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REIMPRESSÕES

Foto do escritorNOVACULTURA.info

"A construção do Estado norte-coreano"


Parte 1

Em 23 de Janeiro de 1968, a Marinha do Exército Popular da Coreia capturou uma fragata americana perto de Wonsan, no mar a leste da República Popular Democrática da Coreia (a partir de agora, RPDC ou Coreia do Norte). O Pueblo era uma nau de tecnologia de ponta, pesando 1.000 toneladas de pura tecnologia de recolhimento de informações (espionagem) e com uma tripulação de 83 membros, a qual estava alegadamente conduzindo operações de vigilância eletrônica das bases militares norte-coreanas. Como resposta a uma das maiores humilhações nos 176 anos de história das forças navais estadunidenses, o Conselho de Segurança Nacional (CSN) norte-americano decidiu, na reunião conduzida em 24 e 25 de janeiro, tomar medidas retaliatórias e despachou forças militares para cercar a Coreia do Norte. Mais tarde, o CSN assinou um documento se desculpando por suas ações hostis e prometendo não mais repeti-las. O Choson (O Pictorial Coreano), um livro ilustrado mensal publicado em Pyongyang, publicou uma história sobre o incidente do Pueblo em seu número de janeiro de 2004 e enfatizou que “o Império Americano não deveria se esquecer da lição de 35 anos atrás e deveria conhecer a vontade resoluta do Choson de hoje”. A Difusora Central Coreana também se referiu ao acidente de maneira desafiadora, declarando que “a pior tragédia da América é que ela não conhece a Coreia do Norte” e que “em um confronto contra a Coreia do Norte, a América só conseguirá desgraça e morte”. Durante os exercícios militares conjuntos de 1999 entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul, Pyongyang moveu o Pueblo de Wonsan pela costa leste, através do estreito coreano no Sul e subindo o rio Taedong a oeste para o colocar em exposição pública. O navio agora serve como encarnação da “história viva”, lembrando os norte-coreanos da ameaça americana e do imperativo de defender seu país. O Pueblo também serve como um útil aviso para todos os adversários da RPDC, contra os quais a ideologia nortista da Juche (chuch’e) de autoconfiança é constituída. A Coreia do Sul e os Estados Unidos, entretanto, ainda não absorveram totalmente o “pesadelo Pueblo”. À época do incidente, os Estados Unidos requisitaram à União Soviética que usasse sua influência sobre seu antigo “Estado satélite” para o convencer a entregar a tripulação capturada e o navio. Porém, a influência soviética se provou uma miragem, visto que Pyongyang se manteve firme face à pressão soviética e às demonstrações de força americanas. Lentamente, os americanos perceberam que a Coreia do Norte talvez não fosse o regime títere que eles imaginavam. Esse despertar brutal foi seguido, alguns anos depois, pela publicação de Comunismo na Coreia. Os autores, Robert A. Scalapino e Chong-sik Lee, proveram um ponto de vista alternativo à percepção americana prevalecente sobre a Coreia do Norte. Kim Il-Sung não era simplesmente um fantoche entronado pelos soviéticos, mas um líder comparável a vários outros comunistas que haviam lutado ativamente pela liberação do jugo do imperialismo japonês. Não obstante, o livro só foi longe o bastante para fornecer um estudo “relativístico” da RPDC e parou antes de traçar as raízes históricas e experiências pós-guerra da Coreia do Norte que pudessem dar conta do enfrentamento de Pyongyang quando do incidente do Pueblo e dos eventos subsequentes. Ao fim e ao cabo, tanto Comunismo na Coreia quanto os trabalhos subsequentes sobre o Norte falharam em ajustar as contas com o Juche, o princípio guia que define a RPDC como independente de pressões exteriores, insistente em seus próprios modos e mestra de seu próprio destino. Este artigo busca traçar as origens históricas passadas das instituições políticas norte-coreanas centradas no Juche. Na atual atmosfera polarizada, a qual permite apenas narrativas pró ou anti-Norte, não é fácil fazer avançar uma compreensão alternativa da divisão da Península Coreana e do estabelecimento da RPDC.[1] Felizmente, dois desenvolvimentos recentes facilitaram esta tarefa. Primeiro, um pode se guiar pela emergente literatura sobre os primeiros períodos da RPDC – ainda que muitos estudos se mantenham superficiais e parciais – produzidos particularmente por uma nova geração de acadêmicos nos Estados Unidos e na Coreia do Sul. Em segundo lugar, a abertura de fontes previamente não disponíveis, como os arquivos da Política Imperial Japonesa e os arquivos tomados pelo Exército Norte-Americano na Coreia durante Guerra da Coreia, ambos revelando profusamente sobre as origens e o caráter da formação do governo norte-coreano. Muitos relatos tradicionais ignoraram esses documentos.[2] Este artigo rejeita tanto os argumentos da “sovietização”, populares nos Estados Unidos e na Coreia do Sul, como da “revolução autopropelida”, tese defendida por acadêmicos norte-coreanos e narrativas oficiais do Norte. Em vez disso, ele articula uma perspectiva sintética de que a formação estatal do Norte é melhor compreendida como o resultado de interações recursivas entre estrangeiros – que buscavam exercer influência para configurar o Norte – e coreanos, particularmente o grupo de guerrilha antinipônico comandado por Kim Il-Sung, que lutou para manter sua autonomia. O Estado Juche do Norte emergiu desse cabo de guerra. Após tratar sobre o período desde a gênesis do movimento comunista coreano até os conflitos armados antinipônicos da década de 1930, este artigo apresenta as circunstâncias sobre as quais a Guerrilha Antinipônica emergiu como o centro da política norte-coreana e estabeleceu uma nação em meio às políticas de cooperação e conflito entre os Estados Unidos e a União Soviética. Para condensar a discussão dos problemas do período de libertação esse artigo se limita à Conferência de Ministros Estrangeiros de Moscou e ao minjukijiron (argumento da base democrática). Ao remate, o artigo situa a emergência das instituições políticas do Norte no ainda inexplorado contexto histórico das contendas entre norte-coreanos e soviéticos sobre “unidade” e “subordinação”, “autonomia” e “criação”. “Sovietização” ou “Revolução Autopropelida” O Governo Militar dos Estados Unidos na Coreia primeiro introduziu a perspectiva do governo norte-coreano pós-libertação como um “Estado satélite” ou “títere” da União Soviética. Já em 29 de setembro de 1945, um oficial norte-americano descrevia a situação no Norte como “sovietização”: “Nesse meio tempo, existe pouco conhecimento das ações políticas ou das políticas de ocupação das forças russas ao Norte. Eles retiraram os japoneses e criaram governos locais, os quais funcionam estritamente sobre a base de um partido único. Existe mais que uma probabilidade de que eles venham a sovietizar a Coreia do Norte assim como sovietizaram o Leste Europeu.”[3] Essa visão foi fortalecida por estudos produzidos por agências governamentais norte-americanas, bem como por acadêmicos sul-coreanos. O Departamento de Estado, por exemplo, em um estudo produzido com base em materiais e testemunhos coletados na Coreia do Norte no final da década de 1950, caracterizou o regime do Norte como um “satélite soviético”.[4] A teoria da sovietização, que a academia americana havia originalmente desenvolvido sobre o contexto do Leste Europeu, foi sistematicamente aplicada à Coreia do Norte por acadêmicos como Yang Homin, Dae-sook Suh, Robert Scalapino, Chong-sik Lee e Erik van Ree. Ela proporcionava um enquadramento conceitual dentro do qual esses acadêmicos conferiam um sentido às suas respectivas observações sobre a RPDC.[5] Para os americanos que travavam da Guerra Fria, a teoria da sovietização fazia parecer óbvio que o governo da Coreia do Norte não era um ator autônomo e que a União Soviética era a responsável por dirigir a divisão da Península Coreana. Muitos fatos, todavia, se uniram para dar crédito à teoria da sovietização. Ao final da Segunda Guerra Mundial, os militares soviéticos avançaram rumo à Coreia do Norte e permaneceram como força de ocupação lá por alguns anos, guiando o regime recém-estabelecido rumo a um modelo de desenvolvimento stalinista. Começando pelo período de luta armada antinipônica, os comunistas norte-coreanos, liderados por Kim Il-Sung, tinham um histórico de apoio à União Soviética sob slogans como “Protegeremos a União Soviética com armas!” Ademais, os norte-coreanos desejavam um novo sistema político – um que diferisse da democracia burguesa – e um sistema econômico que fosse guiado não pelo mercado, mas por planejamento central, e não pelo lucro capitalista, mas por aspirações de elevar os meios de vida. Como um resultado, a teoria da sovietização acabou sendo o único e mais convincente roteiro conceitual para se entender a Coreia do Norte. A teoria da sovietização, entretanto, tinha um número de falhas severas. Para começar, o governo da Coreia do Norte não era um “governo vagão”[6] como muitos dos governos do Leste Europeu. Os comunistas coreanos não só tinham apoio popular no Norte, mas eles também mantiveram cuidadosamente uma distância da força de ocupação soviética desde seu início. Mesmo na devastação do período pós-Guerra das Coreias, Pyongyang manteve sua atitude desafiante perante tanto seu inimigo de guerra, Washington, como seu aliado, Moscou. Pyongyang era combativa o bastante, já então, para ganhar a rara distinção de ser rotulada por Moscou (muito antes de George W. Bush usar o mesmo rótulo meio século depois) como um “Estado pária – o último país com um sistema stalinista e certamente o país mais isolado do mundo”. A Coreia do Norte pode ser muitas coisas, mas um satélite soviético não é uma delas. Se os Estados Unidos e a Coreia do Sul estão dominados pela teoria da sovietização, o Norte oferece uma visão oposta. Bem cedo, acadêmicos no Norte desenvolveram a teoria Juche, que explica a formação do regime do Norte em termos de uma revolução democrática popular autóctone.[7] O Norte a oferece enquanto narrativa oficial, traçando as raízes históricas do regime até a luta armada antinipônica que Kim Il-Sung organizou e liderou.[8] De acordo com a versão oficial, a RPDC resultou da “Árdua Marcha” executada pelas guerrilhas antinipônicas que travou uma luta armada de liberação, independente dos comunistas chineses e soviéticos. A ajuda externa raramente é reconhecida como se qualquer admissão de ajuda fosse comprometer a pureza da luta autóctone e autocentrada que fundou e sustenta o país. As narrativas oficiais do Norte, entretanto, incorrem em dificuldades, assim como a teoria americana da sovietização. Os acadêmicos norte-coreanos não providenciam os detalhes das ações tomadas pela guerrilha de Kim Il-Sung imediatamente antes e depois da mesma se deslocar para a Coreia do Norte com medo que tais detalhes pudessem expor os limites da teoria da “revolução autopropelida”. Tampouco eles discutem, pelas mesmas razões, as influências exercidas e as mudanças forçadas pela União Soviética. A história oficial do Norte revela um viés de seleção bem orquestrado sobre fatos desconfortáveis – por exemplo, sobre as eleições separadas realizadas em 1948, para que Pyongyang não fosse acusada de ter pressionado pelo estabelecimento de um governo separado, consolidando, portanto, a divisão entre as Coreias. Ademais, normalmente se encontra o refrão de que a lacuna entre os objetivos políticos declarados de Pyongyang e os resultados factuais fora preenchida pelo gênio individual de Kim Il-Sung. Este artigo busca não explicar o caráter único de um indivíduo, mas analisar a estrutura social e o curso da história que propiciou a formação da estrutura de autoridade norte-coreana. Ao analisar o estabelecimento do sistema norte-coreano, deve-se evitar por um lado a perspectiva da sovietização e, por outro, a perspectiva da revolução autopropelida, ambas as quais colocam uma ênfase unilateral em um aspecto particular daquilo que é inerentemente uma complexa interação entre atores divergentes. A atual crise econômica do Norte[9] provê um caso em exame de ambas essas perspectivas, nenhuma das quais explica o problema que se tem à mão. Por exemplo, acadêmicos da Coreia do Sul e Estados Unidos, que enfatizam a dependência do Norte de forasteiros, explicam a crise econômica em termos de problemas internos com a perspectiva de revolução autopropelida do Norte. Acadêmicos da Coreia do Norte, por contraste, que salientam a autossuficiência de seu sistema, localizam as causas de suas dificuldades econômicas em fatores externos. Para se desenvolver um argumento coeso e coerente, este artigo busca ir além desses enquadramentos unilaterais. No começo dos anos 1990, um novo tipo de literatura que reconhecia tanto a influência forçada dos soviéticos como as dinâmicas internas da sociedade norte-coreana, surgiu, sintetizando ambas para explicar a trajetória do desenvolvimento do Norte.[10] Esse grupo de acadêmicos explicam a emergência do sistema norte-coreano em termos de fatores externos, como as origens da divisão da Coreia na Guerra Fria, bem como de fatores internos, como a tradição confucionista, o controle colonial japonês, o atraso da estrutura socioeconômica coreana e o sin kukka kõnsõl undong (Movimento de construção da nova nação). Graças aos seus esforços, o processo de formação estatal entre 17 de dezembro de 1945 e 9 de setembro de 1948 é agora melhor compreendido.[11] Para avançar ainda mais nossa compreensão, é importante traçar historicamente quais condições sociais herdou o exército de guerrilha antinipônico – o principal ator envolvido na formação do Estado. De igual maneira, uma perspectiva sintética ainda é necessária, uma que explique a formação estatal do Norte enquanto um processo dinâmico de fatores internos e externos enredados em uma relação causal recorrente. A falha dos trabalhos existentes em explicar a resiliência do Norte joga luz sobre essa necessidade. Se o Norte é, como argumentam alguns acadêmicos atuais, um governo estabelecido e sustentado pela União Soviética, por que ele não colapsou com a União Soviética como tantos outros “satélites” no Leste Europeu? Como é que o Norte, supostamente enquanto um regime títere da União Soviética, agora acusa Moscou de revisionismo e chama por uma “luta contra o revisionismo”? Ao mesmo tempo, como é que o Norte, supostamente um Estado autossuficiente, depende tão profusamente de fatores externos que, na sua ausência, levam a um colapso de sua agricultura? Qualquer explicação da formação do Estado do Norte deve confrontar esses problemas. A população norte-coreana temia o Exército soviético desde o primeiro dia de sua chegada e mesmo os comunistas coreanos mantiveram uma relação tênue com ele. O Exército soviético chegou como uma força de ocupação e fez esse fato ser conhecido pelos coreanos ao dar ordens e estabelecer diretivas. O Exército soviético depredou a economia do Norte ameaçando a subsistência de cidadãos comuns e exerceu livremente seu poderio militar, pondo em perigo suas vidas.[12] Enquanto atos criminosos cometidos por soldados soviéticos individuais não duraram, a União Soviética continuou a, por exemplo, expropriar plantas industriais, desmontando e enviando para a União Soviética os geradores elétricos da maior subestação de geração de energia, Sup’ung, no que era, à época, a Coreia. Tal atividade foi conduzida, supostamente, para coletar indenizações de guerra contra o Japão. O tamanho da expropriação soviética pode ser inferido de um relatório que reconhece que o comando de ocupação diretamente controlava a produção em 38 fábricas de indústria pesada e – pelos cinco meses cobertos no relatório – enviou 8.535 toneladas de bens dessas fábricas para a União Soviética sem nenhum tipo de compensação.[13] Apesar da União Soviética tentar estabelecer empreendimentos conjuntos, a Companhia Marítima Choson-Soviética e a Companhia de Petróleo Choson-Soviética são representantes do que ocorreu entre ambos os países. Essas companhias foram uma ferramenta para que os soviéticos assumissem o controle, sem investimentos extensivos, das principais industrias do Norte e abastecessem a União Soviética com recursos e produtos norte-coreanos. Os soviéticos tentaram até mesmo arrendar os três portos de Chongjin, Najin e Unggi da mesma forma que os britânicos haviam arrendado Hong Kong. A maior parte dos empréstimos fornecidos pela União Soviética eram esboçados para “fortalecer as posições econômicas soviéticas na Coreia do Norte”. Por fim, os empréstimos foram usados para pagar pelos gastos que os soviéticos incorreram ao produzir bens nas fábricas que seu Exército havia confiscado e para enviar tais produtos de volta à União Soviética. Os soviéticos não pagaram compensação pelos bens norte-coreanos que levaram.[14] Os norte-coreanos reagiram de uma forma previsível.[15] Eles viam os soviéticos com desprezo, tanto que a palavra rosûkke (russos) se tornou um termo depreciativo. Esses sentimentos de traição e ressentimento serviram como as sementes das quais slogans patrióticos cresceriam e se espalhariam. Um dos slogans popularizados chamava os norte-coreanos a defender sua identidade nacional: “mesmo que leiamos escritas estrangeiras, nossa mente deve ser enraizada em nosso próprio país”. Foi a partir desse ressentimento e desdém que o ethos do Juche se desenvolveu. Em oposição ao outro soviético, a nação norte-coreana nasceu. Em 3 de novembro de 1946, pela primeira vez, na Península Coreana o povo norte-coreano participou em eleições para os comitês provinciais, citadinos e de condados. Depois que o Comitê do Povo da Coreia do Norte foi estabelecido em 22 de fevereiro de 1947, os coreanos cada vez mais exerceram seu poder de tomar decisões e expressaram suas identidades de forma mais assertiva, com pouca consideração pela influência soviética. Essa mudança na balança de poder nas relações Coreia do Norte-soviéticos pode ser vista pelas lentes da mudança na quantidade de literatura soviética que foi traduzida e publicada na Coreia do Norte durante esse período. Como a tabela 1 mostra, o número de publicações traduzidas, produzidas pelo Departamento de Propaganda do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores e pela Choso Munhwa Hyophoe (Associação Cultural Coreano-Soviética), aumentou dramaticamente entre 1946 a 1947,[16] mas diminuiu consideravelmente em 1948. Ao mesmo tempo, a União Soviética promovia ao mundo a superioridade de seu sistema socialista energicamente, e a Coreia do Norte estava em uma posição apta a receber a “cultura avançada” soviética. A diminuição na tradução e publicação de literatura soviética, portanto, reflete uma diminuição da influência soviética sobre a Coreia do Norte. Ademais, o declínio nas publicações marxistas-leninistas, combinado com o fato que o Partido dos Trabalhadores da Coreia tinha um “número muito diminuto de ideólogos marxistas”[17] providenciou um chão fértil para o pensamento “no estilo coreano” e para a ideologia nacional estabelecerem suas raízes.

Os anos 1950 foram uma época de provação para o povo norte-coreano. Tendo sofrido um grau de devastação sem paralelos durante a Guerra da Coreia, eles foram deixados com desafios inevitáveis da reconstrução a partir das cinzas. Seus desafios se tornariam ainda mais complexos pela recusa soviética de providenciar toda a assistência necessária.[18] Os coreanos se tornariam ainda mais ressentidos vez que consideravam o comportamento soviético com uma traição do combativo povo norte-coreano.[19] Com a subida de Kruschev ao poder, as relações norte-coreano-soviéticas azedariam ainda mais. A União Soviética utilizava seu status de grande potência e exercia pressão para interferir nos negócios internos norte-coreanos. À medida que Pyongyang resistia, Moscou acusava o regime desafiador de ser uma “sociedade fechada” e “isolacionista”, usando os mesmos termos que o Ocidente invocaria décadas depois para criticar o Norte.[20] Em resposta, desde a metade até o final da década de 1950, o governo norte-coreano caracterizou a interferência soviética em seus negócios como “revisionismo moderno”. Sua oposição a esse revisionismo criou o momentum necessário para estabelecer o princípio Juche de “fazer as coisas do nosso jeito”. Como resultado, a Coreia do Norte desenvolveu um sistema único, diferente daquele dos Estados socialistas do Leste Europeu. Ainda que a Coreia do Norte possa dividir algumas das características básicas do Estado moderno e algumas das características comuns aos Estados socialistas, suas características peculiares resultam de suas primeiras interações com a União Soviética. Apenas no contexto histórico da luta do Norte contra ambos os “seus principais inimigos”, os Estados Unidos e seu suposto patrono, a União Soviética, é que se pode começar a entender a ênfase da RPDC na centralização ao redor de seu líder, “tradições e realizações revolucionárias”, a estratégia de sucessão e a “arte da liderança”.[21] Em resumo, o Juche, como instituição central norte-coreana, emergiu a um só tempo da oposição e da concordância com a União Soviética. Parte 2 O surgimento do governo popular da Coreia do Norte A modernidade na Europa Ocidental é caracterizada, dentre outras coisas, pela formação do Estado-nação, a ascensão do capitalismo e a formação ideológica do individualismo e do liberalismo. Em contraste, a modernidade na Península Coreana foi marcada pela luta pela soberania contra a colonização do imperialismo nipônico, o desenvolvimento de uma sociedade colonial semifeudal e a formação ideológica do coletivismo. Devido ao fato de o Estado coreano não ter emergido de um processo de diferenciação de desenvolvimento de uma sociedade civil, como é o caso dos Estados da Europa Ocidental, os coreanos tanto no Norte como no Sul distinguem dois períodos de sua modernidade: kundae (tempos recentes) e hyondae (tempos contemporâneos). O Estado norte-coreano emergiu a partir dos seguintes desenvolvimentos históricos: 1) o movimento de longa duração dos comunistas coreanos para construir um sistema de ditadura do proletariado; 2) sua solidariedade internacional com o Partido Comunista Chinês e; 3) a ocupação exclusiva da Coreia do Norte pelo Exército soviético imediatamente antes do término da Segunda Guerra Mundial. O movimento comunista e a luta armada antinipônica A base política e as origens históricas da inevitável formação de Estados separados na Península Coreana podem ser encontradas primeiro dentro do movimento comunista coreano. Mesmo tendo o Komintern retirado seu reconhecimento do Partido Comunista da Coreia enquanto um de seus ramos no final de 1928, os comunistas coreanos continuaram com suas atividades clandestinas por meio de organizações de massa, como sindicatos revolucionários e associações de camponeses. A tarefa deles era auxiliada pela grande ressonância da ideologia socialista e do pensamento reformista camponês tradicional, bem como pelos sentimentos dos camponeses e trabalhadores explorados pelo colonialismo nipônico. Apesar disso, até 1945, os comunistas não concretizaram uma organização centralizada que lideraria o esforço para estabelecer um novo Estado. As organizações comunistas haviam desempenhado um papel menor na luta pela soberania e exerceram uma influência limitada sobre as atividades próprias dos sindicatos dos trabalhadores e associações de camponeses. Após a derrota do movimento Primeiro de Maio (samil undong) em 1919, o centro do movimento de independência gravitou rumo à luta armada antinipônica, e todas as atividades militantes de grupos como o Movimento Exército da Independência, Exército da Liberação Nacional, Brigada de Voluntários Coreanos e a Unidade de Guerrilha Antinipônica, de Kim Il-Sung, cresceram em força. Durante sua longeva luta, o grupo de Kim Il-Sung se desenvolveu de Exército Popular da Guerrilha Antinipônica para Exército Revolucionário do Povo Coreano. Por uma combinação de fatores, emergiu como uma poderosa força política equipada com os alicerces ideológicos necessários para estabelecer o poder de um Estado popular (inmin chongkwori). Primeiramente, Kim Il-Sung era famoso por sua luta armada antinipônica durante os anos 1930. Após a libertação, ele foi recebido de forma triunfal de volta na Coreia como um herói lendário e a “estrela guia da libertação nacional”. O grupo de Kim Il-Sung ganhou popularidade ao vencer batalhas amplamente noticiadas, como a de Pochonbo, em 4 de junho de 1937, enquanto comunistas como Pak Honyong não eram tão conhecidos na população pelo fato de a maior parte de suas atividades ter sido conduzida de forma subterrânea. Segundo, como os guerrilheiros antinipônicos começaram a conduzir atividades partidárias enquanto membros do Partido Comunista Chinês e, também, por estarem, após 1940, sob o Comando Soviético do Extremo Oriente, tais atividades eram acima de tudo limitadas a projetos de construção partidária. Porém, transformando esse limite em uma vantagem, eles se engajaram ativamente na organização de células partidárias em muitas comunidades locais, o que acabou expandindo e fortalecendo suas influências. [22] Ao contrário de Pak Honyong – que, após a libertação, reuniu os seus e tentou consolidar seu poder no centro nacional de Seul –, Kim Il-Sung continuou sua prática de estabelecer bases nas províncias no sentido de propagar sua influência e eventualmente cercar e tomar o centro do país.[23] Terceiro, a guerrilha antinipônica havia desenvolvido uma identidade mais coerente que outros grupos políticos dentro ou fora da Coreia à época. Eles ganharam bastante confiança pelo fato de terem conseguido superar a brutal campanha “anti-minsaengdan”[24] e a chamada “Marcha Árdua”,[25] o que os diferenciava de outros grupos comunistas. Após a libertação, eles divulgaram suas experiências enquanto “caráter e disciplina revolucionárias”, elevando-se como padrão normativo para grupos políticos em busca do poder, o que viria a ter profundas consequências.[26] Por um lado, tal caracterização levou a lutas faccionais, posto que outros grupos comunistas ou nacionalistas que também haviam participado do movimento de libertação nacional[27] não eram tão valorizados quanto as guerrilhas antinipônicas e seus primeiros seguidores. Por outro, tornou-se uma tendência confiar e promover, enquanto elites de poder norte-coreanas, os graduados da Escola Revolucionária Mangyongdae (Mangyongdae hyongmyong hagwon), cuja maioria dos frequentadores pertencia aos descendentes das guerrilhas. Quarto, a Unidade de Guerrilha Antinipônica tinha a experiência de estabelecer uma base de guerrilha e formar uma organização de massa sob condições difíceis.[28] Como será discutido mais tarde, tal experiência lançou as bases para a tese da “base revolucionária democrática”, que justificava o estabelecimento de um governo separado no Norte e consolidou a divisão. Quinto, as experiências das guerrilhas antinipônicas guiaram suas decisões no processo de criação do Exército do Povo Coreano. Eles primeiro formaram pequenas unidades nas províncias e depois as integraram em um único e grande Exército por meio de um anúncio oficial. Apesar da Guerrilha Antinipônica ter feito compromissos e até mesmo concessões a outras facções, tomando um lugar secundário em muitas das estruturas burocráticas do governo, ela controlava diretamente o Exército sob todas as circunstâncias. Ela aceitava as manobras táticas, pois havia aprendido com suas próprias experiências de guerrilha aquilo que Mao Tsé-Tung havia popularizado: “o poder político nasce do cano do fuzil”.[29] A origem do conceito de songun (prioridade militar), comumente mencionado na Coreia do Norte de hoje, pode ser relacionado às práticas da Unidade de Guerrilha Antinipônica deste período. Sexto, Kim Il-Sung se baseou em sua experiência de forjar alianças para formular a política de construção de uma frente popular na Coreia do Norte pós-libertação. Durante as campanhas antinipônicas, o grupo de Kim trabalhou assiduamente para estabelecer uma frente anti-imperialista unida, com todas as forças – independentemente de suas origens regionais ou de classe – que lutassem contra os japoneses.[30] Encorajado por seu sucesso nessa empreitada, Kim estabeleceu um princípio da atividade do Partido para a construção de uma “Frente Unida Nacional Democrática”, baseada na aliança entre trabalhadores e camponeses, e desenvolveu políticas que privilegiavam as massas em detrimento das elites, bem como o estado subjetivo daquelas massas em detrimento de suas condições materiais. Esses princípios foram posteriormente formalizados em motes como “o trabalho é feito pelo povo, mas a revolução é conduzida pelas massas” e “a revolução não é alcançada pela origem social das pessoas, mas sim por seu pensamento.” Não apenas o grupo de Kim habilmente explorou sua longa e dura luta armada antinipônica para legitimar sua acumulação gradual de poder, mas também elevou esses seis pontos ora mostrados como os únicos princípios operativos internos do Estado norte-coreano. Com o passar do tempo, essas seis características se institucionalizaram de tal forma que elas coletivamente se tornaram tanto a base para a unidade partidária de Kim pelos próximos 60 anos como o mecanismo que reproduz seu poder centralizado. Relações com o Partido Comunista Chinês e a União Soviética Apesar dos coreanos terem participado ativamente da Revolução Chinesa durante o período colonial, muitos deles tinham dificuldades de trabalhar com os comunistas chineses. Em agosto de 1930, quando os comunistas coreanos decidiram cessar seus esforços para reestabelecer o Partido Comunista Coreano e, em vez disso, juntaram-se ao Comitê da Manchúria do Partido Comunista Chinês (PCCh), o PCCh ignorou seus esforços. Com uma boa dose de ceticismo, o PCCh comentou a respeito dos comunistas coreanos: “[…] apesar de muita energia ter sido gasta no Movimento Coreano na Manchúria desde o passado até o presente, não apenas a colheita tem sido diminuta, mas o domínio ideológico tem sido fraco”. Em particular, as pessoas associadas com o grupo ML (Marxista-Leninista) eram apontadas como uma fonte potencial de sectarismo, com o PCCh chegando ao ponto de baní-las da possibilidade de tomar posição de liderança dentro do Partido.[31] Kim Il-Sung, em contraste, ocupava uma posição de alto nível no PCCh e construiu um relacionamento de sucesso com seus camaradas chineses.[32] Ele participou no estabelecimento do Exército Aliado Antinipônico, uma unidade militar integrada de soldados coreanos e chineses, e trabalhou com os comunistas chineses para estabelecer a Frente Unida Anti-imperialista. O PCCh o via como um líder que era “tranquilo sob pressão, esperto e um comandante admirável”.[33] Zhou Baozhong chegou mesmo a relatar ao Comando do Exército Soviético do Extremo Oriente que “Kim Il-Sung é um excelente comandante militar[…] Entre os camaradas coreanos no Partido Comunista Chinês, ele é bastante superior. Ele pode desempenhar importantes tarefas no sul da Manchúria, a oeste do rio Amnok e na Coreia do Norte”.[34] As experiências de Kim Il-Sung e seus colegas no PCCh foram amplamente utilizadas na Coreia do Norte pós-libertação. Os laços de amizade forjados nesse período continuaram a prover uma sólida base para a solidariedade ideológica e algumas vezes pessoal entre o PCCh e o governo norte-coreano.[35] Ainda mais, sem o apoio do PCCh e da República Popular da China, teria sido muito mais difícil para o governo norte-coreano manter sua independência da União Soviética, e o destino da Coreia, como consequência, teria sido mais próximo àquele dos países do Leste Europeu, cuja autonomia foi afetada. 23 de outubro de 1940 marcou um ponto de viragem nas relações de Kim com os comunistas estrangeiros enquanto sua unidade de guerrilha se deslocava para Khabarovsk, na União Soviética. Kim estabeleceu uma base temporária na região do monte Paektu, no extremo leste da Sibéria, para dirigir ações de unidades menores na Coreia e no sudeste da Manchúria. Enquanto permaneceu na União Soviética, ele frequentemente se encontrava com o comandante do Primeiro Exército Aliado do Extremo-Oriente da União Soviética, K. A. Merichikov, bem como com o membro do comitê militar, T. F. Shtikov. Kim Il-Sung visitou Moscou antes da União Soviética declarar confrontos abertos contra o Japão e também se encontrou com A. Zhukov, comandante supremo do Exército Soviético de Ocupação da Alemanha e representante Soviético para a Autoridade de Ocupação Alemã, e A. Zhdanov, secretário do Comissariado de Assuntos Políticos do Partido Comunista da União Soviética[36]. Ter se encontrado com os altos líderes soviéticos e aqueles responsáveis pela administração na prática foi um importante passo político para Kim Il-Sung, que, mais tarde, se tornaria o líder da Coreia do Norte. Os soviéticos tiveram a chance de mensurar pessoalmente a capacidade de Kim Il-Sung enquanto líder, e a apreciação deles de seus méritos os levou a provê-lo com todos os meios necessários para controlar a situação política na Coreia do Norte pós-libertação. Parte 3 A entrada soviética na Guerra e a divisão e ocupação da Península Coreana Apesar de ser comumente reconhecido que a entrada da União Soviética na Segunda Guerra Mundial contribuiu não só para a destruição do Exército Japonês Kwantung, mas também para a divisão da Península Coreana, há alguma incerteza sobre a reação soviética à Ordem Geral n.º 1 emitida pelo general MacArthur. Um documento recentemente revelado dissipa tal incerteza. Em uma carta pessoal e secreta para o presidente Truman, Stálin seria explícito sobre sua aquiescência à ordem geral que dividia a Península:

“Eu, no geral, concordo com o conteúdo da Ordem Geral nº1 a qual você acaba de me enviar, desde que Dairen seja parte da região da Manchúria. Mas sugiro que os seguintes itens sejam revisados: 1) Nos territórios devolvidos pelo Exército Japonês ao Exército Soviético, as Ilhas Kuril devem ser incluídas na decisão dos Poderes Aliados […]”[37] Stálin não apenas queria adquirir Dairen (Dalian) e a seção da Península Coreana acima do Paralelo 38, mas, também desejava as Ilhas Kuril. Ele não tinha nenhuma objeção quanto à divisão da Península Coreana.[38] A ordem de Stálin de 20 de setembro de 1945 revela, ademais, que ele não somente concordava com a divisão da Coreia; ele também estava tentando instalar um governo pró-soviético no Norte acima do Paralelo 38. Eventos subsequentes, entretanto, mostram que as intenções de Stálin não eram facilmente implementáveis. Ao contrário, soviéticos e norte-coreanos se encontravam em uma complexa teia enquanto tentavam negociar em meio ao turbilhão revolucionário do período pós-libertação. A União Soviética imediatamente estabeleceu um governo civil em sua “área expandida” e instaurou um comando de assuntos policiais em cada região, mas lhe faltava o poder para exercer controle completo sobre o Norte.[39] Enquanto os coreanos formavam seus comitês populares[40] a União Soviética aprovou, ex post facto, “a participação direta de pessoas do Partido Comunista e do movimento nacionalista burguês” e tentou uni-los sob a “liderança do Alto Comando do Exército Vermelho”.[41] Após isso, os soviéticos seguiram um curso pragmático quando admitiam as atividades políticas autônomas dos coreanos. Como resultado, mesmo estando os coreanos sob forte influência soviética, eles ainda possuíam uma considerável latitude para supervisionar seus próprios assuntos. Os comunistas coreanos adotaram um modelo de desenvolvimento de estilo soviético, por exemplo, mas o adaptaram às suas circunstâncias de tal forma que se tornou o modelo Juche – não apenas diferente do enquadramento soviético, mas também independente de sua influência.[42] À medida que a balança do poder estava mudando dentro do Norte, uma mudança igualmente importante ocorreu na Conferência de Moscou de Ministros Estrangeiros de dezembro de 1945, na qual o destino da Coreia estava sendo discutido.[43] Na conferência, os Estados Unidos propuseram um conselho de quatro nações no qual a superioridade de três (Estados Unidos, Grã-Bretanha e China) dominaria sobre a outra (União Soviética).[44] A proposta soviética, em contraste, estava centrada no estabelecimento pelos coreanos de um Governo Provisório Coreano.[45] Essas propostas diferentes traziam o paralelismo das diferentes situações políticas no Sul e no Norte da Coreia. No Sul, o governo militar estadunidense mantinha controle em colaboração com uma minoria de políticos de direita. No Norte, os coreanos não somente eram incluídos nos dez maiores comissariados da Administração Norte-coreana, mas estavam, de fato, conduzindo o desenvolvimento político em cooperação com os soviéticos.[46] Em 27 de Dezembro de 1945, a Conferência de Moscou concordou em resolver a querela coreana na linha seguida pela proposta soviética.[47] A Resolução de Moscou deixou, ao menos, duas coisas claras sobre as relações entre a Coreia e o restante do mundo. Primeiro, ela substituiu uma declaração clara sobre a independência da Coreia pela imprecisão da Declaração do Cairo de 1943 que a Coreia receberia sua independência “em seu devido tempo”. Segundo, ela pressagiava que, a partir de então, os Estados Unidos e a União Soviética influenciariam diretamente o futuro da Coreia. A decisão de Moscou marcou uma separação do estado contínuo de uma ocupação dividida entre o norte e o sul.[48] Ao tempo que a Conferência fora convocada, os Estados Unidos e a União Soviética já haviam unilateralmente implementado suas políticas de ocupações por um período de três ou quatro meses. Baseados nas circunstâncias previamente constituídas, a discussão da querela coreana poderia começar, visto que cada lado já havia estabelecido as fundações para implementar suas próprias políticas. Mantendo a fachada da aliança do período da Guerra, os dois lados agiam como se estivessem interessados em estabelecer um Estado coreano unificado, mas suas intenções reais eram completamente diferentes. Em um telegrama de março de 1946 para o secretário de Estado estadunidense, um conselheiro político americano na Coreia, C. W. Thayer, endossa de forma inequívoca um governo separado no Sul enquanto uma política realista e sábia: “[…] o propósito da política norte-americana em relação à Coreia não é pela sua independência, mas deve sê-lo para bloquear o controle soviético da Coreia […] forçar uma política para o estabelecimento de um governo de direita pró-americano e fortemente antissoviético no Sul é realista e sábio.” [49] Seguindo a diretiva do secretário de Estado, George Marshal, para o secretário-assistente de Estado, Dean Acheson, para “preparar um esboço de política para criar um governo separado no Sul” em janeiro de 1947,[50] os Estados Unidos propuseram à Rússia que as fronteiras na Península Coreana fossem claramente determinadas.[51] À medida que a Doutrina Truman intensificava a Guerra Fria, a transferência da questão coreana às Nações Unidas pressagiava a tragédia da divisão permanente e do conflito mutuamente destrutivo. A confrontação entre Estados Unidos e União Soviética, por último, forçou o estabelecimento de governos separados nas Coreias do Norte e do Sul. Se a Conferência de Ministros Estrangeiros de Moscou inequivocamente apresentou a situação internacional relativa à Península da Coreia, então o minju kijiron (argumento da base democrática) efetivamente expressou o conhecimento da Coreia do Norte do estado da situação, bem como sua contra-estratégia. Os comunistas norte-coreanos estavam tentando afirmar o Juche do país – em vez de agir passivamente – sob as circunstâncias internacionais que marginalizavam a voz coreana. No começo de sua atividade política, Kim Il-Sung falou em termos obscuros sobre o minju kiji noson (linha da base democrática).[52] Em um relatório, ele afirmava que “ainda que apenas na região norte da Coreia, onde a liberdade da atividade democrática está garantida, a tarefa candente é tornar a Coreia do Norte na base do desenvolvimento democrático da Coreia ao estabelecer as fundações política, econômica e cultural para a futura República Democrática Popular.”[53] A 16ª clausula do comunicado da reunião inaugural do Partido Comunista da Coreia do Norte também aludia ao “caráter único da região norte da Coreia”. Uma ofensiva iniciada, até certo ponto, pelos comunistas coreanos, o objetivo do minju kiji noson era alcançar uma revolução em toda a Coreia para primeiro estabelecer a região norte como a área de suporte e base revolucionária para um movimento comunista coreano. Ao mesmo tempo, também era uma reação defensiva frente aos desenvolvimentos internacionais contínuos: as instituições da liderança central do Partido estavam localizadas em Pyongyang como uma estratégia cautelar contra os potenciais ataques estadunidenses ou outras emergências.[54] Em 1945, declarações claras sobre a “base revolucionária” e a “base democrática” não foram bem divulgadas, mas a compreensão situacional e a linha estratégica dos comunistas do Norte eram claramente baseadas na política de se estabelecer uma base democrática. Os comunistas do Norte tornaram pública a sua postura na fundação do Comissariado do Ramo norte-coreano do Partido Comunista Coreano. Em outras palavras, é impossível compreender a linha da base democrática sem também considerar o estabelecimento do Comissariado do Ramo Norte-coreano. A mudança nas relações norte-coreano-soviéticas e a sua influência na formação do sistema político norte-coreano Desde a época da libertação, a Coreia do Norte já havia começado a desenvolver seu sistema político único, que continua em vigor até hoje.[55] Em abril de 1946, Kim Changman, o líder do Departamento de Propaganda do Partido Comunista Norte-coreano, começou a usar expressões que refletiam as características do sistema político norte-coreano. Dentre elas, “atualização da inimitável orientação”, “a única e unificada segurança da orientação das massas”, “o estabelecimento do sujeito frente a orientação” e “a perspectiva da linha revolucionária de massas”.[56] Acadêmicos da Coreia do Norte também começaram a minimizar o papel da União Soviética na libertação da Coreia e na construção da nação. Após os anos 1960, as histórias gerais da Coreia do Norte praticamente eliminaram as atividades soviéticas no período pós-libertação. Em seu lugar, o povo norte-coreano fora inscrito em uma posição central enquanto os sujeitos da construção nacional.[57] Por sua vez, os soviéticos criticaram asperamente os julgamentos negativos dos acadêmicos norte-coreanos da União Soviética. Para enfatizar as façanhas do povo soviético, que participou da libertação da Coreia e da construção do socialismo na Coreia do Norte, autores soviéticos publicaram diversos estudos, dentre os quais, Para a benevolência do Povo Coreano (1965), A Benevolência Indestrutível (1971), A Libertação da Coreia (1976) e Pela Paz na Coreia (1985). Todos esses trabalhos argumentam enfaticamente que foi a União Soviética quem “causou o colapso do fascismo alemão e do militarismo japonês e desempenhou um papel decisivo na libertação da Coreia, China e de toda a região nordeste da opressão colonial”.[58] Por que os norte-coreanos e os soviéticos apresentam o mesmo conjunto de eventos de forma tão oposta e até mesmo contenciosa? Quais eventos e problemas causaram a discórdia entre a Coreia do Norte e a União Soviética nos anos 1950? Em maio de 1955, a União Soviética anunciou a criação da Organização do Tratado de Varsóvia (ou Pacto de Varsóvia). Na Conferência da Cimeira de Genebra dois meses depois, Moscou revisa sua política de apoiar a unificação da Alemanha para a aprovação de “duas Alemanhas” e torna o acordo realidade, ao estabelecer relações diplomáticas com a Alemanha Oriental em setembro. O governo norte-coreano reagiu alarmado a essa sequência de ações soviéticas – as quais, ocorrendo em um Estado dividido como a Alemanha Oriental, definiam uma Coreia unificada enquanto uma agenda prioritária.[59] O governo norte-coreano demandava o direito de lidar com seus próprios problemas de forma independente, de acordo com suas próprias convicções e circunstâncias. Contudo, a Coreia do Norte estava lutando uma penosa batalha, cujo custo poderia ser vultoso contra a então dominante União Soviética. A ansiedade do governo coreano foi amplificada pelo fato que muitas pessoas percebiam a União Soviética como uma fonte de legitimidade, orientação e suporte. Algumas destas mesmas pessoas desacreditavam o legado cultural tradicional coreano, considerando-o antiquado, e almejavam a cultura soviética, percebida como moderna e avançada. Outros queriam aderir às demandas dos soviéticos porquanto eles priorizavam a educação e estavam despejando recursos em pesquisas científicas e no ensino da história, geografia e costumes soviéticos. Até mesmo alguns membros do Partido dos Trabalhadores da Coreia começaram a dar apoio aos soviéticos. Porém, em 29 de dezembro de 1955, o premier Kim Il-Sung liderou a contraofensiva ao crescente suporte aos Soviéticos conclamando os membros do partido a “eliminar o dogmatismo e o formalismo na atividade ideológica e se manter firme no estabelecimento do Juche”. Esse grande discurso público foi uma medida preliminar para proteger a autonomia da estrutura política norte-coreana no momento em que a taegukchuui (grande poder – chauvinismo) da União Soviética estava penetrando a sadaejuui (política de se servir à grandeza) da Coreia do Norte. “Amar e cuidar de nossas próprias coisas é patriotismo e Juche”, enfatizava Kim nesta campanha.[60] Quando a União Soviética criticou estas medidas como “antissoviéticas” e “promoção do nacionalismo”, o governo da Coreia do Norte respondeu aprofundando a articulação de sua própria ideologia, teoria e métodos. A morte de Stalin em 1953 não trouxe o fim dos problemas de Pyongyang com Moscou. A campanha de desestalinização de Khrushchev mirou diretamente em Kim Il-Sung, muitas vezes, chamado de “Pequeno Stalin”. À medida que a febre de expulsão de stalinistas varria os países socialistas, Moscou também direcionou o Partido dos Trabalhadores da Coreia para resolver o assim chamado culto de personalidade em torno de Kim Il-Sung. Em abril de 1956, quando o Terceiro Congresso do Partido dos Trabalhadores da Coreia (PTC) foi instaurado, Moscou despachou um grupo de representantes que sugeriu a interlocutores norte-coreanos que o problema do “culto à personalidade” fosse mirado e eliminado. O PTC se opôs tão categoricamente àquilo que foi visto como taegukchuui soviético que a situação culminou em outro impasse. Em uma ação desafiadora que enviou uma clara mensagem a Moscou, o Congresso reelegeu Kim Il-Sung como presidente do Comitê Central do Partido. Quatro meses depois, o PTC realizou uma reunião geral que, pela primeira vez em sua história, abordou um assunto que não estava na agenda. Apesar de sua agenda principal fosse discutir os resultados da viagem do Premier Kim Il-Sung ao Leste Europeu e a reforma das atividades de saneamento, alguns líderes do partido como Choe Changik e Pak Changok se opuserem às políticas do PTC e questionaram a perspectiva de não se seguir as decisões do 20ª Congresso do Partido Comunista da União Soviética. Eles também criticaram a posição de liderança que o PTC mantinha sobre os órgãos administrativos do governo, chigop tongmaeng (a aliança de ocupação) e o Exército, e admoestaram contra a direção tomada na construção econômica ressaltando que “a indústria pesada está sendo favorecida enquanto a vida das pessoas continua difícil” e “que a comida não cresce das máquinas”.[61] Tais questões eram intimamente ligadas aos objetivos soviéticos de integrar a economia da Coreia do Norte em sua ordem econômica socialista. No meio da década de 1950, a União Soviética já estava usando o Conselho para Assistência Econômica Mútua (COMECON) – estabelecido em 1949 enquanto a organização para a cooperação econômica dos países socialistas – como um meio para subordinar economias socialistas sob o pretexto de “especialização produtiva”. Os soviéticos tentaram persuadir Pyongyang a se juntar ao COMECON e, quando houve a recusa, a criticaram por exibir “inclinações nacionalistas”, “isolamento do sistema socialista” e “possuir um sistema econômico fechado”. A Coreia do Norte continuou a recusar a adesão ao COMECON, principalmente por sentir que a organização subordinava a economia do Norte à da União Soviética, apesar de a troca desigual de produtos entre a Coreia do Norte e a União Soviética ser um problema contínuo.[62] O lema norte-coreano à época era “não viver o hoje para o hoje, mas viver o hoje para o amanhã”, indicando sua resolução em suportar dificuldades temporárias no sentido de construir um futuro livre da interferência estrangeira, fosse dos soviéticos, fosse de quem fosse. No Congresso Nacional de Cooperativas Agrícolas de janeiro de 1959, realizado em meio à “controvérsia da transição”[63] que permeava as nações socialistas, o PTC estabeleceu – para além do estabelecimento do sistema socialista – as “três revoluções da ideologia, tecnologia e cultura” enquanto suas tarefas revolucionárias continuadas. Em uma reunião com os secretários do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, Kochelov e Andropov, em janeiro de 1963, Kim Il-Sung, de maneira desafiadora, expressou sua oposição ao taegukchuui soviético. Quando ambos o Partido Comunista da União Soviética e o Partido Socialista Unido da Alemanha (o qual seguia as políticas soviéticas) criticaram a ação de Kim, o Rodong Sinmun, jornal oficial do PTC, publicamente anunciou que o Norte perseguiria uma política de “luta anti-imperialista” em detrimento da “coexistência pacífica”.[64] Durante os anos 1950 e 1960, a União Soviética forçou suas políticas nos países comunistas fronteiriços. Para aquelas nações que optaram por não aceitar a orientação, a União Soviética não hesitou em interferir em seus assuntos internos e pressioná-las política, econômica e militarmente. A Coreia do Norte não foi uma exceção. Agora que a União Soviética possuía armas e mísseis nucleares – como Moscou argumentava com a recalcitrante Pyongyang –, não havia necessidade para que outras nações socialistas gastassem energia fortalecendo seus próprios Exércitos. Os soviéticos subvalorizavam a necessidade norte-coreana por um programa de autodefesa e buscavam passar a impressão que eles se responsabilizariam pela proteção da Coreia do Norte. Na realidade, os soviéticos estavam pressionando politicamente a Coreia do Norte, que estava sob o guarda-chuvas nuclear soviético. O governo da Coreia do Norte respondeu enfatizando seu direito de decidir autonomamente sobre seus assuntos internos com a seleção e estabelecimento de um sistema estatal socialista, a preparação e execução de suas políticas internas e externas e controle jurisdicional sobre sua própria população e terras. A RPDC resistiu à interferência soviética em seus assuntos internos e buscou uma forma de existir independentemente,[65] desenvolvendo gradual e cumulativamente seu sistema político único que privilegia ao Juche a todos os outros fatores. Conclusão As origens do Estado norte-coreano podem ser traçadas de volta até a ocupação japonesa da Coreia. De fato, as complexas imbricações entre os coreanos e os poderes estrangeiros moldaram profundamente a instituição Juche que se desenvolveria como sua consequência. Ironicamente, fora o colonialismo japonês quem propiciou os alicerces para o Estado no Norte, uma vez que engendrou o movimento de libertação da Coreia que combateu a colonização nipônica na Coreia e na China e que mais tarde cresceria até se tornar o Estado norte-coreano. No princípio da década de 1930, a luta armada nacionalista dentro da Coreia, baseada no Exército de Independência, chegou ao seu fim, e jovens socialistas, incluindo Kim Il-Sung, iniciaram uma mudança qualitativa no caráter do movimento, ao abrir novos frontes na luta armada. Enquanto o Japão estendia seu braço imperial até a China, as lutas coreanas pela libertação tomaram um caráter transnacional. Comunistas coreanos se juntaram ao PCCh e colaboraram com os chineses na criação de Forças Armadas Aliadas Antinipônicas que combatiam um inimigo comum, a saber, as forças imperiais japonesas na Manchúria. Os japoneses que freneticamente tentavam assegurar a China contra influências ocidentais responderam com ferozes campanhas anti-guerrilha. Em 1940, tais campanhas forçaram o exército amalgamado sino-coreano a buscar abrigo na União Soviética que havia, até então, mantido uma posição neutra na guerra internacional entre os Aliados e o Eixo. Em mais uma reviravolta irônica, esse movimento forçado deu ao grupo de Kim Il-Sung a oportunidade de expandir sua aliança transnacional e incluir os soviéticos, que, após 1945, viriam a exercer uma influência decisiva na Coreia. Em agosto de 1945, a Coreia foi liberta do colonialismo japonês apenas para ser dividida ao longo do Paralelo 38 e ocupada pelos Estados Unidos e pela União Soviética. Esses dois países, por meio de suas políticas de ocupação e pela Conferência de Moscou de Ministros Estrangeiros, agora interagiam com o movimento de libertação coreano que buscava recuperar a soberania e constituir um Estado-nação. Nessa Coreia dividida, as forças do movimento de libertação nacional também foram cingidas. Muitos tentaram ganhar influência ao colidir ou com os Estados Unidos ou com a União Soviética. Cada qual buscou grupos autóctones para falarem em seus nomes. Após 1947, tornou-se claro que o estabelecimento de um Estado coreano unificado e independente havia fracassado. No Norte e no Sul, aparatos estatais individuais foram formados sob a condução de poderes estrangeiros. No Norte, os comunistas se aproveitaram das circunstâncias propícias criadas sob a ocupação soviética para tomar a liderança, em 8 de fevereiro de 1946, para o estabelecimento do Comitê Provisório do Povo Norte-coreano enquanto a organização central do governo. Mesmo dando apoio aos partidos políticos e grupos sociais, os comunistas colocaram o povo no assento condutor da reforma social. Em 28 de agosto de 1946, o PTC foi criado. Em 3 de novembro de 1946, a primeira eleição regular ocorreu na Península Coreana e resultou na formação da Assembleia do Povo da Coreia do Norte e no Comitê do Povo da Coreia do Norte. Em 8 de fevereiro de 1948, deu-se a fundação do Exército do Povo Coreano. Em abril de 1948, a Conferência Conjunta dos Representantes dos Partidos Políticos e Organizações Públicas nas Coreias do Norte e do Sul ocorreu conjuntamente à eleição geral Norte-Sul de Representantes para Assembleia Suprema do Povo. Em 2 de setembro de 1948, a Primeira Assembleia Suprema do Povo foi inaugurada, e a Constituição da República Popular Democrática da Coreia se tornou o alicerce para o estabelecimento da RPDC, a sucessora do Comitê do Povo.[66] A Coreia do Norte de hoje continua a usar o epíteto estatal República Popular Democrática da Coreia, e sua soberania ainda reside na Assembleia Suprema do Povo e no Comitê do Povo, tal como quando o país foi fundado. Apesar de muito de suas estruturas formais terem permanecido, a Coreia do Norte passou por muitas mudanças durante o período de intervenções. Porquanto tenha sido o estado formado sob a base de uma ideologia de “democracia progressista”, essa foi gradualmente substituída pela revolução socialista por um “socialismo de características autóctones”. O caráter do governo também mudou de uma “ditadura democrático-popular” para uma “ditadura do proletariado”. Se os papéis-chave do nascente governo foram inicialmente desempenhados pela Unidade de Guerrilha Antinipônica de Kim Il-Sung e seus apoiadores comunistas em cooperação com grupos de centro, o governo é atualmente tocado principalmente por antigos trabalhadores e camponeses recrutados após a libertação dentro de um enquadramento formado pelos membros originais da guerrilha antinipônica e sua segunda geração. Uma característica não se alterou com o tempo e é pouco provável que se altere no futuro próximo: a estrutura de poder concêntrica predicada na lealdade pessoal a Kim Il-Sung e Kim Jong-Il. A unidade de guerrilha antinipônica e sua segunda geração ocupam o centro desses círculos concêntricos. Em torno deles, estão o Partido, os militares e as instituições governamentais, bem como grupos sociais unidos por firmes conexões, os quais funcionam para manter e fortalecer a estrutura reprodutiva daquilo que principiou na Unidade de Guerrilha Antinipônica. Tal é a estrutura de poder institucionalizada na Coreia do Norte do Juche. Escrito por Gwang-Oon Kim*.

Original:“The Making of the North Korean State”, publicado no Journal of Korean Studies, Volume 12, no. 1, pp. 15-42. Copyright, 2007.

Publicado em português originalmente pelo revistaopera.com.br (tradução de João Carvalho)

* Gwang-Oon Kim é um pesquisador sênior no Instituto Nacional de História Coreana.

Notas [1] – A República Popular Democrática da Coreia é o nome formal do estado estabelecido em 9 de setembro de 1948, o qual essa localizado na região norte da Península Coreana sobre o paralelo 38 (a linha de demarcação militar estabelecida em 1953). Dos 221,336 km² que perfazem a área terrestre total da Coreia a RPDC ocupa cerca de 55% ou 122,762 km². Em 2000, sua população era de 22.963.000. Suas áreas administrativas se constituem de duas cidades controladas pelo governo, nova províncias, um cidade especial, 25 cidades e 148 condados. Desde junho de 2004, a RPDC mantém relações diplomáticas com 155 países. [2] – Ver CUMMINGS, Bruce, “Bringing Korea Back In: Structured Absence, Glaring Present, and Invisibility” in Pacific Passage: The Study of American-East Asian Relations on the Eve of the Twenty-first Century, Nova York: Columbia University Press, 1996, pgs. 335-74 [3] – “O Conselheiro político na Coreia (Benninghoff) para o Secretário de Estado apud Foreign Relations of the United States (FRUS) 1945, vol. VI, 1065 [4] – DEPARTAMENTO DE ESTADO NORTE AMERICANO, North Korea: A Case Study in the Technique of Take- over. Washington: Government Printing Office, 1961 , pg. 2. [5] – Ver, YONGJIN, O. Sogun chõngha iti Pukhan – Hana ui chungón (A Coreia do Norte sobre o Governo Militar Soviético – Um testemunho). Seul: Chungang Munhwasa, 1952;SETOR ESPECIAL DE INTELIGÊNCIA, BUREAU DE SEGURANÇA PÚBLICA, MINISTÉRIO DO INTERIOR. Pukhan kongsan koeroe chõngkwõn e taehan kochal (Um estudo do regime títere comunista Norte-coreano) Seul: Minjung Sõgwan, 1958;HORNIN, Yang Pukhan iti ideollogi wa chöngch’i (A Ideologia e a Política da Coreia do Norte). Seul: Koryõdae Asea Munje Yön’guso, 1967; SCALAPINO, Robert A. e LEE, Chong-sik. Communism in Korea. Berkeley: University of California Press, 1972; VAN REE, Erik, Socialism in One Zone: Stalin’s Policy in Korea, 1945-1947. Oxford: Berg, 1989. [6] – O termo em inglês “freight car government” se refere ao fato dos governos do Leste Europeus serem “puxados” pela “locomotiva” que seria a União Soviética. (N.T) [7] – Depois do “Fórum Nacional de Ciências sobre a Emergência e Desenvolvimento da Democracia Popular em nosso país”, patrocinado pelo Kwahagwõn Ryõksa Yön’guso em Setembro de 1958, acadêmicos norte-coreanos claramente mudaram sua postura em direção ao charyõk hyõngmyõng (revolução autopropelida). Um fato interessante é que por volta desta época a Academia norte-coreana negou a teria de “difusão cultural” e endossou a ascendência da cultura nacional ou dos “estudos populares históricos”. [8] – HANG-IL, Kim .Hyöndae Chosõn ryõksa (História Coreana Moderna).Pyongyang: Sahoe Kwahak Ch’ulp’ansa, 1983, pgs. 196-97. [9] – O artigo fora escrito em 2007 durante um período de vultosos gastos militares para se completar o ciclo nuclear de proteção vis a vis a política songun, a atual situação econômica do Norte é muito mais favorável que à época do escrito (N.T) [10] – Ver CUMMINGS, Bruce. The Origins of the Korean War; vol. 2 Princeton: Princeton University Press, 1990; MASAYUKI, Suzuki; CHOSEN, Kita. Shakaishugi to dento no kyõmei (Coreia do Norte: Socialismo e uma ressonância com a Tradição) Tóquio: Tokyo Daigaku Shuppankai, 1992; KILJE, Yu. Pukhan üi kukka kõnsõl kwa inmin wiwönhoe üi yõkhal (A Construção do Estado nortecoreano e o papel dos comitês populares). Tese de Doutorado, Departamento de Ciências Políticas e Relações Internacionais, Koryõ Taehakkyo, 1995; HAEGU, Chõng Nam-Pukhan pundan chõngkwõn surip kwajöng yön’gu: 1947.5-1948.9 (Um estudo do estabelecimento dos governos divididos da Coreia do Norte e da Coreia do Sul 1947.5-1948.9) Tese de Doutorado, Departamento de Ciências Políticas e Relações Internacionais, Koryõ Taehakkyo, 1995; SONGBO, Kim. Pukhan üi ťoji kaehyõk kwa nongõp hyõptonghwa (Reforma Agrária e Cooperativas de Agricultura na Coreia do Norte) Tese de Doutorado, Departamento de História, Universidade de Yonsei, 1996; TONGMAN, Sõ. Kita Chõsen ni okeru shakaishugi taisei no seiritsu: 1945-1961 (O Estabelecimento do Sistema Socialista na Coreia do Norte: 1945-1961) Tese de Doutorado, Universidade de Tóquio, 1995; KWANGSO, Ki. O Estabelecimento da Estrutura Política da Coreia do Norte e o Pape da União Soviética. Tese de Doutorado, Instituto de Pesquisa de Estudos Orientais, Academia de Ciências da Rússia, 1998; CHUCH-OL, Yi. Puk Chosõn nodongdang üi tangin kwa kü habu chojik e kwanhan yön’gu (Um estudo sobre os membros do Partido do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte e suas organizações menores). Tese de Doutorado, Departamento de História, Universidade de Koryõ ,1999; MYONGNIM, Pak. Han’guk chõnjaeng üi palbal kwa kiwõn (As origens e a Eclosão da Guerra da Coreia). Seul: Nanam Ch’ulpan, 1996; ARMSTRONG, Charles K. The North Korean Revolution, 1945-1950. Ithaca: Cornell University Press, 2002; GWANG-OON, Kim. Pukhan chöngch’isayörigu (Um estudo da História Política nortecoreana. Seul: Sõnin, 2003; GWANG-OON, Kim. Sõ Tongman, Puk Chosõn sahoejuui eh ‘eje sõngnipsa (Um estudo do Sistema Político Norte-coreano. Seul: Sõnin, 2005). [11] – Em 17 de dezembro de 1945, Kim II Sung convocou a Terceira Reunião Ampliada do Comitê Executivo do Comitê Central de Organização do Braço Norte-coreano do Partido Comunista Coreano, onde foi tomada a crucial decisão de fortalecer o órgão de liderança central do partido instalando-se Kim Jong Il enquanto seu representante. [12] – Ver Krasnaja Zvejda (Estrela Vermelha) 12 Setembro, 1945; “Shtikov memorandum” 6 de Dezembro de 1946; Coleção de Manuscritos Russos Kuksa P’yonch’an Wiwõnhoe, Seul, Dezembro de 1946. [13] – Relatório de Pesquisa das Condições de Produção nas Operações e Empreendimentos Fabris Nortecoreanos de 15 de novembro de 1945 a primeiro de maio de 1946 enviado por Shtikov a Molotov.” Em HYONSU, Chõn. Haebang chikhu Pukhansa yön’gu üi myöt kaji munje e taehayõ (Várias questões concernentes à Pesquisa da Coreia do Norte pós-liberação) Seul: Han’guk Yöksa Yön’guhoe, 1993, vol. 10, pg. 309 [14] – HYONSU,Chõn. Haebang chikhu Pukhansa yön’gu üi myõt kaji munje e taehayõ, pgs. 308-9. [15] – Após a criação da República na Coreia do Norte figuras soviéticas responsáveis pela exploração econômica foram removidas de seus cargos. Um caso emblemático foi a remoção de Pomenko como presidente da Companhia Marítima Choson-Soviética. Ver Seoul Sinmun, March 27, 1995 [16] – Em janeiro de 1947, o Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte proibiu às organizações partidárias locais a publicação dos escritos de Marx, Lênin e Stalin. Ver Kyolchongjip (Arquivo Secreto de Documentos do Partido dos Trabalhadores da Coreia: 1946.9-1951.11), Regarding the Publication of Marxist-Leninist Writings and Bolshevik Communist History: The Decision Papers of the Twenty-first Meeting of the Central Executive Committee of the North Korean Workers’ Party, 28 de janeiro, 1947. [17] – Ver “For Raising the Level of Ideological Theory in Party Members and Qualitatively Improving Party Propaganda Activity: The Decision Papers of the Forty-eighth Meeting of the Central Executive Committee of the North Korean Workers’ Party, November 10, 1947,” Kyõlchõngjip (Arquivo Secreto de Documentos do Partido dos Trabalhadores da Coreia: 1946.9-1948.3). [18] – Puzanof, “An Ambassador to DPRK, Puzanof Memorandum,” Abril, 11, 1957, Coleção de Manuscritos Russos, Kuksa Pyonchan Wiwõnhoe, Seul [19] – “An Ambassador to DPRK, Puzanof Memorandum,” Maio, 12, 1957. [20] – “An Ambassador to DPRK, Puzanof Memorandum,” Abril, 27, 1957. [21] – A respeito da estrutura de poder norte-coreana Bruce Cummings alega em The Origins of the Korean War que o Sistema político peculiar que se desenvolveu no final da década de 40, sobre a influência da União Soviética e da China, não mudou substancialmente na segunda metade do século. Cumings vê a estrutura de poder da Coreia do Norte – a qual chama de “corporativismo revolucionário nacionalista” – como a mais diferente dos sistemas Marxistas-Leninistas pretéritos (pgs. 293-94). Para além de reconhecer o “reino heremita” da dinastia Chosõn e a influência do Confucionismo tradicional em sua relação com a “peculiar formação norte-coreana”, Cummings não se aprofundou em análises mais profundas em sua obra. Ver também CUMMINGS, Bruce. Corporatism in North Korea, Journal of Korean Studies 4, no. 1 (1982), trans. Kim Tongch’un, “Pukhan üi chohapchuüi” Han’guk hyõndaesa yôn’gu (Um Estudo de História Contemporânea Coreana), pgs. 341-43. [22] – Ver Manshukoku gunseifu komonbu (Conselho Consultivo do Governo Militar da Manchúria), Manshïi kyõsanfun no кепкуй (Um estudo dos Bandidos Comunistas da Manchúria) Tóquio: Kyögudou Kenkyüjo, 1937, pg.86. [23] – Ver Chungang libo t’ükbyöl ch’wijaeban, Pirok Chosõn minjujuüi inmin kong- hwaguk (Livro Secreto: A República Popular Democrática da Coreia), vol. 1. Seul: Chungang libo, 1992, pgs. 80-83. [24] – O Minsaengdan era uma organização contrarrevolucionária de espiões e lacaios que os imperialistas japoneses organizaram em Jiandao, na China, em fevereiro de 1932 para destruir as fileiras revolucionárias de dentro por estarem os japoneses alarmados com o crescimento das forças revolucionárias coreanas. Desde sua concepção a natureza contrarrevolucionária da organização era bem conhecida, e a mesma foi dissolvida em julho de 1932 após ser condenada e rejeitada pelo povo. Entretanto, mesmo após sua dissolução, astutos imperialistas japoneses continuaram a dar a impressão que braços da Minsaengdan haviam sido formados em diversos locais. Nacionais-chauvinistas e sicofantas faccionários foram enganados pelo ardil e usaram a suposta luta anti-Minsaengdan contra a extrema-esquerda o que causou um dano profundo à unidade das fileiras revolucionárias e ao desenvolvimento da Revolução Coreana. [25] – A “Marcha Árdua” (konan ui haengun) foi a marcha da unidade principal da guerrilha desde Nampaitzu até a região fronteiriça entre Yonan e o Rio Amnok. Ela durou do começo de dezembro de 1938 até março do ano seguinte. Após sofrer com uma campanha de supressão japonesa, temperaturas de 40º Celsius negativos, escassez de alimentos e diversos combates a unidade da guerrilha chegou a seu destino. Tal experiência fortaleceu a união e a confiança de seus conscritos. [26] – CHAEDOK, Han. Kim Ilsõng changgun kaesõngi (O Registro do Retorno Triunfante do General Kim Il-Sung). Pyongyang: Democratic Korea Publishing House, 1947, pgs. 50-53. [27] – “Zhonggong ongman dangtuan tewei gongzuo baogao” (Proclamação de uma manobra política: 25 de outubro de 1933) in: Dongbei dichu geming lishi wenjian huiji (Documentos Históricos da Revolução da Área Nordeste) A30; Harbin: Heilongjiangcheng Dang’anguan Chuban, 1992, pgs. 17, 47. [28] – “Zhonggong dongman dangtuan tewei gongzuo baogao” (A reunião conjunta do Comitê Militar do Governo Revolucionário do Povo do Nordeste), Dongbei dichu geming lishi wenjian huiji (Documentos Históricos da Revolução da Área Nordeste) A44; Harbin: Heilongjiangcheng Dang’anguan Chuban, 1992, pg. 432. [29] – No começo, o Exército norte-coreano era chamado de “o sucessor da unidade partidária sob o comando do General Kim II-Sung.” Ver Chosõn chungang yon gam (O Anuário de Choson Central) 1949 Pyongyang: Korean Central News Agency, pg.86. [30] – Ver Naemusõng kyõngboguk, Т’йкко wölbo (Relatório Especial Mensal). Seul: Naemusõng Kyõngboguk Poankwa, novembro 1944, pg. 76. [31] – Em agosto de 1932, por exemplo, o Comitê da Manchúria do PCCh expurgou instigadores de conflitos sectários que pertenciam ao Partido Comunista Coreano e proibiu aqueles envolvidos em conflitos sectários de tomar posições de liderança em quaisquer organizações acima do nível mais básico. Ver “Chaoxian gongchandang Manzhou zongju de baogao” 30 de janeiro de 1930, Dongbei dichu geming lishi wenjian huiji (Documentos Históricos da Revolução na Área Nordeste) A4, Harbin: Heilongjiangcheng Dang’anguan Chuban, 1992, pg. 393. [32] – Chongno, 14 de fevereiro, 1946. [33] – “Dongbei renmin geming jun i er jun zhi shengchan chan ji gi fazhan de jingguo: 1938” (O Estabelecimento e Processo de Desenvolvimento do Segundo Corpo do Exército Revolucionário Popular do Nordeste), Dongbei dichu geming lishi wenjian huiji (Documentos Históricos da Revolução na Área Nordeste) A53, Harbin: Heilong- jiangcheng Dang’anguan Chuban, 1992, pg.311. [34] – “Zhou aohong zhi Wang Xnln de xin” (A carta de Zhou Bazong para Wang Xinin: 1 de julho de 1941), Dongbei dichu geming lishi wenjian huiji (Documentos Históricos da Revolução na Área Nordeste) A61, Harbin: Heilongjiangcheng Dang’anguan Chuban, 1992, pg.296. [35] – Veteranos do Exército Revolucionário Popular da Coreia, enviados por Kim Il-Sung, bem como 250 mil jovens coreanos participaram das campanhas antinipônicas no Nordeste da China. Mao Tsé-Tung disse que uma das cinco estrelas inscrita na bandeira nacional chinesa simbolizava o sangue derramado pelos comunistas norte-coreanos. Ver Kim II Sung, Condensed Biography. Pyongyang: Foreign Languages Publishing House, 2001, pg.157. [36] – SUNG, Kim II. Kim II Sung tongji hoegorok: Segi wa tõburõ (Memórias do Camarada Kim II Sung: Junto com o Século), vol. 8, Pyongyang: Korean Worker’s Party Publishing House, 1998, pgs. 441-46. [37] – STALIN, Josef. “Choguk haebang chõnjaeng sigi So Mi Yõng sunoeja tůl ui sõhanjip” (Coleção de Cartas dos Líderes da União Soviética, dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha no período da Guerra de Libertação da Terra Pátria* – *O termo no original coreano é “terra pai”, N.T.) nº. 363 Pyongyang: Korean Revolution Museum’s Exhibition, pg. 263-64. [38] – PETUKHOV, V. I. U istokov borby za edinstvo i nezavisimosť Korei (Origens da luta pela Unidade e Independência da Coreia) Moscou: 1987, pg. 13 [39] – Conjuntamente ao avanço do Exército Soviético, o Conselho de Assuntos Militares do Distrito Militar Costeiro estabeleceu comandos de polícia militar na Coreia do Norte em seis províncias, oitenta e cinco condados e sete cidades. Ver “Chu Pukhan Soryõn minjõngguk 3-kaenyõn saõp ch’onggyôl pogo: August 1945-November 1948” (Relatório Compreensivo de três anos de atividades do Comissariado do Governo Civil Soviético na Coreia do Norte: Agosto de 1945- Novembro de 1948) Доклад об итогах работы Управления Советской Гражданской Администрации в Северной Корее за три: Август 1945 г.-Ноябръ 1948 г. (Parte 1: Políticas, Seção 1: A situação política na Coreia do Norte de 1945 a 1948), Russian Manuscript Collection, Kuksa P’yönch’an Wiwönhoe, Seul. [40] – Os comitês populares foram formados no final de 1945 nas 145 cidades e condados da Coreia do Sul e nas 70 cidades e condados da Coreia do Norte. Quando os mecanismos de controle japoneses pararam de funcionar após a libertação, os comitês populares surgiram como uma nova forma de soberania organizada espontaneamente pelo povo coreano tanto nos centros como nas regiões interioranas. Ver SOKTAE, Yi (ed.), Sahoe kwahak taesajõn (Dicionário de Ciências Sociais). Seul: Munu Insõgwõn, 1948, pgs.518-19. [41] – “Puk Chosön imsi to inmin wiwõnhoe taep’yohoe iíi kyõlgwa pogosõ” (Relatório sobre os Resultados das Reuniões Representativas do Comitê Popular Provisório da Coreia do Norte), Arquivo Central da Administração Civil na Coreia do Norte do Ministério da Defesa da Federação Russa (a partir de então Arquivo Central do Ministério da Defesa), índice 433847, Pasta 1. A respeito da divisão e estabelecimento de governos separados antes da Conferência de Ministros Estrangeiros de Moscou em dezembro de 1945, o governo militar estadunidense na Coreia do Sul de igual maneira havia cruzado o ponto sem retorno ao esposar o chamado kwado chõngburon (Argumento do governo de transição) na Coreia do Sul, em outubro de 1945. Quando a Conferência de Ministros Estrangeiros de Moscou concordou com a formação de um governo provisório democrático, isso já era inaceitável para o governo militar estadunidense devido às circunstâncias internas da Coreia do Sul. [42] – Quartel Geral do Comando do Extremo-Oriente, História do Exército Norte Coreano, 31 de julho de 31, 1951, 90. Dentro deste contexto os seguintes slogans políticos foram criados: “Vamos viver de nossa própria maneira. Vamos lutar de nossa própria maneira. Vamos criar de nossa própria maneira”. [43] – Departamento de Estado dos Estados Unidos, Divisão de Pesquisas Políticas Históricas, Manual das Discussões da Conferência do Extremo-Oriente. Washington, D.C.: United States Government Printing Office, 1949, H-l-2. [44] – O memorandum detalhando essa proposta listava a Declaração do Cairo e a Declaração de Potsdam como exemplos. Ainda mais, enquanto levantando o assunto candente da divisão Coreana ele revela uma “crença que um conselho de quatro nações seria o plano oferecendo a maior possibilidade para uma futura independência Coreana” ver “Memorandum by the United States Delegation at the Moscow Conference of Foreign Ministers” 17 de dezembro de 1945), FRUS 1945 I Washington, D.C.: United States Government Printing Office, 1967, pgs.641-43. [45] – “ O rascunho soviético foi submetido em 20 de dezembro” FRUS 1945 Washington, D.C.: United States Government Printing Office, 1967, pgs; 699-700. [46] – Na Coreia do Norte, o governo central foi estabelecido em três estágios: (1) organizando e fortalecendo os comitês populares regionais, (2) estabelecendo dez Puk Chosõn haengjõng кик (Comissariados Norte-coreanos de Administração) enquanto organizações de administração central diferenciadas e (3) formando o Puk Chosõn imsi inmin wiwõnhoe (Comitê Popular Provisório da Coreia do Norte) como um governo central unificados. R. Scalapino e Chong-sik Lee argumentam que a União Soviética conduziu a divisão da Coreia ao estabelecer o Comissariado de Administração da Coreia do Norte como um Estado separado na região norte da Coreia. Embora não seja claro que os soviéticos pretendiam estabelecer um Estado separado nessa conjuntura, é digno de nota que os Estados Unidos também haviam esposado o kwado chõngkwõn non (argumento da comissão de governo) no Sul antes da União Soviética dirigir a formação do Comissariado de Administração em 17 de outubro. [47] – Ver “Memorandum by the United States Delegation at the Moscow Conference of Foreign Ministers” (21 de dezembro de 1945), FRUS 1945 II. Washington, DC.: United States Government Printing Office, 1967, pg.721. [48] – No memorandum do representante estadunidense para a Conferência os Estados Unidos deixaram claro que a “Coreia está presentemente dividida em duas áreas e sob controle militar” Ver “Memorandum by the United States Delegation at the Moscow Conference of Foreign Ministers” 17 de dezembro de 1945, FRUS 1945 I. Washington, D.C.: United States Government Printing Office, 1967, pg. 641-43. [49] – NARA, RG59, arquivo decimal, 740.00119 Control (Korea) / 3-2246: Telegrama, “O Conselheiro Político na Coreia (Thayer) para o Secretário de Estado” [50] – NARA, RG59, arquivo decimal, 740.00119 Control (Korea), Caixa nº. 3827, “Marshall para Acheson” (29 de janeiro de 1947). [51] – Em depoimento perante o Comitê de Relações Exteriores do Senado, em março de 1947, Acheson fez uma declaração resumida de que “a linha entre os soviéticos e nosso lado será claramente traçada” na Coreia. Ver Senado dos EUA, Comitê de Relações Exteriores, Série Histórica, Origens Legislativas da Doutrina Truman (Washington, D.C.: U.S. Government Printing Office, 1973), 22. [52] – A respeito do minju kijiron, estudiosos debatem tanto seu caráter como seu período de adoção. O caráter do minju kijiron é atualmente compreendido como “a linha pró-divisão de Kim Il-Sung e da União Soviética”. Acadêmicos ainda discordam, entretanto, quanto ao começo da adoção do minju kijiron. Wada Haruki aponta para 15 de dezembro de 1945. Suzuki Masayuki indica o primeiro congresso do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte em 29 de agosto de 1946. Kim Namsik e Chõng Yonguk apontam para o Sõbuk 5- todang chaegimja kup tang yõlsõngja taehoe (Encontro Plenário dos Oficiais Responsáveis do Partido e Ativistas do Partido das 5 Províncias do Noroeste). Ryu Kilchae argumenta que apenas após a implementação com sucesso da reforma agrária que o conceito do minju kijiron se tornou claro, visto que, ao tempo da proposta do minju kijiron, o Partido Comunista norte-coreano ainda era fraco e não podia realizar a reforma social. Yang Homin afirma ser possível que Kim Il-Sung já pensara o minju kijiron na Terceira Plenária do Comissariado do ramo norte-coreano do Partido Comunista Coreano, mas somente chegou a propô-lo no Primeiro Congresso do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte. É interessante notar que não havia partido ou indivíduo no Sul que considerava seriamente o significado do minju kijiron norte-coreano naquele tempo. Sobre esse ponto ver HARUKI, Wada, “Sor y on Hi tae Pukhan chöngch’aek: 1945-1946 “ (Política Soviética para a Coreia do Norte: 1945-1946) Pundan chönhu ûi hyõndaesa (História Moderna antes e após a Divisão) Seul: Irwõl Sõgak, pg. 283. Kim Myõngsõp criticou a reforma do minju kiji nosõn enquanto “minju kijiron = pundan nosõnnon (argumento da linha divisória)” devido à sua localização na região norte (ver MYONGSOP, Kim “Haebang chõnhu Pukhan hyõndaesa ui chaengchõm” (O problema da História Moderna Norte-coreana antes e após a Libertação), Haebang chõnhusa ui insik (Compreendendo a História Pré e Pós-Libertação) Seul: Hangilsa, 1989). Ver também HARUKI, Wada “Soryõn ui tae Pukhan chöngch’aek (1945-1946)”, pg.283-84; MASAYUKI, Suzuki. “Chõsen kaihõ zengõ ni okeru Kin Nichi Sei rosen – shiryõ hihan o tõsite mita ‘Chõsen kyõsantõ hokubu Chõsen bunkyoku’ sõsetsu to Kin Nichi Sei rosen” (A linha de Kim II Sung antes e depois da Libertação da Coreia – O Estabelecimento do Comissariado do Ramo Norte-coreano do Partido Comunista Coreano e a linha de Kim Il-Sung vista pela Crítica de Registros Históricos), Ajia keizai 32 (1989), 30-32; NAMSIK, Kim. “Haebang chõnhu Pukhan hyõndaesa üi chaeinsik” (Repensando a História Moderna Norte-coreana antes e depois da Libertação), Haebang chõnhusa üi insik (Compreendendo a História Pré e Pós-Libertação), vol. 5, Seul: Han’gilsa 1989, pgs.14-17; YONGUK, Chõng. “Puknodang üi nosõn kwa hwaltong” (A Linha e as Atividades do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte), Han’guk hyõndaesa (História Contemporânea Coreana), vol. 1 Seul: P’ulpit, 1991, pg. 172; CHUHWAN, Kim. “Sõbuk 5-todang taehoe üi taemi insik kwa Chosõn kongsan- dang puk Chosõn pun’guk üi chojik chõk üisang” (a Atitude do Encontro das Cinco Províncias diante dos Estados Unidos e a Fase Organizacional do Comissariado do Ramo Norte-coreano do Partido Comunista da Coreia), Haebang chõnhusa üi insik (Compreendendo a História Pré e Pós-Libertação), vol. 5, Seul: Han’gilsa 1989, pg.171-72; KILCHAE, Ryu. “Pukhan üi kukka kõnsõl kwa inmin wiwönhoe üi yökhal” (A Construção do Estado Norte-coreano e dos Comitês Populares), Tese de Doutorado, Departamento de Ciências Políticas e Relações Internacionais, Universidade de Koryo, 1995, pg.174; HOMIN, Yang. “Hanbando nün irök’ae punyõl toeõtta” (A Península Coreana foi dividida assim), Hanbando pundan ui chaeinsik 1945-1950 (Repensando a Divisão da Península Coreana 1945-1950), Seul: Nanam, 1993, pg. 94. [53] – Tang kõnsõl, 1948 (Construção do Partido, 1948), NARA, RG242, SA2009, Caixa 6, Item 76, pg.101. [54] – Em novembro de 1945, Kim II-Sung ordenou a Rim Chunchu que organizasse um comitê militar do Partido para as regiões fronteiriças e preparar uma base de apoio que pudesse ser usada para emergências e combates. Ver CHUNCHU, Rim. “Chunõm hayõttõn uri hyõngmyõng üi yõmyõnggi ro puťo” (Desde a Aurora de nossa implacável revolução), Rodong Sinmun, 27 de abril de 1990 – 29 de abril de 1990. [55] – Ver CUMINGS, Bruce. The Origins of the Korean War, vol. 2. Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1990, pgs.293-94; e GWANG OON, Kim. Pukhan chöngch’isa yön’gu (Um estudo da História Política Norte-coreana), vol. 1 Seul: Sõnin, 2003, pgs.748-49. [56] – “Tang üi chõngch ‘i nosõn kup tang saõp eh ong kyõlgwa wa kyõlchõng” (A linha política do Partido e os resultados compreensivos das atividades e decisões do partido), Tang munhõn chip (1) Seul: Chõngno Chulpansa, 1946, pgs.66-68. [57] – Ver YONGJIN, Pak. “Haebang З-nyõnsa e taehan insik” (Compreendendo a história trienal da Libertação), Nam-Pukhan yõksa insik pigyo kangui (Uma palestra comparativa sobre a Compreensão da História das Coreias do Norte e do Sul) Seul: Ilsongjõng, 1989, pgs.296-306. [58] – Ver YONGUK, Chõng. “Mi So üi taehan chöngch’aek kwa kunjöng yön’gu” (Um estudo de políticas direcionadas aos Estados Unidos e à União Soviética e a Administração Militar), Han’guk saron, vol. 27 Seul: Kuksa Pyönchan Wiwönhoe, 1997, pgs.14-16. [59] – Em outubro de 1955, Kruschev chamou a luta de libertação do povo argelino contra a França de um “problema interno” e instruiu o Partido Comunista Argelino a desistir de sua luta armada. Após à independência da Argélia, o Partido Comunista Argelino perdeu sua influência. [60] – IL SUNG, Kim. Condensed Biography. Pyongyang: Foreign Languages Publishing House, 2001, pg.192-93. [61] – Ver The History of the Workers’ Party of Korea. Pyongyang: Korean Workers’ Party Publishing House, 2004, pgs.270-73. [62] – Ver “Charyõk kaengsaeng kwa charip chõk minjok kyõngje kõnsõl nosõn” (Renascimento Auto Propelido e a Linha de Construção de uma Economia Nacional Independente), Rodong Sinmun, 12 de junho de 1963. [63] – De acordo com a chamada “controvérsia da transição”, se um sistema socialista fosse estabelecido, ao final do período de transição do capitalismo para o socialismo triunfante supostamente surgiria uma “nação de todos os povos” o que diferia da ordem então estabelecida com a cisão entre Norte e Sul. [64] – Rodong Sinmun, 30 de janeiro de 1963. [65] – Em outubro e novembro de 1962, o Partido dos Trabalhadores da Coreia observou a União Soviética ceder ao bloqueio Americano do Mar do Caribe. No mês seguinte, o Quinto Encontro do Quarto Comitê Central do Partido dos Trabalhadores adotou a política de desenvolvimento simultâneo da economia e da defesa e pelo esforço concentrado pela construção de um sistema de defesa autônomo. [66] – O autor se refere aos Comitês do Povo terem sido fundados 50 anos antes. Os Comitês do Povo enquanto instituição foram fundados somente após o período de libertação entre 1945 e 1946. Todavia, os primeiros comitês populares que visavam à luta insurrecional contra o colonialismo japonês são datados da transição do século XIX ao XX, e acreditamos que tenha sido essa a referência do autor (N.T).

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