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REIMPRESSÕES

Foto do escritorNOVACULTURA.info

Lavradores ocupam fazenda na região metropolitana de Belém


Na zona rural do município de Benevides, região metropolitana de Belém, Pará, cerca de 1300 lavradores ocuparam a Fazenda Sopalme. A ação foi realizada na última sexta-feira (26). A Fazenda Sopalme, ainda que se configurando como um imenso latifúndio abandonado e improdutivo, recebia recursos públicos do Banco da Amazônia S.A. e do Banco do Brasil para a produção de palmito. A extração de areia, caracterizando crime ambiental, era a única atividade econômica realmente realizada nos limites da fazenda.


Após montarem o acampamento na fazenda ocupada, viaturas da Polícia Militar apareceram no local, fazendo ameaças contra as famílias camponesas, principalmente contra as mulheres. As ameaças, contudo, não impediram os lavradores de manterem a organização do acampamento, batizando-o como Acampamento Terra Cabana, em homenagem aos 180 anos da Cabanagem.


De acordo com lideranças do movimento agrário local, as terras da Fazenda Sopalme são apenas pequenas parcelas das centenas de milhares de hectares de terras que estão sob a cobiça de grandes empresas transnacionais estrangeiras para o plantio extensivo de coqueiros de dendê, visando abastecer com matérias primas agrícolas baratas as indústrias transnacionais imperialistas instaladas em nosso país. Sob esta ambição, tais empresas têm em vista transformar o nordeste paraense no maior pólo mundial de produção de óleo de dendê, colocando a agricultura local sob as necessidades do imperialismo estrangeiro.


Enganadas pelas propostas do governo federal e das empresas ligadas aos dendezais, milhares de famílias camponesas do nordeste paraense têm abandonado o cultivado de grãos (principalmente milho e feijão), mandioca e demais produtos agrícolas alimentícios para ingressarem na cadeia produtiva do dendê. Ao contrário do prometido pelo governo federal, ao começarem a produzir óleo de dendê, os lavradores terminam por ter suas rendas saqueadas por métodos usurários, dando mais de metade de suas rendas mensais para quitar financiamentos, pagamento de adubos e agrotóxicos. De acordo com o relatório Expansão do dendê na Amazônia: Elementos para uma análise dos impactos sobre a agricultura familiar no nordeste do Pará, publicado no ano de 2013, utilizando como modelo os camponeses do povoado de Arauaí, localizado no interior do Pará, que aderiram integralmente ao plantio do dendê, o que sobra para as famílias camponesas que passam a plantar dendê é nada mais que um amontoado de dívidas e prejuízos: Em Arauaí, cada família cultiva cerca de 10 hectares de dendê, a uma produtividade média de 20 toneladas por ha/ano, o que distribui para cada família uma média de 200 toneladas por ha/ano. Pagando cerca de R$ 255 por tonelada de dendê, cada família teria um rendimento bruto de R$ 51 mil por ano. Dividindo por 12 meses, teríamos uma renda de R$ 4,2 mil mensais por família. Porém, do total desta renda mensal, 25% são retidos para quitar financiamentos, mais 25% para o pagamento do adubo fornecido pela empresa, mais cerca de R$1,8 mil com gastos com mão de obra e diárias de tratores para carregar a produção, sobram para as famílias camponesas uma renda inferior a R$ 400 mensais. Além disso, ao assinarem o contrato com os pacotes tecnológicos das empresas do dendê, os lavradores se comprometem a cultivarem exclusivamente o dendê em suas terras, sendo impedidos pelas empresas de plantarem alimentos e demais culturas diferentes da do dendê. Tal situação têm levado a um aumento cada vez maior dos alimentos básicos na capital Belém (como o caso da farinha de mandioca, prato fundamental na alimentação dos paraenses) e em outros municípios da região metropolitana. Da mesma forma, as empresas impedem os lavradores de abandonarem as roças no caso de permanecerem com dívidas e prejuízos, sob pena de não darem retorno econômico para as empresas.


Saqueando lavradores por métodos usurários, as empresas ligadas à produção de óleo de dendê também seguem explorando um expressivo número de assalariados agrícolas, submetidos ao ônus das terceirizações, longas jornadas de trabalho, inexistência de direitos trabalhistas e trabalhando sob péssimas condições de trabalho, sob o sol, manejando agrotóxicos e sem equipamentos de segurança adequados para os pesados serviços que exercem. Para o movimento agrário, este enorme número de camponeses e assalariados agrícolas têm sido a base social fundamental para as ações de ocupações de fazendas improdutivas na região metropolitana de Belém e em municípios mais afastados.


Contra o modelo agrícola usurário, colonialesco e quase feudal imposto pelas empresas transnacionais, a ocupação da Fazenda Sopalme e o estabelecimento do Acampamento Terra Cabama possuem também um importante sentido político de propor um novo modelo agrícola baseado na produção de alimentos e matérias primas industriais voltado para o mercado interno, em que os lavradores tenham o direito de trabalharem para si próprios, sem precisarem lavrar terras alheias.

por Alexandre Rosendo

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