Novos ataques do latifúndio e do Governo Federal contra os camponeses no Sul da Bahia
Na última quarta-feira, dia 02 de Setembro, foi publicada uma Portaria no Diário Oficial que autoriza o governo federal a se valer da Força Nacional para invadir áreas de assentamentos nas cidades de Prado e Mucuri, no Sul da Bahia. É sabido — e constantemente denunciado pelo NOVACULTURA.info — que as lutas de classes nas áreas rurais de nosso país vêm tomando vulto recentemente, em razão do recrudescimento dos ataques engendrados pelo regime proto-fascista de Jair Messias Bolsonaro em conluio com a reação rural, historicamente empoleirada no Estado brasileiro. No entanto, o caso específico da repressão que toma conta de diversas áreas baianas merece atenção.
Antes mesmo desta publicação do Diário Oficial, que legitima as ações truculentas do velho Estado, o MST, no mínimo desde o início deste ano, tem alertado sobre a atuação de milícias especializadas na desmobilização dos acampamentos e assentamentos da região. Para além das ofensivas do governo federal, então, os camponeses têm de lidar com uma quadrilha, financiada por oligarcas e grandes latifundiários, que espalha notícias falsas sobre a situação das propriedades rurais e amedronta as famílias assentadas para expulsá-las de suas terras.
As milícias, que congregam policiais militares, representantes do Incra, vereadores e prefeitos da região, latifundiários e até empresas privadas, chegam aos assentamentos e dizem aos camponeses que os concederão o título da terra, os assegurando desta maneira o acesso aos lotes. Os milicianos, na figura de uma empresa supostamente legitimada pelo Incra, no entanto, vendem títulos de terra falsos, e oferecem, na verdade, contratos de concessão de uso.
Trata-se portanto de uma farsa; e aquelas famílias que percebem o esquema e se recusam a aderir ao processo, são ameaçadas e têm as suas terras sabotadas por policiais militares, jagunços e pistoleiros. O campesinato da região só tem em seu favor a força de sua organização política, que resiste bravamente contra o monopólio da violência que o Estado burguês-latifundiário dispõe.
O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), que deveria ser o mantenedor das áreas de reforma agrária e sair em defesa dos agricultores baianos, encontra-se intrinsecamente envolvido com as crueldades empreendidas no campo brasileiro, chegando ao ponto de conceder documentos e informações às milícias fascistóides da Bahia. Ademais o órgão vem surpreendendo assentamentos, visitando-os sem aviso prévio e, na companhia de policiais militares, decidindo arbitrariamente sobre as suas situações, sem qualquer diálogo com as lideranças locais.
A situação atingiu o seu estopim com o caso do assentamento Jacy Rocha, que resultou em oito pessoas feridas, casas destruídas e ferramentas dos agricultores incendiadas. O conflito ocorrera quando servidores do Incra tentavam colocar em prática a tal fraudulenta proposta no assentamento em questão. Os assentados, obviamente, não aceitaram a imposição.
Agora, com a autorização do uso da Força Nacional, certamente o conflito se acirrará. Não satisfeito com as investidas milicianas, o latifúndio — neste caso representado pelo Incra e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, responsável pela coordenação geral da "missão" — colocará um policiamento ostensivo em seu favor naquela região, que, a princípio, tem validade de 30 dias. O pedido de uso foi feito por Nabhan Garcia, nefasta figura que foi presidente da União Democrática Ruralista (UDR) e compõe o atual governo Bolsonaro, e quebra inclusive com a prerrogativa de que o governador do Estado é que tem a capacidade de convocação da Força Nacional.
Além de Prado e Mucuri, as cidades de Iramaia e Vitória da Conquista também estão na mira da quadrilha rural. Um áudio recém divulgado pelo MST mostra um vereador de Prado, Jorginho do Guarani (PSL), comemorando uma ação bem sucedida da milícia, o que corrobora não só as investigações da organização, como também o sadismo e a crueldade da reação rural.
Toda essa situação do campesinato baiano — que faz parte do amplo quadro de desenvolvimento das lutas de classes no campo — atesta as reais condições de vida do campesinato brasileiro, sobretudo no atual momento político, no qual o país é crivado pelos mais espúrios interesses do latifúndio. Exprimimos o nosso apoio a justa luta dos camponeses baianos, bem como ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Pedimos aos nossos leitores e companheiros que repercutam o máximo possível essas informações, a fim de denunciarmos com o máximo de alcance as atrocidades cometidas contra o povo do campo brasileiro.