"O cinquentenário da Primeira Revolução Russa"
Este ano (1955) os povos da União Soviética e toda a humanidade progressista celebram o glorioso cinquentenário da primeira revolução russa.
A revolução de 1905-1907 na Rússia foi a primeira revolução popular da época do imperialismo. Constituindo todo um período histórico na vida dos povos de nosso país e do Partido Comunista da União Soviética, a revolução de 1905-1907 foi importante etapa da luta dos operários e camponeses da Rússia pela sua emancipação social e nacional. No decorrer de toda a revolução, os operários e os camponeses da Ucrânia, Bielo-Rússia, Polônia, países bálticos, Transcaucásia, Ásia Central e outros territórios periféricos da Rússia czarista lutaram heroicamente, ombro a ombro com o proletariado e o campesinato russo, contra seus inimigos comuns: o czarismo e os latifundiários.
O proletariado foi o dirigente e a principal força motriz da revolução. Unindo em torno de si as massas camponesas, a classe operária da Rússia foi assentando nos combates revolucionários de 1905-1907 as bases de sua aliança com o campesinato, criando a força social que em 1917 haveria de derrubar o poder dos latifundiários e capitalistas e abrir aos povos de nosso país o caminho do socialismo.
À frente do povo revolucionário atuava a vanguarda de combate da classe operária da Rússia: o Partido Comunista, partido de novo tipo, o partido autenticamente marxista criado pelo grande Lenin.
A revolução de 1905-1907 foi uma séria escola de educação política das massas; despertou para a vida e a luta políticas milhões de operários e camponeses e forneceu exemplos heróicos de abnegada luta revolucionária, os quais serviram para educar as massas trabalhadoras e foram seguidos por estas não só na Rússia, como também em muitos outros países do mundo. A primeira revolução russa inaugurou uma nova página da História universal: uma época de profundíssimas comoções políticas e tempestades revolucionárias, deu início a um ascenso do movimento operário na Europa e do movimento de libertação nacional dos povos oprimidos da Ásia.
A primeira revolução russa sacudiu o regime da autocracia czarista até aos alicerces e assestou duro golpe sobre a dominação dos latifundiários e capitalistas. Apesar da derrota da revolução de 1905-1907, a experiência adquirida nessa revolução ajudou a classe operária e os camponeses pobres de nosso país a assegurarem a vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro. "Sem o ensaio geral" de 1905 — escreveu V. I. Lenin — a vitória da Revolução de Outubro em 1917 teria sido impossível". ("Obras", t. 31, pág. 11, ed. russa).
I
1. Em fins do Século XIX e princípios do Século XX, o velho capitalismo, o capitalismo pré-monopolista, foi substituído pelo capitalismo monopolista, pelo imperialismo, cujo desenvolvimento se caracteriza pela putrefação e a crescente decadência do sistema capitalista e pelo agravamento das contradições sociais e políticas.
Em princípios do Século XX a Rússia czarista era o ponto crucial de todas as contradições do imperialismo, o país onde estavam mais maduras as premissas para uma revolução democrático-burguesa, uma revolução popular que deveria transformar-se mais tarde em revolução socialista. Isto era determinado por toda a marcha do desenvolvimento social, econômico e político da Rússia.
O capitalismo monopolista se entrelaçava na Rússia com fortíssimas sobrevivências da servidão na economia e no regime político.
As principais eram a autocracia czarista e a propriedade latifundiária.
As sobrevivências do regime de servidão imprimiam seu selo a todo o regime social da Rússia. Provocavam as mais cruéis e desumanas formas de exploração capitalista do proletariado, condenavam à penúria, à ruína e à miséria constantes os camponeses, que constituíam a maioria da população do país. A opressão dos latifundiários e capitalistas era agravada pela arbitrariedade da autocracia czarista que sufocava tudo o que era vivo e progressista. Os operários e camponeses estavam desprovidos por completo de direitos políticos.
As relações de produção semifeudais, a onipotência dos latifundiários reacionários, que atuavam em aliança com os magnatas do capital financeiro, freavam o crescimento das forças produtivas do país, o progresso da ciência, da técnica e da cultura e intensificavam a dependência da Rússia ao capital estrangeiro, o qual se havia apoderado de posições decisivas nos mais importantes ramos da indústria.
O czarismo seguia uma política de brutal opressão dos povos não russos da Rússia, uma política de russificação forçada desses povos e de sufocação de sua cultura nacional. O governo czarista insuflava a discórdia e o ressentimento nacionais entre os povos, atiçava uns contra os outros. As massas trabalhadoras dos povos não russos sofriam duplo jugo: o de seus próprios latifundiários e capitalistas e o dos latifundiários e capitalistas russos.
A combinação de todas essas formas de opressão — opressão dos latifundiários, opressão dos capitalistas e opressão nacional — com o despotismo policial da autocracia tornava insuportável a situação das massas populares e infundia especial virulência e profundidade às contradições sociais. As necessidades primordiais do desenvolvimento social do país, os interesses mais prementes dos povos da Rússia exigiam imperiosamente a destruição do regime existente e, antes de tudo, a liquidação da propriedade latifundiária e a derrubada da monarquia czarista. Somente uma revolução democrático-burguesa, popular, poderia resolver estas históricas tarefas.
2. Diferentemente das revoluções burguesas do Século XVII ao XIX no Ocidente, a força dirigente da revolução democrático-burguesa na Rússia era o proletariado, a classe mais revolucionária da sociedade contemporânea. A classe operária estava vitalmente interessada na vitória dessa revolução, posto que somente assim poderia obter liberdades democráticas, fortalecer suas organizações, adquirir experiência e hábitos de direção das massas trabalhadoras e sustentar a luta pela conquista do Poder político.
As peculiaridades inerentes à formação e desenvolvimento do proletariado da Rússia condicionavam suas elevadas qualidades revolucionárias. A concentração de grandes massas de operários em grandes empresas contribuía para elevar o grau de consciência e de organização do proletariado. A sua força residia também em que contava com um amplo apoio entre os setores semiproletários da população da cidade e do campo. Nos territórios nacionais da periferia da Rússia (Ucrânia, países bálticos, Cáucaso, etc.) haviam-se formado consideráveis destacamentos do proletariado.
Desde o fim do Século XIX, já o movimento operário constituía fator de importância na vida política do país. No decorrer das lutas grevistas e das ações políticas de massas, a classe operária da Rússia ia adquirindo experiência de luta revolucionária contra o czarismo e o capitalismo.
Nas massas de milhões e milhões de camponeses tinha o proletariado da Rússia, seu aliado natural na revolução. A base econômica de todas as sobrevivências do regime de servidão era a propriedade latifundiária; por isso o problema agrário-camponês era o central na revolução democrático-burguesa na Rússia. Os interesses principais dos camponeses convertiam-nos em aliados do proletariado e em partidários de uma decisiva transformação democrática. Destruir a propriedade latifundiária e conquistar as liberdades democráticas só era possível pela via revolucionária. A revolução russa era uma revolução camponesa mas só poderia triunfar no caso de o proletariado colocar-se à frente dos camponeses e de dirigi-los.
A burguesia russa, atemorizada pelo ascenso do movimento operário e ligada por múltiplos laços aos latifundiários reacionários e ao czarismo, não queria a vitória da revolução democrática, não queria a liquidação do czarismo e de todas as sobrevivências do regime de servidão.
O papel dirigente (a hegemonia) do proletariado, a transformação dos camponeses de reserva da burguesia em reserva do proletariado: tal é a diferença principal entre as revoluções democráticas da nova época, da época imperialista, e as revoluções da época do capitalismo pré-monopolista.
A derrubada do czarismo cujos interesses se achavam indissouvelmente entrelaçados com os do imperialismo ocidental, deveria sacudir inevitavelmente os alicerces do sistema imperialista.
3. No princípio do século, amadureceu rapidamente na Rússia uma situação revolucionária. A crise industrial, o desemprego nas cidades e a fome no campo haviam tornado muito pior a situação das massas trabalhadoras.
O proletariado passava das greves econômicas às greves políticas e às manifestações de rua que transcorriam sob a palavra de ordem de "Abaixo a autocracia czarista!". O movimento operário exercia uma influência revolucionária sobre os camponeses. Em 1902 registraram-se ações de massas dos camponeses contra os latifundiários nas províncias de Poltava e Karkov e na zona do Volga.
A iminência da revolução fazia com que se apresentasse com singular agudeza o problema da direção da luta das massas. Teve imensa importância para os destinos do movimento operário a fundação do Partido revolucionário do proletariado sobre a base dos princípios ideológicos e de organização elaborada por V. I. Lenin e aprovado pelo II Congresso dos P.O.S.D.R. (1903). Os bolcheviques iam ao encontro das gigantescas lutas de classe munidos com um programa marxista que refletia tanto as tarefas imediatas do proletariado na revolução democrático-burguesa como suas tarefas principais tendo em vista a vitória da revolução socialista e a instauração da ditadura da classe operária.
Em luta contra os oportunistas mencheviques, Lenin e os bolcheviques por ele dirigidos, organizaram um Partido revolucionário forte por sua unidade, por sua férrea disciplina, por sua intransigência frente aos inimigos da classe operária, um Partido capaz de unir os milhões de trabalhadores em um poderoso exército revolucionário.
Todo o decorrer do desenvolvimento histórico colocava na vanguarda do movimento operário internacional o proletariado da Rússia, dirigido por um Partido revolucionário marxista. O centro do movimento revolucionário mundial se deslocava para a Rússia.
4. O desencadeamento da revolução na Rússia foi acelerado pela guerra russo-japonêsa de 1904-1905, uma das primeiras guerras da época do imperialismo. Essa guerra resultou do agravamento das contradições imperialistas e do choque entre os interesses das grandes potências que aspiravam a apoderar-se da Coréia, repartir a China e implantar seu domínio na região do Pacífico. A guerra pôs a nu a podridão da organização militar e de todo o regime estatal da Rússia czarista e provocou profundo descontentamento e indignação entre as massas.
O ascenso constante do movimento operário, a crescente impopularidade da guerra no país, a divisão no campo governamental patenteavam que a Rússia havia entrado em um período de profunda crise revolucionária.
Deram começo à revolução os acontecimentos de 9 (22) de janeiro de 1905. Nesse dia foi metralhada em Petersburgo uma manifestação pacífica de operários que se dirigiam ao czar para fazer-lhe entrega de uma petição em que expunham suas necessidades.
Resultaram mais de mil mortos e milhares de feridos. O governo czarista confiava em poder intimidar com essa sangrenta repressão as massas operárias e camponesas e deter o ascenso do movimento revolucionário no país. Mas com essa medida cruel não fez mais que matar a ingênua fé do povo no "paizinho czar". O proletariado recebeu uma lição de guerra civil. As camadas mais atrasadas dos operários começaram a compreender que só poderiam conquistar seus direitos através da luta revolucionária. "A educação revolucionária do proletariado — escreveu V. I. Lenin — progrediu num dia mais que em meses e até em anos inteiros de uma vida monótona, acabrunhada e submissa". ("Obras", t. 8, pág. 77, ed. russa).
O "Domingo sangrento" — o 9 de janeiro de 1905 — foi o ponto de partida de um poderoso ascenso do movimento revolucionário. Em todo o país estalaram greves de protesto. A palavra de ordem do proletariado de Petersburgo "Liberdade ou morte!" foi adotada pela classe operária de toda a Rússia. Durante os meses de janeiro, fevereiro e março de 1905 declararam-se em greve, somente na indústria, 810.000 operários, isto é, duas vezes mais do que nos dez anos anteriores.
Seguindo a classe operária ergueram-se os camponeses. O espírito revolucionário conquistou a juventude estudantil e a intelectualidade democrática. A revolução adquiriu desde o primeiro momento um caráter popular geral.
O proletariado internacional e as personalidades progressistas dos países capitalistas do Ocidente manifestaram seu apoio ao povo russo e seu protesto contra as sangrentas ferocidades do czarismo.
5. O surto cada vez maior da revolução popular exigia do Partido proletário uma acertada e firme direção da luta revolucionária das massas. Mas em conseqüência da atividade divisionista dos mencheviques, não havia unidade nas fileiras do P.O.S.D.R., o Partido estava dividido em duas frações: bolcheviques e mencheviques. Os bolcheviques e os mencheviques concebiam de maneira diversa o caráter, as forças motrizes da revolução e as tarefas do proletariado na mesma, eram diferentes suas concepções sobre os problemas da estratégia e da tática do Partido.
Lenin e os bolcheviques viam a saída da situação interna do P.O.S.D.R na convocação imediata do III Congresso ordinário do Partido. O Congresso deveria terminar com o oportunismo dos mencheviques nas questões de organização e táticas e estabelecer uma tática única do proletariado na revolução democrática.
O III Congresso do P.O.S.D.R., celebrado em abril de 1905 em Londres, determinou as tarefas do proletariado como chefe da revolução e traçou o plano estratégico do Partido na primeira etapa da revolução: o proletariado, em aliança com todos os camponeses e isolando a burguesia, devia lutar pela vitória da revolução democrático-burguesa.
O Congresso elaborou a tática marxista revolucionária do Partido, definiu como tarefa principal deste e da classe operária a passagem das greves políticas de massas à insurreição armada, assinalou a necessidade de preparar praticamente a insurreição. O Congresso chamou as organizações do Partido a apoiar o movimento camponês e a criar comitês camponeses revolucionários. As decisões do III Congresso foram consideradas pela maioria das organizações do Partido um combativo programa de luta pela vitória da revolução democrática e serviram de base a todo o trabalho prático do Partido.
6. Em seu livro "Duas táticas da socialdemocracia na revolução democrática", publicado em julho de 1905, V. I. Lenin fez uma genial fundamentação teórica das decisões do III Congresso, do plano estratégico e da linha tática dos bolcheviques na revolução.
Pela primeira vez na história do marxismo, V. I. Lenin analisou o problema das particularidades da revolução democrático-burguesa na época do imperialismo, de suas forças motrizes e de suas perspectivas. Apoiando-se na análise científica do desenvolvimento social, econômico e político da Rússia e na experiência do movimento revolucionário mundial, V. I Lenin fundamentou teoricamente a ideia da hegemonia do proletariado na revolução democrático-burguesa, ideia que passou a ser a base da estratégia e da tática do Partido Comunista. Ao mesmo tempo, V. I. Lenin submeteu a uma crítica demolidora os postulados, oportunistas dos mencheviques, que pressupunham a hegemonia da burguesia liberal na revolução a substituição da revolução por pequenas reformas, o retrocesso da revolução e a manutenção do regime autocrático-latifundiário. Lenin pôs em relevo o papel contrarrevolucionário da burguesia liberal e mostrou que esta procurava um acordo com as forças mais reacionárias, um conluio com o czarismo.
V. I. Lenin analisou em todos os seus aspectos a ideia da aliança entre a classe operária e os camponeses sob a direção do proletariado demonstrando que a aliança dessas classes é condição indispensável para o triunfo da revolução popular.
A ideia leninista da aliança da classe operária com os camponeses estabeleceu a divisão entre a tática revolucionária dos bolcheviques e a tática oportunista dos mencheviques.
Na obra de V. I. Lenin foram profundamente estudados os caminhos e os meios de luta dos trabalhadores pela vitória da revolução. Lenin mostrou que a greve política de massas é um poderoso meio para a mobilização revolucionária das massas e para incorporá-las à luta aberta contra o czarismo. Baseando-se na experiência da Comuna de Paris, V. I. Lenin chegou à conclusão de que o meio mais importante para derrubar o czarismo e conquistar a República democrática era a insurreição armada do povo. Depois da morte de Marx e Engels, Lenin colocou pela primeira vez o problema da organização da insurreição armada como tarefa prática, a cuja solução se subordinava toda a atividade do Partido durante a revolução.
Lenin demonstrou que uma revolução democrático-burguesa vitoriosa, em que o proletariado fosse o dirigente e a principal força motriz, não deveria conduzir à ditadura da burguesia, como as revoluções burguesas do passado, mas à ditadura revolucionário-democrática do proletariado e dos camponeses. Assim se resolvia de modo novo a questão fundamental da revolução, a questão do Poder estatal. Segundo V. I. Lenin, o órgão político da ditadura revolucionário-democrática do proletariado e dos camponeses deveria ser um governo provisório revolucionário, que se apoiasse no povo armado.
O extraordinário mérito de Lenin ante o Partido e a classe operária consiste em que, partindo das conhecidas teses de Marx acerca da revolução ininterrupta, acerca da necessidade de conjugar o movimento revolucionário camponês com a revolução proletária, elaborou, na base de uma profunda análise do desenvolvimento econômico e político da Rússia, a teoria da transformação da revolução democrático-burguesa em revolução socialista. No artigo intitulado "A atitude da social-democracia ante o movimento camponês", Lenin assinalava: "...Da revolução democrática começaremos a passar imediatamente e justamente na medida de nossas forças, das forças do proletariado consciente e organizado, à revolução socialista. Nós somos partidários da revolução ininterrupta. Não ficaremos na metade do caminho." ("Obras" t. 9, pág. 213, ed. russa).
A imensa importância da obra de Lenin "Duas táticas da social-democracia na revolução democrática" consiste também em que, ao fundamentar e explicar as decisões do III Congresso do Partido, a estratégia e a tática revolucionária dos bolcheviques, Lenin derrotou ideologicamente em toda a linha os postulados mencheviques, contrários ao marxismo, sobre as questões da teoria e a tática do Partido na revolução. Ao mesmo tempo, V. I. Lenin desmascarou as concepções reformistas dos dirigentes oportunistas da II Internacional, que apoiavam os mencheviques russos. Desenvolvendo com espírito criador nas novas condições históricas a doutrina de K. Marx e F. Engels, V. I. Lenin deu ao proletariado russo e internacional uma poderosa arma ideológica para a luta pela transformação revolucionária da sociedade.
Ao elaborar a doutrina da hegemonia do proletariado na revolução democrático-burguesa e na revolução socialista, da aliança da classe operária e dos camponeses e da ditadura revolucionário-democrática do proletariado e dos camponeses, Lenin impulsionou a teoria marxista, lançou os alicerces políticos (táticos) do Partido Comunista. Lenin enriqueceu o marxismo com a nova teoria da revolução socialista, que foi uma formidável arma ideológica do Partido Comunista na luta pela vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro.
II
7. A marcha da revolução confirmou a justeza e a vitalidade da estratégia e da tática dos bolcheviques. Foi plenamente confirmada a tese leninista de que o proletariado pode e deve desempenhar o papel dirigente no movimento revolucionário. A luta da classe operária determinou todo o desenvolvimento da revolução, seu alcance e suas formas. V. I. Lenin escrevia que "a humanidade ainda não sabia, até 1905, em que proporções enormes, grandiosas, podem crescer e crescem efetivamente as forças do proletariado, quando se trata de lutar por objetivos realmente grandes, de lutar de maneira realmente revolucionária". ("Obras", t. 23, pág. 232, ed. russa).
Nas condições de um país camponês atrasado, a classe operária da Rússia mostrou que a verdadeira força e o papel do proletariado na sociedade não são determinados pelo fato de constituir ou não a maioria da população do país, mas por sua energia revolucionária, por sua consciência política, por sua capacidade para pôr-se à frente da luta revolucionária do povo, por sua aptidão para ganhar as massas camponesas como aliados da revolução.
O proletariado da Rússia desenvolveu poderoso movimento grevista que ia crescendo sem cessar com o ascenso da revolução. A cifra total de operários industriais que participaram de greves chegou em 1905 a quase três milhões. A característica do movimento grevista era a combinação das greves políticas e econômicas. A estreita e indissolúvel conjugação de ambos os tipos de greve dava singular força ao movimento operário.
Um dos acontecimentos revolucionários mais importantes do verão de 1905 foi a famosa greve de Ivanovo-Vosnessensk, dirigida pelos bolcheviques. Desde os primeiros dias da greve, os operários instituíram seu organismo revolucionário, um Soviet de delegados que foi, de fato, um dos primeiros Soviets de deputados operários da Rússia.
Os operários têxteis de Lodz, importante centro industrial da Polônia, deram exemplo de luta política de massas. A greve geral, declarada pelos operários de Lodz, em junho de 1905, como réplica à sangrenta repressão desencadeada contra os participantes de uma assembléia operária, transformou-se em combates de barricadas nas ruas contra as tropas czaristas. Esta foi a primeira ação armada do proletariado na Rússia. Também tiveram lugar choques armados em Varsóvia, Odessa, Riga, Livaba e outras cidades.
8. No outono de 1905, o movimento revolucionário se estendeu a todo o país. Por iniciativa dos operários de Moscou e de Petersburgo, em outubro de 1905 começou uma greve política geral que se propagou a todos os centros industriais fundamentais. A greve de outubro converteu-se em poderosa ação política dp proletariado.
Transcorreu sob as palavras de ordem de "Abaixo a autocracia!", "Viva a República democrática!". O número de participantes da greve geral passou de dois milhões. Sob a pressão das massas, o governo czarista viu-se obrigado a publicar o manifesto de 17 de outubro em que prometia hipocritamente conceder a população as liberdades cívicas e convocar uma Duma legislativa. Com a heróica luta grevista, o proletariado conquistou para si e para todo o povo, ainda que por pouco tempo a liberdade de palavra, de imprensa, de associação em sindicatos e outras organizações, liberdades até então desconhecidas na Rússia; pela primeira vez na história da Rússia apareceram legalmente jornais revolucionários.
Na luta contra o czarismo, a iniciativa revolucionária das massas proletárias da Rússia criou uma nova organização política de massas, sem precedentes na história universal: os Soviets de deputados operários. Surgiram em Moscou, Petersburgo, Tver, Kostromã, Lugansk, Ekaterinoslav, Sarátov, Róstov-sobre-o-Don, Kiev, Odessa, Nikolaev, Novorrossisk, Baku, Kransnoiarsk, Tchitá e em outras cidades e centros operários. Nascidos como órgãos dirigentes da luta grevista, os Soviets de deputados operários converteram-se em órgãos embrionários do novo Poder, o Poder revolucionário.
Diferentemente dos mencheviques que viam nos Soviets simples órgãos da administração local, os bolcheviques tinham em alta conta a iniciativa e a atividade revolucionária das massas. V. I. Lenin e os bolcheviques opinavam que no curso da revolução os Soviets deveriam transformar-se em órgãos da insurreição armada, em órgãos da ditadura revolucionário-democrática do proletariado e dos camponeses.
Na revolução desempenharam papel saliente o Soviet de Moscou e os Soviets distritais de Moscou, que, dirigidos pelos bolcheviques, realizaram uma política revolucionária consequente e se transformam em órgãos da insurreição armada. Os bolcheviques dirigiram também os Soviets em várias outras cidades do país.
Nos anos da primeira revolução russa, a classe operária começou pela primeira vez a formar seus sindicatos, como organizações das grandes massas proletárias. Desde o princípio, os sindicatos constituíram-se sob a influência e a direção imediatas da socialdemocracia revolucionária.
Diferentemente dos sindicatos dos países da Europa Ocidental, os sindicatos da Rússia surgiram depois da fundação do partido político do proletariado e participaram ativamente, sob a sua direção, na luta contra o czarismo e o capitalismo. Os bolcheviques atribuíam grande importância à organização e fortalecimento dos sindicatos, combateram energicamente a orientação oportunista dos mencheviques sobre a "neutralidade" dos sindicatos e lutaram por transformá-los em combativas organizações revolucionárias da classe operária.
9. O proletariado da Rússia atuava como o intérprete mais consequente dos interesses fundamentais de todos os trabalhadores, como a força dirigente do movimento democrático geral, "o único dirigente da nossa revolução — escrevia J. V. Stalin — que tem o interesse e a possibilidade de conduzir atrás de si as forças revolucionárias da Rússia no assalto à autocracia czarista, é o proletariado. Somente o proletariado pode reunir em torno de si os elementos revolucionários do país, só ele pode levar a termo a nossa revolução." ("Obras", t. 2, pág. 68-69 ed. brasileira).
O desenvolvimento impetuoso do movimento operário tinha profundas repercussões no campo, contribuía para o desenvolvimento da luta revolucionária das amplas massas do campesinato. Em 1905 registraram-se mais de 3.500 levantes camponeses. A luta dos camponeses contra os latifundiários ia adquirindo gradualmente formas mais agudas. No outono de 1905 as insurreições camponesas estenderam-se à zona central das terras negras, à zona do Volga, à Ucrânia, à Transcaucásia e aos países bálticos. O programa agrário dos bolcheviques, elaborado por V. I. Lenin, teve importância para o desenvolvimento da ação revolucionária dos camponeses. O programa agrário leninista exigia a confiscação das terras dos latifundiários, da Igreja, dos mosteiros, da coroa e da família do czar e a nacionalização de toda a terra. Os bolcheviques ligavam essas reivindicações à derrubada da autocracia czarista e à instauração da República democrática, ao passo que o programa menchevique de municipalização da terra tinha por objetivo uma reforma pacífica e paulatina do regime autocrático-latifundiário. Os bolcheviques conclamavam os camponeses a se apoderarem imediatamente das terras dos latifundiários, a criar comitês camponeses revolucionários, a prestar apoio ativo ao proletariado em sua luta contra o czarismo. As organizações bolcheviques dedicavam especial atenção à tarefa de unir as camadas proletárias e semiproletárias do campo, que eram as que desempenhavam o papel mais ativo no movimento camponês.
Os bolcheviques combatiam energicamente a tática, conciliadora e o aventureirismo político dos social-revolucionários, lutavam por arrancar os camponeses da influência da burguesia liberal.
10. Sob a influência do movimento revolucionário dos operários e camponeses e das derrotas do czarismo na guerra russo-japonesa, produziram-se ações revolucionárias no exército e na marinha, que foram parte integrante da revolução e um testemunho de seu caráter popular geral.
A sublevação do encouraçado "Potêmkin" (junho de 1905) foi um destacando acontecimento da primeira revolução russa. Os marinheiros sublevados apoderaram-se desse grande vaso de guerra e se colocaram abertamente ao lado da revolução. A sublevação do "Potêmkin" é uma gloriosa página da história do movimento revolucionário dos povos de nosso país.
Valorizando a façanha dos marinheiros do "Potêmkin", V. I. Lenin escrevia que: "o encouraçado "Potêmkin" é um baluarte invicto da revolução e qualquer que seja a sua sorte, temos diante de nós um fato indiscutível e do maior significado: uma tentativa de formar o núcleo do exército revolucionário". ("Obras", t. 8, pág. 525, ed. russa).
Durante o outono de 1905 tiveram lugar motms de soldados em Kárkov, Kiev, Minsk, Tashkent, Voronezh, Pskov, Varsóvia e outras cidades. A efervescência revolucionária estendeu-se às unidades militares do Extremo Oriente; estalaram levantes em Kronstadt, Vladivostok e Sebastopol.
11. Com seu exemplo revolucionário, o proletariado russo estimulava para a luta contra o czarismo as massas trabalhadoras de todas as nacionalidades da Rússia. Por sua constante luta grevista, os operários de Riga, Lodz, Varsóvia e Baku ocuparam um lugar de honra ao lado dos operários de Petersburgo e de Moscou. O movimento camponês adquiriu amplas proporções nas zonas habitadas pelas nacionalidades. Nos países bálticos, os camponeses destituíam os funcionários governamentais, assaltavam as fazendas dos barões alemães, travavam porfiados combates com as tropas regulares czaristas, o movimento camponês alcançou inusitada magnitude na Geórgia. A luta de libertação nacional dos povos oprimidos era parte integrante, inalienável, do movimento revolucionário de toda a Rússia.
O proletariado russo apoiava ardentemente o movimento de libertação nacional, defendia o direito das nações à autodeterminação, lutava resolutamente contra a política chauvinista de grande potência seguida pelo czarismo e as classes dominantes, que tratavam de romper a unidade das ações revolucionárias dos povos da Rússia. Os bolcheviques sustentavam uma luta sem quartel contra os nacionalistas burgueses, educavam as massas no espírito do internacionalismo proletário, explicando que a opressão nacional unicamente podia ser destituída pela luta revolucionária conjunta dos trabalhadores de todas as nacionalidades.
12. O desenvolvimento da revolução fez necessário passar da greve geral à forma superior de luta revolucionária: a insurreição armada.
Cumprindo as decisões do III Congresso do P.O.S.D.R. as organizações bolcheviques prepararam perseverantemente a insurreição armada. O guia do Partido, V. I. Lenin, que havia regressado do estrangeiro a Petersburgo em novembro de 1905, encabeçou a atividade do Partido destinada a dirigir as massas e a preparar a insurreição armada. Lenin desmascarou os planos da contrarrevolução e conclamou o proletariado a permanecer vigilante e a fazer frente ao inimigo.
O ponto culminante do desenvolvimento da primeira revolução russa foi a insurreição armada de dezembro, preparada pelas ações de massas do proletariado no decorrer de todo o ano de 1905.
Os operários moscovitas foram os primeiros a arvorar a bandeira da insurreição armada contra o czarismo. O Soviet de deputados operários de Moscou, dirigido pelos bolcheviques, declarou no dia 7 (20) de dezembro a greve política geral com a intenção de transformá-la em insurreição armada. Os operários atuaram com extraordinária unanimidade. Deixaram de funcionar todas as empresas. No dia 9 (22) de dezembro começaram os combates de barricadas dos operários moscovitas contra as tropas do governo czarista. Os principais focos da insurreição eram os bairros de Présina e Zamoskvorechie e o distrito Rogozhsko-Simonovski. Durante nove dias, os operários em armas bateram-se heroicamente com as tropas czaristas. Na luta de barricadas nas ruas participaram cerca de 8.000 combatentes armados, apoiados por toda a massa operária. A insurreição teve caráter singularmente tenaz e encarniçado em Présnia. Para sufocar a insurreição, o governo czarista transferiu para Moscou grandes forças militares. No decurso da insurreição armada de dezembro, os operários fizeram prodígios de heroísmo, de valor e de abnegação, conservando até o fim a firmeza e o espírito combativo.
"Nós começamos. Nós estamos terminando... O sangue, a violência e a morte farejarão nossas pegadas. Mas não importa. O futuro pertence à classe operária. Em todos os países, gerações sobre gerações aprenderão com a experiência de Présnia a ter tenacidade", dizia a última ordem do Estado-Maior dos destacamentos operários de Présnia.
A insurreição de dezembro de 1905 demonstrou que no transcurso de 11 meses de revolução se havia desenvolvido de forma gigantesca a consciência política do proletariado russo. Se em janeiro de 1905 milhares de operários marcharam confiantes ao palácio do czar, elevando suas preces e levando estandartes para implorar-lhe "um pouco de clemência", em dezembro de 1905 o proletariado russo lutou heroicamente nas barricadas, de armas na mão, pela derrubada do czarismo, pela proclamação da República democrática.
A insurreição de dezembro foi cruelmente reprimida pelo czarismo. As causas fundamentais da derrota da insurreição residiram em que a direção desta atrasou-se em relação ao movimento que crescia espontaneamente. A insurreição começou com atraso e perdeu o momento propício em que havia mal-estar entre parte dos soldados da guarnição de Moscou. Desde que o governo czarista deteve o Comitê bolchevique em Moscou, a ação armada na cidade se converteu em um levante de distritos isolados, sem conexão entre si.
No período preparatório da insurreição não se organizaram destacamentos armados adestrados, os operários não tinham armamentos suficiente.
A insurreição armada dos operários de Moscou não redundou em uma ação simultânea e unânime do proletariado de toda a Rússia.
Em conseqüência disto, o governo czarista não só conseguiu esmagar a insurreição de Moscou, como também afogar em sangue as ações armadas na bacia do Don, em Karkov, Krasnoiarsk, Tchitá, Novorrossisk, Pern, Sórmovo, na Letônia, Finlândia e outros lugares. Outra das causas do fracasso da insurreição armada foi sua tática defensiva, que constitui "a morte da insurreição armada" (Marx). A ação desorganizadora dos mencheviques e social-revolucionários contribuiu para essa derrota.
Analisando a experiência da insurreição armada de dezembro, V. I. Lenin escreveu posteriormente:
"Pela primeira vez na História universal se alcançou tal grau de desenvolvimento, e tal vigor da luta revolucionária que a insurreição armada fundiu-se com a greve de massas, esta arma especificamente proletária. Claro é que esta experiência tem significação mundial para todas as revoluções proletárias". ("Obras", t. 31, pág. 315, ed. russa).
13. Depois da derrota da insurreição de dezembro, a revolução entrou em seu segundo período, cujas características eram o refluxo gradual da onda revolucionária e o recrudescimento da reação.
Depois de firmar, com o auxílio dos imperialistas norte-americanos, uma paz vergonhosa com o Japão, o governo czarista lançou o grosso de suas tropas a afogar a revolução. Valendo-se das expedições punitivas, dos bandos de terroristas das Centúrias Negras organizadas pela polícia, dos conselhos de guerra, das execuções em massa e da repressão policial contra as organizações operárias e camponesas, o czarismo tratou de aniquilar a vanguarda revolucionária da classe operária e intimidar todo o povo. Milhares de lutadores revolucionários sucumbiram às mãos dos verdugos czaristas.
O governo czarista incitava uns povos contra os outros, organizava "pogroms" contra os judeus, matanças entre os tártaros e os armênios, etc.
Com o propósito de dividir e debilitar o movimento revolucionário, de enganar os camponeses e de afastá-los do proletariado, o czarismo decidiu convocar a Duma de Estado. Os partidos políticos da burguesia russa — cadetes e outubristas — empreenderam o caminho da confabulação direta com a monarquia czarista e os latifundiários feudais, ajudavam o czarismo a reprimir a revolução.
Apesar destas duras condições, a revolução continuava, porém. O proletariado, que havia sido o primeiro a levantar-se na luta contra o czarismo, era o último a retirar-se lutando. As tenazes lutas do proletariado e as persistentes greves políticas de massas continham a investida da contrarrevolução e incorporavam o movimento revolucionário às reservas mais profundas daquele.
Em 1906 tomou vastas proporções o movimento camponês, abrangendo metade dos distritos da Rússia. No verão do mesmo ano irromperam sublevações de marinheiros em Sveaborg e Kronstadt.
14. Ante o refluxo da revolução, os bolcheviques mudaram de tática. Da preparação direta das massas para o assalto ao czarismo passaram à tática da retirada organizada, combinando o trabalho legal com o ilegal.
Nos anos da primeira revolução russa foi traçada por Lenin a tática revolucionária de luta no seio da Duma, radicalmente diferente da tática dos mencheviques e oportunistas da II Internacional, que viam na atividade parlamentar a forma principal de luta do proletariado.
A tática dos bolcheviques na Duma obedecia ao propósito de conquistar o campesinato, criar na Duma um bloco revolucionário de representantes da ciasse operária e dos camponeses e libertar estesúltimos da influência da burguesia liberal. Os bolcheviques utilizavam a Duma como tribuna de agitação revolucionária, para denunciar todas as ignomínias da autocracia e a traição da burguesia contra-revolucionária. Em troca, os mencheviques orientavam-se no sentido de unir-se em um bloco com a burguesia contrarrevolucionaria (cadetes), ajudando-a a semear ilusões nas massas acerca da possibilidade de conquistar a liberdade e de que os camponeses recebessem a terra por meios "pacíficos" através da Duma.
A experiência da atividade dos bolcheviques na Duma teve e continuou tendo grande importância para o movimento revolucionário internacional. É utilizada com espírito criador pelos Partidos Comunistas e Operários dos países estrangeiros na elaboração de sua tática parlamentar.
A revolução de 1905-1907 demonstrou que os bolcheviques, nas condições mais complexas, em uma situação de rápidas mudanças na correlação das forças de classe, eram capazes de dirigir com acerto o movimento operário, de encabeçar o ascenso revolucionário das massas e de levá-las audazmente à batalha; demonstrou que sabiam efetuar no momento preciso a retirada das forças revolucionárias, preparando-as para novos combates.
Ao mesmo tempo, os mencheviques revelaram-se uns covardes reformistas, renegaram a revolução e empreenderam o caminho dos conchavos com a burguesia liberal monarquista e da conciliação com o czarismo.
15. A resistência do povo revolucionário foi tão poderosa que só ao cabo de ano e meio da derrota da insurreição armada de dezembro, conseguiu o czarismo sufocar a revolução.
A causa fundamental da derrota da revolução foi que não conseguiu unificar em uma só torrente revolucionária as ações dos operários, dos camponeses e dos soldados. A aliança dos operários e dos camponeses na revolução não era sólida, os camponeses atuaram demasiado dispersos, sem organização, com insuficiente energia; consideráveis massas de camponeses estavam influenciadas pelos social-revolucionários. As maiores ações revolucionárias dos camponeses contra os latifundiários tiveram lugar quando o governo czarista já havia conseguido apagar os focos fundamentais da revolução nos centros industriais do país. Embora lutando contra os latifundiários, grande parte dos camponeses não se decidia a lutar contra o czar.
Acreditava na possibilidade de receber de suas mãos a terra. Isto determinou a atitude do exército que em sua maioria ajudou o czar a sufocar as ações revolucionárias dos operários e dos camponeses.
Tampouco os operários atuaram com a necessária unanimidade; alguns destacamentos da classe operária incorporaram-se à luta geral com atraso. A falta de união dentro do Partido proletário como conseqüência da atuação traidora dos mencheviques, dividia as fileiras da classe operária, debilitando-a como força dirigente da revolução. Devido a tudo isto, o proletariado não pôde cumprir então plenamente seu papel de verdadeiro chefe da revolução e levá-la à vitória.
Os imperialistas estrangeiros ajudaram a autocracia a asfixiar a revolução. Os banqueiros franceses, ingleses, austríacos e belgas concederam um grande empréstimo ao czarismo para reprimir a revolução. Segundo a acertada expressão do grande escritor proletário Máximo Gorki aquele foi um "empréstimo de Judas". A Alemanha kaiseriana havia preparado a intervenção militar contra a revolução russa no caso de que esta tivesse êxito.
Apesar da derrota da revolução de 1905-1907, os fatores fundamentais da vida econômica e política que haviam dado origem à revolução subsistiam. Isto tornava inevitável uma nova explosão revolucionária.
A despeito dos falsos augúrios, dos mencheviques liquidacionistas e demais traidores e renegados do movimento operário acerca de impossibilidade de uma nova revolução na Rússia, os bolcheviques afirmavam sem cessar que a revolução democrática e a revolução socialista eram inevitáveis. V. I. Lenin assinalava que o proletariado russo regia-se "não por uma vaga esperança mas pela segurança cientificamente fundamentada de que a revolução há de repetir-se". ("Obras", t. 17, pág. 211, ed. russa).
Nas duras condições da reação, em meio das violentas perseguições do czarismo, os bolcheviques foram unindo em torno da classe operária as forças democráticas do país, forjando a aliança de combate da classe operária e dos camponeses, fortalecendo a unidade internacional dos povos da Rússia e preparando as massas trabalhadoras para um novo e decidido ataque contra a autocracia, para a luta pela derrubada do domínio dos latifundiários e da burguesia.
III
16. A primeira revolução russa foi um acontecimento importantíssimo na História da Rússia e exerceu formidável influência em todo o desenvolvimento posterior do país, deixando profunda marca na consciência do povo. A revolução despertou para a ação revolucionária consciente as mais amplas massas populares e as enriqueceu com uma inestimável experiência política. No decurso da encarniçada luta contra o czarismo em 1905-1907 foram lançados sólidos alicerces para a formação da frente-única revolucionária dos povos oprimidos da Rússia, encabeçados pelo heróico proletariado russo.
Um dos resultados mais importantes da revolução foi a enorme acentuação do papel do proletariado como força social dirigente, guia das massas trabalhadoras. O proletariado arrancou da burguesia liberal a direção das massas populares na luta pela revolução democrática e demonstrou com isso que, na época do imperialismo, só a classe operária pode ser o chefe da revolução. A experiência histórica da primeira revolução russa pôs em relevo que o proletariado pode ser também o dirigente do movimento democrático geral ali onde, devido ao escasso desenvolvimento do capitalismo, constitui numericamente uma minoria dentro da população do país.
A revolução confirmou claramente que sem a unidade da classe operária não se pode alcançar a vitória sobre os exploradores. Os ensinamentos da revolução mostraram que o papel de verdadeiro dirigente e chefe da classe operária e de todos os trabalhadores só pode ser desempenhado por um Partido marxista revolucionário de combate, por um Partido de novo tipo, diametralmente diferente dos da II Internacional.
A primeira revolução russa, sem deixar de ser uma revolução democrático-burguesa por seu caráter, foi simultaneamente uma revolução proletária, não só porque o proletariado era seu chefe, como porque foram as formas e os métodos proletários de luta os que determinaram seu curso e sua inusitada magnitude.
A experiência da revolução fez ver a enorme importância das grandes greves políticas, como meio de mobilização revolucionária das massas. Em sua luta revolucionária posterior, a classe operária da Rússia recorreu outras vezes a essa arma provada que é a greve política. A greve política combinada com a insurreição armada, que levaram a cabo os operários e os soldados de Petrogrado em fevereiro de 1917, permitiu ao povo derrubar o czarismo em poucos dias. A revolução enriqueceu a classe operária com a experiência da insurreição armada, experiência que aproveitaram os bolcheviques ao preparar e realizar a insurreição armada de outubro de 1917.
A revolução de 1905-1907 foi a primeira comprovação histórica da força vital da ideia leninista da aliança entre a classe operária e os camponeses. A aliança da classe operária e dos camponeses, forjada e consolidada no decorrer da luta pela derrubada do czarismo e da burguesia e no processo das transformações socialistas, constitui hoje a base inabalável da solidez e firmeza do regime soviético e é uma força poderosa na luta pelo desenvolvimento e robustecimento da sociedade socialista, pela construção do comunismo.
A ideia leninista da aliança da classe operária e dos camponeses viu-se brilhantemente confirmada nas históricas vitórias do grande povo chinês e dos trabalhadores dos países de democracia popular da Europa e da Ásia. A aliança da classe operária e dos camponeses, na qual o papel dirigente corresponde à classe operária, constitui a base do regime democrático-popular que realiza com êxito radicais transformações socialistas nos países de democracia popular.
Em 1905, os operários e camponeses russos colocaram na prática, pela primeira vez na história, o problema da ditadura revolucionário-democrática do proletariado e dos camponeses, a questão do novo Poder, do Poder do povo. Os Soviets de deputados operários, criados no decurso da primeira revolução russa, foram uma grandiosa conquista histórica da classe operária da Rússia. Representaram o protótipo do Poder soviético, instaurado em nosso país como resultado da vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro. A experiência dos primeiros Soviets serviu a Lenin de ponto de partida para elaborar depois a doutrina sobre os Soviets, como forma estatal da ditadura do proletariado.
A revolução de 1905-1907 pôs a nu a natureza contrarrevolucionária da burguesia liberal, debilitou sua influência e a levou a perder suas reservas políticas, em primeiro lugar os camponeses.
Resultado importante da primeira revolução russa foi que abalou o exército, um dos pilares fundamentais do czarismo.
Os anos da primeira revolução russa serviram para contrastar na prática duas linhas políticas: a linha da estratégia e da tática revolucionárias dos bolcheviques e a linha oportunista dos mencheviques, antítese daquela. A marcha da revolução confirmou a justeza do plano estratégico e da linha tática dos bolcheviques, elaborados por V. I. Lenin, fundador e guia do Partido Comunista.
17. A revolução russa de 1905-1907 iniciou o período das batalhas revolucionárias da época do imperialismo. O golpe infligido ao czarismo pelos operários e camponeses revolucionários da Rússia foi, simultaneamente um golpe em todo o sistema imperialista.
A revolução na Rússia suscitou a cálida simpatia do proletariado da Europa Ocidental pela luta revolucionária dos operários e dos camponeses da Rússia. Uma onda de greves de protesto e de manifestações percorreu os países principais da Europa.
A. Bebel, K. Liebknecht, R. Luxemburgo e outros destacados dirigentes do movimento operário internacional tinham em alto apreço a luta do proletariado russo. Karl Liebknecht qualificou de reviravolta na história dos povos da Europa os acontecimentos revolucionários da Rússia e conclamava os operários alemães a "se colocarem sob a bandeira da revolução russa".
A revolução na Rússia influiu poderosamente no desenvolvimento do movimento de libertação nacional nos países coloniais e semicoloniais.
"A revolução russa — indicava Lenin — pôs em movimento toda a Ásia. As revoluções na Turquia, na Pérsia e na China demonstram que a vigorosa insurreição de 1905 deixou profundas marcas e que sua influência, que se revela na marcha ascencional de centenas e centenas de milhões de homens, é inextirpável." ("Obras", t. 23, pág. 244, ed. russa).
A revolução de 1905-1907 mostrou, portanto, que o centro do movimento revolucionário mundial se havia deslocado para a Rússia e que o heroico proletariado russo havia passado a ser a vanguarda do proletariado revolucionário do mundo inteiro.
Os acontecimentos da primeira revolução russa mostraram que o principal baluarte da reação internacional, o verdugo do movimento operário no Ocidente e do movimento de libertação nacional no Oriente, não era já o czarismo, mas a burguesia imperialista da Europa Ocidental e dos Estados Unidos da América, que havia salvo o czarismo da revolução.
18. A prática revolucionária da classe operária da Rússia desfechou sério golpe sobre os oportunistas da II Internacional, confirmando a grande força vital do marxismo criador, a formidável importância da teoria e da tática do leninismo na luta revolucionária do proletariado.
A revolução deitou por terra as concepções que dominavam nos partidos da II Internacional acerca da inevitável hegemonia da burguesia nas revoluções burguesas e reafirmou a justeza da doutrina leninista sobre a hegemonia do proletariado. A primeira revolução russa demoliu também o nocivo dogma dos oportunistas da II Internacional e dos mencheviques russos acerca da natureza reacionária dos camponeses e da incapacidade do proletariado para destruir, em aliança com os camponeses, o jugo dos latifundiários e dos capitalistas.
A teoria leninista da transformação da revolução democrático-burguesa em revolução socialista pulverizou outro dogma dos oportunistas da II Internacional segundo o qual entre a revolução burguesa e a revolução socialista deve mediar longo período, e iluminou para os proletários de todos os países o caminho da luta por sua emancipação da escravidão capitalista.
A vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro em nosso país representou o triunfo da teoria leninista da revolução proletária.
Os Partidos irmãos Comunistas e Operários aplicam e desenvolvem com espírito criador a teoria leninista da revolução socialista tendo em conta as condições peculiares de seus países.
Nos cinqüenta anos decorridos desde o primeiro assalto revolucionário contra a autocracia czarista, a classe operária e todos os trabalhadores de nosso país percorreram glorioso caminho histórico.
Sob a direção do Partido Comunista, a classe operária da Rússia, aliada aos camponeses trabalhadores, realizou a Grande Revolução Socialista de Outubro, criou o Estado socialista dos operários e dos camponeses e assegurou a vitória do socialismo na URSS. Desse modo, o povo soviético tornou realidade os ideais dos lutadores de vanguarda da primeira revolução russa e mostrou que não foram em vão os duros sacrifícios e o sangue derramado na luta pela liberdade.
Temperado no fogo de três revoluções, na luta pela realização de grandes transformações econômico-sociais em nosso país e nas batalhas da Grande Guerra Patriótica, o Partido Comunista é em nossos dias o provado dirigente do povo soviético em sua luta para terminar a construção do socialismo e realizar a passagem gradual ao comunismo. O Partido mobiliza o povo soviético para continuar desenvolvendo com rapidez a indústria pesada, pedra angular da economia socialista, base da potência econômica e defensiva do país e fonte da vida acomodada e culta para os trabalhadores. Apoiando-se nos êxitos obtidos no desenvolvimento da indústria pesada, o Partido organiza o ascenso vertical da agricultura e o ulterior desenvolvimento das indústrias leve e da alimentação.
O Partido Comunista, estreitamente vinculado ao povo, em cujas forças criadoras tem uma fé sem limites, fomenta a atividade das massas no trabalho e na vida política, orienta sua energia e iniciativa revolucionária para a obra de incrementar continuamente o poderio de nossa Pátria.
Em todas as etapas da luta libertadora e da construção socialista o Partido Comunista conservou escrupulosamente e multiplicou as tradições revolucionárias dos povos de nosso país. Com os exemplos enaltecedores da luta heroica de nosso povo, com as ideias do marxismo-leninismo, o Partido educa os trabalhadores no espírito do ardente patriotismo soviético, do internacionalismo proletário e da devoção sem limites à causa do comunismo. O Partido luta resolutamente contra as reminiscências do capitalismo na consciência dos homens, desenvolve e cultiva as altas qualidades revolucionárias do povo soviético, eleva o nível de consciência dos trabalhadores da sociedade socialista.
Os soviéticos contemplam com legítimo orgulho o grandioso balanço do caminho percorrido. Nossa pátria marcha segura para adiante, elevando-se ante o mundo inteiro como baluarte do progresso, da democracia e do socialismo.
Hoje, a causa da revolução, pela qual há meio século se travou a primeira batalha heroica dos povos da Rússia, cresceu e se fortaleceu imensamente. Disso é testemunho brilhante a criação e o fortalecimento do campo democrático e socialista, em cuja vanguarda marcha a União Soviética.
A experiência revolucionária do povo soviético, as vitórias de importância histórica mundial do socialismo na URSS e os êxitos da construção do socialismo nos países de democracia popular dão alento às massas trabalhadoras dos países capitalistas, coloniais e dependentes na luta resoluta por uma paz duradoura, pelas liberdades democráticas, pela independência nacional, por sua emancipação do jugo imperialista.
Sob a bandeira de Marx, Engels, Lenin e Stalin e dirigidos pelo Partido Comunista, adiante, para o triunfo do comunismo!
1955
Publicado pela Editora Vitória
Do Instituto Marx-Engels-Lenin-Stalin Anexo ao CC do PCUS