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REIMPRESSÕES

Foto do escritorNOVACULTURA.info

A manipulação dos números da indústria pela mídia burguesa


Desde a vitória do golpe de Estado, de agosto de 2016, a grande imprensa a serviço dos latifundiários e grandes capitalistas tem se esforçado em convencer a classe operária e o povo sobre a capacidade do governo golpista de melhorar a situação econômica do país. Afirmam que a sua política econômica terá sucesso em reverter a crise e eliminar o desemprego crescente. Que se deve apoiar a orientação “reformista” do atual governo. Esse discurso não é uma novidade, ele caracteriza o discurso da imprensa burguesa há muitos anos, o seu pano de fundo é a ideia de que os responsáveis pela crise são os governantes anteriores e que os atuais tudo farão para soluciona-la. Buscam obscurecer a percepção sobre a inevitabilidade da repetição periódica de tais crises no regime capitalista.

Hoje (09 de março), a Folha de São Paulo estampou a manchete “A produção da indústria cresceu após 34 meses de queda”[1]. Tal manchete é insidiosa e visa levantar uma nuvem de fumo. A matéria trata sobre os números do setor industrial do mês de janeiro de 2017, utilizando os números do IBGE, divulgados em comunicação social, no último dia 8 de março.

Os dados divulgados não autorizam o otimismo apresentado pela imprensa, demonstrando melhorias somente relativas. O título do comunicado do IBGE nos fornece uma pista “Produção industrial varia -0,1% em janeiro”[2]. É uma ênfase muito diferente do título róseo dos editores da Folha. Mesmo eles não conseguem esconder totalmente a realidade e são forçados a admitir que segundo a análises dos economistas “A melhora ainda é frágil para ser interpretada como recuperação”.

O que acontece é que o “crescimento” verificado se registra na comparação entre o mês de janeiro de 2017 e janeiro de 2016. Segundo o IBGE nos informa, esse foi o pior momento do recuo da indústria em nosso país, e, mesmo assim, a comparação só indica um crescimento bastante tímido de 1,4%, insignificante se comparado com outros indicadores.

A verdade é, portanto, que a indústria não apresentou crescimento no mês mencionado. Os números são de uma maneira geral negativos. A indústria automobilística reverteu parte do crescimento acumulado nos meses anteriores, registrando queda na passagem de dezembro para janeiro de 10,7%, número que não é mencionado na matéria.

Produtos eletrônicos e ópticos (-12,5%), de máquinas e equipamentos (-4,9%), de confecção vestuário (-7,0%), de produtos de borracha e plástico (-3,8%) etc. registraram recuo. Nenhum desses números é mencionado na matéria de Folha. No total, 12 dos 24 ramos pesquisados apontaram taxas negativas e no computo geral, como anteriormente informado, a indústria recuou.

Além disso, nas grandes categorias econômicas, os números também apontam uma situação ruim, tratada com indiferença pelo jornal. Os bens de consumo duráveis apresentaram recuo (-7,3%), revertendo parte do crescimento acumulado nos últimos dois meses (12,0%). Notemos que esse setor vinha registrado quedas antes de novembro.

No setor dos bens de capital (-3,8%) o recuo já se verifica no mês de dezembro de 2016, se intensificando em janeiro deste ano (-4,0%). Esse é um dado importante, pois aponta para a crescente desindustrialização do país.

Folha aposta nas grandes categorias que apontam crescimento, bens de consumo não-duráveis (3,1%) e bens intermediários (0,7%). Esses tem acumulado crescimento somente nos últimos meses do ano passado (7,4%, o primeiro; 3,2%, o segundo), saindo de uma situação de recuo nos meses anteriores, informação esquecida. Notem, também, o caráter insignificante do crescimento da produção de bens intermediários. O crescimento dos bens de consumo (0,3%) no computo geral é ainda menor.

O crescimento dos setores de bens de consumo semi e não-duráveis, os mais sensíveis para os trabalhadores e setores mais pobres, podem dar a ilusão de uma melhoria significativa, mas isso não é verdade. Se voltamos para os ramos, verificamos que certos setores vitais para o bem-estar da população indicam uma condição bastante instável. Exemplo da indústria farmacêuticas que registrou um aumento de 21,6%, porém, após uma queda acumulada de 19,4% somente entre setembro e dezembro. Ou a indústria alimentícia, cuja importância não precisa ser mencionada, e que apresentou um crescimento medíocre de 1,2%.

Mesmo na comparação com janeiro de 2016 a situação não é de todo positiva. 10 de 26 ramos não verificaram crescimento e entre eles estão setores importantes para o desenvolvimento da industrialização, como biocombustíveis (-11,1%), máquinas e equipamentos (-4,9%), produtos de metal (-6,2%) e equipamentos de transporte (-9,4%).

Outro dado importante, totalmente ignorado, é o acumulado dos últimos 12 meses (-5,4%). A Folha não menciona o acumulado dos últimos 12 meses. Porém, esse é um dado fundamental para se notar como o quadro geral é ruim, mesmo nas indústrias que verificaram algum crescimento entre dezembro e janeiro. Todas as grandes categorias econômicas apresentaram recuo. Sendo o número dos bens de capital (-7,9%) e de bens duráveis (-12,3%) os mais graves. Novamente, esses são os setores mais importantes para se avaliar o avanço do processo de desindustrialização. Os números da queda acumulada pelos outros setores também não foram insignificantes. Bens de consumo intermédio, cujo o crescimento do mês já foi insignificante, no acumulado verificou um recuo de 5,5%. Os bens de consumo semi e não duráveis, queridinhos da imprensa burguesa, verificaram variação de -3,0% no acumulado.

A manipulação dos números do último informe do IBGE corresponde a tendência da imprensa burguesa a apoiar a agenda econômica do governo golpista de Michel Temer. Querem convencer os setores médios da sociedade e os setores atrasados dos trabalhadores do sucesso do novo governo nesse campo, criar uma base de consenso para as medidas de “reformas” – são na verdade contrarreformas – voltadas a liquidação de todos os direitos econômicos fundamentais dos trabalhadores e convencer seus leitores de que essa agenda será capaz de tirar o Brasil do atoleiro gerado pelo agravamento da situação econômica do capitalismo. A classe operária não deve se deixar enganar pela manipulação dos números e aos comunistas cabe desmascarar esses e outros mitos (a exemplo do mito do déficit da previdência social) e fazer avançar a consciência de classe dos trabalhadores sobre a tarefa premente de barrar a agenda econômica de remoção de direitos e conversão do Brasil em uma grande colônia agrícola do capital internacional.

Notas:

[1] PERRIN, Fernanda. Produção da indústria cresce após 34 meses de queda. In Folha de São Paulo. – Ano 97. Quinta-feira, 9 de março de 2017. Nº 32.117 p. 16

[2] http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=3385

Ícaro Leal Alves

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