"Breve História do Movimento Operário: Ludismo"
Surge o proletariado e os primeiros movimentos contra o capitalismo (ludismo)
O termo proletariado tem origem no latim (proles, que significa filho, descendência) e vem desde a Roma antiga como termo depreciativo para os que pertenciam às classes baixas e que nada tinham além da sua prole. Na economia política, o proletário é aquele que tem apenas a sua própria força de trabalho (única forma de garantir a mais-valia aos capitalistas) como bem a ser vendido à burguesia.
Com o avanço técnico e da luta de classes, foram realizados vários processos econômicos, políticos e sociais, desde as sociedades comunitárias (incluindo o comunismo primitivo) até modos de produção como o feudalismo, onde existiam relações mercantis (mas com o poder econômico concentrado nas grandes propriedades feudais, de terras) e que deram origem à acumulação de capital para viabilizar um novo modo no Ocidente: o capitalismo, particularmente na Inglaterra. As cidades, antigos burgos, após proporcionarem as revoluções burguesas e a principal delas, a Revolução Industrial, sediam as grandes indústrias e crescem de forma rápida com o êxodo rural (cercamentos). É o fenômeno da proletarização da população originária do campo, perdendo suas pequenas propriedades para o grande capital e ficando apenas com o único bem: a própria força de trabalho. Nesse fenômeno de proletarização e crescimento urbano, a cidade têxtil de Manchester, na Inglaterra, por exemplo, passa de 10 mil habitantes em 1700 para 853 mil habitantes em 1811. Londres, capital inglesa, também passa por esse fenômeno e vê-se um crescimento populacional chegando a 1,5 milhão de pessoas no mesmo período.
O crescimento industrial também contribuiu para o desenvolvimento agrícola, com uma revolução agrária burguesa, que já havia sido iniciada ainda na Idade Média. Praticamente desaparece na Inglaterra, entre o final do século 18 e início do 19, os camponeses. Com a indústria têxtil, por exemplo, essa relação campo/cidade se intensifica na exploração de riquezas. Cresce a criação de ovelhas e a produção de lã que garantiam matéria para a fabricação de vestuário. Politicamente, os latifundiários tinham o Parlamento a seu favor, onde leis eram criadas para proteger os grandes proprietários. Porém, na luta entre a burguesia inglesa e os latifundiários pela exploração do povo, os últimos acabaram perdendo. Durante a década de 1840, a burguesia inglesa, radical, aboliu as chamadas Corn Laws, que protegiam a classe latifundiária inglesa com elevadas tarifas de importação sobre grãos e produtos agropecuários importados do exterior. Com sua abolição, os grãos importados do exterior, muito mais baratos, acabaram arruinando a produção dos latifundiários, que deixaram de existir enquanto classe, não sobrando outra alternativa que não a de se tornarem capitalistas ou caírem para a miséria.
Outra categoria engolida pela burguesia foi a de artesãos. Durante a Idade Média, essa classe era relativamente independente, mas, com o advento do modo de produção capitalista, e se tornando impossível competir com os grandes capitalistas, os artesãos também se proletarizam.
O desemprego cresce. A situação de muitos operários se agrava. O exército de reserva, composto por uma massa de desempregados, faz com que os salários baixem e provoque a desvalorização da mão de obra. A exploração chega ao ápice de empregar a mão de obra de crianças e mulheres com salários miseráveis e condições desumanas em fábricas nascentes [1], como bem descreve Marx em sua principal obra: O Capital. A ausência de qualquer legislação trabalhista contribuía para a superexploração. As jornadas de trabalho eram de 14, 15 e 16 horas diárias, tornando a vida da classe operária insuportável. Outro aspecto era a questão da higiene. Fora a insalubridade nas fábricas, as habitações eram sem qualquer conforto e as vielas e bairros operários viviam em total abandono pelo Estado. Bairros operários de Londres e Manchester eram miseráveis e as epidemias de doenças se multiplicavam, afetando principalmente crianças e idosos. Toda essa condição ao qual operário era submetido criou uma resistência e grande inconformação por parte da classe operária contra a burguesia. Mas a burguesia utilizava intelectuais para convencer operários que toda aquela exploração era natural. Um desses intelectuais, o sacerdote inglês Thomas Robert Malthus, em seu livro Ensaio sobre o princípio da população (escrito em 1798), desenvolve ideias monstruosas como defender que a pauperização das massas era consequência das leis naturais e não dos processos históricos e econômicos como o capitalismo que geravam exploração. Malthus pedia ao Parlamento que fossem criadas leis para proibir operários de terem filhos. Essas ideias grotescas ainda hoje são defendidas por alguns charlatões [2].
A classe operária, mesmo com toda essa propaganda burguesa para justificar o sistema de exploração, não se deixou levar e os primeiros movimentos contestatórios surgiram. Num primeiro momento, de forma espontânea e com o foco contra as máquinas, o chamado movimento ludista [3]. Para os que contestavam a miséria em que viviam, eram as máquinas as maiores culpadas pelo desemprego, a miséria e os baixos salários. Surge por toda Inglaterra o movimento onde massas de operários destruíam fábricas, além de incendiarem depósitos de mercadorias e matérias-primas e partirem para cima dos patrões. A primeira fábrica destruída foi a de Arkwright (Inglaterra). Em resposta ao movimento, a burguesia inglesa - através do seu Parlamento - instituiu leis incluindo a pena de morte [4] aos líderes dos ataques às fábricas. Mas a luta continuaria e já em fins do século 18 surgem as primeiras greves operárias, surgindo também as primeiras organizações trabalhistas, as “trade unions”, que logo foram proibidas pelo Parlamento com severas penas aos grevistas.
Por Clóvis Manfrini
Notas
[1] Estatísticas de 1778, mostram que em 100 mil operários de 142 fábricas inglesas, apenas 1/3 eram homens, enquanto o restante eram mulheres e crianças de até 6 e 7 anos.
[2] O malthusianismo até hoje é defendido por alguns “intelectuais”.
[3] Referência ao operário Nat Ludo, um dos idealizadores desse movimento.
[4] Em 1811-12.