Saudemos a insurreição do povo negro nos Estados Unidos!
A recente morte por estrangulamento de George Floyd pela polícia de Minneapolis (estado de Minnesota) foi mais um dos fatores que escancarou a condição dos negros estadunidenses como pessoas de segunda categoria naquela sociedade capitalista-racista, que por sua vez geraram uma onda de indignação entre o povo democrático estadunidense, branco e não-branco, resultando em grandes insurreições populares em diversas cidades do país. Massas e massas têm se levantado e incendiado delegacias e demais estações policiais, verdadeiros covis de bandidos racistas, e demais prédios de órgãos públicos do governo reacionário, demonstrando grande senso de combatividade e revolta.
“Toques de recolher”, prisões em massa que resultaram até então em mais de quatro mil encarcerados durante os protestos, e encarceramentos até mesmo de pessoas desavisadas que têm “desrespeitado” os toques de recolher têm sido a regra nos últimos dias. Recentemente, o exército e a polícia estadunidenses, animalizados, têm chegado ao ponto de disparar até mesmo contra pessoas em suas varandas de casa. Uma onda repressiva tem sido deflagrada no chamado “berço” da “democracia”... mas já sabemos de qual “democracia” estamos falando!
Porém, mesmo esta onda repressiva não pôde conter a luta das massas. Após diversos “toques de recolher”, taxação das organizações ANTIFA como “grupos terroristas” e demais ações de terror de Estado no berço da “democracia”, principalmente pelos alardes de seu “presidente”, nada foi suficiente para impedir que os trabalhadores americanos cercassem a Casa Branca e compelissem Trump, que até ontem se gabava e atribuía a si próprio a alcunha de “macho”, a se refugiar em um bunker da Casa Branca, de calças borradas diante da fúria do bravo povo democrático dos Estados Unidos. Saques têm sido cada vez mais justamente generalizados, e os setores mais revolucionários do povo estadunidense têm recorrido aos choques abertos contra as forças da reação para se proteger, de armas nas mãos. Em Saint Louis, Missouri, as massas dispararam contra quatro policiais, que saíram feridos, e em Nova York, um carro irrompeu um bloqueio policial, ferindo dois deles.
Se antes os reacionários norte-americanos se sentiam à vontade para humilhar pessoas como bem entendessem, fazendo com os negros e latinos o que fizeram e fazem contra os povos do restante do mundo em suas ocupações militares criminosas, as ações mais combativas das massas agora dão o recado: já não podem fazer o que querem, estão diante de um povo revoltoso e que não se sujeitará às humilhações! Que a raça de bandidos que manda nos Estados Unidos se dê conta que não são tão poderosos como falam! São um tigre de papel! E sim, caso Trump cumpra seu desejo de botar seus “marines” para ocupar as ruas do país, estes apenas se depararão com um povo ainda mais revoltado, e cavarão ainda mais rapidamente suas próprias covas! Até então, o povo trabalhador dos Estados Unidos, brancos e negros, tem honrado a memória de dirigentes do calibre de Huey Newton, Fred Hampton, William Foster, Malcolm X, Nicola Sacco, Bartolomeo Vanzetti, de seus Mártires de Chicago, das grandes greves e marchas operárias que há muitas décadas se desenvolviam em guerras civis!
É verdade que não nos encontramos na primeira situação na qual as massas trabalhadoras estadunidenses se levantam contra as matanças raciais. Ao longo dos últimos anos, protestaram combativamente contra os assassinatos raciais de pessoas como Eric Garner, estrangulado sob acusação de “vender cigarros falsos”, e Rodney King, operário da construção civil, negro, espancado até a morte por “dirigir em alta velocidade”, dentre vários outros... porém, a situação não é mais a mesma. A crise capitalista, impulsionada pela pandemia da Covid-19, deteriorou ainda mais a já deteriorada economia americana. Somente em abril, mais de 20 milhões de postos de trabalho foram perdidos. Atualmente, os Estados Unidos já contam com mais de 40 milhões de desempregados, em cifras que levam em consideração as dezenas de milhões de desempregados parciais. Neste país, enquanto dezenas de milhões estão passando fome, perdendo suas casas e vivendo sob uma vida de pauperismo agravado devido ao desemprego, os capitalistas têm destruído, até então, centenas de milhares de toneladas de alimentos e demais produtos para que tenham seus lucros recuperados,ainda que tenham de ceifar as vidas de milhões pela miséria. A pandemia da Covid-19 se entrelaça intimamente à pandemia da fome. O capitalismo estadunidense tem desnudado a discrepância escandalosa entre a hiperacumulação de riqueza, por um lado, e a miséria em massa, por outro. Ademais, a própria epidemia já tirou a vida de mais de 100 mil estadunidenses, segue levando as vidas de milhares a cada dia que passa, e esta mesma epidemia aprofunda a opressão racial vigente: os negros são a maioria dos mortos pela covid-19, a mortalidade de negros é três vezes maior que a dos brancos, ainda que aqueles constituam apenas pouco mais de 10% da população nacional!
Neste contexto de crise aguda, os monopolistas que mandam nos Estados Unidos não têm outra arma a recorrer senão à ampliação da militarização contra os povos, fascismo e da escalada repressiva. Têm insuflado os antagonismos raciais, jogando brancos contra negros, na tentativa de dividir o movimento operário e facilitar sua dominação. O povo, por sua vez, não tem tido alternativa senão a luta revolucionária, em uma firme e ampla aliança que tem unido negros e brancos, operários, pequenos proprietários, intelectuais trabalhadores, estudantes e personalidades democráticas.
A insurreição popular nos Estados Unidos possui, além disso, um valioso significado internacional. O fato de estar se deflagrando no coração profundo do sistema capitalista mundial mostra que os fascistas de Wall Street, se não têm conseguido conter as massas em luta em seu próprio território, certamente não o conseguirão no restante do mundo. Chegou a hora e a vez das nações oprimidas, e a nação brasileira, uma das maiores e mais oprimidas do mundo, tem na insurreição popular nos Estados Unidos um exemplo a ser seguido, exemplo este que não tardou em entoar seus ecos em nossas terras. Protestos antifascistas e antirracistas já têm sido organizados do norte ao sul brasileiros contras as tendências ao fascismo por parte de Bolsonaro e seus fantoches, assim como por parte da reação militar.
Muito ainda há por ser feito! O trabalho está apenas começando.