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REIMPRESSÕES

Foto do escritorNOVACULTURA.info

Sobre a conjuntura atual da América Latina


Após as ilusões progressistas da última década, o cenário está posto para o povo latino americano. A derrubada dos governos de centro-esquerda continua na agenda das oligarquias locais e do imperialismo que vem perdendo influência no Oriente Médio e em outras regiões do mundo e devido a isso é obrigado a recolonizar a América Latina. Afastar a crescente influência da China na região também está na agenda do dia. É a famosa Doutrina Monroe mais presente do que nunca.

Longe de se aprofundar o texto tem como proposta fazer um panorama geral da conjuntura política latino-americana nesse momento delicado para o continente.

-México: o bom serviçal dos Estados Unidos Enrique Peña Nieto continua dilacerando o povo e o país. As eleições presidenciais serão realizadas nesse ano e os favoritos são o candidato de centro-esquerda Andres Obrador e o conservador Ricardo Anaya. Peña Nieto privatizou os campos de petróleo, as minas e os bancos. Durante o seu governo colaborou com os militares, paramilitares e policiais dizimando os levantes populares contra o seu governo. O massacre dos estudantes em Iguala no ano de 2014 assombrou o mundo [1]. Não contente Peña Nieto permitiu que traficantes de drogas, banqueiros e empresários lavassem bilhões de dólares em contas no exterior para sonegar impostos. A frase de Porfírio Díaz se faz mais atual do que nunca “México, tão longe de deus e tão perto dos EUA”.

- Cuba: como se não fosse diferente, na contramão de toda América Latina desde 1959, Miguel Díaz-Canel “assume o governo convicto que seguirá o legado de Fidel e Raul” [2]. Os avanços continuam: Cuba é o 2º país do mundo com mais mulheres no Parlamento [3] e a Revolução segue à galope.

- Nicarágua: na mira do Império o governo de Daniel Ortega, que mesmo com uma paulatina perda da essência política da FSLN desde que foi reeleito em 2007 sofre com as guarimbas promovidas pela direita – leia-se CIA. O governo de Ortega quer proteger o sistema social de assistência à saúde e aumentar os benefícios e a cobertura da segurança social, definida como bem público.

- Honduras: desde o golpe de 2009 desferido contra Manuel Zelaya a situação no país não se estabilizou. As eleições de dezembro de 2017 foram fraudadas e o povo saiu para as ruas em protesto. O caso hondurenho deve ser observado, pois pode lançar luz para compreendermos o que pode estar por vir no Brasil em Outubro.

- Guatemala: o liberal Jimmy Morales chegou ao poder após a renúncia de Alejandro Aguirre mergulhado em escândalos de corrupção. Morales não poupa as suas forças na hora de reprimir os movimentos sociais, principalmente no campo. AGuatemala expulsou o embaixador da Venezuela, mas frisando que não existe uma má relação com o governo venezuelano.

- Costa Rica: Carlos Alvarado do Partido Ação Cidadã (centro-esquerda) foi eleito nesse ano. Reitera o seu compromisso com a preservação ambiental do país, a educação, segurança cidadã, infraestrutura, geração de empregos etc. Seu gabinete é o primeiro a ter mais mulheres (14) do que homens (11) em cargos de ministros, incluindo a primeira-ministra das Relações Exteriores afrodescendente, Epsy Campbell, também vice-presidente.

- República Dominicana: Danilo Medina segue o seu segundo mandato (no poder desde 2012). Políticos de alto escalão do seu governo, os ministros da indústria e do comércio foram detidos por suspeita de corrupção ligada à Odebrecht na República Dominicana

- Porto Rico: a eterna colônia dos Estados Unidos desde a guerra hispano-americana, “a Cuba que não deu certo”, segue agonizando sob o governo de Ricardo Rosselló. Em 2017 Porto Rico votou para se candidatar ao Congresso dos EUA e se tornar o 51º estado porem menos de um quarto dos 2,2 milhões de eleitores aptos a votar participaram do plebiscito. Embora a ilha seja considerada um "estado livre associado", porto-riquenhos recebem cidadania americana automática desde 1917. A polícia reprimiu brutalmente os manifestantes que saíram as ruas no dia do trabalhador contra os cortes de pensão, fechamentos de escolas e a lenta recuperação das atividades após o forte furacão que dizimou o país recentemente.

- Panamá: o país é assolado pelo narcotráfico há décadas e nada parece mudar no governo de Juan Carlos Varela. A Venezuela suspendeu em abril as relações econômicas com um grupo de funcionários do governo do Panamá, entre eles o presidente do país, Varela, assim como para 46 empresas. Em resposta, o Panamá decidiu retirar seu embaixador na Venezuela.

- Venezuela: os golpes contra a Revolução Bolivariana continuam em todas as frentes e na mais elevada intensidade sejam através de manobras parlamentares da oposição (MUD - Mesa Unidade Democrática), protestos violentos, sanções econômicas e etc. Mas a resistência do povo e de Maduro é maior ainda. As eleições serão realizadas dia 20 de maio, o vice-presidente dos Estados Unidos Mike Pence já se posicionou dizendo que a Venezuela deve suspender as eleições. O motivo é claro, nada de novo sob o sol: o PSUV de Maduro lidera com esmagadora maioria.

- Colômbia: as FARC, que abandonaram as armas, tiveram uma derrota retumbante nas eleições parlamentares, no dia 27 de maio desses mês o povo escolherá o seu presidente, mas os candidatos de centro-esquerda têm poucas chances de vencer. O narcopresidente Juan Manuel Santos representante dos ianques e da brutal elite rural, seguindo legado abominável de Álvaro Uribe vem mergulhando o país no caos. Concede de bandeja poços de petróleo e bases militares para o seu senhor do norte, trabalha conjuntamente com este para a desestabilização da Venezuela.

- Equador: a chamada Revolução Cidadã de Rafael Correa foi apunhalada pelas costas por Lenín Moreno do mesmo Partido, o Aliança País, após ser eleito em 2017. O Equador sob o governo de Moreno promove um giro diplomático estreitando a cooperação com os Estados Unidos e com os oligarcas locais.

- Peru: em 2017 o liberal do PPK (Peruanos Por el Kambio) Pedro Pablo Kuczynski venceu a candidata conservadora Keiko Fujimori, filha do ditador sanguinário Alberto Fujimori. Após a denúncia de que a empresa de consultoria de Kuczynski teria recebido propinas da construtora brasileira Odebrecht um processo de impeachment foi aberto contra o presidente que deixou o cargo em março de 2018. Martín Vizcarra assumiu o posto. O acontecimento abre margem para uma crise política sem precedentes no país.

- Bolívia: devido a nacionalização das reservas de gás natural e petróleo por Evo a partir de 2006 a Bolívia está há mais de uma década crescendo a uma média anual de 5% – muito superior à dos Estados Unidos e à dos países sul-americanos. Os olhos do imperialismo por hora não se voltaram totalmente para a figura de Evo Morales já que a desestabilização da Venezuela é a prioridade.

- Chile: o conservador Sebastián Piñera venceu o jogo presidencial em 2017 interrompendo o governo liberal com verniz de progressista de Michelle Bachelet. As mulheres chilenas estão na linha de frente na luta contra o machismo e a educação sexista nas universidades e escolas promovendo dezenas de ocupações [4].

- Argentina: o neoliberalismo sangue puro de Macri continua levando o país a bancarrota. Macri é um bom entreguista e está completamente alinhado com os interesses de Washington. Enquanto isso a grande mídia latino-americana evita de falar sobre os “feitos” de seu governo. Só recentemente os jornais noticiaram que a Argentina vive profunda crise cambial e decide pedir ajuda ao FMI. A taxa de juros do governo Macri é a maior do mundo e a pobreza já atinge 31,4% da população. A ex-presidenta Cristina Kirchner pode ser investigada por contrato de companhia aérea estatal. Como no Brasil as figuras de centro-esquerda estão sendo ceifadas na América Latina através da guerra jurídica - lawfare.

- Uruguai: eleito em 2014 Tabaré Vázquez da Frente Ampla (Partido de Mujica) ainda suspira no sentido de estabilidade política se traçado um paralelo com países vizinhos. Já o crescimento econômico do país chegou ao numero pífio de 1,5% em 2017.

- Paraguai: o país ainda sente a ressonância do golpe de 2012 em Fernando Lugo. Na última semana de abril o candidato conservador Mario Benítez do Partido Colorado venceu as eleições contra o candidato do Partido Liberal Efrain Alegre. Benítez cresceu no círculo de Alfredo Stroessner, o ditador carniceiro que ficou nada mais nada menos que 35 anos no poder. Nenhum presidente da América Latina do século XX ficou tanto tempo no cargo como Stroessner. Devido a isso já podemos imaginar como será o governo de Benítez. O Paraguai segue agonizando.

Brasil: o golpe entra na sua etapa de recrudescimento e um cenário cada vez mais conturbado se avizinha. A presença dos militares na política vem crescendo [5], a prisão do ex-presidente Lula faz parte do script do golpe [6], a repressão principalmente no campo atinge números estarrecedores [7], e o cenário ainda é nebuloso para as eleições de Outubro.

Escrito por André de Lucas

Notas

[1] https://www.revistaforum.com.br/digital/170/o-massacre-dos-estudantes-mexico/

[2] https://www.novacultura.info/single-post/2018/04/20/Diaz-Canel-Assumo-a-com-a-conviccao-de-que-todos-os-revolucionarios-seremos-fieis-a-Fidel-e-Raul

[3] http://operamundi.uol.com.br/dialogosdosul/31446-2/03042018/

[4] https://exame.abril.com.br/mundo/estudantes-protestam-contra-educacao-sexista-no-chile/

[5] https://www.novacultura.info/single-post/2018/04/05/O-recrudescimento-do-Golpe-e-a-ameaca-militar

[6] https://www.novacultura.info/single-post/2018/04/07/URC-Defender-Lula-contra-a-sua-prisao-e-contra-atacar-os-golpistas

[7] https://www.novacultura.info/single-post/2018/04/20/Fascismo-rural-e-o-banho-de-sangue-de-2017

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