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REIMPRESSÕES

Foto do escritorNOVACULTURA.info

"Os bairros comunistas contra o tráfico na Turquia"


Membros do DHKP-C em homenagem a Hasan Gedik no bairro de Golsoyu

A organização comunista turca DHKP-C (Partido Revolucionário da Libertação Popular – Frente), insurrecionária e marxista-leninista, implementa uma política pensada para “proteger trabalhadores e residentes das vizinhanças pobres de Instanbul”, eventualmente discutida quando o assunto são as atividades dessa organização. Os distritos controlados pelo partido já são conhecidos por conduzir ações conjuntas de solidariedade, voltadas para seus problemas materiais (construção e infraestrutura), mas também para a emancipação feminina e na luta contra a decadência (especialmente entre os jovens). Acusam que nos bairros revolucionários o Estado incentiva grupos criminosos, nomeadamente o narcotráfico, mas também prostituição, jogo e “formas similares de decadência”, criminalidade que é alvo do grupo há mais de 15 anos. As paredes do bairro de Okmejdani são marcadas pelos acrônimos do DHKP-C e do grupo YDGH (Movimento Juvenil Patriótico Revolucionário), considerado um braço juvenil do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK, também envolvido com a guerra de guerrilhas). Ambos atuam conjuntamente na constituição de auto-defesas no bairro, que não tem policiamento. No final de 2014 organizaram batidas nos cafés Umut e Arzum, dois centros de droga do bairro. Como diz matéria de Zeynep Karatas publicada no portal Today’s Zaman: “Bairros de trabalhadores turcos que servem como lares para o tráfico de drogas e a prostituição são raramente policiados. A falta de proteção policial para os residentes dessas comunidades encorajou grupos alternativos a se estabelecerem como as únicas forças de segurança, algumas delas que são até mesmo ilegais.” Ou seja, grupos políticos buscaram cobrir um vazio do poder estatal (apesar de denunciarem o que seria uma conivência deste com os criminosos, especialmente por parte da força policial). A polícia prefere fazer incursões, raids, nesse bairro irregular que tem um longo histórico de confrontos com o Estado. Os grupos se enfrentam quase diariamente com a polícia (de diversas maneiras, muitas vezes com técnicas não-letais), mas bairros como Okmejadni tem um histórico de manifestações de massa, como as promovidas recentemente contra os planos de desenvolvimento urbano do governo, criticados como um processo de remoção a serviço de interesses empresariais – bairros inteiros são demolidos para ceder a lugar a obras de infraestrutura e shoppings, alguns com o pretexto de serem “zonas sensíveis a terremotos” (o caso de Okmedjadni). No ano passado um homem, Uğur Kurt, foi executado pela polícia em frente a um templo alevi após a repressão de uma manifestação desarmada feita para protestar a morte de um jovem morto em uma outra manifestação. O principal parque do bairro é nomeado em homenagem a um combatente do DHKP-C. As incursões normalmente são dirigidas contra os grupos que são designados como terroristas, como a que a policia conduziu no 34º Aniversário do golpe militar no bairro popular de Gazi. Em adição aos pelotões especiais que invadiram mais de 40 prédios do bairro, foram utilizados um helicóptero, forças anti-distúrbio que lançavam bombas de gás e canhões de água que foram posicionados em “locais estratégicos” como em frente um templo alevi (denominação xiita presente no bairro), 14 pessoas foram detidas e um número de armas apreendidas. Outras operações como esta foram conduzidas em 2013 depois que o grupo marxista-leninista organizou manifestações armadas e retaliações contra traficantes por ocasião da morte do jovem Hasan Ferit Gedik, que tinha 21 anos e foi assassinado numa manifestação pacífica contra o narcotráfico vítima de um ataque por atiradores, no distrito de Gulsuyo. Estas operações costumam ser de grande escala, envolvendo mais de mil policiais, incluindo unidades anti-terrorismo e tropa de choque. Okmejadni, Gazi, Gulsuyo, Golsujo e tantas outras que servem de cenário para esses acontecimentos são gecekondus, bairros sujos que cresceram de forma irregular, aberrações urbanas esquecidas pelo Estado onde pessoas pobres habitam – favelas de Instanbul -, atualmente alvo de capitalistas da especulação imobiliária, refúgio para criminalidade e base política de grupos radicais de esquerda. O jornalista Joseph Dana do Al Jazeera comenta o desenvolvimento do grupo DHKP-C: “Como uma rede extensiva de ativistas e combatentes, o grupo criou bases de suporte comunitário nas vizinhanças gecekondu, onde aos eleitorados locais já foram alienados do Estado. O grupo também conduz sua luta atrás das grades. Uma greve de fome em massa nos anos 2000 fizeram os militares assaltar a prisão. Mais de 90 pessoas morreram, a maioria presos adeptos do DHKP-C.” O DHKP-C, saído nos anos 90 de um outro grupo revolucionário de esquerda que tinha sua praça-forte no sistema prisional (o Dev-Sol), é notável por uma série de ataques dirigidos contra alvos norte-americanos, desde alvos militares até representações comerciais e diplomáticas. Seu radicalismo não parece impedir seu trabalho nessas regiões pobres, onde cobrem o vácuo do poder, cuidam da segurança e distribuem serviços sociais – já fazem dez anos que o grupo transforma Okemejadni em uma base-segura. Moradores desses locais alegam que o governo é conivente com criminosos, que em casos como Okemejadni seriam apoiados por empreiteiras para pressionar os moradores e desvalorizar a região (no sentido de poder comprar o maior número possível de propriedades). Outros grupos, nem sempre adeptos da luta armada, também atuam na região, como é o caso da Frente Popular e da Juventude Revolucionária (Dev-Genç). Uma mulher jovem do grupo Frente Poular de Okemejadni que distribuía panfletos de manifestação em memória do jovem morto pelo narcotráfico conversou com a jornalista do Today’s Zaman, explicando que normalmente os revolucionários usualmente aos mesmos lugares onde estão os traficantes, pois grande parte dos jovens do movimento costumavam usar drogas. “Estamos vivendo em um ambiente onde os jovens não são estimulados a questionar coisas como o sistema de ensino e os problemas da sociedade. A falta de segurança permite que as crianças caiam nas drogas. Elas não sabem nem quando vão ter a próxima refeição!”, ela também explica que os grupos jovens são os que enfrentam esse problema, não a polícia. “As mulheres também estão sujeitas a isso. Nossas meninas estão sendo vendidas! … Como isso está acontecendo? Estamos nos tornando estranhos. Nós não ouvimos um ao outro. O grupo mais dinâmico da sociedade são os jovens, e se eles não levantam suas vozes, então ninguém vai levantar. Seja qual for o sentido que a juventude [da Turquia] mover-se em direção, a sociedade vai seguir. Claro, há pessoas de todas as idades que abusam de drogas, mas são os jovens que são mais propensos a cair em drogas. Portanto, se há um problema de drogas aqui, os jovens vão ser os únicos a intervir”. Quando questionada sobre os grupos ilegais DHKP-C e YDGH atuando contra os traficantes, ela responde que “eles lutam contra os traficantes de drogas de modo que não temos um problema com eles, mas às vezes eles atacam nossos barracas e casas de chá [da Frente Popular], o que eu não entendo”, reforçando que acha positivo o ataque contra as duas casas de chá que eram centro do tráfico. “Há um incidente entre a polícia e os grupos jovens toda noite. Quem sofre é o resto de nós. Tem crianças nas ruas aqui e a polícia joga gás lacrimogênio normalmente. O gás entra nas nossas casas pelas janelas. A polícia não faz nada sobre a venda drogas mesmo que eles saibam tudo sobre. Eles sabem quando e onde as drogas são vendidas mas preferem se ocupar dos jovens.” (residente idoso de Okemejadni para o portal Today’s Zaman) “O DHKP-C é uma parte de nós. Eles são nossos irmãos, irmãs e filhos. O Estado turco é contra a população Alevi aqui. Eles querem a nossa terra. Muitas vezes sentimos que estamos lutando contra todos. O DHKP-C luta por nossos direitos, mas sabemos que eles têm outras batalhas também. A cidade terá sucesso em tomar nossa terra em algum ponto. Mas, por enquanto, estamos aqui e permaneceremos firmes em proteger nosso bairro, o único que a maioria de nós conhece.”" (Yucel Yildirm, carpinteiro de 40 anos de idade, morador de Okemejadni, para Al Jazeera) O que muito desses bairros também têm em comum é a grande presença da minoria xiita alevi. Muitos alevis acreditam que o esquecimento de seus bairros se dá por razões sectárias. Gulsuyu e Okemejadni tem uma concentração de habitantes alevi e são fortalezas do DHKP-C. Sahintepe é outro bairro que luta contra o tráfico de drogas e tem uma quantidade significativa de alevis, além da presença do YDGH (no fim de 2014 falou-se uma operação deste contra um membro do Estado Islâmico no bairro). Os xiitas em diversos países são cada vez mais levados a posições revolucionárias. Em Sahintepe, fora o grupo curdo, formou-se uma auto-defesa alevi sem filiação política declarada. Um morador explica a situação para o portal Today’s Zaman: “Os traficantes estão em todo lugar. Nós temos dois parques e eles tomaram os dois. Eles vendem drogas até mesmo nas escolas, e não só nas escolas de ensino médio, mas nas básicas! As pessoas vivem com medo aqui; você não pode arquivar uma queixa quando ocorre um crime porque eles [os traficantes] virão queimar a sua casa. O Estado não tem a capacidade de mantê-lo seguro”, diz ele, que emenda numa apologia da milícia local, “Muitas graças a Deus por eles. Eles dão a nós e as nossas mulheres alguma segurança no bairro. Eu não sei como qualquer uma das jovens mulheres do bairro consegue andar aqui sem eles. Nosso problema é que nosso governo se esqueceu de nós. Temos duas escolas aqui, mas 10 mesquitas. Nossas crianças não têm nada. A polícia sabe sobre o problema das drogas e não faz nada.” Turquia, curdos, xiitas, todos esses assuntos nos lembram que numa das fronteiras ocorre a encarniçada guerra civil na Síria, com forte envolvimento do governo de Instanbul, inimigo de Assad que apóia os rebeldes e foi acusado até mesmo de flertar com o Estado Islâmico. O DHKP-C está muito além do ataque contra pontos de droga em bairros pobres da capital turca, está plenamente inserido nesse jogo geopolítico – o grupo é apoiado Damasco no conflito, além de ter vínculos anteriores com este governo, apoio e campos de treinamento em território sírio. A ala jovem do movimento curdo, por sua vez, é pressionada pelas negociações de seus dirigentes com o Estado curdo e é compelida para a radicalização ao lado do DHKP-C.

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