top of page
FEIRA-DO-LIVRO-2024.png
FEIRADOLIVRO2024-logo.png
Foto do escritorNOVACULTURA.info

Hungria: as consequências desastrosas do capitalismo


Recentes pesquisas de opinião revelam que a maioria do povo húngaro considera a vida tão miserável que gostaria de viver em qualquer outro país. Muitos consideram que a vida era muito melhor antes de 1989, quando o povo desfrutava de pleno emprego e de um avançado sistema de bem-estar social. O capitalismo destruiu tudo isto. O que se exige são a posse estatal dos bens e o planejamento, mas sob o controle democrático dos próprios trabalhadores.


“O povo já não desfruta de pleno emprego. A pobreza e o crime aumentam. O povo trabalhador já não tem acesso à ópera ou ao teatro. A TV caiu de qualidade assombrosamente – ironicamente nunca tivemos o Big Brother… mas agora o temos”.


A que país e a que período se refere esta citação? Grã-Bretanha, América, qualquer um da Europa? Há quarenta, há vinte anos ou hoje? Podia referir-se a todos ou a algum deles, mas é de um artigo que apareceu na edição da internet do The Daily Mail. Mail on-line em outubro de 2009 e se refere à Hungria.


Naquele mês, a imprensa celebrava o 20º aniversário da “queda do comunismo” na Europa central e do leste, mas Zsuzsanna Clark, autora do artigo, ofereceu um relato muito diferente da cobertura usual. Ela explicou o que seria tornar-se adulto na Hungria nas décadas de 70 e 80 do século passado comparando-se favoravelmente com a vida para os jovens nos dias de hoje na Hungria capitalista ou mesmo em sua adotada Grã-Bretanha, onde ela se estabeleceu em 1999.


Ela escreveu:


“Quando me perguntam o que era crescer por trás da Cortina de Ferro na Hungria nos anos 1970s e 1980s, a maior parte das pessoas esperam ouvir relatos sobre polícia secreta, filas para comprar pão e outras coisas desagradáveis da vida num estado de partido único. Ficam invariavelmente desapontadas quando eu explico que a realidade era completamente diversa, e a Hungria comunista, longe de ser o inferno na Terra, era na verdade um lugar agradável para se viver. Os comunistas garantiam emprego para todos, boa educação e assistência médica gratuita. Crimes violentos virtualmente não existiam…


“Mas provavelmente o melhor de tudo era sensação geral de camaradagem, um estado de espírito ausente em minha adotiva Grã-Bretanha e, na verdade, presente todas as vezes que, hoje, eu volto à Hungria. As pessoas confiavam umas nas outras, e quem tinha partilhava…


“Uma das melhoras coisas era acesso ao lazer, o descanso estava ao alcance de todos… Meus pais trabalhavam em Dorog, uma cidade próxima de Hungaroton, numa indústria estatal de discos, de maneira que ficávamos na área de lazer do lago Balaton, ´o mar Húngaro`…


“O governo compreendia o valor da educação e da cultura. Antes do advento do comunismo, as oportunidades para os filhos dos camponeses e dos trabalhadores urbanos, tais como eu, subir na escala educacional era restrito. Tudo mudou depois da II Guerra Mundial.


“Os comunistas não precisavam restringir as coisas boas da vida para as classes superiores e medias – todos podiam usufruir o melhor da música, da literatura e da dança. Isto significava generosos subsídios para instituições – orquestras, óperas, teatros e cinemas. Os preços dos bilhetes eram subsidiados pelo estado, tornando a frequência a ópera e ao teatro acessível”.


Ela não está isolada em externar estes sentimentos hoje. O resultado de uma recente pesquisa de opinião húngara sobressaltou as audiências radiofônicas com 53% dos indivíduos expressando ou o desejo de deixar o país ou a disposição de aproveitar qualquer oportunidade para trabalhar no exterior. E isto apenas um ano de governo do governo de Viktor Orbán e seu FIDESZ/KDNP que galgaram o poder com a esmagadora maioria de dois terços e foi considerado o “mais popular político húngaro que a Hungria jamais vira”.


Os últimos doze meses na Hungria têm constituído um choque tanto para os adeptos do governo quanto para seus opositores. Orbán denominou sua eleição de “revolução de cabine eleitoral”. Ele chamou a si a tarefa de aproveitar sua maioria de dois terços para reescrever a constituição, remover a palavra “república” da denominação do país, “reformar” o sistema de pensões, inclusive abolindo o direito de aposentadoria por invalidez até mesmo para aqueles que já se beneficiavam dessa prerrogativa.


Ele também afrontou muitos setores da sociedade, a começar pela mídia, agora amordaçada por nova lei de imprensa, sob a qual um órgão não eleito formado inteiramente de adeptos do FIDESZ/KDNP, decide que artigos, programas de TV ou publicações são anti-húngaras ou não. As punições capituladas nessa lei incluem cortes parciais que ameaçariam a existência de tudo, excetuados as estações de rádio e TV mais prodigamente financiadas ou jornais. Muitos comentaristas têm comparado essa lei à caça às bruxas macarthistana década de 1950.


O último segmento social que o governo enfrentou são os soldados, a polícia e os bombeiros, cujos direitos a pensões e aposentadorias especiais estão sob ameaça juntamente com suas condições de trabalho.


Regalias de segurança social estão sendo reduzidas e anuladas, exceto quando as mais espúrias condições são satisfeitas. Pensões por invalidez são revistas mediante cancelamentos após longos períodos de inatividade, salvo se os prejudicados estiverem em condições de reintegrar-se a esquemas de trabalho voluntário.


A assistência à saúde é alvo de severas reduções, especialmente no campo onde muita gente acha-se incapacitada de viajar a lugares distantes em busca de tratamento uma vez que seus passes também foram cancelados.


A lista é infinita. Os débeis, os pobres, as minorias étnicas são os grandes perdedores por causa das tentativas de acerto de contas do governo de Orbán. Mesmo com menos austeridade, a maior parcela do povo, sem levar-se em conta suas afiliações partidárias, provavelmente olharia o passado “comunista” com nostalgia.


A tétrica desesperança que o capitalismo produziu e está aumentando diariamente na Hungria e nos demais países da Europa central e do leste contrasta inteiramente com a memória da ausência de desemprego, tempo suficiente para dedicar à vida familiar, a passatempos e a esperança de um futuro melhor, que as famílias conseguiam no passado.


O artigo acima é uma demonstração do quão caluniosa é a propaganda fomentada nos países não-socialistas sobre este período da Hungria. Porém, não só este país, como todos os demais da região que foram libertados pelo Exército Vermelho do domínio nazista, assistiram ao estabelecimento de governos à imagem da União Soviética, não a União Soviética oriunda da Revolução Russa de 1917, não a União Soviética dirigida pelos sovietes, liderada pelos bolcheviques revolucionários, mas a nação degenerada pelo revisionismo em que se transformou após a falência de todas as outras revoluções socialistas daquele período e seu subsequente isolamento.


Fiz nesse blog outras postagens em que menciono a Hungria, recomendo que quem esteja lendo isso procure por eles, pois mostram como o levante de 1956 não teve nada de “popular” ou “socialista”, que apesar dos problemas sociais da Hungria Democrática Popular (que não é exemplo de marxismo-leninismo — como foi, por exemplo, a URSS sob liderança de Lenin e depois de Stalin; a Albânia socialista; a China maoísta; e a Coreia do Norte), o que se queria estabelecer ali era um governo totalmente oposto ao socialismo. É muito claro a todos que não era um socialismo-modelo. Mas para evitar repetições, recomendo que leiam aqui duas postagens cujos títulos são “Hungria, 1956: Revolução ou contrarrevolução?”, “Parte 1” e “Parte 2”.


Do site Iglu Subversivo

0 comentário
GIF História das Revoluções.gif
GIF Partido dos Panteras Negras.gif
  • TikTok
  • Instagram
  • Facebook
  • Twitter
  • Telegram
  • Whatsapp
capa32 miniatura.jpg
PROMOÇÃO-MENSAL-dez24.png
JORNAL-BANNER.png
WHATSAPP-CANAL.png
TELEGRAM-CANAL.png
bottom of page