram argentinas, ali nasceram e se criaram.
Pensamos que a brutalidade deste acontecimento deva servir para compreendermos, por mínimo que seja, o que faz a reação em sua luta contra ação revolucionária dos povos.
O EPP não agiu passivo e acovardado diante do assassinato das adolescentes. Em 9 de setembro, um destacamento de guerrilheiros atacou a fazenda Tranquerita, no distrito de Bella Vista Norte, departamento de Amambay, e sequestrou Oscar Denis e seu colaborador Adelio Mendoza. Denis foi ex-vice presidente paraguaio sob a administração de Federico Franco, e é atualmente um rico deputado e fazendeiro paraguaio. Em troca de sua soltura, o EPP exige que se entregue dois milhões de dólares em alimentos para comunidades rurais nos departamentos de San Pedro, Amambay, Concepción e Canindeyú, além da libertação de prisioneiros de guerra civil. Esta importante ação do EPP deixou a reação paraguaia de cabelos em pé.
Esta situação tem dividido os círculos dominantes do Paraguai: uma parte recua, e já cumpre ao menos parcialmente com o pedido do EPP de entregar cestas básicas para comunidades rurais no norte do país.
Outra parte, contudo – majoritária, pelo que nos parece –, se aproveita da presente ação para pedir a intervenção ainda mais contundente por parte do imperialismo ianque no país. Em 14 de setembro, a Câmara dos Deputados paraguaia realizou uma sessão extraordinária virtualmente para criticar a FTC, não por sua brutalidade, mas para criticar sua “falta de eficiência” em combater o “terrorismo” no país. Durante a sessão, a Câmara dos Deputados paraguaia aprovou um projeto resolução que pediu ao Poder Executivo para reduzir gastos com a FTC e para que solicite “ajuda internacional” no combate à guerrilha, principalmente aos Estados Unidos.
Trata-se de um movimento muito perigoso por parte da reação paraguaia, diante do qual o povo brasileiro e os demais povos latino-americanos devem dar a devida atenção: nos próximos dias, o Secretário de Estado ianque, Mike Pompeo, estará visitando países satélites como Suriname, Guiana inglesa, Brasil e Colômbia para “celebrar e lutar pela democracia no Hemisfério Ocidental”, segundo suas próprias palavras. “Lutar pela democracia” é um eufemismo para falar na intensificação dos preparativos de guerra para agredir a Venezuela. Se em um momento como esse a reação paraguaia exige a intervenção ianque, se os reacionários latino-americanos estão unidos em seu conluio com o imperialismo ianque, isso exigirá uma união ainda maior dos povos e dos setores democráticos latino-americanos.
Lutas como estas conduzidas pelo EPP são importantíssimas não apenas por uma questão de princípios, mas particularmente diante da atual conjuntura, como forma de enfraquecer as possíveis retaguardas de apoio para uma guerra de agressão contra a Venezuela. A luta armada cumpre um papel importantíssimo não só para a libertação de nossos povos, mas para conter os intentos do imperialismo em iniciar um banho de sangue em nosso continente.