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REIMPRESSÕES

Foto do escritorNOVACULTURA.info

"Sobre as origens da teoria do socialismo em um só país"


Neste artigo, examinamos as origens da teoria do “socialismo em alguns, ou mesmo num só país capitalista tomado isoladamente”. Tal esforço se faz necessário para contrapor a recorrente lenda, criada e difundida pelo trotskismo, de que tal teoria teria sido criada por Stalin em 1924, bem como de que servisse como expressão da estreiteza nacional de uma crescente burocracia soviética conservadora. Este estudo nos revela que esta teoria já estava presente na resposta dos bolcheviques à traição dos partidos socialdemocratas europeus ao ideal da revolução proletária, o que se deu logo após a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914 (que os bolcheviques denunciaram como a guerra imperialista). A incompreensão de Trotsky, ou mesmo sua recusa em aceitar esta concepção leninista, nos mostra que seu rompimento com o menchevismo foi parcial, além de apontar a compreensão ultra-esquerdista que tinha do processo revolucionário mundial. Para sermos breves, empregaremos o termo “socialismo em um país” ao invés de “socialismo em alguns, ou mesmo em um único país tomado isoladamente”.


Esta foi, de fato, a disputa mais acirrada na história do movimento revolucionário marxista. Nos debates que giravam em torno da própria natureza do processo revolucionário mundial, tratava-se do papel a ser desempenhado pelo socialismo, caso este obtivesse a vitória somente em alguns, ou mesmo num único país capitalista. Levantada primeiramente no conflito entre Lenin e as correntes oportunistas da Socialdemocracia, esta questão mais tarde se transfiguraria na disputa entre Stalin e Trotsky. Mas por que tal debate foi tão central? A resposta pertence à ordem do tempo, e pode ser encontrada na natureza da época em que vieram à tona.


O Partido Bolchevique, sob a liderança de Lenin, foi o único partido da Segunda Internacional Socialista a defender uma ação revolucionária após a deflagração da Primeira Guerra Mundial. Os demais partidos da Internacional – cujo mais notável era o Partido Socialdemocrata Alemão – traíram a luta pela revolução proletária e pelo socialismo ao apoiarem suas próprias burguesias na guerra das potências imperialistas. Comprometidos por sua traição e expostos na frente dos Trabalhadores avançados, esses antes escondidos revisionistas, inimigos da Revolução da Classe Trabalhadora, precisavam buscar justificativas teóricas para sua traição. Ao vasculhar certos trabalhos de Marx e Engels, encontraram o que buscavam: o socialismo, diziam, deve se dar internacionalmente; ou o socialismo será internacional, ou nada será.


Isto não passava, porém, de uma paródia do Marxismo, que embora parecesse muito válida para muitos professores universitários, dificilmente serviria para a liderança das classes revolucionárias. O que os oportunistas buscavam era uma mera justificativa “marxista” para trair a classe trabalhadora e apoiar suas respectivas burguesias na guerra inter-imperialista. Seu principal argumento era, portanto, de que não haviam traído o socialismo e a revolução porque ambos teriam, por sua própria natureza, que ocorrer internacionalmente, a partir da união dos “proletários de todo o mundo”. Marx não havia dito isso, e Engels não teve a mesma opinião? Como os Leninistas podem nos acusar de trair o socialismo se estamos nos baseando nos autores mais sagrados dos sagrados do Marxismo? Os oportunistas concluíam: o Socialismo jamais seria possível no isolamento, em um único país. Desta forma, os oportunistas buscaram e “encontraram” justificativa nos escritos dos criadores do Socialismo Científico. Porém, devemos aqui lembrar do ditado: “o próprio diabo pode citar as escrituras”.


O que os oportunistas da Segunda Internacional não compreenderam era que o capitalismo havia sofrido transformações desde os tempos de Marx e Engels. De sua era pré-imperialista, este havia atingido sua etapa monopolista, ou seja, imperialista. O capitalismo em ascensão se convertia no capitalismo em decadência: o imperialismo se tornaria o capitalismo “moribundo” (Lenin). Desta forma, antes deste período de desenvolvimento nem Marx nem Engels puderam imaginar a possibilidade do socialismo em um só país, enfatizando corretamente que a transição para o socialismo só seria possível caso se desse em diversos países. No entanto, as coisas mudariam a partir da ascensão das formas monopolistas e imperialistas do capitalismo. O imperialismo intensificava as leis do desenvolvimento desigual, mesmo sob as bases de um nivelamento. Isto foi a intensificação das leis do desenvolvimento desigual sob o imperialismo, que serviu para transformar as perspectivas da revolução internacional. E foi o próprio Lênin quem tomou a tarefa de demonstrar esta nova fase do capitalismo, bem como a consequência que teria para a revolução mundial.


Lenin nos mostrou que este desenvolvimento do capitalismo deu "origem às guerras imperialistas, que minam as forças do imperialismo e torna possível romper a cadeia do imperialismo em seu ponto mais fraco." (J. Stalin: Works 18; p. 168; Reimpresso pela Red Star Press; Londres, 1976)


Lenin assim concluiu: "O desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Então, a vitória do socialismo é possível em alguns ou mesmo em um país capitalista, tomado isoladamente." (V.I. Lenin: Selected works; Eng. Ed., Vol.5; p.141; citado em Stalin; op.cit. p.169)


Com este raciocínio, Lenin contrapôs os oportunistas e social-chauvinistas da Segunda Internacional, que tendo traído a classe trabalhadora ao início da Primeira Guerra Imperialista, buscavam a todo custo ocultar sua traição com citações de Marx e Engels, com passagens que refletiam as perspectivas de um momento completamente diferente. Em outras palavras, Lenin dizia aos social-traidores: vocês não podem mais usar a velha máxima de que ‘o socialismo deve ser internacional’ para justificar sua traição perante a classe operária. O Imperialismo tinha modificado a natureza do processo revolucionário mundial no sentido de tornar as revoluções e o socialismo possíveis em alguns ou mesmo em um único país. Sob os olhos dos traidores, Lenin tornou-se um “revisionista” por não compreender o marxismo como um dogma, mas como um método de reflexão e ação.


Para consolidar sua nova posição ainda mais firmemente, Lenin notou que:


"O desenvolvimento do capitalismo procede de forma extremamente desigual nos diversos países. Isto não pode se dar de maneira diferente sob o sistema de produção de mercadorias. Disto segue, irrefutavelmente, que a vitória do socialismo não pode ocorrer simultaneamente em todos os países. O socialismo alcançará a vitória primeiro em um ou alguns países, enquanto os demais permanecerão burgueses ou prequeno-burgueses por algum tempo." (V.I. Lenin “Programa de guerra da Revolução Proletária”, em: Collected Works, Vol. 29; p. 325)


Lenin prossegue esta passagem explicando as contradições que surgiriam entre os países socialistas e os estados atrasados, o que poderia levar à guerra, que pelo lado dos países socialistas seria uma guerra justa e legítima. O que Lenin buscava demonstrar era que as concepções marxistas desenvolvidas no período pré-imperialista do capitalismo (de que o socialismo em um país isolado seria impossível, e que portanto sua vitória deveria ocorrer simultaneamente em todos os países capitalistas avançados) não eram mais válidas. Também eram inválidas as tentativas da ala direita da socialdemocracia de se esconder atrás da tese da “impossibilidade do socialismo em um país” para justificar sua recusa em conduzir a luta para derrubar o capitalismo e guiar a luta pela construção do socialismo nos respectivos países.


Ao defender a possibilidade do socialismo em um único ou em alguns países, Lenin se engajaria em uma disputa colossal com os oportunistas e direitistas da Socialdemocracia, que para salvar sua reputação se opunham ao socialismo em um só país. Acima de tudo, não era à toa que, se não todos, a maioria desses líderes eram oriundos de países capitalistas avançados. A própria ideia de tomar o poder na Rússia em 1917 foi para eles algo oposto à compreensão livresca que tinham do marxismo. Sua recusa em conduzir a luta pelo socialismo naquele momento era justificada pela noção de que o socialismo “ou será internacional ou nada será”. Sua crítica aos bolcheviques era de que a Rússia estava materialmente atrasada para o socialismo, o que era, de fato, mas tal argumento não justificava a recusa em dar passos na direção de eliminar o atraso, o que poderia ter sido feito mais facilmente se os oportunistas não tivessem traído a luta pelo socialismo nos países avançados.


É importante compreendermos aqui que Lenin desenvolveu o pensamento marxista em acordo com os desenvolvimentos sofridos pelo capitalismo, o que também levou ao desenvolvimento da teoria marxista do processo revolucionário. A antiga concepção pré-imperialista de que o socialismo teria que se dar obrigatoriamente no plano internacional deu lugar a nova teoria marxista-leninista de que o socialismo era possível em um ou alguns países em dado momento do processo revolucionário mundial. Com isso, Lenin não só desenvolveu a teoria revolucionária marxista como também obteve êxito ao expor os oportunistas e direitistas que se opunham à teoria do socialismo em alguns ou num único país porque esta era uma dura amostra de sua traição na recusa em conduzir a luta pelo socialismo em seus próprios países após o rompimento da guerra imperialista.


Vemos assim que a luta de Lenin para defender a teoria do socialismo em alguns ou em um único país era parte da contradição entre as linhas oportunistas e revolucionárias. A linha revolucionária sustentou que o socialismo seria possível mesmo em um único país, enquanto os oportunistas continuaram se baseando em noções ultrapassadas sobre o capitalismo pré-imperialista, que embora fossem corretas em seu tempo, tinham se tornado inválidas pelo recente desenvolvimento do capitalismo, sua forma monopolista e imperialista. No âmago desta luta entre a revolução e o oportunismo surgiria a figura de Trotsky, que por um bom tempo titubeara entre as duas alas da socialdemocracia russa, os bolcheviques e os mencheviques, tendo em geral colaborado com os segundos contra os primeiros. A posição que Trotsky defenderia no partido bolchevique ficava era um meio-termo entre o Leninismo e o oportunismo. Naquele tempo, Trotsky apoiava o slogan “Estados unidos da Europa”, do qual Lênin discordou fortemente. Para Lênin, este slogan não levava em conta a lei do desenvolvimento desigual, podendo servir novamente para que a ala direita da socialdemocracia evitasse a luta pelo poder em seus respectivos países; além disso, tal slogan tinha para Lênin um tom eurocêntrico. Para expor a limitação desta concepção, Lênin o contrapôs ao slogan “Estados Unidos do Mundo”, que embora fosse preferível, a proposta era aplicada ao socialismo ao invés do capitalismo. A principal fraqueza desta última proposta para Lênin era que


"Enquanto um slogan separado, entretanto, o slogan dos Estados Unidos do Mundo dificilmente estaria correto. Primeiro, porque seu surgimento só seria possível com o socialismo, e em segundo, porque poderá ser erroneamente interpretado, levando a crer que a vitória do socialismo em um país isolado é impossível, além de poder levar a equívocos quanto à relação deste país com os outros." (V. Lenin: ‘The United States of Europe’ Slogan; Selected Works, Eng. Ed., Vol. 5; p. 141; August 1915).


Nesta passagem, Lenin polemizava contra os “Estados Unidos da Europa”, apoiado por Trotsky, buscando uma proposta alternativa e concluindo que ambos eram contra a teoria desenvolvimento do socialismo em um único país enquanto parte do processo revolucionário de todo o mundo. Podemos compreender a conclusão de Lenin se lembrarmos que ele se encontrava em luta contra a ala direitista do movimento socialista, que recentemente tinha traído a luta pelo socialismo baseando-se na impossibilidade do socialismo em um só país.


Parece-nos óbvio que Trotsky não pôde vislumbrar a ligação entre a defesa que Lênin fazia de sua nova teoria sobre a possibilidade do socialismo em alguns ou em um único país, e a luta que conduzia contra a ala direita da Internacional Socialista, que ocultava seu oportunismo e sua traição da classe trabalhadora, ou seja, sua incapacidade em conduzir a luta pelo socialismo em seus respectivos países, escondendo-se atrás da concepção ultrapassada de que o socialismo só seria possível em âmbito internacional. Esta incapacidade de Trotsky em compreender a ligação entre defender o socialismo em um único país enquanto parte da luta mundial e a luta contra o oportunismo era informar os pronunciamentos mais novos de Trotsky. Trotsky respondeu à crítica de Lenin de seus “Estados Unidos da Europa” em um artigo onde expunha sua própria visão do processo revolucionário mundial, argumentando que


"O único argumento histórico mais ou menos concreto contra o slogan dos Estados Unidos da Europa foi formulado na Social-Democracia Suíça (naquele tempo o órgão central dos Bolcheviques) na seguinte frase: “o desenvolvimento econômico e político desigual é uma lei absoluta do capitalismo”. Daí, o Sotsial-Democrat chega à conclusão de que a vitória do socialismo é possível em um único país, e que por isso não haveria motivo para colocar a criação dos Estados Unidos da Europa como condição a para a ditadura do proletariado em cada país separado… Que nenhum país em sua luta deve ‘esperar’ pelos demais é um argumento elementar, útil e necessário para reiterar a ideia de uma ação internacional simultânea não deve ser substituída pela ideia de uma inatividade internacional simultânea. Sem esperar pelos demais, nós começaremos e levaremos a cabo a luta, com a total confiança de que nossa iniciativa dará um ímpeto às lutas nos demais países; mas caso isto não ocorra, seria sem esperanças pensar – conforme testemunham a experiência histórica e a importância teórica – que, por exemplo, uma Rússia revolucionária poderia se manter diante de uma Europa conservadora, ou que uma Alemanha socialista poderia existir isolada no mundo capitalista." (Trotsky: Works. Vol. 3 part 1; PP.89-90: também citado em Stalin: Works 8, p. 336).


Esta foi a resposta de Trotsky à teoria de Lenin sobre a possibilidade do socialismo em um país enquanto parte integrante do processo revolucionário global. Ele era contra qualquer busca por “ganhar tempo”, ou atrasar a revolução em países individuais, o que o coloca em desacordo com os líderes da direita do movimento socialista, mas ao mesmo tempo, ele não acreditava que o socialismo poderia se manter na Rússia ou na Alemanha, por exemplo, diante de uma Europa conservadora. E isto foi, de fato, o que aconteceu na União Soviética, onde o socialismo resistiu. A sobrevivência da União Soviética até sua liquidação final pelos revisionistas que tomaram o controle do PCUS nos serve para refutar tal prognóstico de Trotsky. Portanto, se por um lado Trotsky se opunha ao adiamento da revolução nos países individuais, por outro lado ele se opôs ferozmente à tese leninista sobre a possibilidade do socialismo em um único país enquanto parte da luta mais ampla pela revolução internacional.


Falhando em compreender, ou mesmo rejeitando claramente a posição leninista de que o socialismo seria possível em um único, ou alguns países (tese alicerçada na lei do desenvolvimento desigual), Trotsky jamais poderia discernir que a luta pelo socialismo em um país enquanto parte do processo revolucionário mundial era parte integrante da luta de Lenin contra os oportunistas de direita e o Social-Chauvinismo na direção do movimento socialista internacional. Esta incapacidade da parte de Trotsky posteriormente levaria o trotskismo a desempenhar um papel contrarrevolucionário na União Soviética após a morte de Lenin, em 1924.


Trotsky entrou para o Partido Bolchevique em 1917 mesmo se opondo à teoria leninista de que o socialismo era possível em um único país. Após filiar-se ao partido, Trotsky procurou não se opor abertamente à Lenin nesta questão. Entretanto, após a morte de Lenin, Trotsky buscou afirmar sua posição contrária à de Lenin, dirigindo sua crítica à Stalin. Trotsky foi tão longe que chegou a dizer que Stalin teria criado tal teoria, sendo que qualquer comunista sabe que esta fora formulada pelo próprio Lenin. Desta forma, a “Escola Trotskista de Falsificação” foi responsável pela maior fraude teórica já perpetrada no interior do movimento revolucionário da classe trabalhadora. A lenda de que Stalin era o autor da teoria do socialismo em um país, seja ela produto da ignorância ou uma mentira consciente, é repetida em todo tipo de literatura sobre a Revolução Russa produzida pelos movimentos trotskistas.


Portanto, no 7º Pleno do Comitê Executivo da Internacional Comunista (22 de novembro a 16 de dezembro de 1926) Stalin pontua em sua réplica na discussão sobre o “Desvio socialdemocrata em nosso partido”:


"O modo como compreendo a questão é que agora Trotsky se levanta contra a teoria de Lenin, mas como combater Lenin abertamente seria um negócio arriscado, ele decidiu levar a cabo esta luta sob a aparência de combater uma “teoria” de Stalin. Desta forma, Trotsky quer tornar mais fácil para si lutar contra o leninismo, disfarçando sua luta com a crítica à teoria de Stalin." (Stalin: Obras; p.121; Reimpressão pela Red Star Press, Londres).


Tendo passado a vida toda ao lado dos oportunistas, Trotsky jamais compreendeu a arte de levar a cabo uma luta baseada em princípios, sem ter que recorrer a manobras baratas, e oportunistas. Com isso, Stalin lembrou os comunistas de que


"…notemos que a afirmação de Trotsky a respeito da "teoria de Stalin" é uma manobra, um truque, um truque covarde e mal sucedido, destinado a ocultar sua luta contra a teoria de Lenin da vitória isolada do socialismo nos países, uma luta que começou em 1915 e se estende aos dias de hoje. Se esta artimanha de Trotsky é ou não um sinal de honestidade, que decidam os camaradas." (Stalin, IBID.)


O mais espantoso é que Trotsky pensou que poderia fugir com tamanho truque no mais importante plano político da classe trabalhadora, a vanguarda comunista, e ainda se passando por um leninista! Após unir-se aos bolcheviques, Trotsky não julgou que tal truque seria sensato, ou em outras palavras, Trotsky estava desprovido de argumentos que pudesse opor a este elemento primordial do leninismo, e decidiu mascarar sua luta contra o leninismo apresentando-a como uma luta contra Stalin, o que prova que Trotsky era motivado primordialmente por motivos oportunistas.


Da mesma forma como as alas direitistas denunciaram a teoria de Lenin como ‘revisionismo’ para mascarar sua traição à classe trabalhadora ao atacar a possibilidade de construir o socialismo em seus países, naquele momento Trosky denunciava Stalin por inventar uma teoria revisionista chamada "socialismo em um só país", teoria que por sua vez expressava as tendências conservadoras da burocracia soviética.


Ao pender para o menchevismo na questão do socialismo em um só país, o qual Trotsky contrapunha mecanicamente à revolução mundial, Trotsky seria punido após conduzir o desvio socialdemocrata no partido comunista. Assim como os líderes oportunistas da Segunda Internacional, Trotsky se opunha à possibilidade de construção do socialismo em um só país, embora por razões distintas. Enquanto os oportunistas de direita buscaram justificar sua traição ao socialismo em seus países por sua rejeição ao socialismo em países isolados, Trotsky lutaria contra o socialismo em um só país porque o via enquanto contraposto à ideia da revolução internacional. A consequência lógica é que tanto os direitistas da internacional quanto o ultra-esquerdista Trotsky defenderam posições que negavam qualquer possibilidade do socialismo ser construído em países isolados. Enquanto para os direitistas este era o motivo que inviabilizava a conquista do poder nos respectivos países, para os ultra-esquerdistas o socialismo seria impossível em um país isolado, e jamais ocorreria sem a revolução mundial.


A extrema-esquerda e a direita do movimento socialista se uniriam em oposição à teoria leninista sobre a possibilidade de se consolidar o socialismo em um único país enquanto parte do processo revolucionário mundial. Desta forma, no que diz respeito à União Soviética, o passado menchevique de Trotsky se reconciliaria com ele. Situando-se ‘à esquerda’, os trotskistas começariam a desempenhar um importante papel para a burguesia ao propagandear a impossibilidade do socialismo na União Soviética, visto que sua ruidosa denúncia do leninismo serviria apenas para desmoralizar o movimento comunista e classe trabalhadora, minando a confiança dos trabalhadores, ao mesmo tempo em que impulsionava a confiança da burguesia soviética na restauração do capitalismo.


Se o socialismo jamais seria alcançado na União Soviética, na ausência de revoluções em outros países, a contrarrevolução e a restauração do capitalismo não estariam longe.


Embora se utilizando sempre de um disfarce "de esquerda", o papel objetivo desempenhado pelo trotskismo foi de enfraquecer a confiança da classe trabalhadora nos comunistas soviéticos com sua rejeição a teoria de Lenin no que dizia respeito à possibilidade do socialismo desenvolver-se na União Soviética. A linha política de Trotsky era a linha da contrarrevolução soviética. Stalin assumiria a defesa da teoria de Lenin, e a oposição de Trotsky a tal teoria o situaria objetivamente ao lado dos contrarrevolucionários, ou seja, na trincheira de todos os anti-socialistas que buscaram desmoralizar a revolução russa sob o princípio ideológico de que o socialismo jamais seria construído em um país isolado. Esta campanha de desmoralização surtiu algum efeito, claramente demonstrado em pessoas como Zinoviev e Kamenev, que embora já tivesse defendido o leninismo dos desvios de Trotsky, tornar-se-iam, por motivos oportunistas e sectários, ferramentas da campanha trotskista contra o leninismo.


Conclusão

A teoria de Lenin, que compreendia a possibilidade da vitória do Socialismo em um único país isolado enquanto parte do processo revolucionário internacional, se originava a partir de um desenvolvimento da teoria marxista da revolução, e era parte do avanço teórico que se dava em consequência da transformação do capitalismo pré-imperialista em capitalismo imperialista. Tal desenvolvimento intensificava os efeitos da lei do desenvolvimento desigual, o que levara as potências imperialistas a choques cada vez mais constantes por mercados e matérias-primas. As guerras geradas por tais conflitos enfraqueciam o imperialismo, criando a possibilidade de rompimento dos elos mais fracos da corrente imperialista. Por sua vez, tal situação criava oportunidades favoráveis à vitória isolada do socialismo nos países. A deflagração da primeira guerra imperialista expôs o completo apodrecimento das lideranças da Segunda Internacional, comprometidos com o oportunismo e o social-chauvinismo. Estes traidores da classe trabalhadora e do socialismo buscavam justificar sua traição à revolução e seu fracasso em conduzir a luta pelo poder com base em princípios teóricos e ideológicos que só possibilitavam pensar o socialismo em escala mundial. Utilizando citações de Marx e Engels a respeito da natureza internacionalista da derrubada do capitalismo, a socialdemocracia ignorava a mudança sofrida pelo capitalismo, desde sua era pré-imperialista ao capitalismo imperialista. A luta de Lênin para sustentar a teoria de que o socialismo seria viável em apenas alguns ou mesmo em um único país era dirigida a estes oportunistas, que se escondiam por trás do caráter internacionalista do socialismo para justificar sua deslealdade à classe trabalhadora. Opondo-se a lutar pelo socialismo em seus próprios países, justificavam sua traição opondo-se a possibilidade do socialismo em países isolados. Em outras palavras, os socialdemocratas europeus contrapunham o socialismo em um só país à natureza internacional do socialismo.


Em sua luta para sustentar que haveria possibilidades do socialismo desenvolver-se primeiro em alguns do mundo enquanto parte do processo revolucionário mundial, Lenin criticava o slogan trotskista dos “Estados Unidos da Europa”. Ele o contrapunha aos “Estados Unidos do Mundo”, rejeitando-o também porque tal proposta se mesclava com o socialismo e levava ao equívoco de que o socialismo seria impossível em países isolados. Trotsky respondeu a crítica de Lenin de agosto de 1915 afirmando que embora os socialistas não devessem esperar a revolução nos demais países, a ditadura do proletariado jamais resistiria frente a uma Europa conservadora. Mesmo divergindo da teoria de Lenin, Trotsky uniu-se aos bolcheviques em 1917 e procurou não expor suas divergências abertamente no início, porém após a morte de Lenin passou a opor-se abertamente a teoria de Lenin. Por motivos sectaristas ele passou a agir de maneira oportunista, dirigindo seu antagonismo à figura de Stalin naquilo que se tornaria a maior falsificação política na história do movimento revolucionário – a afirmação de que Stalin era o criador do Socialismo em um só país, uma lenda repetida pelos trotskistas até os dias de hoje. Este artifício oportunista foi completamente revelado por Stalin em sua luta contra a oposição liderada por Trotsky na União Soviética. A consequência da oposição de Trotsky à teoria de Lenin foi sua aproximação ao campo daqueles que buscaram apenas desmoralizar os comunistas e a classe trabalhadora sob o argumento de que o socialismo seria impossível na União Soviética. Já que esta era a posição da burguesia e dos mencheviques, ansiosos por desmoralizar qualquer um que lutasse pelo socialismo, o trotskismo era colocado mesmo lado dos contrarrevolucionários burgueses, embora buscasse atacar a revolução pela “esquerda”. Desta forma, fica claro que em sua oposição à Lenin o trotskismo desempenhou – e continua a desempenhar – um papel reacionário. O significado que teve o trotskismo após a morte de Lenin em 1924 não pode ser encontrado na sua oposição “de esquerda” à teoria leninista do processo revolucionário mundial, mas sim em seu papel objetivo de comprometer a confiança dos elementos revolucionários e socialistas em uma plataforma que possibilitasse pensar a construção do socialismo na União Soviética como algo viável. O PCUS caracterizou a posição de Trotsky como um desvio socialdemocrata pelo fato de sua negação do socialismo em um só país ter sido a mesma dos estratos menchevistas. Sem dúvida alguma, as opiniões expostas por Trotsky serviam apenas aos interesses dos elementos capitalistas, ansiosos por uma possível restauração deste nos primeiros anos após a revolução russa.



Tony Clark, do Communist Party Alliance

Texto original, em inglês: http://marxism.halkcephesi.net/Tony%20Clark/socialism%20in%20one%20country.htm

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